Casa dos Jogos escrita por Metal_Will


Capítulo 11
Capítulo 11 - Divisão




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Capítulo 11 - Divisão

    Acho que não preciso dizer que o restante do dia foi bastante tenso. O grau de desconfiança entre os participantes da casa tinha aumentado muito e, logicamente, o grupo de Eva já não era nem um pouco visto com bons olhos. Em certo momento, Perla pegou algumas coisas para comer na sala de jantar, Aline a olha com um certo desprezo, mas a garota nem ligou. Ela apenas pega tudo e volta para o seu grupo. A aliança delas não era mais segredo para ninguém. Aquelas quatro eram uma jogadora só naquele instante.

     - Aqui. Trouxe uns bolinhos e brigadeiros - disse Perla - Ah..e um sanduíche natural para você, Taís.

     - Obrigada. Preciso manter minha forma.

     - Acho que você está muito bem - comentou Perla.

     - Obrigada - agradece a loirinha.
   
     Eva pega um suco em caixinha e toma olhando para o nada. Yumi se aproxima dela.

      - Será que...estamos mesmo seguras? - perguntou a japonesinha.

      - Por que está perguntando isso? - respondeu Eva, voltando a tomar o suquinho.
   
      - Agora somos as pessoas mais odiadas aqui dentro. Você viu o que aquele Demian disse, não ouviu?

      - Isso era perfeitamente esperado.

      - Hã?

      - As pessoas tendem a sentir rancor - continuava a flautista - Estão com raiva da nossa aliança simplesmente por se sentirem traídos

      - É...acho que também me sentiria assim.

      - É natural do ser humano.

      - Hm?

      - Ninguém gosta de ser traído. Pessoas, quando criam um laço afetivo com outra, esperam que esse laço seja mantido para sempre. A quebra dele é uma ofensa aos valores da pessoa, daí vem o rancor.

      - Você parece entender bastante disso - comenta Yumi.

      - Observar as pessoas é muito divertido - ela disse sorrindo - Foi isso que me levou para a área de psicologia.

      - Entendo...então você deve ter uma razão especial para ter escolhido nós três para fazer parte da sua equipe, não é?

      Eva olhou para suas três colegas. Mas, a verdade, é que ela não tinha uma razão específica.

      - Na verdade, não.

      - Não? - disse Taís, meio chateada.

      - Eu não tenho nenhum motivo especial para ter me aliado a vocês. Apenas precisava de uma aliança para chegar até o final. Só isso. Mas, por favor, não se sintam chateadas por isso. Vendo o comportamento de vocês, posso afirmar que a minha escolha foi acertada.

      - Nesse caso, você poderia ter escolhido jogadores mais fortes como o Demian, não? - indagou Yumi.

      - Não.

      - Não? - estranhou a japonesinha.
   
      - Pelo que pude analisar de Demian, ele não parece ser uma pessoa com que se consiga trabalhar em equipe facilmente. O pouco que convivi com ele durante a aliança falsa no Jogo dos Convites me fez perceber isso. Ele é bem difícil de lidar. 

      - E nós somos mais fáceis? - pergunta Perla

      - Vocês parecem trabalhar bem em equipe. Isso é bom e é o que precisamos. Trabalho em equipe. Juntas, nós podemos sair daqui com dois milhões e meio cada - disse Eva, tentando manter ao máximo a confiança de suas cúmplices.

      - Isso! - gritou Taís - Mesmo...sendo tão odiadas pelo resto das pessoas?

      - Acostume-se. E não se preocupe. A divisão em facções seria algo que aconteceria mais cedo ou mais tarde - comentou Eva.

     - Hã? Sério? - perguntou Taís.

     - É inegável que ter aliados é a melhor estratégia na Casa dos Jogos. Desde que ninguém seja afobado o suficiente para querer os dez milhões só para si, se aliar para sair daqui com dois milhões e meio é a melhor opção. Minha previsão é que, no próximo jogo, teremos as panelas oficialmente formadas.

     - Panela é engraçado - disse Taís, com um sorriso inocente.

     - Mas é o que vai acontecer. Seres humanos tendem a se unir apenas em prol de um interesse em comum. Já ouviu falar do Leviatã?

     - Leviatã? - perguntou a loirinha, com uma cara de dúvida - O que é isso?

