Training days escrita por Nati Miles


Capítulo 7
Estudo em grupo




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Os dois estavam chegando quase juntos nos dormitórios. Haviam acabado de cruzar os portões, só mais alguns metros e alcançariam a porta de entrada do prédio da 2-A. Bakugou estava um pouco à frente e já cantava a vitória. Uraraka se esforçava em conseguir correr, mas estava bem cansada. Tão cansada que nem se deu conta de um buraco no chão, que fez seu tênis enroscar e ela tropeçar, resultando nela tentando se segurar na regata do garoto e caindo por cima das costas dele. O que resultou em um Bakugou caindo de cara no chão e bravo.

— Puta que te pariu, Cara Redonda — ele gritou, se apoiando nos cotovelos e virando a cabeça para olhá-la. — Não sabe perder, caralho?

— Não foi isso — ela resmungou. — Eu tropecei.

— Mas é burra, então! — Ele havia abaixado o tom de voz, mas ainda estava claramente bravo. — Vai ficar aí até quando?

— Ah, sim. Desculpa! Desculpa mesmo! — ela dizia, se levantando de cima dele.

— Desculpa o caralho! Presta atenção nessa merda! Tá com dois pés esquerdos, cacete? — ele perguntou, se virando e ficando sentado no chão.

Uraraka sorriu sem graça, murmurando mais um pedido de desculpas. Esticou uma mão para Bakugou, no intuito de ajudá-lo a se erguer, seu lado gentil falando sempre mais alto. Mas o garoto viu ali uma oportunidade. O loiro ergueu a mão, pegando firme a mão que a colega havia esticado. Sorriu sacana e, antes que pudesse perceber as intenções dele, a morena sentiu-se chocar contra o chão ao lado dele. Ouviu uma risada ecoar ao seu lado e sentou-se rapidamente.

— Nossa, engraçadão — ela resmungou, fazendo bico.

Bakugou riu mais ainda, de uma maneira que ele só achava ser capaz quando aprontava alguma coisa com seu squad.

— Idiota. — Ela deu um soco no braço dele, rindo junto.

O loiro parou de rir e a olhou por alguns instantes. Ela era a amiga daquele que considerava ser seu maior inimigo para chegar ao topo, mas não era de todo mal. Ela não ligava para os comentários maldosos dele, não sentia medo de lutar com ele e foi corajosa o suficiente de o desafiar para essa corrida de volta para os dormitórios. E ele jurava ter ouvido a risada dela ecoar pela sala quando estava estudando com Kirishima e o xingou por não prestar atenção direito nas matérias, no dia anterior.

— Anda logo, cara redonda. Já vai dar a hora do toque de recolher.

— Mais cinco minutinhos? — Ela tentou o convencer, fazendo bico.

— Então fica aí que eu tô indo — ele respondeu mal-humorado, se levantando.

— Ei, Bakugou-kun... — ela o chamou quando ele havia começado a andar. Ele a olhou impaciente, esperando que ela dissesse logo o que queria. Uraraka estendeu uma mão para ele, que virou as costas e voltou a andar. — Bakugou-kun! — ela chamou espantada. — Vai me deixar aqui depois de ter me puxado pro chão?

— E o que me garante que você não vai tentar o mesmo? — Ele se virou de novo pra ela, arqueando a sobrancelha e cruzando os braços.

— Tenho cara de quem faria isso?

— Com certeza.

— Estou ofendida e lisonjeada — ela respondeu rindo. — Fique sabendo que eu te faria flutuar, e não cair de cara no chão de novo. Mas eu não faria isso agora, prometo bem prometido.

O garoto a olhou incerto por alguns segundos. Ela não parecia ser do tipo que mente, isso já havia percebido antes mesmo desses onze dias de convivência. Uraraka ainda estava com a mão estendida, a balançando como se pedisse que ele viesse ajudar logo. Revirou os olhos e foi até ela, esticando a mão.

— Viu só como sou uma pessoa muito gentil? – Ela sorriu, ficando ao lado dele para andarem os últimos metros até a porta.

Bakugou preferiu nem responder, só andou em silêncio. Entraram no prédio e o encontraram vazio. A maioria dos alunos já se encontrava em seus respectivos quartos, pois o toque de recolher estava bem próximo.

— Boa noite, Bakugou-kun! — ela se despediu dele, indo para a ala feminina.

— Boa noite — ele respondeu, prosseguindo para a ala masculina.

O loiro só continuou seu caminho sem olhar para trás, não tendo a oportunidade de ver uma Uraraka parada olhando estranho para onde ele havia acabado de sumir. Ele havia mesmo lhe respondido o “boa noite”?

 

xxx

 

A terça havia começado bem, mas começou a decair conforme o dia passava. Na aula da Midnight foi passado um trabalho em dupla para entregar no dia da prova e ela sorteou quem faria com quem. Apesar de não ter caído com ninguém do seu grupo, Uraraka estava feliz de poder fazer com Kirishima, alguém que conseguia conversar sem problemas.

