Quando a caca vira cacador escrita por Padalecki


Capítulo 3
Jéssica


Notas iniciais do capítulo

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O olhar penetrante e cor de âmbar me seguia onde eu fosse.

Eu estava terminando de me arrumar para ir à escola quando, de relance, olhei para o espelho e o vi.

Aquele monstro horrível e translúcido sorrindo para mim.

O despertar começou.

O que isso queria dizer? Tudo bem, tinha sido apenas um sonho, eu pensava, mas os arrepios na espinha continuavam e eu estremecia só de lembrar. Além disso, geralmente não me lembro de meus sonhos, era curioso o fato desse estar tão recente em minha mente.

Como se tivesse acontecido de verdade e, por algum motivo, meu corpo houvesse flutuado até lá.

Estremeci com esse pensamento.

Bóris miou.

— Que foi? – Resmunguei para ele. – Para você é fácil, você só deve sonhar com areia de banheiro e Whiskas.

Meu gato virou de costas para mim e saiu pela porta do meu quarto.

— Ah, muito educado. – Murmurei e fui para a cozinha.

Como de costume, eu estava sem nenhuma fome, mas forcei duas torradas para dentro enquanto mamãe falava sobre seu novo livro.

Mamãe é uma escritora que faz muito sucesso em São Santo, e acredito que faria no mundo todo se quisesse enviar seus romances e comédias para outras cidades e estados. Mas ela não se importava muito, gostava de ser uma escritora totalmente local.

Na verdade, ninguém se importava muito com o fato de ninguém sair ou entrar em São Santo.

Eu tentava não me importar também.

Ignis, a calopsita dourada de minha mãe, bicava carinhosamente uma de minhas mãos, o que era estranho já que aquela ave velhaca mal parecia notar minha existência dentro daquela casa.

Mamãe era apaixonada por calopsitas, e desde que me entendo por gente ela tinha uma. Todas iguaizinhas Ignis, douradas e um pouquinho maiores do que uma calopsita normal. O fato curioso era que eu nunca via a morte dessas aves, era como se elas fugissem quando estava na hora de morrer e outra novinha em folha aparecesse no poleiro.

Ignis bicou um pouco mais forte e me machucou, levei os dedos a boca para estancar o sangue.

Mamãe repreendeu Ignis.

— Ignis! Qual a necessidade disso agora? – Não sei se foi coisa da minha cabeça, mas algo na forma como ela disse isso para a ave me fez ter a sensação de que minha mãe realmente achasse que a ave pudesse compreendê-la. E não da forma como falamos com nossos animais de estimação, sabe, tinha algo a mais ali. Eu podia sentir. – Comporte-se, você já está velha demais para sair bicando as pessoas! – Minha mãe colocou Ignis em seu ombro esquerdo e me ajudou a fazer um curativo no dedo.

Meu celular vibrou com a chegada da mensagem de José, meu namorado fazia duas semanas.

José era um cara alto e forte, com cabelos loiros e lisos que iam até o ombro e olhos azuis bem claros. Era o pivô do time de basquete da escola e cobiçado por muitas garotas, mesmo sendo novo no colégio. Ele havia entrado fazia apenas um mês e sempre tentou fazer contato comigo, até que cedi e nos beijamos no ginásio. Dois dias depois ele praticamente implorara para que eu namorasse com ele.

O cara é realmente bonito, não me julgue por ter aceitado tão rápido.

— Mamãe – Chamei. – Preciso ir, José...

Sempre que eu citava José perto de minha mãe, ela fazia cara de quem havia chupado um limão mais azedo do que o normal. Era quase visível os calafrios que percorriam sua espinha.

— ... está vindo. – Terminei, revirando os olhos para o comportamento de minha mãe.

— Não gosto desse rapaz. – Disse ela, como sempre. – É tão difícil alguém de fora vir morar aqui, e logo um rapaz de dezessete anos e sem pais.

— Ele é emancipado, mamãe! – Argumentei. Na verdade, eu concordava em absoluto com a minha mãe, mas não admitiria isso nem morta. – Os pais dele eram daqui, mas foram morar no Rio de Janeiro, e agora estão em Portugal. Acho muito fofo ele querer voltar as raízes.

