As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 31
Derradeira manobra das bestas


Notas iniciais do capítulo

Nas entranhas dos templos perdidos de Epimeteu e Prometeu, em Jericó, o pai das bestas recebe a visita desagradável de um dos arcanjos a seu serviço. Enquanto isso, Shiryu, Hyoga e Shun recebem más notícias de Seiya.



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Sentado em sua poltrona em frente à lareira, Epimeteu degustava um cálice de vinho, enquanto observava uma vasilha com água sobre a mesinha à sua frente. De tempos em tempos, o deus, moreno e de olhos selvagens, pingava na água uma gota de sangue, a partir de um furo em seu dedo, e a seguir brincava com a água, fazendo-a girar. Epimeteu continuou nesse ritual por vários minutos a fim, até que ouviu o som de alguém entrando em seu quarto. Era um homem de cabelos curtos e prateados, olhos dourados e que trajava uma elegante armadura azul marinho.

— O que você quer, Salaphiel¹? — perguntou Epimeteu, sem tirar os olhos do redemoinho formado na vasilha d’água.

— Notei que já faz algum tempo que você diminuiu o ritmo de suas criações — disse o arcanjo de voz enigmática. — Por acaso... A força de seu sangue... Já não estaria se esgotando?

Epimeteu apertou os olhos ao ouvir a sugestão, e acabou deixando que sua irritação se irradiasse na forma de cosmo, explodindo a vasilha d’água.

— Isso não é da sua conta — rebateu. — Você está aqui para aguardar as minhas ordens. Nada mais.

— Permita-me corrigi-lo... Eu estou aqui para fazer valerem os interesses de meu Pai.

Epimeteu virou-se para Salaphiel, lançando-lhe um olhar furioso. O selvagem deus, criador das bestas, nunca teve talento para esconder suas emoções.

— O que está sugerindo?

Salaphiel caminhou ao redor de Epimeteu, parando em frente a lareira, antes de responder.

— Que tipo de deus você quer ser, Epimeteu? Pergunto porque, ao que me parece, você se contenta apenas vivendo à sombra de meu Pai. Mas isso, na verdade, o aproxima mais de seus outros irmãos, fracassados, do que de Prometeu.

— Está tudo seguindo como o planejado — retorquiu em tom severo. — Meu sangue aguentou o suficiente. Agora, resta esperar por Richard e os demais...

Sem deixar que terminasse de falar, Salaphiel colocou um pé ao lado da cabeça de Epimeteu, inclinando sua poltrona alguns graus para trás.

— “Aquele que pensa depois”, hein? Realmente, você não nos decepciona... Só vai enxergar os seus malditos erros depois que já os tiver cometido.

— Eu sugiro que você tire esse pé daí... — ameaçou, com os olhos fervendo em cosmo.

Salaphiel abriu um sorriso insolente antes de obedecer, e retomou a conversa de costas para Epimeteu.

— Após a nossa primeira onda de ataques, sobreviveram mais cavaleiros de Atena do que o esperado. É por isso que eu sugiro que você envie a segunda onda agora, já que ela já está posicionada nos arredores do Santuário...

Não era surpresa para Epimeteu que Salaphiel estivesse ciente de cada detalhe da Guerra Santa até ali. A clarividência desse arcanjo era de se fazer inveja a qualquer titã ou olimpiano.

— Os cavaleiros de prata e de bronze de Nibiru... — lembrou-se Epimeteu. — Eles não tem força alguma. Não passam de números e só servem para fazer bagunça. Ainda é cedo para os descartarmos... Eles só atacarão quando já tivermos a Lança de Jápeto em mãos, para ajudar na extração dos nossos cavaleiros de ouro.

O arcanjo voltou-se novamente para Epimeteu, agora com um sorriso ardiloso.

— Não, eu não estou falando desses peões... Falo daqueles que se escondem entre eles.

“Aqueles que se escondem entre eles?” A princípio, Epimeteu não tinha a menor ideia do que Salaphiel estava falando. Até que seus olhos se arregalaram quando compreendeu.

— Maldito... — deixou escapar, com a surpresa, antes de começar a ferver em raiva. — É por isso que eu não tenho sentido a presença deles aqui, em meu palácio. Você... Tem agido pelas minhas costas desde o início.

— Refiro-me aos maiores erros de meu Pai — continuou Salaphiel, com uma expressão de excitação. — Os Anjos Caídos dos Sete Pecados Capitais...

Irritado, Epimeteu levantou-se e caminhou até a lareira. Fazendo um corte no pulso, derramou grande quantidade de sangue sobre o fogo, formando imagens de criaturas monstruosas que nasciam entre as miragens das labaredas.

— Não me subestime... — argumentou Epimeteu. — Ainda não há razão para nos precipitarmos com a segunda onda... — completou, com um olhar sádico.

— É... Talvez eu tenha me enganado — respondeu Salaphiel, parecendo contente. — Peço que me perdoe — desculpou-se, um tanto cinicamente, antes de fazer uma reverência e dirigir-se à saída, mas parando na porta para fazer um último comentário. — Mas me pergunto... Por que razão você se preocupa em salvaguardá-los? Os Sete Pecados... Que outra utilidade eles poderiam ter, senão para descartá-los, o quanto antes? — inquiriu, lançando um olhar desconfiado para Epimeteu.

