Casa dos Jogos escrita por Metal_Will


Capítulo 2
Capítulo 02 - A Casa




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Capítulo 02 - A Casa

 

Estaria mentindo se dissesse não estar nervoso. É claro que estava. Já devo ter dito isso milhares de vezes, mas tornarei a repetir para que o leitor grave muito bem: eu nunca venci um único jogo em toda a minha vida! Ter sido sorteado para esse concurso misterioso, uma das catorze entre milhões e milhões de pessoas, foi um golpe de sorte. Mas poderia preservar essa sorte para sempre? É claro que a vitória na tal Casa dos Jogos poderia garantir uma bolada que salvaria meu pai de sua doença e a lamentável situação financeira da minha família para sempre! Só que o problema era exatamente esse: vencer!

O que seria de mim?

— Nervoso, filho? - perguntava meu pai, enquanto eu aguardava com uma humilde mala a chegada da tal equipe do programa para me levar até a dita Casa dos Jogos.

— Estou. Estou sim, não vou mentir - respondi - Pai, é uma chance única que vou ter...mas...peço que não ponha muita esperança em mim. Você sabe que eu não sou bom em nada que envolva jogo, aposta, esporte, nada disso

— Já estou orgulhoso só de você estar tentando, meu filho - ele disse, amorosamente, me dando um tapinha no ombro - Dê o melhor de si. Se não der certo, tudo bem, sempre haverá outros meios

— Valeu, pai - eu o abracei - Pode apostar que vou dar o melhor de mim. Seja lá o que for essa Casa dos Jogos.

— Será que vai dar para gente te assistir? - perguntou ele.

— Eu não sei. O Marcão falou que é um programa pago, só quem assina o site deles pode assistir

— Entendo.

— Mas talvez seja melhor assim.

— Por quê?

— O senhor tem uma hipertensão muito sensível. É perigoso se emocionar demais.

— É verdade - ele riu - Mas vou estar torcendo muito por você, ouviu?

— Valeu. De novo - dei mais um abraço nele.

Nisso, um barulho de carro se fez ouvir nas proximidades.

— Opa. Chegou alguém - diz a minha tia, que se mudou temporariamente para minha casa com a finalidade de cuidar do meu pai enquanto eu estivesse fora para participar do jogo - Será que são eles?

Sim, eram eles. Minha tia atende à porta e vê um moço jovem, provavelmente chegando a seus 30 anos, usando uma máscara que cobria a metade de cima de seu rosto (até o nariz). Estava muito bem vestido, terno, gravata borboleta vermelha e sapatos perfeitamente lustrados. Um contraste muito grande com a humilde casa em que morávamos. Ele se apresenta.

— Muito boa tarde. Este é o endereço de Alan da Silva Marques?

— S-Sim. É aqui mesmo - respondeu minha tia, meio constrangida diante daquela figura.

— Sr. Alan foi um dos catorze convidados para participar do concurso da Casa dos Jogos. Foi combinado no cartão que enviamos buscá-lo nesse endereço. Ele está pronto?

— Oh, sim, sim. Já vou chamá-lo.

 

Assim que minha tia chamou (com um grito de emoção muito grande, por sinal) fui correndo para fora. Vi o rapaz mascarado, acompanhado de uma limusine preta belíssima. Meu pai me acompanha calmamente até o lado de fora.

— Você é Alan da Silva Marques? - perguntou ele.

— S-Sim. Eu mesmo.

— Prazer. Pode me chamar de Kiby. É meu codinome.

— Codinome?

— Nossa equipe prefere se manter no anonimato, mas, por favor, não se assuste. É apenas nosso modo de trabalhar. Todos nossos atos estão devidamente de acordo com a lei.

— C-Claro - disse, concordando.

— Bem, estamos aqui para levá-lo até à chamada Casa dos Jogos, onde nossa competição será realizada. Está preparado?

Olhei para meu pai. Ele apenas consente com a cabeça.

— S-Sim. Estou. Estou pronto - respondi, com o máximo de confiança que poderia adquirir naquele momento.

— Perfeito. Nossa equipe colocará sua bagagem no porta-malas. Por favor, entre na limusine. Iremos levá-lo até à casa imediatamente.

