Pensamentos Roubados escrita por Unknown


Capítulo 2
Me beija o porra


Notas iniciais do capítulo

wdfhwiohfiojiorw

vcs gostaram do tom leve da história então to continuando é isso comentem bjos



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2. Me beija o porra

 

Desconhecido: oi, Will. Aqui é o Nico :)

 

Prendo minha respiração. Ele realmente veio falar comigo. Eu já não sofri o bastante por hoje? Será que não dava para esperar até amanhã?

 

Will: você não lê mentes por mensagem, lê?

Nico: KKKKK NÃO

Will: não ri da minha cara

Will: vai te reciclar garoto

Nico: você tá me chamando de lixo? KKK

Will: jamais

Nico: bem, mesmo que não leia mentes por mensagem, tenho uma ideia do que está pensando

Nico: “ai meu deus ele tá falando comigo socorro ele é tão lindo me beija por favor”

Will: você quer morrer?

 

Ele não responde imediatamente, o que faz a vergonha ser centenas de vezes pior. Tudo bem que eu só consigo pensar nisso quando o vejo, mas o que ele quer fazer jogando isso na minha cara assim?

Nico não aparece pelos cinco minutos seguintes, então separo o dever de matemática para fazer. Se eu não entregar amanhã, estarei de recuperação certamente.

Acontece que é complicado terminar qualquer soma quando se fica olhando o celular nervosamente a cada dois segundos. Quinze minutos depois, ele finalmente apareceu.

 

Nico: hoje não, obrigado

 

E só.

Desapareceu.

Fiquei até duas horas da manhã acordado esperando alguma coisa e nada. Fico bem irritado, quando, no dia seguinte, acordo e me deparo com uma mensagem enviada cinco minutos depois de ir deitar.

 

Nico: quando estiver acordado, me avisa. Que tal uma caminhada no parque?

 

Tento me segurar, mas meus dedos agem sem permissão e respondo sem nem passar minuto.

 

Will: acordei e pode ser

Nico: se tiver algo melhor em mente, é só dizer

 

Eu quero dizer que prefiro guardar os melhores lugares para os próximos encontros, porém não tenho culhões.

 

Will: o parque está ótimo

Nico: ok, estou indo

 

Não respondo. Apenas pego minha mais linda camisa nova e minhas bermudas moletom. Grito para mamãe que vou sair e pego na mão de Deus. E vou.

Vou me torturando pelo caminho. Cada vez que fico mais nervoso, desacelero o passo para me punir. Não ajuda, mas distrai. Em três quadras, chego lá. Não preciso procurar muito, logo na entrada está Nicolas me esperando. Ele sorri com o canto esquerdo da boca quando me vê.

De repente percebo que não tomei café da manhã e que meu estômago está roncando.

Eu me serviria de Nico no café sem problemas.

Ai merda.

 

“Bom dia, sunshine” ele cumprimenta contendo o riso que eu sei que quer soltar.

“Bom dia” sorrio meio que incrédulo.

Ele está usando a jaqueta do time de futebol, as mãos estão nos bolsos. Ele é um badboy em miniatura meu deuso do céu.

“Eu não sei se escutar os seus pensamentos é mais constrangedor pra mim ou pra você” ele ri.

“Com certeza pra mim” rio também. “Como você deve saber, estou morrendo de fome. Podemos ir atrás de alguma coisa pra comer?”

“É claro.”

Andamos lado a lado e de alguma forma eu sinto algo estranho na cabeça. Sei que estou sendo observado. Sei que ele escuta cada milímetro da minha cabeça. Dou de ombros e atiro um monte de perguntas na esperança de que Nico responda ao menos uma. Quando ele fica quieto, atiro ainda mais perguntas.

Ele leva a mão à cabeça e aperta as têmporas.

“Ei, vai com calma, ok? Isso dói.”

“Se dói, como você lida com muita gente pensando ao mesmo tempo, então?”

“As pessoas pensam baixo quando estão distraídas, não machuca. Ás vezes um pensamento ou outro se sobressai, tipo quando você gritou no meio da aula de história, onde tava todo mundo quase dormindo e pensando quase nada.”

“Aquilo doeu? Pedão...”

“Não, não. Tudo bem.”

Vem cheiro de crepe com queijo. Minha boca saliva.

Antes que eu possa mesmo achar o carrinho, Nico tira a carteira do bolso e vira para a direita. Ele compra um crepe com queijo e me dá.

