Céus em Queda escrita por Youseph Seraph


Capítulo 2
A vida boêmia


Notas iniciais do capítulo

Você, caro leito, pode achar estranho a mudança abrupta de localização da história, mas te garanto, se você ler dessa maneira, ficará mais fácil entender o que virá.



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Ah, a velha Londres. Nenhum lugar melhor para estar um homem tão melancólico.

Youseph caminhava sem muito destino nas ruas da capital britânica. E achava aquilo uma chatice. Estava querendo encontrar, de alguma forma, algo que pudesse fazê-lo se sentir vivo. Algo gostoso. Algo prazeroso.

Seus cabelos pretos desarrumados, que iam até metade de seu pescoço, se encaixavam perfeitamente com o formato de seu rosto. A barba mal-feita dava um belo charme também. A camisa social branca levemente desabotoada e a calça social preta? Algo para direcionar os olhos do "público". Mas seus olhos, caídos pelo tédio, mas resplandecendo em seu tom âmbar, era o seu maior charme. Ele sabia que era lindo. E sabia que, cedo ou tarde, encontraria diversão naquele lugar.

Após andar por um bom tempo, ele finalmente chega a seu destino. Uma boate, claro. Ele põe a mão direita em seu bolso e, de lá, tira uma carteira de cigarros e um isqueiro. Ele tira um cigarro da carteira e o acende, então começa a fumar.

Os assuntos de sua família... não, melhor não pensar sobre isso. Não agora. A situação já estava complicada demais sem meter anjos no meio.

Entre olhares e olhares, passam homens e mulheres, que trocam sorrisos maliciosos com o rapaz galante. Youseph era bem conhecido aqui, mas não pelo seu nome. Ele era um flertador nato. E era bom nisso.

Entre todos ali presente, um rapaz lhe chama atenção. Ele é baixinho, mas satisfaz o tipo de Youseph, que vai até ele.

Os dois trocam olhares, então Youseph começa uma conversa.

—Posso te pagar uma bebida?

O homem, moreno, de olhos claros e maxilar definido, sorri com o flerte.

—Está de cerimônia hoje, lindão?

—Se quiser partir pra cima vem logo.

Era assim que funcionava a técnica de flerte de Youseph: seja você mesmo, porque você é irresistível.

Antes que o outro rapaz pudesse sequer se aproximar de Youseph, uma pessoa lhe chama atenção na sala. Uma garota ruiva. Ela não parecia estar acostumada a frequentar um lugar como esse. Se estivesse, saberia como furtar uma carteira sem ser percebida. Com um gesto, ele dispensa o beijo do rapaz com quem havia acabado de insinuar um dia de pegação.

O rapaz olha para Youseph como se tivesse absurdamente ofendido, mas para quando vê o punho de seu suposto pretendente interferindo no que deveria ter sido um tapa na garota.

—Mexe com alguém do seu tamanho. —Diz o rapaz.

O homem que havia sido interferido, por sua vez, se enfurece. Ele já deveria estar bêbado demais, afinal, era tarde. Ele, que era grande, musculoso e de pele tão clara quanto Youseph, estava se tornando um pimentão de tão vermelho.

Youseph se arrepende levemente de ter ajudado a moça, mas mesmo assim, joga um beijo para o rapaz que havia conhecido e volta sua atenção para a moça ruiva, que já estava correndo. Em seguida, viu o punho do bombado atravessando o ar onde sua cabeça estivera há um segundo atrás. E então, Youseph corre.

Ele não deixaria a moça fugir. Era uma ladra de quinta. Mas não deixaria que um homem daquele porte tocasse em um fio dos cabelos cacheados da mulher. Por alguns minutos, enfiando-se entre os carros, Youseph perseguiu a moça, ao mesmo tempo que corria do brutamontes. Isso, até chegarem a um beco sem saída.

—Ora ora, —Disfarçou o rapaz. —Parece que temos aqui um conflito de interesses. O senhor parece estar enfurecido, não é chuchu?

Dito isso, o fortão se enfurece ainda mais.

—Ela tem uma coisa que é minha.

—Eu sei, —Diz Youseph. —Mas quer mesmo bater em uma garota indefesa.

—Eu não estou indefesa. Saiam da minha frente vocês dois. —Cortou a ruiva. Sob a luz de um poste que piscava após alguns segundos acesos, Youseph viu, pela primeira vez a garota com atenção. Ela era um pouco mais gordinha que as outras da boate, usava roupa, também social, azul cobalto, bem como uma calça preta e sapatos igualmente pretos, sem salto, que facilitavam a sua fuga.

