Casa dos Jogos escrita por Metal_Will
Notas iniciais do capítulo
Demorou, mas estamos aí. O último jogo!
Capítulo 58 - Guilhotina
Todos ainda estavam pasmos com a presença de Max ali. Afinal de contas, todo mundo esperava que ele fosse um dos finalistas. Mas isso quer dizer que até Max Demian acabou perdendo? Isso era espantoso.
— Exatamente...aposto todas as minhas fichas em Alan da Silva como o vencedor da Casa dos Jogos! - ele repetiu, sem tirar as mãos do bolso e sem desviar o olhar de todos os participantes.
— É claro que ele tem que apostar nele - disse Alípio - É o único da sua aliança que restou.
— Não estou falando apenas por isso - continuou Max, enquanto se aproximava do grupo - Acontece que tenho certeza absoluta da vitória de Alan!
— É o que vamos ver - comentou Giovani, já enchendo um copo de champanhe - Entre o Alan e aquela desgraçada...não sei se o garoto tem chance, não, heim?
— Ai, fica quieto! - reclamou Aline - Pois eu vou torcer pelo Alan. Ele é muito mais legal que ela.
— Bom, eu vou torcer pela Eva - disse Taís - O meu prêmio depende dela.
— Por mim tanto faz! - retrucou Edmilson - Eu só quero que essa merda acabe logo para saber se levo um prêmio de consolação ou não.
— Duvido muito. Por que o primeiro eliminado da casa ganharia alguma coisa? - comentou Valéria.
— Ora, cale-se! - respondeu o rapaz, nervoso como sempre.
Max andou até seus aliados, Natália e Erivaldo, que o cumprimentam em um misto de espanto e alegria.
— Max! - sorriu Natália, mal podendo disfarçar sua admiração por ele - Nossa...eu jurava que você estivesse na final.
— Infelizmente, tive um imprevisto.
— Imprevisto? - perguntou Erivaldo.
— Não importa...isso já passou. Precisamos nos preocupar com o presente. Alan estará lá, enfrentando Eva em um jogo que não temos a menos ideia de como será.
— Verdade...você acha mesmo que ele vai ganhar? - indagou Natália.
— Não, não acho - respondeu Max - Eu...tenho certeza!
— Mesmo contra a Eva? - disse Erivaldo - Aquela mina é osso duro e...
— Confiem nele, tudo bem? Alan não vai perder porque ele simplesmente não tem essa opção.
— Ele precisa muito vencer..é verdade - lembrou Natália - Se depender da nossa torcida, ele ganha com certeza.
— É assim que se fala! Não importa que jogo eles inventem, vamos confiar no Alan.
— É! - Natália e Erivaldo gritaram em coro. Todos estavam ansiosos e aguardando o início da final. Como já explicado, o ultimo jogo seria assistido por todos os participantes na casinha de um lado do jardim e por um convidado especial do outro lado. Não tinha a menor ideia de quem seria esse convidado, mesmo porque minha preocupação não era com quem estaria assistindo e sim o que eu iria enfrentar. Tentei dormir naquela noite, mas era difícil. Como poderia? O nervosismo tomava conta de mim. O último jogo...quem imaginaria que chegaria a esse ponto? Eu, sozinho, enfrentando uma jogadora muito mais forte. Que chances eu tinha? Pensamentos negativos invadiam a minha mente, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não podia desistir. Meu pai e meus amigos contavam comigo e precisava levar aquele prêmio, custe o que custar. Virava de um lado, virava de outro, mas a ansiedade não passava. Só consegui pegar no sono nas últimas horas da noite, mas minha paz não dura muito. Logo, o sinal de despertar tocou. A música circense nunca me pareceu tão assustadora como naquela vez. Nem no primeiro dia que cheguei na casa.
— Atenção, queridos finalistas - era a voz de Pitre - Iniciaremos nosso último jogo em uma hora e meia, no saguão principal. Por favor, não desçam até o próximo sinal
"Não descer até o próximo sinal?", estranhei, "Mas e o café da manhã?"
Mal terminei de pensar nisso e alguém bate na porta. Era Kiby, o mascarado que me trouxe até a Casa. Ele trazia uma bandeja com o café da manhã consigo.
