As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza
Notas iniciais do capítulo
Itsuki e Natassia enfrentam Inna de Touro, a poderosa amazona da europa oriental.
O gosto amargo de sangue preencheu a boca. Desde o início de seu treinamento, Itsuki não apanhava tanto assim. Conseguiu levantar-se, mas tendo que se apoiar mais na perna direita. Depois da pancada na coxa esquerda, era impossível apoiar-se nela sem que ela fasciculasse inteira. Fosse o golpe um pouco mais embaixo, teria arrebentado o jarrete.
— Natassia... Como que tá aí?
— Tá mais ou menos... — respondeu com a voz trêmula e um sorriso amarelo.
Natassia também havia sido atingida no mesmo lugar, mas na coxa direita. O colosso à frente delas, a amazona Inna de Touro, estava somente brincando. Não havia saído do mesmo lugar em que estava plantada desde o começo da luta. E continuava com os braços cruzados. Mesmo assim, havia evitado todos os ataques de Itsuki e Natassia, que não entendiam como eles atravessavam aquela montanha de músculos, de mais de 2 metros de altura, sem atingi-la. Mas um detalhe chamava a atenção de Itsuki. Toda vez que ela e Natassia atacavam, a imagem de Inna vibrava no ar. A mudança de frame acontecia por apenas uma fração de segundo, mas era perceptível. Devia ser nesse momento que a Taurina se esquivava dos golpes.
— Eu não disse? — gabou-se a loira de cabelo curto, estilo militar, com um sotaque eslavo¹ — Não preciso sair dessa posição para enfrentar alguém do nível de vocês.
— Natassia, eu tive uma ideia — começou a sussurrar Itsuki, antes de começar a elevar o cosmo ao seu máximo, beirando o sétimo sentido — Eu vou criar um ponto cego para você. Aproveite a brecha para congelar os pés dela. Consegue fazer isso?
Natassia não respondeu. Estranhando a demora, Itsuki bateu os olhos rapidamente nela e percebeu que, apesar de estar olhando-a de volta, a loira estava com o olhar perdido, como se a mente dela estivesse muito distante.
— Natassia?! — exaltou-se, irritada com a distração.
— Hã... Claro! — respondeu, depois de perder o olhar vago.
— Eu não sei o que vocês estão planejando — interrompeu a taurina, sempre arranhando o sotaque — mas já vou avisando que é perda de tempo — completou, bocejando.
— Agora! — exclamou Itsuki, disparando em direção à Inna.
— Ainda insistem? O resultado vai ser o mesmo... — avisou, abrindo os olhos.
Itsuki correu em ziguezague e em seguida avançou em diagonal, provavelmente para tornar a trajetória menos previsível, pensou a Amazona de Touro, que a acompanhava atentamente com os olhos, mas sem perder Natassia de sua visão periférica. Porém, logo após Itsuki cruzar, no campo de visão da dourada, a frente de Natassia, ocultando-a por um milésimo de segundo, um golpe congelante da amazona de Cisne surgiu por de trás do espaço deixado pela Fênix. A rajada de cristais de gelo avançou rente ao chão, congelando os pés da taurina ao solo.
— O quê?! Essa foi boa... — constatou com um sorriso nervoso, entusiasmada por ter sido surpreendida.
— Agora você não vai escapar! — surgiu Itsuki às suas costas, com o punho direito em chamas.
Com um cruzado no flanco direito, Itsuki explodiu uma torrente de chamas contra a dourada. O impacto do golpe fez a taurina arcar as costas e, a seguir, quase cair para a frente, ficando com o tronco curvado sobre os joelhos, mas sem tocá-los no chão, já que estava com os pés fixados no solo. Então Itsuki aproveitou a brecha para subir nas costas de Inna e aplicar um mata-leão. Mas mesmo com o Touro abalado pela combinação de golpes, a Fênix ainda precisava usar todas as suas forças para segurar o titã, que já estava quase conseguindo abrir a chave no pescoço.
— Ei, garota... — disse Inna, grunhindo entre arfadas de ar — Agora você está começando a me irritar...
— Vamos, Natassia!
A amazona de Cisne já havia se adiantado ao chamado de Itsuki. Dando dois giros a mais para pegar mais velocidade angular, Natassia chegou rodando um golpe com o pé, atingindo a cabeça da taurina bem na altura que Itsuki havia posicionado. A força do chute foi tanta que, virando o rosto de Inna para o outro lado, fez o mata-leão de Itsuki abrir, ao mesmo tempo em que arrancou o elmo de Touro, que saiu quicando ao longe. Itsuki acabou caindo para trás, enquanto Natassia caiu de lado, após se desequilibrar com a força do próprio golpe.
— Deu certo? — perguntou Itsuki, observando que Inna parecia ter perdido a consciência, embora ainda estivesse com os olhos abertos e curvada sem tocar o chão.
— Droga... Rachei minha armadura. — disse Natassia, olhando para a perna com a qual havia aplicado o golpe.
O descanso durou pouco. Após parecer inerte por alguns segundos, o olhar de Inna voltou-se para Itsuki, e um sorriso curvou-se em seu rosto. Não tiveram tempo de reagir. Apenas contraindo os pés, a taurina partiu o gelo que a prendia e, antes que as amazonas se levantassem, Inna agarrou a perna de Natassia e, girando o próprio corpo em 180º, arremessou-a contra uma pilastra. Agora Inna estava de frente para Itsuki, que ainda começava a ficar em pé. Mas, sendo mais rápida, a taurina agarrou-a pelo braço e a levantou para o alto. Deu outro giro de 180º e, puxando Itsuki sobre sua cabeça, atirou as costas da amazona contra o chão, abrindo uma onda de impacto pelo mármore. Estava acabado.
— Itsuki... — murmurou Natassia, com uma mão no quadril, que tremia, e a outra contra o chão, tentando levantar-se.
— Hã? Acho que peguei pesado demais — constatou Inna — A garota está um caco — e chutou o corpo de Itsuki na direção de Natassia, fazendo a Fênix, desacordada, se estatelar logo à frente da Cisne — Ponha o lixo para fora, por favor. Agora eu vou tirar uma soneca — despediu-se, bocejando outra vez, e dirigindo-se aos corredores mais internos da Casa de Touro.
— Itsuki!
Ainda que rastejando, Natassia socorreu a companheira. Apesar da respiração fraca, parecia não ter nenhuma fratura ou hemorragia interna que pudesse detectar com o cosmo. Mesmo assim, acolhendo-a em seu colo, Natassia lamentou os ferimentos da amiga.
— Me desculpa... Eu achei que a gente fosse conseguir... — disse soluçando e brotando lágrimas.
— Ei... Se você começar a chorar, aí é que eu me mato mesmo — respondeu Itsuki, tossindo.
— Itsuki!
Natassia abraçou-a mais uma vez, aliviada por Itsuki estar bem.
Após um momento de conforto, tentaram levantar-se. Precisaram apoiar-se uma na outra, mas conseguiram ficar em pé e então, a passos lentos, dirigiram-se de volta ao caminho por onde vieram. Seria uma longa e dolorosa descida; tanto física quanto moralmente.
— Não se preocupe, Itsuki. Eu vou te levar pra minha casa — conversava com a amiga, tentando estimulá-la a manter-se firme.
— Tudo bem... Obrigada... Mas eu acho que... Vou ficar por aqui mesmo...
Para o desespero de Natassia, Itsuki apagou outra vez.
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1. Dentre as variantes de sotaque eslavo, a de Inna é o sotaque ucraniano, país natal da amazona.