Dei um abraço em meu pai e minha tia que me desejaram toda a sorte do mundo. Meu pai me deu uma correntinha que ele acreditava dar sorte. Pertencia à minha mãe. Agradeci, com um olhar choroso, mas logo engoli as lágrimas. Respirei fundo e procurei me mostrar forte. É óbvio que estava nervoso, mas a equipe parecia ter demandado um grande esforço para fazer com que me sentisse à vontade. Entrei no banco de trás da limusine e, pouco tempo depois, o automóvel começou a se mover. A parte de trás da limusine era completamente selada, de modo que eu não podia ver o caminho, mas ainda assim era bastante confortável e tinha até uma pequena geladeira com bebidas à bordo. Algo extremamente luxuoso. Estava me perguntando que tipo de empresa estava financiando aquele jogo.

Estava sozinho ali com um estranho mascarado que não falava nada. Mesmo com o aparente conforto da limusine, o medo e a ansiedade me dominavam. Por alguns momentos já estava pensando em amarelar. Em pedir para que parassem o carro em qualquer canto, descer e desistir de tudo. Era evidente que eu não iria vencer. Como poderia? Sempre fui um fracassado! Estava agarrado à correntinha da minha mãe que meu pai emprestou. Ao olhar para ela, esses pensamentos iam embora. Meu pai estava contando comigo. Minha mãe diria para eu não desistir. Eu tinha que seguir em frente. Eu tinha que tentar.

Enfim, o carro parou. As portas se abrem e o tal Kiby pede para que eu o acompanhe. Outros membros da equipe o ajudaram a descarregar minha bagagem e eram todos bastante parecidos. Todos mascarados e bem vestidos. O clima luxuoso dominava. Minha mente humilde ainda não conseguia se acostumar com tudo aquilo.

— Por favor, siga por esse caminho, Sr. Alan.

Eu o acompanhei e, por um momento, minha perna ficou paralisada. Então aquela era a Casa dos Jogos?

— Algum problema, Sr. Alan? - perguntou Kiby, ao ver que parei de repente.

— N-Não...nenhum problema.

Não era exatamente um problema. Era admiração. A ideia de casa era muito humilde para aquele lugar. Era mesmo uma mansão. Quase um castelo. Lembrava muito construções europeias. Era enorme, gigantesca, um jardim bem trabalhado, árvores aparadas em forma de flamingo, estátuas de anjos, estátuas de gárgulas. Não sei. Pareciam fazer alguma referência à dualidade bem e mal. Os dois lados da estradinha que levava à mansão eram bem simétricos. A casa, em si, era enorme. Se por fora era impressionante, imaginava como seria por dentro. Saberia logo. Kiby bate na porta (batia de um jeito ritmado. Devia ser algum tipo de código) e ela se abre. Diante de mim estava um imenso corredor. A casa parecia mais profunda do que eu pensava.

Kiby continuava me conduzindo em silêncio. Também não tinha nada a falar. Estava sem falas. O corredor também era impressionante, mas, se o lado de fora lembrava uma visão mais clássica, o lado de dentro parecia ser mais psicodélico. Era um corredor colorido, formas geométricas e cores por todos os lados. Era como se tivesse entrado em um redemoinho de quadrados coloridos. Dava uma certa vertigem, mas não demora muito para chegarmos a uma outra porta.

— Bem, Sr. Alan. Além dessa porta o senhor estará definitivamente dentro da Casa dos Jogos. A partir do momento que cruzá-la será um dos catorze jogadores oficiais. Está pronto?

Suspirei por alguns segundos, mas não tinha muito o que pensar. Eu já tinha chegado até ali. Olhei para cima e me deparei com uma placa. A placa dizia, com uma fonte clássica em suas letras: "O que não é proibido, é permitido". Aquilo não era óbvio? Mal sabia eu que aquela frase ainda teria muito significado...de qualquer forma, respirei fundo e disse:

— Estou pronto

— Muito bem...o terceiro participante da Casa dos Jogos acaba de chegar.