No período seguinte, Aizawa anunciou que as provas começariam em duas semanas. Para alguns alunos que acompanhavam o calendário escolar com fervor, como Iida e Momo, não era novidade. Mas a morena havia se esquecido e teria que estudar muito para conseguir manter suas boas notas.

Na aula de inglês, fizeram uma atividade surpresa em grupo, que não deu tempo de terminar em sala e deveriam trazer finalizada na próxima aula.

E por fim, agora, havia acabado de chegar na área comum dos dormitórios. Estava cansada e toda suada de mais um treino, mas havia combinado de conversar com Kirishima para acertar como fariam o trabalho.

— Kirishima-kun! — ela o chamou assim que avistou a cabeleira ruiva no sofá.

— E aí, Uraraka-chan! — Ele se levantou e a cumprimentou, batendo seu punho fechado levemente contra o dela.

Bakugou foi beber água na cozinha e ficou observando a morena andar até o melhor amigo, sentando-se ao lado dele e começando a conversar. Eles pareciam amigos de longa data e o loiro revirou os olhos. Pegou sua garrafinha e foi para o seu quarto.

Kirishima viu pelo canto olho quando Bakugou sumiu de vista e se inclinou levemente pra frente, sussurrando:

—  E aí, como estão os treinos?

— Ah, estão bem. Bakugou-kun é bem temperamental, mas é engraçado.

— Oh, não! — O ruivo fez uma cara espantada bem dramática. — Ele te ameaçou de morte para falar isso?

— Eu falo sério! — Ela riu. — E ele leva bem a sério os treinos, isso me deixa feliz.

— Entendo. — Ele concordou com a cabeça. — Ele realmente não se importa com o oponente.

— Sim! E eu adoro poder treinar com alguém que não me vê como alguém frágil — ela disse animada.

— Isso pode ter certeza que Bakugou nunca a viu. — O ruivo colocou a mão no queixo, pensativo. – Acho que ele comentou algo do tipo no festival do ano passado.

— É mesmo? — Ela sorriu, os olhos brilhando. — Se ele disse, deve ser verdade... Né?

— Bom, ele não mente sobre essas coisas. E se permite minha opinião, achei muito másculo da sua parte ter coragem de pedir a ajuda dele. Isso não é algo que alguém frágil faria. As pessoas fortes conseguem perceber seus erros e saber quando precisam se tornar ainda mais fortes. Ao menos é o que eu acredito.

— Obrigada, Kirishima-kun. — Ela sorriu, sentindo-se ficar envergonhada. — Isso me anima bastante.

— Estamos aqui pra isso.

— Enfim, sobre o trabalho...

— Eu tô sempre livre. Se quiser, posso te esperar voltar dos treinos para fazer.

— Certo! Podemos começar uma pesquisa básica sozinhos e depois vamos vendo o que conseguimos montar juntos.

— Demorou! — O ruivo sorriu, mostrando os dentes pontiagudos. — Pode ser na sexta?

— Eu vou começar a estudar para as provas na sexta...

— Putz, verdade! — Ele bateu na própria testa. — Combinei com o Bakugou de estudarmos na sexta também. Você pode vir estudar com a gente, se quiser.

— Sério? — ela perguntou animada. — Eu quero sim! O pessoal vai pra casa esse fim de semana e eu ia estudar sozinha, mas é bem melhor estudar em grupo, né?

— Com certeza!

— Tá combinado, Kirishima-kun!

— Só Kirishima está bom. — Ele sorriu gentil.

— Então... Tá combinado, Kirishima! — Ela sorriu de volta. — Agora, se me dá licença, eu estou exausta e precisando de um banho urgente.

Os dois riram e a morena rumou para o seu quarto.

Estudar em grupo com Bakugou seria até bom, afinal sabia como ele era ótimo nas matérias teóricas também. Mal podia esperar.

 

xxx

 

A última coisa que esperava era presenciar Bakugou literalmente batendo com um livro na cabeça do Kaminari.

— Presta atenção nessa porra, seu fodido! — o loiro explosivo gritava.

Uraraka havia chegado há pouco tempo na sala comum. O grupo estava completo: Sero, Kirishima, Kaminari e Mina estavam ali para estudar junto com Bakugou — o que se mostrou não ser uma coisa tão fácil assim.

— Ahn... Isso é... Normal? — a morena sussurrou receosa para o amigo ruivo sentado ao seu lado.

— Considerando de quem estamos falando, sim — Ele riu baixo em resposta.

— Você devia ter visto da última vez que Bakugou tentou ensinar equações pra ele — Mina se pronunciou.

— Agora prestem atenção, seus fodidos — Bakugou gritou, se virando para os outros amigos.

— Sim, senhor! — Uraraka deu um pulo na cadeira, arrumando a postura. O ruivo e a alien seguraram a risada, enquanto o loiro explosivo lhe olhava com a sobrancelha arqueada. — Quer dizer... Sim, prestando atenção. — Ela consertou, sorrindo sem graça.