— Bom dia, senhor Alan - ele disse, assim que abro a porta - Vim servir seu café da manhã.
— O-Obrigado. Entre.
— Não posso entrar, ainda preciso terminar os preparativos do último jogo. Mas deixo aqui meus desejos de boa sorte.
— Obrigado - agradeci timidamente - Como vai ser esse jogo?
— Não posso falar muito. Logo o senhor vai descobrir. Mas alimente-se bem e esteja preparado.
— C-Certo.
Tomei o café da manhã, escovei os dentes, me arrumei e fiquei pensando, matutando e rezando. Como seria o último jogo? O silêncio permitia que eu escutasse as batidas do meu próprio coração. Coração...meu pai...um último jogo era o que me separava de ter notícias dele. Aguente firme, por favor! Ao mesmo tempo que inúmeras imagens do meu pai e de meus amigos chegavam na minha mente, o medo e o peso da responsabilidade também se aproximavam. O que seria de mim, meu Deus? Enquanto pensava nisso, o tempo passou e o segundo sinal toca.
— Atenção - anunciou o palhaço - Iniciaremos o próximo jogo. Pedimos, por favor, que os finalistas se apresentem no saguão principal nos próximos dez minutos.
Chegou a hora. Não tinha mais como fugir. Suspiro e me dirijo aos corredores. Minha oponente já me aguardava.
— Bom dia - ela disse em tom simpático.
— Bom dia - respondo, receoso.
— Bem, parece que você não está mesmo disposto a desistir. Ainda dá tempo.
— Nunca - respondi - Já disse...mesmo que eu perca, não vou desistir.
— Persistência, heim? É uma qualidade admirável...mas é estupidez quando você sabe que não tem chance.
— O que disse?
— Nada. Então...vamos fazer nosso melhor - ela me ofereceu a mão. Apertei a mão dela, mas era verdade que as chances de eu vencer são muito baixas. Mesmo assim, sigo até o saguão, onde uma enorme cortina parecia cobrir metade dele. Havia duas poltronas, bem separadas, que permitiam aos finalistas se sentarem um de frente para o outro. Que tipo de jogo eles fariam?
— Bom dia! - disse Pitre, surgindo, de novo, no topo da escada e descendo com várias piruetas. Era mesmo um artista circense - Sejam bem-vindos ao cenário do nosso último jogo. É uma pena que já esteja acabando, mas...tudo tem seu fim, não é?
— Poupe-nos desse discursinho barato - disse Eva - Você sabe que estamos interessados no último jogo e só.
— Heh! Chatos até o fim - ele ironizou - Não se preocupem...o último jogo é o meu preferido. Realmente, deixamos o melhor para o fim!
"O melhor para ele deve ser o pior para nós", pensei. O que poderia ser?
— O último jogo da casa chama-se...Jogo da Guilhotina!
— Jogo...da Guilhotina? - repeti, colocando a mão no pescoço, sem querer. Guilhotina não era aquele negócio que cortava a cabeça dos condenados à morte antigamente?
— Guilhotina, é? - perguntou Eva - Imagino o que pode ser...
— Bem, guilhotina é um aparelho de execução, onde uma lâmina horizontal é levantada por uma corda e solta para decapitar um condenado à morte. Foi amplamente utilizada durante a Revolução Francesa. Mais precisamente...é algo parecido com isso!
As cortinas se abriram e uma guilhotina de verdade aparece diante de nossos olhos, com uma lâmina suspensa e até o local para colocar a vítima. Assustador. Comecei a ficar preocupado.
— Essa será a guilhotina que usaremos em nosso jogo - explicou Pitre.
— É uma lâmina...de verdade? - perguntei.
— Sim. É uma lâmina real extremamente afiada.
Coloquei a mão no pescoço de novo. Que raio de jogo seria aquele? Já estava com medo, agora então...piorou mais ainda. Pitre riu.
—Parece assustado, Sr. Alan...não há motivo para pânico.
— Quem não se assustaria com uma guilhotina de verdade?
— Mas vocês não correrão nenhum risco - ele falou - Quantas vezes teremos que falar: não admitimos violência aqui dentro.
— Mas, então...
— Acalme-se e ouça as regras com atenção - interrompeu ele.
