Training days escrita por Nati Miles


Capítulo 15
Expectativas




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Era hoje! Finalmente Uraraka poderia sair com Deku. E seus amigos, claro.

Assim que se deitou, após Bakugou mandar mensagem avisando que havia chegado bem, Uraraka mandou mensagem no grupo que tinha com os amigos, perguntando se estavam disponíveis e poderiam sair no dia seguinte para almoçar. E quando acordou no dia seguinte, viu que todos haviam confirmado.

A corrida matinal foi até mais leve do que normalmente, pois tudo que a garota conseguia pensar — e falar — era que finalmente daria certo essa saída em grupo. O loiro, que já era irritado e explosivo em dias normais, estava ainda mais irritado com o falatório da garota.

A morena voltou da corrida apressada e logo correu pra ala feminina sem nem se despedir direito do Bakugou, que até estranhou a atitude. Normalmente Uraraka dava tchau, desejava um bom dia e sorria daquela maneira irritante que só ela sabia. Não que tivesse sentido falta, só que talvez estivesse se acostumando à garota e suas manias. O garoto balançou a cabeça, como se estivesse tirando um pensamento ruim da cabeça e subiu para seu quarto. Pensaria em outras coisas enquanto estudava sozinho.

Ochako, por outro lado, só conseguia pensar na saída em grupo. Estava em seu quarto escolhendo uma roupa que fosse bonitinha, quando ouviu batidas na porta e uma alienígena entrando em seguida.

— Ah, você tá saindo? — a garota cor de rosa perguntou triste, ao ver que a amiga estava experimentando roupas e se olhando no espelho. — Queria conversar! Eu quero desde ontem, né, mas você tava dormindo.

A controladora da gravidade só enfiou a cabeça dentro do guarda-roupa e continuou a procurar o que vestir, torcendo para que a amiga mudasse de assunto. Mina sentou-se na cama e continuou a tagarelar.

— O que foi bem estranho, porque eu jurava que estava te ouvindo conversar. Apesar que só se você estivesse doida, né, conversando sozinha. — A rosada riu e a morena acompanhou pra disfarçar. — Vai sair pra onde, afinal?

— Pro shopping com o pessoal.

— Não marcamos de sair hoje.

— O outro pessoal — A morena riu. Era estranho ter dois “pessoal" a quem se referir.

— Quer dizer o Deku? Ah, cara, isso é sensacional!

— Eu sei! Bom, mas não é como se fosse um encontro, nem nada... Só um grupo de amigos se divertindo.

— Não ainda. Vai por mim, ele ainda vai se ligar em tudo isso que ele tá perdendo.

— Eu não sei... Por mais que eu queira muito, acho que esse dia está longe, isso se ele sequer chegar. Deku está ocupado dando duro para ser o número um.

— E daí? Isso o impede de alguma coisa?

— Ao que parece, sim. — A morena bufou.

— Não se preocupe, Ocha-chan! Ele ainda vai te notar. Aliás, eu acho que ele já nota, mas é tímido demais pra isso.

— Será? 

— Sim! Agora, vamos escolher sua roupa! — Mina se enfiou na frente do guarda-roupa também, empurrando Uraraka levemente para o lado. — Você precisa de mais cores e estampas nessas suas roupas!

 

xxx

 

Era agora. Tinha que ser agora.

Uraraka e seu grupo de amigos estavam no shopping há um tempinho. Almoçaram juntos, deram uma voltinha e resolveram ir ao cinema. A bilheteria estava com uma fila razoável e a pipoca também. A solução? Dividir e conquistar. Todoroki, Tsuyu e Iida foram comprar as pipocas. Ela e Deku estavam encarregados de comprar os ingressos. Resultado? Uraraka estava com o rosto pegando fogo, só de pensar em como poderia abordar o amigo. Já havia passado essa cena tantas vezes em sua cabeça, fora os sonhos que já tinha tido. Mas a vida real era diferente, e obviamente mais difícil.

— Então... Como foi sua semana? — Ela tentou puxar conversa e já se xingou mentalmente. Eles já tinham conversado sobre isso durante o almoço.

— Normal, eu acho... O que pegou foi a atividade de história de sexta.

— Nem me fale! Ainda bem que eu e o Bakugou-kun fizemos ontem, para podermos ter hoje livre.

— A-ah, verdade, sua dupla foi o Kacchan. — Ele pareceu... Triste? Uraraka não sabia dizer, mas tentava não criar expectativas nisso. — Bom, pelo menos é uma pessoa que você já conhece, né...

— Isso sim... Mas ainda não foi quem eu r-realmente queria. — Ela o encarou, tentando jogar indireta do jeito que conseguia. Ela sentia seu rosto esquentar e ele não estava tão diferente.

— Mas pelo menos você já convive com o Kacchan... E-e não tem problemas com ele... E tem estado bem próxima dele, né — ele afirmou com um tom de voz sugestivo e um sorriso forçado.