     - É o livro de um filósofo inglês chamado Thomas Hobbes. Ele defende a ideia de que seres humanos são maus e egoistas por natureza e não hesitariam em matar uns aos outros por interesse se não houvesse algo que os impedisse - ela fez uma pausa, terminou o suco e continuava o discurso, enquanto mexia no canudinho  - É por isso que existe um governo e uma legislação. O Leviatã, que Hobbes cita em seu livro, na verdade é um monstro mitológico, mas é como ele apelida o governo. Um grande monstro que controla tudo. Leis só existem como forma de um contrato comum para que as pessoas não matem umas às outras. Não é uma questão de justiça. É uma questão de interesses em comum. Estou errada, Perla?

     - É algo assim - disse a bela moça de olhos verdes, com uma expressão séria. Como advogada formada ela sabia bem daquilo tudo - Você parece entender bem de Thomas Hobbes, não?

      - É um de meus livros preferidos - respondeu Eva com um sorriso.

      - Nossa. Vocês são tão inteligentes. Que inveja - disse Taís, inocentemente.

      - Interesses em comum, não é? - comentou Yumi, olhando para o lado - É...ninguém pode negar que é o que está acontecendo aqui. Só nos aliamos em um jogo onde todos estão contra todos porque criamos um contrato que beneficia todas as partes. Não fosse isso, estaríamos nos matando umas as outras nessa casa.

      - Vejo que estão pegando o espírito da coisa - disse Eva - Tudo aqui dentro não passa de uma questão de jogos de interesse. Mas, no fundo, essa é a realidade lá fora também.

       - Isso parece meio cruel... - comentou Taís - Mas bem que dizem, né? A vida é um jogo.
   
       - E é verdade, minha querida - terminou Eva, encostando na parede e cruzando os braços - Totalmente verdade.

      Enquanto isso, Demian e eu continuávamos sozinhos. Precisávamos nos unir com alguém. Mas quem? Todos pareciam tão arredios. Alípio, Valéria e Giovani, por outro lado, já pareciam ter se unido.

       - Então é isso...nós vamos ser aliados a partir de hoje - disse Alípio.
   
       - Vamos formalizar um contrato? Assim como as meninas? - perguntou Giovani.

       - É claro que sim - respondeu Valéria, a empresária - Eu conheço um pouco de direito. Acho que posso criar algo assim. Tem papel no quarto, não tem?

       - Espere - impediu Alípio - Seremos só nós três?

       - É o que parece, né? - disse Valéria - Não acha arriscado pegar outra pessoa?

       - Nesse caso estaremos em desvantagem em relação ao grupo de Eva... - disse o senhor, também pensativo.
   
       - Hm? - estranhou Giovani

       - Se conseguirmos mais uma pessoa, diminuímos nosso lucro com a vitória, mas aumentamos nossas chances de vencer. Precisamos de mais alguém.

       - Quem? - perguntou Valéria
   
       - Ter Demian do nosso lado seria vantajoso, mas...ele deixou claro que não vai abandonar aquele amigo dele, o Alan.
       
       - Então porque não fazemos uma aliança com cinco? Dois milhões para cada um ainda é bom negócio - sugeriu a empresária.

       - Não sei se daria certo - ponderou Alípio.

       - Por quê? - indagou Valéria.
   
       - Se formarmos um grupo de cinco, Eva também abriria um espaço para mais uma pessoa no grupo dela. Elas tem mais créditos e só aumentariam mais a aliança. Melhor não juntar tanta gente assim.
   
        Nisso, passava Aline por ali, levando um pedaço de bolo para o quarto.

        - Aquela menina...Aline - disse Valéria

        - Heim? - atendeu a mocinha - Fala, gente. O que foi?

        - Podemos falar com você um minutinho? - disse Valéria

        - Ela? - reclamou Alípio

        - O que tem? - respondeu a empresária - Não acho que ela esteja aliada a ninguém ainda.

        - Do que vocês estão falando? - perguntou a professorinha, inocentemente.
       
        - Temos uma proposta para você - continuou Alípio, coçando a cabeça - Por favor, nos ouça até o fim.

        Alípio conta todas as suas ideias para Aline, que ouve tudo com atenção. A garota parece gostar da ideia.

        - Então...vocês querem que eu me junte a vocês?

        - Isso...a menos que...você já seja aliada de outra pessoa - disse Alípio.

        - Não, não. Ainda nem pensei nisso. Estava pensando em jogar sozinha...da outra vez, sei lá, da última vez que me juntei com alguém, deu naquela facada nas costas.