“Vamos sentar pra você poder comer em paz.”

Faço que sim com a cabeça e me direciono ao banco que fica de frente para o lago.

Sento numa ponta, achando que ele vai querer sentar na outra, mas Nico fica bem perto. Tão perto que nossos joelhos encostam. Tento não pensar muito nisso e me concentro em comer.

O bom de estar com alguém que lê mentes é que você pode conversar enquanto mastiga.

“Isso é verdade. Mas às vezes eu escuto algumas coisas que preferiria não saber.”

Tipo o quê?

“Tipo os pensamentos dos pais quando ficam bravos com a gente. Não é nada legal.”

Tento imaginar como deve ser. Parece bem cruel mesmo.

De repente me ocorre algo.

Desde quando ele sabe do meu crush por ele?

“Quer que eu responda a essa pergunta ou prefere não saber?” ele ri.

“Pode responder, por favor?”

“Ok. Então, eu sei desde que começou. Eu soube antes mesmo de você saber. Você pensava muito em mim e sequer reparava, era uma gracinha.”

Primeiro, fico envergonhado. Tipo muito. Depois eu entendo o que isso significa.

Se ele sempre soube e nunca falou nada, significa que nunca tive chance. Porque se ele me achasse pelo menos bonitinho, ele teria tentado alguma coisa. Acontece que não acha. Ele lê mentes e sabe que estou perdidamente encantado por ele, mas ele não está por mim. Verdade nua e crua, Solace. Parabéns pela inteligência.

“Will, eu não...”

Engulo o último pedaço de crepe e finalmente posso o interromper falando:

“Tudo bem, Nico. Você não é obrigado a gostar de mim só porque eu gosto de você. Tudo bem mesmo.”

“Não, você não está...”

“Não precisa se explicar, eu entendo. Só… Me dá um tempo, ok? Eu gostei de você por muito tempo pra conseguir te esquecer assim de repente.”

Ofereço-lhe um sorriso meio triste. Levanto e murmuro um “a gente se vê” antes de começar a andar.

Não quero chorar. Não sinto nem vontade. Mas tem alguma coisa dentro de mim que se parte de repente, uma parte que morre. Acho que essa parte se chama esperança. Porque toda vez que a gente tem um crush, por mais que você sequer pense em falar com ele algum dia, sempre tem aquela expectativa de que qualquer hora dessas ele vai aparecer num cavalo branco, estender a mão e falar que vai me levar para o nosso felizes para sempre.

A esperança morre quando você tem certeza de que isso nunca vai acontecer. Ela fica murcha e cai. E só o que tem na sua frente é melancolia.

Dói tanto que, quando alguém me segura pelo ombro, sequer viro.

“Será que você pode calar a boca, Will Solace?”

É a voz aveludada. A minha voz preferida no mundo.

“Nico, por favor, eu preciso...”

Ele ri e me vira para si. Por um momento esqueço que preciso olhar para baixo e é constrangedor.

Nico toma meu rosto entre as mãos e acho que estou sonhando.

“Meu esquema sempre foi pensar que, se você falasse comigo, então eu aceitaria sair com você. Acontece que você nunca falou. E quando descobriu que gostava de mim, nunca mais sequer me deu um oi. Lembra que a gente se falava antes? Você quase que não me olhava mais. Então eu deixei sua cabeça em paz, tentei não ouvir muito, tentei não me apegar. Achei que você não quisesse ficar com um homem. Achei que você oprimisse esse sentimento. Eu tentei falar com você algumas vezes, lembra?”

A festa de aniversário da Annabeth.

O passeio para o teatro.

Aquele dia depois da educação física.

“E você lembra o que aconteceu em todas essas vezes?”

Eu fugi. Porque tinha medo que ele soubesse. Porque tinha medo que os outros soubessem. Afinal, até meus quatorze anos, ser gay ou bi era a maior polêmica. De uns dois anos pra cá, todo mundo amadureceu.

De repente eu me dou conta do que fiz.

“Quer dizer que se eu tivesse te dado a chance, a gente poderia estar junto?”

“Sim” foi a vez de Nico sorrir triste. “Acontece que mesmo gostando tanto de mim, você nunca me deu abertura. Nunca mesmo. Até ontem, quando cheguei perto de você para conversar, seu primeiro pensamento foi correr.”

Eu quero ter um pensamento complexo, mas não consigo.

A única coisa que aparece na minha cabeça é

Então

me beija

loucamente

agora

pORRA


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