Ele diz terceiro pelo fato de que, além de mim, já haviam chegado outras duas pessoas. Era um salão gigantesco. Creio que até duas de minha casa caberiam ali dentro. Algumas escadas em espiral, com corrimões luxuosos e dourados, levavam para um andar superior. No chão, uma figura metade Sol-metade Lua olhava para cima, onde uma clarabóia linda, que permitia ver o azul do céu lá fora, estava presente. Havia alguns vitrais com belas figuras. Algumas eram anjos, outras santos, outras guerreiros, mas também podia se ver algumas gárgulas e figuras grotescas. Lembrava muito essas construções católicas antigas. Junto a esse ambiente, os outros dois participantes estavam presentes, sentados em um grande sofá, tão luxuoso quanto o resto da casa, um deles era um senhor, devia ter por volta de seus sessenta anos, vestia roupa social, tinha cabelos brancos e usava óculos. A outra era uma garota negra, de olhos verdes, usava um vestido floral também verde e sandálias brancas.

Fui me aproximando, com um sorriso tímido. Aqueles seriam meus concorrentes? Sim. Além deles, outros onze estariam para chegar. Cumprimentei timidamente. O senhor apenas acenou com a cabeça. A mocinha deu um sorriso mais simpático. Com cuidado, me sentei do lado da moça. O senhor estava de pé, não parecia ansioso, mas apenas cansado de se sentar.

— Seu nome é Alan, não é? - me pergunta a mocinha.

— C-Como você sabe?

— Aquele telão ali em cima. Ele muda toda vez que alguém novo chega.

Só agora eu percebi. Em meio a toda aquele cenário barroco, um telão digital denunciava uma lista dos nomes dos participantes recém-chegados em letras gigantes. Eu era o participante número 3. Ao ver a tela, pude deduzir o nome de meus colegas de sala. O senhor se chamava Alípio Soares. A garota se chamava Perla Sandes.

— Então seu nome é Perla, não é? - tentei puxar conversa.

— Sim. Prazer.

— P-Prazer.

— Nervoso?

— Nunca imaginei participar de um jogo desses.

— Nenhum de nós imaginou - diz o senhor Alípio, que entra na conversa naquele instante - Mas já que estamos aqui, vamos ver que tipo de coisa irão propor, não é verdade?

— Tem razão. Não tenho a menor ideia do que vão fazer com a gente. Maior adrenalina - comenta Perla.

— Não é? - concordei.

Mas não quis comentar muito sobre minhas verdadeiras razões de estar ali, a doença de meu pai e todo o resto. Troquei algumas palavras e só. Não demora muito para o participante número 4 chegar. Era um rapaz franzino, meio mal-encarado, e que mal nos cumprimenta e já senta num canto. Seu nome era Edmilson Corado, segundo o telão. Pela barba devia ter mais de vinte anos e tinha um cabelo quase raspado, parecido com o meu.

O próximo participante era outro rapaz. Dessa vez era negro, não muito magro e mais simpático que esse Edmilson. Não parecia muito mais velho do que eu. Ele entra sorrindo e cumprimenta a todos, mas ainda de modo discreto. Seu nome era Erivaldo Amaral.

Embora esse Erivaldo não fosse tão magro, o próximo participante era ainda pior. Entra um homem, por volta dos trinta anos provavelmente, bem gordo, de óculos e uma bermuda grande. Parecia estar mastigando alguns petiscos, sim, a limusine tinha mesmo alguns salgadinhos à bordo.

— Beleza, gente? - diz ele, cumprimentando o resto do grupo. Senta-se do lado de Edmilson, que já olha feio pra ele.

Giovani Baptiste era o nome dele. Parecia simpático, mas talvez não tivesse muitas chances se os jogos exigissem alguma habilidade física.

A próxima foi uma mulher de meia-idade. Parecia uma empresária ou algo assim, ou simplesmente gostava de se vestir bem. Tinha um cabelo liso, pele morena e olhos castanhos claros, revelados após ela tirar os óculos escuros. Parecia ser de um tipo séria. Seu nome era Valéria Antares.

A próxima...ah, a próxima. Essa realmente marcou presença.

— Geeente!!! Que salão enoormee!! Olha só, que chique! - dizia uma vozinha fina e animada. Vinha de uma garota jovem, baixinha, cabelos pretos e olhos tão pretos quanto. Tinha algumas pintinhas no rosto e várias no braço. Usava roupas comuns de adolescente e parecia falar pelos cotovelos.