        - Mas agora é diferente - disse o senhor, ajeitando os óculos - Aquilo aconteceu porque Eva estava tramando por trás de todos nós. Mas está tudo explícito. Ela nos mostrou o que fez e estamos dispostos a fazer a mesma coisa. 
       
        - Como assim? - perguntou Aline, ainda sem entender muito bem.
       
        - Vamos firmar um contrato - disse Valéria - Nós quatro seremos agora uma aliança oficial, assim como Eva e as garotas.

        - Entendi! - disse Aline - E ficaria a mesma ideia? Dividir o prêmio no final?

        - Exato - confirmou Alípio - Colocando uma penalidade, garantimos que não haverá traições.

        - Parece justo. Mas os outros também não podem fazer a mesma coisa? - perguntou Aline

        - Não é que eles podem. Eles vão fazer a mesma coisa! - disse Alípio, já prevendo o que iria acontecer.

        De fato, era o que Max também estava planejando. Ele estava encostado em uma parede mais isolada dos outros grupos, com as mãos nos bolsos, pés na parede e fitando o horizonte.

        - No que está pensando? - perguntei.

        - Precisamos de pelo menos mais dois aliados, Alan. Isso se quisermos continuar vivos aqui dentro.

        - Eu sei - disse, ainda meio inconformado em abandonar a aliança com Hector, mas, segundo Max, já que tinhamos a oportunidade de desfazer o grupo, precisávamos arranjar outra aliança. Mas quem iria se juntar a nós? Já havia reparado que Alípio, Giovani e Valéria formaram um grupo. Precisávamos atrair os que restaram.

         - Fala, gente - disse Erivaldo, se aproximando de nós. Estava acompanhado de Natália. A garota desvia o olhar assim que olho para o rosto dela. Era mesmo muito tímida. Mas era tão bonitinha. Ela usava uma calça apertada e uma dessas camisetas largas, que terminavam em babados, numa espécie de vestido (nunca entendi muito de moda feminina. Desculpe a péssima descrição). Será que iriam se juntar a nós?

          - Sim? - disse Max, ainda com a expressão séria, mas receptivo.

          - É que...estávamos pensando uma coisa.. - continuou o rapaz.

          Estávamos abertos a sugestões. Erivaldo continuava a falar.

          - Acho que a ideia de formar alianças com quatro pessoas e dividir o prêmio ainda é boa.

          - Nós sabemos - respondeu Max - E estávamos realmente procurando pessoas para formar uma nova aliança!

          - Sério? É que o outro cara do grupo de vocês saiu do jogo...achei que já tinham um grupo formado.

          - Mas não tinhamos nenhum contrato! Precisamos de uma aliança oficial agora! - disse Max friamente, mas com um sorriso confiante no rosto. Era claro que ele já esperava que alguém iria procurá-lo. Não precisamos nem nos esforçar muito. Então...aqueles dois queriam se juntar ao nosso grupo?

           - Entendi! Legal! Ainda bem que conseguimos, né Natália? A  gente não tinha muita escolha depois da Aline ter debandado para aquele outro grupo

           - Aline? - perguntei.

          - É. Ela era da nossa aliança falsa...até a Taís trair a gente! Não esperava isso dela.

           Erivaldo terminou com uma cara de decepção. Não precisa de muito para perceber que ele aceitou uma aliança com Taís só para ficar mais perto dela. Afinal, era a mais bonita da casa, não é? Mas ele ainda tinha a Natália.

           - Vocês é o Erivaldo e ela é a...Natália, não é? - perguntou Demian para a garota, olhando bem nos olhos dela, mas ela desviava o olhar sempre.

           - I-Isso - é tudo o que ela diz, mas tinha uma voz doce e delicada.

           - Hmm...pelo que eu me lembro, Natália ainda tem alguns créditos, não é?

           - Hã? S-Sim. Alguns...dois para dizer a verdade. Dei outros três que sobraram para Aline - ela respondeu.

           - Entendo. Como eu não entreguei meus créditos para o Hector, então ainda temos mais créditos do que o grupo de Alípio...

           - É verdade. Esses créditos ajudam para caramba, né? - disse Erivaldo.

           - É. No fim, acho que podemos ter uma vantagem. Acho que essa aliança pode dar certo - continuou Demian, com um olhar bem confiante. É mesmo. Ele havia dito que mais créditos nos dariam mais vantagens. 