Lá vinha aquele momento de emoção de explicação das regras. Melhor ficar atento. Como Max disse, o segredo da vitória mora nos mínimos detalhes.
— Bem, primeiramente, esse jogo envolve apostas mais uma vez.
— Apostas? Créditos de novo... - comentei, mesmo nem lembrando quantos créditos eu tinha.
— Mais ou menos. Na verdade, dessa vez, vocês dois terão o mesmo número de créditos para apostar.
— O mesmo número? - perguntou Eva.
— Sim. Mudamos seus contadores para que cada um de vocês tenha apenas 200 créditos.
Eu nem tinha olhado meu contador, mas era verdade. Eu estava com 200 créditos.
— Esses créditos serão seus pontos de vida, assim como nos últimos dois estágios.
Ótimo. Eu só precisava controlar meus créditos com sabedoria. Vamos continuar ouvindo as regras.
— Esse jogo será realizado em turnos, em cada turno, vocês poderão ter dois papeis: executor ou executado.
— Executor ou executado? Como assim? - questionei.
— Bem, vocês entenderão melhor quando eu mostrar quem será executado.
Dois criados mascarados trazem duas caixas, cheias de...bonecos? Sim, bonecos. Eram bonecos pequenos, com um pouco menos de meio metro, e pareciam ser feitos de pano ou algo assim. Uma caixa tinha bonecos de meninos e outra bonecas de menina, com cabelos compridos. Os dois tinham a pele meio rosada e cabelos negros, mas a menininha tinha cabelos mais longos e cílios mais salientes nos olhos.
— Esses bonecos representam vocês...o boneco para o Sr. Alan, a boneca para a Srta. Eva - disse Pitre, enquanto segurava um boneco de cada tipo em cada mão - Eles serão as vítimas da guilhotina.
— Esses...bonecos? - perguntei.
— Sim. Desse jeito - Pitre colocou a boneca no local da vitima na guilhotina (o pescoço dela cabia direitinho) e bate palmas. A lâmina cai com uma velocidade impressionante e arranca a cabeça da boneca impiedosamente. A cena me deixa de olhos arregalados, Eva parecia indiferente.
— E então? Não é mesmo uma guilhotina de verdade? Decapitou completamente! - disse Pitre, com um tom de extrema tranquilidade.
— Heh! Não é a toa que é seu jogo preferido...isso é a sua cara - comentou Eva.
— Mas vamos ao que importa...continuemos as regras - disse o palhaço - Como já disse antes, vocês farão o papel de executor e executado. O executor é aquele que controla a guilhotina e o executado é aquele que está sendo representado pelo boneco.
— Então...em cada rodada um de nós será executor e o outro executado, não é? - perguntei.
— Sim. Cada personagem tem duas opções.
— Que seriam? - perguntou Eva.
— Bem, o jogo começa com o boneco, ou boneca, na posição de condenação. Ou seja, ele pode continuar ali e perder a cabeça, ou ser retirado.
— Então o condenado tem a opção de sair? - perguntei.
— Sim. As opções do condenado são: tirar o boneco ou deixá-lo ali.
Era estranho. Que condição era aquela? Ora, é claro que qualquer um em sã consciência tiraria o boneco dali. Quem quer ser decapitado? Mas aí que entra o papel do executor.
— Antes de tirarem qualquer conclusão...lembrem-se do papel do executor.
— O que o executor pode fazer? - perguntou Eva.
— O executor também tem duas opções: ele pode soltar a lâmina ou segurá-la.
— Hã? Então o executor tem a opção de não soltar a lâmina? - questionou Eva.
— Exatamente. Em resumo, o executado pode tirar ou deixar o boneco e o executor pode soltar ou não soltar a lâmina. E é aí que entra a parte divertida do jogo.
Imagino o que era divertido para aquele cara. Mas, continuando...
— No começo, cada um de vocês aposta uma quantidade de créditos. Há dois personagens em jogo e cada um pode realizar duas ações. Dependendo das escolhas de vocês, os resultados podem ser muito diferentes.
— E quais seriam os resultados? - questionei.
— Vamos lá. Primeira possibilidade: o condenado escolhe tirar o boneco e o executor escolhe soltar a lâmina. O boneco não perde a cabeça e o condenado leva todos os créditos em jogo.
