Estava sentada no chão do porão da fazenda. Na minha frente estavam os símbolos e uma chama crescente brilhando.
— Me chame Lilith! - Nada aconteceu. - Me chame Lilith! - Falei mais clara desta vez.
Minha mãe apareceu sentada na minha frente e arregalou os olhos.
Eu realmente era parecida com ela.
— Nicolle, como você fez isso?
— Sou parte bruxa, lembra-se?
— Você está brincando com coisa séria minha filha. Não deve mexer com isso.
— Isso faz parte de mim, mãe! - Praticamente gritei.
— Você não pode mexer com as trevas, Nicolle.
— Por que?
— Por que uma vez que você toca as trevas, ela nunca vai embora.
— As Trevas fazem parte de mim. Céu. Inferno. Que se dane! Vou encontrar Caroline e manda-la para o inferno nem que seja a última coisa que eu faça nessa vida. Nem que tenha que correr o mundo todo atrás dela. Mas vou encontrá-la.
— Nicole...
— Como está o meu pai?
— Ele está bem. Não se preocupe. Eu tenho algumas regalias. Por isso ele está bem.
— Ótimo. - Respondi antes de levantar.
— Nicolle?
A encarei de cima. Seu rosto tinha preocupação. Mas não me importava.
— A vingança...
— Não é a melhor maneira por que não vai mudar nada?
— Sim. Isso só vai te destruir por dentro.
— Já estou destruída, Lilith! E quando tiram tudo da gente, tudo o que queremos é vingança. Ela vai trazer a minha liberdade! - Balancei a mão e o fogo se desfez.
Fiquei no escuro pensando em como meses atrás estaria feliz de encontrar minha mãe. E como agora não sentia mais nada.
Acho que tinha cansado das mentiras.
A noite Nora tinha me arrastado até uma festa para comemorar a morte de Hank. Eu já tinha ficado de luto uma vez pela morte dos meus pais. Mas desta vez era verdade, nunca mais veria meu pai. A esperança era que no inferno ele estivesse bem já que minha mãe mora lá.
É tão estranho pensar em coisas assim. É tão estranho saber que isso tudo é real. Não é fantasia.
Sou filha de Lilith. Uma híbrida de bruxa, succubus e Nephilim. Tenho sangue de demônio e de anjo em minhas veias. Tudo isso é quase irreal.
Estava com um vestido vermelho comprido de um lado e mais curto do outro, um short preto e bota de montaria preta.
Estava sentada no bar observando todos dançarem. Sabia que tinha que caçar e matar Caroline, mas também precisava de algumas horas de descanso. De extravasar meus sentimentos.
Segui para a pista de dança e comecei a dançar. Vi Nico sorrir e cutucar Ben que me olhou. Ele sorriu e sorri de volta. Não era para estar ali. Era para estar de luto.
"Você pode ficar de luto outro dia, Anjo!"
Ben sempre sabia o que eu estava pensando. Era uma ligação nossa. Ele não lia mentes como eu. Mas sempre acertava.
Virei girando meu quadril e dançando de forma sensual. Estava distraída quando vi a discussão. Era claro que Tyler tinha que provocar Ben. Sai da pista e fui até eles que estavam discutindo em volta da mesa de pebolim.
— Da para vocês pararem? - Pedi me colocando entre eles.
— Esse idiota está louco para passar os seus dias no inferno. - Ben resmungou.
— Já que tem tanta coragem assim, vem. - Tyler abriu os braços.
Lancei um olhar para Ben que deu de ombros. Era claro que ele faria isso.
Desgraçado.
— Sabia que vir a essa festa era errado. - Resmunguei.
Segurei Ben pelo braço e o puxei para a rua.
— Aquele garoto testa a minha paciência.
— Você tem que entender que eu sou uma vitrine, ok? Todos passam e olham. Mas só o dono da loja coloca a mão. - Ele estalou a língua. - Vamos para... - Parei de falar.
Três caras haviam chegado e estavam a nossa frente. Eu os conhecia muito bem para saber que eles serviam meu pai antigamente.
— Procuramos você por toda a cidade. - Um deles falou.
— Acabaram de encontrar.
— Quando você vai reorganizar as coisas? Precisamos saber por onde retornar.
— Querem fazer algo útil? Achem o endereço daquela cobra da Caroline e me digam.
Eles se afastaram e Ben me encarou.
— Você vai lutar ao lado dos Anjos Caídos?
— Não sei. - Respondi. - Não posso ir contra Nora, mas também não posso abandonar o trabalho do meu pai. E no momento agora o que eu mais quero é vingança.
— Você tem que entender que quando se quer vingança, você tem que deixar duas covas preparadas. - Ele murmurou.
— Hank está morto. Mas ela também estará. Vou manda-la para o inferno onde é o lugar dela. E isso me faz chegar a parte em que digo. Eu disse que ela não valia nada. Mas ninguém acreditou. No fundo ela estava jogando com você para nos destruir. Depois jogou com o meu irmão.
— Você sabe que não deve falar isso perto do seu irmão. Ele se sente culpado por isso. - Dei de ombros. - O Cheshvan começa em menos de 72 horas. Em menos de 72 horas para a guerra começar.
"Nikki?" Virei para o prédio franzindo a testa. - "Nos fundos!"
Contornei o prédio e encontrei Nora e Dante. Ben me seguiu é claro.