— Apenas pra treino, pra me ajudar a melhorar.

— S-sim, c-claro! Eu não estava pensando em... Nada. — Ele deu uma leve pausa antes de pigarrear e prosseguir. — Mas seria legal se nós caíssemos juntos, né? Q-quero dizer, porque a gente já se conhece, se dá bem...

— C-claro! — ela concordou rápido. — E poderíamos passar um tempinho juntos. — Sorriu sem graça, pensando em quão óbvia estava sendo.

— Compensaríamos essa semana que nem nos vimos. E seria muito mais fácil passar esse tempo com... você.

— Com certeza. — Ela estava se sentindo nas nuvens. Aquilo só podia ser um sonho.

— P-porque, bem... É você, né. — Ele sorria, claramente envergonhado. Midoriya também se sentia em um sonho, sorrindo e conversando assim com uma garota tão incrível. Ele estava corando e, assim como a garota, se perguntava se estava sendo direto demais. Esperava que não. — E v-você sabe, né... Apesar daquele nosso desentendimento, eu acho você bem... incrível.

Uraraka o encarou de olhos arregalados.

Não. Podia. Ser.

Era aquilo mesmo? Soava como uma confissão, assim no meio de uma fila do cinema, mas não importava o lugar. Era um confissão! Não era? Ela acreditaria que seria o começo de uma. Esperava ansiosa que ele continuasse e seu sonho se concretizasse.

Deku, por outro lado, esperava que ela compreendesse que não era exatamente uma confissão — porque ele nem sabia como começar uma —, mas que ela soubesse o quanto ele a admirava, respeitava e... gostava. Mas os pensamentos dos dois foi cortado pela atendente da bilheteria que chamava pelo próximo da fila. A dupla deu um leve sobressalto, como se voltasse à realidade após ficarem tanto tempo se encarando.

Ingressos comprados, os dois se encontraram com o restante do grupo e entraram na sala. Uraraka estava na ponta, bem ao lado do Deku. Os dois davam leves olhadelas pelo canto do olho de vez em quando. Sentiam-se ridículos agindo assim, mas não podiam evitar. E o filme acabou mais rápido do que gostariam, se perguntasse a qualquer um dos dois.

O grupo voltou para os dormitórios antes que ficasse tarde, principalmente porque Iida insistia que deveriam estar de volta antes de anoitecer. Assim que chegaram, Iida, Tsuyu e Todoroki voltaram para seus quartos, deixando Uraraka e Midoriya sozinhos na sala, mesmo que por poucos minutos.

A morena sorriu sem graça, tendo o mesmo sorriso como resposta. Ok, estava estranho conversar com Deku depois do que Mina tinha falado e da conversa na fila. Seu cérebro gritava que ele estava jogando indiretas também e seu coração respondia acelerando ainda mais. Será que ele conseguia ouvir? Esperava que não.

— B-bom, eu... Vou voltar pro meu quarto — a morena se pronunciou após alguns minutos, vendo que o garoto não falava nada. — Até amanhã!

— Até amanhã, Uraraka-san!

A garota virou as costas e começou a caminhar em direção à ala feminina. Deku mordeu a boca por dentro, tentando amenizar a ansiedade. Mas que droga, não conseguia fazer nada direito! Ela já estava sumindo de vista e ele não estava fazendo nada.

— Uraraka-san! — ele gritou quando ela estava prestes a entrar no elevador. Ela se virou para ele confusa. — Você devia almoçar com a gente amanhã! Eu... Nós temos sentido falta de conversar com você. — Ele sorriu nervoso, esperando que não tivesse soado direto demais.

— C-claro! Estarei lá!

E então ela sumiu pra ala feminina, tentando controlar — em vão, óbvio — seu coração que parecia prestes a sair pela boca. Puta merda, Mina estava certa!

Deku logo foi para seu quarto também, processando e gravando em sua cabeça todos os mínimos detalhes daquela tarde, todas as expressões de Uraraka e como ela ficava bonita com todas.

 

xxx

 

A tarde de descanso do domingo acabou assim que deu a hora de sair para treinar com Bakugou. Uraraka se trocou com rapidez e o encontrou no térreo, onde saíram juntos. Tinha que admitir que ele estava mais gentil por esses dias, a esperando para irem juntos e tendo paciência de lhe mostrar como lutar.

Ela estava muito animada com sua tarde incrível e isso estava refletindo claramente em sua face feliz. Bakugou estava até estranhando aquela alegria além do normal — que estava bem irritante, por sinal —, mas seu orgulho não deixaria perguntar o que havia acontecido. E nem precisaria, pois a própria garota acabou contando quando estavam voltando do treino. Os dois não estavam correndo dessa vez, por conta do cansaço, então ficava mais fácil para Uraraka tagarelar sobre como havia tido uma tarde incrível e como havia descoberto que talvez Deku gostasse dela.

