Quando a caca vira cacador escrita por Padalecki


Capítulo 1
Jéssica


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Há muito tempo eu havia escrito essa história com o Samuel e postado aqui, mas infelizmente nao demos continuidade. Agora, entretanto, estou refazendo a história por completo, mas seguindo mais ou menos a mesma linha de raciocínio da anterior, espero que se divirtam lendo assim como me divirto escrevendo!

Boa leitura!



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Eu queria poder começar dizendo que você irá ler centenas de palavras sobre uma jornada heroica nas páginas a seguir, mas eu estaria mentindo.

Em uma parte, pouco (ou nunca), explorada da floresta Tita da média-grande cidade de São Santo, um grupo bem difuso se amontoava ao redor de uma fogueira, bem no centro de uma clareira. Havia um cara mais alto que parecia estar impaciente enquanto os demais tinham dificuldade em permaneceram quietos.

Era como se eu estivesse escondida atrás das árvores, mas também planando acima de suas cabeças. Olhei para baixo e para os lados: sem sinal de meu corpo. Entretanto, eu estava, de algum modo, ali. Sentia meus braços, sentia minhas pernas, sentia até mesmo o vento gélido da madrugada outonal de São Santo.

— Ssssilêncio! – Ele bradou, firme. Sua voz era metálica e ele prolongava todos os “s” de uma maneira bem horripilante. Seus olhos brilhavam numa cor âmbar penetrante, como se ele pudesse ler sua alma somente olhando-o. O cabelo era prateado como a lua e escorria, extremamente liso, até sua cintura fina e esquelética. A pele era praticamente translúcida e ele usava um sobretudo preto que ia até seus pés. O resto estava, hm, nu, mas não que desse para ver muita coisa, praticamente se via apenas o manto negro, refletido na pele translúcida daquele indivíduo.

O restante do grupo se retesou em uníssono quando o cara nu pediu para ficarem quietos.

Não eram... pessoas.

Haviam diversas criaturas ali, algumas com características mais humanas, outras pareciam que tinham sido feitas em laboratório, onde um cientista maluco resolvera misturar todos os genes possíveis de todos os animais existentes no mundo numa coisa só. Entre as criaturas podia-se distinguir uma ou outra dos mitos clássicos que ouvimos: havia dois ou três lobisomens, mas eles eram extremamente corcundas e, por algum motivo, usavam calças esburacadas que desenhavam suas pernas finas e torneadas; um grupo de vampiros gritava entre si, eram muito magros, como se não se alimentasse há anos. O restante das criaturas eu julguei não conhecer, nunca havia visto na vida.

A chama da fogueira crepitou numa cor arroxeada e um leão marinho saiu se arrastando dali, como se tivesse nascido do fogo. Ele se esgueirou mais um pouco e com um arquejo ficou bípede. Seus olhos eram totalmente negros, ele não possuía nariz e sua boca era rasgada de ponta a ponta, mostrando dentes afiadíssimos.

O leão-marinho-coringa pigarreou e o cara nu se ajoelhou perante ele, seguido por todas as outras criaturas presentes.

— Irmãos. – Ele disse “irmãos” como se chamá-los assim fosse o pior xingamento possível que encontrara. Não era possível distinguir alguma emoção em seu rosto, nem em sua voz, densa e sórdida. – Sei que há muito esperam esse chamado, mas se não formos pacientes neste momento tão crucial, tudo estará perdido antes mesmo que coloquemos nosso plano em ação.

Foi então que alguém muito alto deu um passo à frente. Sua aparência seria idêntica a de um ser humano comum não fosse o fato dele ter, no mínimo, 3 metros de altura e garras no lugar das unhas, tipo um primo muito distante do Wolverine.

— Senhor. – Ele falava com o leão marinho, mas dava para notar o medo em sua voz.

O cara nu se levantou as pressas e fitou (da forma que podia, claro, pois ele mal chegava nos joelhos do outro) o altão.

O leão marinho franziu o que julguei ser suas sobrancelhas.

— Perdoe-me, messssssstre. – Disse o cara nu, visivelmente aflito. Seus olhos ardiam em ódio ao olhar para o altão. – Certossssss monssssstrosssss não tem educação.

O.k, pensei, monstros não tem educação. Monstros.

— Volte para ssssssseu lugar, carniceiro! – Gritou o cara nu, apontado para de onde o altão havia vindo.

O leão marinho levantou a nadadeira direita e pigarreou. O cara nu fez uma breve reverência, deu um último olhar de ódio para o altão, e voltou a se ajoelhar, resmungando baixinho.

— Meu caro Ghoul, o que quer? – Havia uma doçura forçada e impaciente em sua voz.

— Acredito que falo por todos quando digo: QUEREMOS COMIDA, ORA! – Quando ele levantou a voz e apontou para o leão marinho, todos pareceram segurar a respiração por alguns minutos.

— Me diga uma novidade. – Disse o leão marinho, com desdém. O altão abriu a boca para continuar, mas antes que o fizesse: - Vocês, monstros, pensam que não ligamos para vocês, mas não conseguem perceber como são parte importante do plano. Nós não lhe acordamos atoa, e a fome que sentem, seja por comida, morte ou guerra só irá influenciar corretamente em suas ações. – Ele começou a crescer de tamanho, até ficar alguns centímetros mais alto que o altão, de modo que o olhava de cima para baixo, com superioridade. – A paciência é uma virtude, meu caro, e assim que acabarmos com esta cidade e destruirmos aqueles pirralhos, haverá comida de sobra. – O leão marinho voltou a sua forma bípede de leão marinho e olhou para os demais, seus olhos negros brilhavam. – Nós, demônios, estamos travando nossa própria guerra. – Ele fez um gesto com uma de suas nadadeiras e o cara nu se colocou de pé em um estalo. – Não tenho tempo para principiantes, Cameron.

O tal de Cameron baixou os olhos, mas antes que pudesse falar qualquer coisa o leão marinho se atirou na fogueira e desapareceu.

Achei que Cameron fosse explodir de raiva quando se voltou para o grupo atrás dele.

— Grandessss idiotasssss, todossssss vocêssssss. – Algumas criaturas metade cachorro metade foca resmungaram sobre o fato de preferirem estar dormindo. Os vampiros sibilaram feito cobras e mostraram as presas. Os lobisomens uivaram para a lua cheia lá no alto. De repente, Cameron pareceu atônito. – Massssss o que...

Então ele sorriu e olhou diretamente para mim.

— Animem-ssssse, criaturassssss! – Seu olhar parecia queimar minha pele. Senti um calafrio percorrer a espinha e meu coração parou de bater por um segundo. – O dessssssspertar começou.

***

Acordei com um sobressalto e assustei Bóris, meu gato, que miou em protesto e foi arranhar a porta de meu quarto, me obrigando a abri-la para que ele pudesse sair.

Fora a primeira vez na minha vida que eu tivera um sonho tão lúcido e assustador.


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