— Parece lógico - comentou Eva.
— Segunda possibilidade: o condenado decide deixar o boneco na guilhotina e o executor solta a lâmina. O boneco é decapitado e o executor que leva todos os créditos.
— Hmm - por enquanto não era muito difícil de entender.
— Terceira possibilidade: o condenado decide tirar o boneco, mas o executor não solta a lâmina. Nesse caso, o executor também leva todos os créditos apostados.
— Hã? Só por que a pessoa tirou o boneco? - estranhei.
— Bem, isso mostra que você levantou uma falta suspeita do executor. Acho que faz sentido o executor vencer.
Em outras palavras, não confiar no executor pode te ferrar? Que espécie de jogo é esse?
— Última possibilidade: o executor não solta a lâmina e o condenado não tira o boneco. Nesse caso, o condenado vence, levando todos os créditos em jogo.
"Se o condenado for corajoso o bastante para deixar o boneco na guilhotina...ele também vence. Parece um jogo equilibrado, no final das contas"
— Agora...uma pequena demonstração.
— Demonstração? - repeti.
— Sim. Fica mais fácil se ensaiarmos, não?
— T-Tá...como vai funcionar?
— Bem, o computador decide quem começa com qual papel...depois disso, vamos alternando até o final.
O computador coloca Eva como executora e eu como condenado.
— Muito bem...começamos com as apostas. É só um ensaio, então...aposte qualquer número, Sr. Alan.
— Tá legal, sei lá, 10 créditos.
— Srta. Eva?
— 10 também...só para ensaio.
— Muito bem. Senhor Alan, por favor, vá para trás das cortinas e decida se quer deixar ou tirar seu boneco.
— T-Tá...
Vou para a parte de trás das cortinas e vejo meu boneco, pronto para ser decapitado. O que fazer?
"Tudo bem, tudo bem, vamos ficar calmos...se eu tirar e ela soltar, eu venço. Mas se eu tirar e ela não soltar, eu vou perder. Se eu deixar e ela soltar, eu perco. Mas se eu deixar e ela não soltar, eu venço. E agora? O que ela vai escolher? Ela quer me ferrar de todo jeito, então...aposto que ela vai soltar a guilhotina! Tá...que seja, eu vou tirar!"
— Pronto - falei, voltando para o saguão.
— Srta. Eva, sua vez. Você pode escolher entre soltar a lâmina ou não. Escolha a opção no software do seu contador.
É verdade. Além dos 200 créditos novos, nossos contadores tinham mais um software novo. Ele só tinha duas opções para a pergunta: "Soltar a lâmina?": Sim ou Não. E tinha o desenho de uma guilhotina no fundo. Após alguns instantes, Eva decide e acena positivamente para Pitre.
— Muito bem - ele disse - Abram as cortinas...o que temos aqui!
Eva não soltou a lâmina. Eu perdi no ensaio.
— Que pena...senhor Alan teria perdido 10 créditos no jogo real. Senhorita Eva leva todos os créditos em jogo.
O telão na parte superior mostrava todos os créditos apostados, ganhos e perdidos. Eva comemorava.
— Imaginei que você pensaria o pior de mim, Alan - ela respondeu - Como pode não confiar em mim?
Aquilo seria mais difícil do que pensei. O jogo começaria para valer na próxima rodada. Precisava proteger meus créditos o máximo que pudesse!
Na casinha do lado de fora, todos acompanham as regras. A situação era emocionante para todos.
— Que jogo doido, né? - comentou Aline - Será que o Alan ganha?
— Duvido - disse Perla - Esse prêmio já é nosso. Hehe
— O que achou do jogo, Max? - perguntou Natália.
— É um jogo bem equilibrado...mas existe um jeito de vencer.
— Existe? Qual?
— Por mais equilibrado que seja...os participantes ainda são seres humanos...essa é a sacada.
— Como assim? - perguntou Erivaldo.
— Vamos assistir. Conforme o tempo for passando, vocês vão entender.
De volta à casa, era hora do jogo começar para valer.
— E então? Todos prontos? - perguntou Pitre.
— Sempre - respondeu Eva.
— V-Vamos lá - respondi.
— Certo. Então...que comece o Jogo da Guilhotina!
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Vamos ver como Alan irá se sair nessa...