Minha mãe bufou.

— Eu nunca vi os pais desse menino por aqui, Jéssy. – Disse minha mãe, extremamente séria mesmo me chamando pelo apelido. Ela estremeceu e seus olhos ficaram semicerrados. De uma maneira muito bizarra isso me lembrou Cameron, o cara nu dos olhos âmbar de meus sonhos. A crista de Ignis se eriçou, ficando de pé, como se ela estivesse assustada. – Tome cuidado com ele, minha filha. – Minha mãe tateou um dos bolsos de seu avental de cozinha e me entregou um conjunto de canivete visivelmente velho. – Use-o em qualquer situação esquisita, ok?

Eu simplesmente olhei o pobre conjunto de canivetes enferrujado em minha mão.

— Você espera que eu use a pinça para fazer as sobrancelhas de José?

Minha mãe revirou os olhos, guardou os canivetes numa bainha de cor preta com um símbolo dourado de duas facas se entrelaçando em um escudo. Colocou no bolso da frente de minha bolsa e deu duas palmadinhas. Seu rosto demonstrava extrema preocupação.

— Pelo amor de Deus, mãe. – Resmunguei e dei as costas a ela, saindo de casa e batendo a porta com força.

Eu podia escutar os gritos de Ignis dentro de casa, com minha mãe reclamando e pedindo para que ela calasse a boca.

Ignis estava tão estranha quanto minha mãe nos últimos dias.

Dei de ombros e balancei a cabeça para afastar esses pensamentos. Foi quando notei Pedro, meu vizinho de frente, olhando-me de uma maneira bem esquisita.

Veja bem, eu e Pedro éramos melhores amigos desde o nascimento praticamente, mas de repente eu não via mais nada em comum entre nós. Fazia três anos que estávamos afastados, e eu não conseguia entender o motivo dele estar me olhando daquela maneira.

Pedro é um cara alto e esguio, pelo menos era como eu me lembrava dele, mas vendo-o ali, seu corpo parecia estar mais atlético do que o normal, o que era estranho já que seu esporte favorito era, muito provavelmente, jogar LOL. Ele tinha os cabelos dourados escuros e encaracolados até as orelhas e os olhos cor de mel.

Pedro arregalou os olhos e iniciou sua caminhada diária até nossa escola.

José chegou minutos depois em seu Sentra azul acinzentado.

Por algum motivo o bolso onde minha mãe havia colocado o conjunto de canivetes parecia estar mais pesado.

— Oi, gatinha. – Disse José quando entrei em seu carro.

Ele tinha uma voz quase irresistível, bem aveludada e grave.

— Ah, oi. – Falei, distraída.

José franziu o cenho para mim e sorriu, ajeitando os espelhos retrovisores e ligando o carro.

Quando chegamos, José precisou me ajudar a sair do carro. Minha bolsa estava extremamente pesada, como se eu estivesse carregando mil livros a mais.

Minhas orelhas queimavam e eu sentia muito calor, como se estivesse numa sauna.

— Espera. – Pedi. Aproveitei que estava com o top das líderes de torcida por baixo – como sempre – e tirei a camiseta, joguei-a dentro da bolsa e, com muita dificuldade usei os braços de José como impulso para sair do carro.

— O que você anda levando nessa bolsa, amor? – Perguntou José, mas ele estava mais sério que o normal. Parecia visivelmente desconfortável de estar carregando minha bolsa, por isso bufei e a peguei de volta.

Eu quase caí no chão com o peso.

— José, vai indo na frente, ok? Eu vou aos pouquinhos.

José não parecia querer ficar ali nem mais um minuto, por isso não me surpreendi quando ele assentiu e saiu correndo o mais rápido possível.

Foi então que algo aconteceu: o peso da minha mochila havia diminuído quase que instantaneamente, assim como o calor que me invadira.

Abri o bolso e peguei o conjunto de canivetes, me surpreendendo ao constatar o quanto o mesmo estava quente. E o mais estranho era que eu sentia queimar, mas não me machucava e nem incomodava.

Olhei-o por alguns segundos e prendi sua bainha no cinto de minha calça jeans, rezando para que não ficasse pesado novamente e me causasse mais problemas.


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