Estando a sós novamente, o titã retornou a sua poltrona, onde sentou-se sentindo bastante tontura. Para renascer mais lacaios, acabou indo além de seu limite. Obviamente, não pretendia enfraquecer-se a esse ponto, já que não confiava totalmente nos Sete Arcanjos. Porém, se os Sete Pecados morressem antes da hora, Epimeteu poderia perder importantes aliados. Depois que a Guerra Santa começou, Epimeteu começou a perceber que poderia ser traído a qualquer momento pelo próprio irmão. E situação similar era vivida pelos Anjos Caídos.

— Eu vou te mostrar irmão... — sussurrava para si mesmo, enquanto cobria a fronte com a mão trêmula, e observava as chamas da lareira se agitando. — Eu vou te mostrar... Que sem eu... Você não seria nada...

Do lado de fora do palácio, Shun, Shiryu e Hyoga ainda aguardavam pacientemente, quando sentiram um pico na atividade das criaturas que atacavam o Santuário.

— Não pode ser... Esses cosmos... — hesitou Hyoga, prestando atenção na direção de Atenas, ao ocidente.

— Quando nós achávamos que os ataques ao Santuário já estavam acabando... — confirmou Shiryu.

— Não se preocupem... — acalmou-os Shun. — Quando uma chama está para se apagar, é normal que a sua última centelha seja mais forte... Provavelmente, estará tudo acabado depois disso.

— Isso se restar algo de pé no Santuário — advertiu Hyoga. — Não podemos continuar de braços cruzados... Shiryu, já esperamos tempo o suficiente, não acha?

— Acho que sim — hesitou o libriano. — Mas eu esperava que a essa altura Seiya já estivesse reunido conosco, para atacarmos juntos.

Já fazia algum tempo que haviam deixado de sentir o cosmo da batalha intensa que Seiya travara no ocidente. E, apesar disso, o cavaleiro de Sagitário continuou ausente. Porém, não por muito mais tempo. Pois logo os três companheiros descobriram o terror pelo qual Seiya estava passando.

— Procurando por ele? — anunciou uma voz poderosa, vinda do céu.

Ao olharem para o alto, ficaram em choque ao verem a imagem de um outro arcanjo, com suas fugazes asas de éter, pairando no junto a Seiya. Trajando uma imponente armadura dourada, o homem, de cabelos e olhos amarelos, sustentava o pescoço do dourado em uma das mãos. Desacordado, o sagitariano já havia perdido a forma divina de sua armadura, que encontrava-se completamente trincada. E então, o arcanjo largou-o do alto, fazendo com que Seiya despencasse em meio a uma enorme nuvem de poeira, quando atingiu o chão.

— Seiya! — gritaram em uníssono seus companheiros.

— Não se preocupem... Eu não o matei — declarou o arcanjo, pousando na entrada do palácio. — Um insolente como ele precisava continuar vivo para perceber a própria insignificância... Ou não haveria lição alguma de humildade.

Shiryu, Shun e Hyoga correram até Seiya para socorrê-lo, e perceberam que, apesar de vivo, seu corpo havia sido completamente incapacitado. Porém, a linha tênue que o separava da morte não estava distante. Se não recebesse cuidados urgentes, poderia ser que não escapasse com vida.

Enquanto Shun ainda o segurava em seus braços, Shiryu e Hyoga levantaram-se furiosos, prontos para atacar o algoz de Seiya.

— Pretendem lutar comigo? — questionou o arcanjo. — Saibam então que, se o fizerem, não poderão salvar seu companheiro.

— O que quer dizer com isso? — questionou Hyoga.

— Os meus golpes destruíram os pontos estelares dele. Se vocês não os reconstituírem logo, ele morrerá.

— É verdade — avisou Shun. — Eu estou tentando parar a morte que se aproxima de Seiya, mas não estou conseguindo. Sem conhecer a técnica que destruiu os pontos estelares, eu não conseguirei salvá-lo sozinho. Preciso da ajuda de vocês.

— Então eu acabarei com esse arcanjo aqui e agora — ameaçou Hyoga, entrando em postura de ataque — e assim ele será forçado a revelar a sua técnica.

— Não — advertiu Shun. — Não há tempo para isso Hyoga. Eu preciso da ajuda de vocês dois, agora, ou o coração do Seiya irá parar.

Vendo-se sem opção, Shiryu e Hyoga desistiram de atacar o arcanjo, e recolheram-se para junto de Shun. Juntos, os três conseguiram adiar a morte do companheiro, ganhando tempo para descobrirem como reconstituir os pontos estelares. Vendo, com pesar, a decisão que haviam tomado, o arcanjo se despediu.

— Usem esse tempo para repensar se vão continuar se levantando contra Deus... — ameaçou, em tom quase melancólico, antes de se virar para desaparecer palácio adentro. — Ou vão até mim se quiserem receber a mesma lição desse pobre coitado...

Enquanto tentavam tratar Seiya, os três amigos ficaram a se perguntar quão grande seria o poder do líder dos arcanjos, para ter deixado o sagitariano naquele estado. E o que era mais ameaçador: o inimigo mal parecia ter recebido qualquer ferimento por parte de Seiya.


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Notas finais do capítulo

1. Segundo algumas denominações, Salaphiel é um dos sete arcanjos da angeologia de matriz judaica. Seu nome significa "Deus comunica". Portanto, é associado ao sábado, o dia da oração, e ao Torá, a palavra comunicada por Deus.



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