— Filha da noite. - Dante murmurou.
— Me chame de Nikki. Se não for pedir muito. - Falei. - O que você quer Nora?
— Na verdade não é eu. É ele. - Ela apontou para Dante e me virei para ele.
— Fala.
— De qual lado você está?
— Do meu é claro.
— Você tem que se decidir. A guerra começa em menos de 72 horas. Os Nephilim não acreditam em Nora e você morar com ela não ajuda muito.
— Agora eu entendo por que você não o suporta. - Lancei um olhar para Nora depois me virei para Dante. - Não estou me importando com a guerra. Minha guerra é com Caroline. Eu quero ela.
— Isso nós podemos ajudar. Ela passou informações sobre seu pai todo o seu tempo.
— Então é isso. Se eu aceitar seguir Nora você me dará o endereço da vadia?
— Vamos dizer que sim. Você acha certo que anjos caídos possuam corpos?
— Não. - Respondi.
— Então fique do nosso lado.
— Eu não tenho que acatar a pedidos teus, Dante. - Falei. - Eu nem te conheço e não confio em você. Assim como você não confia em mim.
— Não confio. Mas ela confia. - Ele acenou com a cabeça na direção de Nora.
Lancei um olhar para Nora.
— Da para dar um tempo? - Ela perguntou para Dante. - Você é insuportável. Está me pressionando a namora-lo. Esta pressionando ela a escolher me seguir ou sair da minha casa. Você está atravessando a linha que existe entre nós. Nicolle mora comigo e acho que nenhuma de nós quer mudar esse fato.
— Ele quer te namorar? - Perguntei para Nora.
— Assim ela vai criar mais estabilidade com os Nephilim. - Dante explicou. - É de mentira.
— Odeio dizer, mas é uma ideia.
— É uma péssima ideia. - Ela retrucou.
— Ei, gatas, tudo bem por aqui? - Vee estava parada na porta nos encarando.
— Ei, está tudo bem. - Nora respondeu.
— Você não voltou mais com as nossas bebidas e comecei a ficar preocupada. - Ela olhou para Dante. - Quem é você?
— Ele? - Nora perguntou. - Ah. Uh. Bem, ele é apenas um cara qualquer... - Dante deu um passo à frente e estendeu a mão para Vee.
— Dante Matterazzi. Sou um amigo da Nora. Nós nos conhecemos há alguns dias quando um amigo em comum, Scott Parnell nos apresentou.
— Você conhece Scott?
— É um bom amigo na verdade.
— Qualquer amigo do Scott é meu amigo também. Então o que vocês quatro estão fazendo aqui?
— Dante acabou de comprar um carro novo. - Nora falou olhado o porsche. - Ele não resistiu e veio se exibir. Mas não olhe com muita atenção. Acho que está faltando o número da placa. Dante teve que recorrer ao roubo, já que gastou todo o dinheiro depilando o peito esta manhã, mas nossa como resplandece.
— Engraçadinha.
— Se eu tivesse um carro desses iria me exibir também. - Vee falou.
— Eu tentei convencer a Nora a dar uma volta, mas ela fica me dando fora. - Dante falou.
— É porque ela tem um namorado durão. Ele deve ter sido educado em casa porque perdeu todas aquelas lições valiosas que aprendemos no jardim de infância sobre como compartilhar. Se descobrir que você levou a Nora para dar uma voltinha vai amarrar esse Porsche brilhante na árvore mais próxima.
— Nossa, olha só que horas são. - Nora falou. - Não tem que estar em outro lugar Dante?
— Na verdade minha noite está vaga. - Dante sorriu.
— Está com sorte. - Vee falou. - Sabemos exatamente como preencher a sua noite. Você vai passear com as duas garotas mais legais de Coldwater Sr. Dante Matterazzi.
— Dante não dança. - Nora falou.
— Abro uma exceção só desta vez. - Ele abriu a porta sorrindo e Vee bateu palmas pulando.
— Eu sabia que esta noite ia ser de arrebentar!
— Eu estou indo embora. - Falei segurando a mão de Ben. - Nos vemos em casa Nora.
Voltei a caminhar com Ben e ele parou perto da sua moto. O encarei franzindo a testa.
— O que?
— Ele tem razão.
— Sobre?
— Você precisa escolher um lado logo. Mais cedo ou mais tarde.
— Mais tarde.
— O que eu estou dizendo é que você não pode ficar morando com Nora se não escolher o lado dela.
— Você não quer que eu lute ao lado dos Nephilim.
— Nora não quer uma guerra.
— Mas se tiver que lutar ela vai lutar para libertar os Nephilim. E ai? Eu ainda não decidi, mas e você?
— Eu vou seguir você onde for meu amor. - Ele se inclinou e me beijou.
— Mesmo que isso faça você lutar contra a sua raça?
— Se você for o alvo deles eu lutarei contra. Eu lutarei contra qualquer um que te colocar como alvo.
— Estou meio indecisa ainda. - Falei. - Acho que meu pai vai ficar decepcionado comigo se eu escolher os Nephilim. Mas ao mesmo tempo eu estou cansada em pensar no que eles iriam querer. Eu cansei das mentiras, Ben. Elas doeram bastante. Por isso sempre preferi a verdade, por que ela vai doer só uma vez. A mentira dói para sempre.
— Então o que você vai fazer?
— Meu primeiro objetivo é matar Caroline.