Mas o que mais lhe chamara atenção foram seus olhos azuis, que pareciam oscilar para um laranja, assim como os cabelos da mesma.

—ENTÃO VENHA SE DEFENDER! —Grita o brutamontes, tentando novamente socar a mulher.

Youseph não pôde não intervir. Puxou-a rapidamente pelos braços e correu. Ela não pareceu gostar daquilo, mas continuaram até despistar o homem.

Quando finalmente pararam, eles soltaram um profundo suspiro, mas a moça continuou andando.

—Ei! —Interrompeu Youseph, antes que a garota fugisse. —Nem um obrigado? —Ironizou.

—Eu estava com tudo sob o controle. —Dizia ela, enquanto caminhava ainda mais.

—Pelo menos posso saber seu nome? —Pergunta Youseph.

—Não. Não pode.

—Você parece estar mal. Venha comigo. —Sugeriu Youseph.

A sugestão pareceu chatear a mulher. Ela parou.

—Sabe quantos homens me pediram para ir com eles? E sabe quantos deles conheceram a dor de uma garota nada indefesa? —Ameaçou ela.

Youseph parou e abaixou a cabeça.

—Eu sinto muito. —Disse ele.

—Pois deveria sentir.

—E o que eu posso fazer por você? É sério! Dá pra ver que você está mal.

—Só não me siga.

Infelizmente, Youseph não poderia atender às exigências da mulher. Então ele se enfiou na frente dela.

—Você não é uma boa ladra, vai se meter em situações como essa de novo. Alguma hora não vai dar certo pra você, viu?

A moça pareceu se enfurecer.

—E DAÍ? ISSO LÁ É DA SUA CONTA? —Gritou ela.

Nesse momento pequenos de fogo se desprenderam das mãos dela.

—Uma anja? —Surpreendeu-se Youseph. —O que uma anja faz aqui?

A mulher recua. Só havia um jeito de alguém ter reconhecido uma anja nessas ruas: sendo um anjo também, ou tendo o conhecimento de suas existências. Ela se desespera e começa a correr. Youseph corre logo atrás.

—Por favor, deixa eu te ajudar! —Insiste ele.

—NÃO! —Grita ela. —Foi confiando que tudo acabou mal pra mim.

Youseph não viu outra alternativa. Ele parou e simplesmente ficou inerte. A mulher parou também.

—Não vai fazer nada? —Questiona ela.

Em um piscar de olhos, a mulher se vira e se encontra com a imagem de Youseph novamente. Onde ele estava, apenas uma lata de lixo. Então ela percebe.

—A casa Seraph!?

Youseph ri.

—Sim. Meu nome é Youseph Seraph. Filho de Ezequiel Seraph. Vem comigo, por favor?

A mulher sente-se tentada a ir, mas hesita.

A casa Seraph, por memória dela, havia sido exilada. Eles não interferiram em nada que outras casas da aristocracia fizeram. Não mexeram um dedo. Nem quando sua própria casa, a dos Campbell, foi destruída.

—Por que eu deveria confiar em você, Seraph? —Questiona a mulher.

—Porque eu sei quem você é, Campbell. —Diz ele. —E porque eu tenho todos os recursos para ajudá-la. Independente do que for, eu prometo não te machucar.

—E como posso acreditar em você? —Pergunta a mulher.

Então, Youseph fica parado e abre os braços. Alguns objetos do cenário se desfazem em fumaça e muitas paredes parecem se abrir.

—Não há mais ilusões. Me queime se quiser. Me queime vivo! Te dou essa oportunidade.

Então, Youseph segura a mão da mulher e, com ela, envolve seu pescoço, fazendo-a tocar sua pele.

—Eu não sou uma ilusão. Venha comigo. Ou me queime aqui mesmo.

Após um suspiro profundo, a mulher cede.

—Está bem. Eu vou com você. —Diz ela.

Youseph não consegue conter o sorriso. Esta garota deu, em uma noite, mais diversão do que qualquer homem ou mulher havia lhe dado em toda sua vida. E nem precisou de toques com desejo para isso. Mas não era diversão que Youseph viu nela. Ele viu fogo.

—Poderia pelo menos dizer seu nome agora? —Pergunta o homem.

A moça sorri, um pouco mais vulnerável.

—Serena. Meu nome é Serena Campbell.


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