           - Então...vocês aceitam a gente? - perguntou Erivaldo

           - Claro - confirmou Max.

           Os dois comemoram. Ou melhor, Erivaldo comemorava. Natália apenas sorri. Só que Max estava bem precavido.

           - Só precisamos definir as regras oficiais da nossa aliança.

           - Hã? Ah, tá...você quer estabelecer um contrato igual as meninas

           - É necessário. Venham comigo. Pelo que eu me lembro, tinha papel no meu quarto. Estudei um pouco de Direito Administrativo na faculdade....acho que consigo criar um contrato.

            No fim, nós quatro assinamos um contrato oficial de aliança. As regras eram simples. Entre outras coisas, dizia claramente que a pessoa que chegasse na final deveria dividir igualmente o prêmio entre todos os membros da aliança. Nunca poderíamos votar em membros da própria aliança nas sessões de votos, a menos que fosse decidido, por alguma razão, que poderíamos votar. E também não poderíamos aceitar outros membros no grupo. E, por fim, a quebra de contrato custaria uma penalidade de cinco milhões de reais (o dobro da parte de cada um no acordo. Isso foi feito mesmo para ninguém trair, afinal, ninguém dali teria essa grana tão facilmente).

            - Pronto - terminou Max - Tendo estes documentos qualquer um de nós que for traído pode pedir uma ação na justiça. Com esse contrato estamos seguros e formamos uma aliança oficial.

            - Certo - disse contente.

            Erivaldo deu um grito de alívio e caiu de costas na cama. Natália apenas sorriu. Pronto. Tínhamos uma nova aliança. Ainda me sentia mal por Hector, mas era a vida do meu pai que estava em jogo. Precisávamos vencer, ou, pelo menos, um dos quatro ali precisava vencer. Não sei se essa era a equipe que Max esperava, mas não tínhamos muita escolha no momento.

             - Pronto. Somos um time agora! - disse Erivaldo, olhando para o teto.

             - Não relaxe tanto - advertiu Max - Temos uma aliança, mas a luta de verdade acontece nos jogos.

             - Verdade - disse - O problema são os jogos

             - Bem - terminou Max - Já é tarde. Durmam bem e descansem. Amanhã teremos outro jogo.

             - Obrigado, Max. Sabia que podia contar com vocês! - Erivaldo nos abraçou e cumprimentou. Natália sorri e dá boa noite também. E eu, assim como os outros, vou para meu quarto, agradecendo aos céus por mais uma noite dentro daquela casa.

         "É, pai", pensava, olhando para o teto de meu quarto, deitado de costas em minha confortável cama, "Realmente é bom o senhor não poder ver o que rola aqui dentro...quem poderia imaginar uma traição daquelas? Mas acho que agora estamos mais alertas e conseguimos um novo time. Agora essa casa é uma guerra de grupos. Ainda bem que Max está em nosso time para nos salvar, mas...sei lá...aqueles outros dois...parecem boas pessoas, mas não parecem jogar muito bem. Não que eu tenha moral para falar isso, mas é como se estivéssemos jogando toda a responsabilidade nas costas de Max! Eu sei que ele é incrível, mas será que ele vai poder suportar todo o nosso time até o fim? Não sei...mas de nós quatro ele é o único que tem condições de chegar até a final. Max...é um cara tão misterioso...queria saber mais sobre ele, mas ele nunca fala nada sobre si mesmo. Ele parece ser meio frio, mas, ao mesmo tempo, é bondoso em estar me ajudando esse tempo todo...ou será que ele vê isso só como uma obrigação por eu ter salvo a vida dele no passado?", pensava tudo isso, enquanto me revirava na cama. "Droga...queria que esse programa acabasse logo..."

          No dia seguinte, assim como Max previa, a temível sirene tocou mais uma vez. Já estava me acostumando. Mais um dia, mais um jogo. Que raio de jogo eles teriam preparado agora? Cheguei e me encontrei com os aliados. Demian e Natália já estavam lá. Erivaldo chega depois. As alianças eram evidentes. O quarteto feminino liderado por Eva. O quarteto dos "tios", com Alípio e Valéria. E o quarteto Max Demian, suportando eu, Natália e Erivaldo. Doze pessoas, três alianças. A guerra estava declarada. Só restava saber o próximo jogo!


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Notas finais do capítulo

Qual o próximo jogo? Adivinha...próximo capítulo!

Devo escrever amanhã. Até lá! /



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