— Ok... — Ele estreitou os olhos na direção dela. — Como eu dizia...

Bakugou explicou o conteúdo com facilidade e, incrivelmente, Uraraka entendeu com facilidade também. Sabia que o loiro era conhecido por ser bom em tudo, mas não sabia que ele seria assim tão bom professor. Ele não tinha a maior paciência do mundo e só explicava no máximo duas vezes, mas a morena achava uma suficiente.

E bem, convenhamos que a morena não era das piores da sala. Ela conseguia ficar no top 10 de aulas teóricas com facilidade. Estava ali apenas por conta de um pequeno pedaço de sua conta que não estava dando certo e achou que seria a oportunidade perfeita de compreender o que estava errado. E realmente era.

— Eu sei fazer a maior parte disso — ela se pronunciou, tirando os olhos dele e mirando seu caderno rabiscado com contas. — Eu só tenho dúvida nessa parte. Eu pego isso aqui e tenho que passar... Pra cá, certo? E com esse resultado eu consigo continuar a conta que eu estava fazendo?

— Sim... — Ele piscou algumas vezes, processando a ideia de que alguém ali havia realmente entendido. — É isso...

— Ótimo! — Ela sorriu, se concentrando em terminar sozinha o exercício.

Os outros quatro, principalmente Mina e Kaminari, ainda se sentiam perdidos e olhavam confusos para a garota que havia desembestado a fazer contas. Sero e Kirishima não eram exemplos de inteligência, mas conseguiam se virar e acompanhar as explicações, e mesmo assim também a olhavam estupefatos.

— Tá, vamos pro próximo... — Sero se manifestou, quando todos terminaram.

— Ah, esse eu já fiz! — ela se pronunciou feliz.

— Que injusto, Ochako-chan! — Mina fez um bico, resmungando. — Você sabe fazer tudo! Só precisou de ajuda em um exercício.

— Ah, bem... Eu costumo estudar de vez em quando sozinha — ela disse sem graça.

— Então veio aqui pra quê? — Bakugou lhe perguntou, irritado.

— Porque o Kirishima me convidou.

— Se sabe fazer, sabe ajudar esses fodidos.

— Então me ajuda, Uraraka-chaaaan — Kaminari lhe pediu, juntando as mãos e fingindo chorar. — Eu não quero mais apanhar de livros!

A morena soltou uma risada alta, sendo seguida pelos outros — menos Bakugou, claro. Esse loiro a olhava irritado, como sempre.

— Claro, Kaminari-kun! — Ela sorriu gentil, o fazendo suspirar aliviado.

— Ótimo, um burro a menos. — O loiro revirou os olhos, continuando a ajudar Sero, Kirishima e Mina.

— Veja bem, Kaminari-kun, está vendo isso aqui? Você tem que fazer assim...

Bakugou olhava os amigos fazendo seus próprios exercícios, mas não pôde conter dar uma olhada discreta para seu lado direito. Uraraka havia mudado de lugar e estava ao lado de Kaminari, lhe ensinando com o mais fodido sorriso gentil, enquanto o idiota a olhava encantado e, no mínimo, não prestava a menor atenção na explicação. Ele havia percebido quando a morena coçou a cabeça sem graça e lhe explicou o mesmo conteúdo pela quarta vez, mantendo a mesma paciência fodida de sempre.

Os seis logo terminaram de revisar os exercícios, fechando a noite de estudos. Kaminari e Mina são os primeiros a guardar tudo e sair praticamente correndo para seus quartos, não aguentando mais ficar ali. Sero e Kirishima ainda estavam rindo dos dois quando também saíram, deixando uma Uraraka e um Bakugou para trás.

— Obrigada por me deixar ficar aqui com vocês, Bakugou-kun! — ela disse, sorridente como sempre. A maldita não ficava com a cara doendo de tanto sorrir pra todo mundo?

— Que seja — ele resmungou.

Pegou suas coisas e colocou debaixo do braço, mas continuou ali parado a observando terminar de guardar os próprios pertences. Não entendia de onde havia saído tantas canetas coloridas, mas já imaginava que foram usadas para tentar fazer Kaminari entender alguma coisa.

— Você não é de todo mal — ele disse, após ela guardar tudo e também colocar debaixo do braço.

— O quê? — Ela o olhou assustada.

— Foi o que você ouviu — ele arqueou a sobrancelha e sorriu macabro. — E ninguém nunca vai acreditar em você, se contar pra alguém que eu disse isso.

— Que injusto! — ela reclamou rindo.

— A vida não é justa, Cara Redonda.

Os dois se despediram, o loiro respondendo ao seu “boa noite” novamente e foram para os seus quartos.

O que parecia ser a amizade mais improvável de toda a classe estava apenas começando.


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Notas finais do capítulo

Esse finalzinho é baseado em B99, quando o Holt mostra pro Jake fotos dele fazendo aula de bambolê e apaga, dizendo que ninguém nunca vai acreditar nele, HIAUSHISUEHSAE.



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