— Ah, vocês são os outros participantes, né? Nossa, gente! Nem acredito que eu tô aqui! Não sei nem o que falar! Meu Deus, é muita emoção! Ai, será que já tão me filmando? - dizia ela, toda empolgada. Seu nome era Aline Kennedy. Ela não dava muita pausa nas falas. Olhava para tudo como uma criança solta num parque de diversões, não sabia o que fazia primeiro. O responsável pela sala (outro mascarado de terno) pede que ela se sente e espere os outros participantes chegarem.

— É verdade, é verdade. Desculpa, gente. Mas eu tô muito nervosa. Ai, que emoção! - diz ela, sem tirar um sorriso dos lábios e sentando-se próximo a Valéria.

Já tinha mais que oito participantes. A próxima foi uma garota mais tímida. Era bem bonitinha. Cabelos pretos lisos (só que mais curtos e lisos que o de Aline) e um semblante inocente. Assim como eu, olhava tudo de um jeito bem humilde e acanhado. Usava roupas simples, uma jeans normal e uma correntinha no pescoço. Seu nome era Natália Passienis.

Ela se senta do meu lado, mas não diz nada. Aline puxava conversa com os outros, mas, tirando ela, todos ainda estavam bem acanhados. Logo, entra a próxima participante.

Era uma moça magra e ligeiramente alta, por volta dos vinte anos. Também vestia uma roupa simples: camisa, calças e tênis. Seus cabelos eram castanhos, bem longos e soltos. Assim como Aline, também tinha umas pintinhas no braço. Carregava, além da bagagem, um estojo para algum tipo de instrumento musical, parecia algo grande, talvez um instrumento de sopro? Ela entra calmamente, cantarolando alguma coisa. Quando meu olhar se depara com o dela, ela me lança um sorriso amigável e até (por que não dizer?) confortante.

— Nossa! Seu cabelo é lindo! - diz Aline.

— Obrigada - responde a recém-chegada com outro sorriso meigo.

Sem dúvida era charmosa, mas gostaria que o leitor prestasse atenção nessa pessoa. O nome dela era Eva Palomeni.

O próximo a chegar era outro rapaz. Usava óculos, mas era bem mais magro que Giovani. Tinha uma postura ainda mais curvada que a minha. Também entrou acanhado e se sentou em algum canto. Chamava-se Hector Vanider.

A próxima era outra moça. Loira e de olhos azuis. Não era muito alta, mas tinha uma bela forma. Talvez ela seja a garota mais bonita do mundo. Tudo bem. Talvez seja exagero. Mas era a mais bonita da casa. É que para mim, sempre que vejo uma moça muito atraente, automaticamente já começo a achar que é a mais linda do mundo. Não me culpem, lembrem-se que nunca tive uma namorada. Esta moça se chamava Taís Hudger.

Já eram doze pessoas na sala. O jogo não iria começar até que todos chegassem. A participante número treze era uma japonesinha. Yumi Oda era seu nome. Tinha um cabelo liso lindo, típico das orientais e um jeitinho tão fofo quanto o de Natália, mas não parecia tão assustada quanto ela. Parecia mascar um chiclete. Logo ela se senta e aguarda o último participante junto com todos.

Com exceção de Aline, que estava mais interessada em fazer social do que pelo que iria acontecer dali para frente, todos pareciam bem acanhados e tensos. Só mais um participante para que tudo tivesse início (ou pelo menos alguma explicação mais convincente. Ninguém ali tinha a menor ideia do que esperar desse jogo). Quando as portas se abrem pela próxima vez apresentam um rapaz de cabelos lisos, compridos até o ombro, barba e um jeito largado. Até aí eu não me incomodei muito. Minha surpresa foi apenas quando virei meu rosto para cima e li o nome do último participante.

"Será possível?", pensei, com uma tensão indescritível, "Max Demian?!"


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Notas finais do capítulo

É isso aí, gente.

Pensei nessa história há cerca de uma semana, mas como o Nyah! estava em greve, só pude escrever agora. Vai ser uma looonga história, então, tenham paciência

Por favor, não se sintam constrangidos em deixar review (nem que seja para falar mal) Valeu. Até!



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