— E aí ele disse que todos sentiam saudade e me chamou para almoçar com eles amanhã. Mas eu bem ouvi que ele estava começando a frase com “eu". — Ela colocou a mão no queixo, pensativa.

— Uau. Quer um prêmio, Cara Redonda? — Ele revirou os olhos. Talvez por sua rivalidade com o garoto de cabelos verdes, mas Bakugou não estava gostando muito daquela conversa.

— Não, só queria contar pra alguém logo. E, bom, já fica o aviso que não vou almoçar com vocês amanhã.

— Tanto faz. 

— Sempre tão acolhedor. — Ela zombou. — Mas por algum motivo eu gosto de contar as coisas pra você.

— Que sorte do caralho — ele respondeu sarcástico.

— É sério! — Ela riu e deu um soquinho no braço dele. — A nossa amizade é nova, mas às vezes parece antiga. Me sinto confortável quando estou com você e confio em te contar as coisas.

— Achei interessante você considerar que temos alguma amizade. — Ele arqueou a sobrancelha e a encarou.

— Claro que temos! — Ela sorriu marota e ele sabia que lá vinha mais alguma piada tosca dela. — Afinal, eu não sou de todo mal!

— Vai se foder — ele esbravejou e ela desatou a rir.

A risada dela era tão melodiosa e gostosa de se ouvir que, por um minuto, ele se deixou levar e sorriu. E isso não passou despercebido pela garota. Uraraka nunca havia visto um sorriso sincero no rosto de Bakugou, e deveria admitir que ele ficava bonito sorrindo assim. Não que ele fosse feio quando estava sério. E que diabos estava pensando agora? Para a sorte dos dois, já estavam na porta do prédio dos dormitórios. Entraram rápido e cada um rumou para o seu lado.

Bakugou tomou um banho e colocou seu pijama, indo deitar. Tentou mexer no celular, mas sua mente não parecia estar interessada naquilo agora. Tudo que seu cérebro fazia naquele momento era repetir a conversa que teve com Uraraka na volta. A esperança que ela estava com relação ao nerd inútil, as palavras dela se referindo a ele como um amigo confiável... Era tanta coisa para pensar ao mesmo tempo que sua cabeça parecia prestes a dar tela azul.

Pra começar, o nerd. Nenhuma novidade que ela tem um penhasco por ele, mas seria uma se ele realmente retribuísse os sentimentos dela. Bakugou sente uma pontada dentro de si ao pensar nisso e todas as possibilidades que poderiam ser desencadeadas, mas atribuiria isso ao esforço físico do treino, mesmo estando completamente acostumado a isso. Talvez aquele dia tivesse sido mais cansativo do que se lembrava e esperava.

Então sua mente foi para o final da conversa, onde Uraraka afirma que eles são amigos e ele é confiável. E ele divaga sobre todas as possibilidades disso, por mais que lute para apenas esquecer esse ocorrido. Parecia que quanto mais tentava esquecer, mais sua cabeça fazia questão de pensar.

E nessa luta interna, ele acaba adormecendo.

Um sonho começa, com ele estudando sozinho e em paz em seu quarto. Estava revisando para alguma prova que seria no dia seguinte. Até aí estava tudo normal, até que chega uma Uraraka chorosa, que entra sem nem bater na porta. Em circunstâncias normais ele ficaria puto da vida e a expulsaria de lá, mas como era um sonho, ele nem liga.

A garota se senta ao seu lado na cama e começa a chorar por ter se iludido com o Deku, dizendo que ele havia a recusado dizendo que eram apenas amigos. Ele responde dizendo que havia avisado que o nerd era um idiota e que havia pessoas melhores para ela por aí. A morena se aproxima, o abraçando pela cintura e dizendo que sabia que poderia contar com ele, ao que ele responde que amigos são para essas coisas. Isso por si só já seria estranho o suficiente. Mas aí a morena levanta levemente a cabeça, ainda abraçada a ele e o encara firme. Ele a encara de volta e se abaixa lentamente, ao mesmo tempo que Uraraka ergue mais a cabeça e começa a fechar os olhos lentamente.

Peraí! Que porra era essa?

Bakugou acordou em um sobressalto, arregalando os olhos e sentindo o rosto esquentar de tanta vergonha. Nunca em sua vida havia tido um sonho tão estranho e perturbador. Talvez fosse realmente o cansaço que estava o pegando hoje, o fazendo pensar e sonhar coisas tão esquisitas.

Com certeza atribuiria toda essa confusão mental ao cansaço, que agora lhe trazia uma baita dor de cabeça junto.

Não teria outro motivo para estar pensando essas coisas além de puro cansaço — tanto físico quanto mental.

Sim, era apenas isso.

Não dava pra ser outra coisa.

Não. Dava.


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