O Pote Amaldiçoado escrita por Alan Brito


Capítulo 2
02 - Axl Rose salva o dia


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capítulo!!



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Certo, vamos revisar o que aconteceu:

# Uma menina virou um cachorro (ok, cachorro é eufemismo)

# O meu professor tem cascos e chifres

# Uma mulher virou uma espécie de demônio com asas, perna robótica e perna de bode

# Eu acabei com uma casa incendiada e um meio-bode desmaiado

Eu ainda estava me beliscando, tentando me livrar desse possível sonho, quando ouvi um relincho no jardim. Sim, um relincho estridente e alto.

Logo um cavalo marrom irrompeu o salão e começou a relinchar como se quisesse me dizer algo. É bom deixar claro que, apesar de toda a loucura do dia, eu continuo não falando com animais (o que é realmente uma pena, adoraria saber o que os Lulus da Pomerania acham dos meus pais).

— Ei, por acaso você é o Gilles, amigo do professor? – Perguntei ao cavalo.

Tudo que obtive de resposta foi um relincho e uma mexida de cabeça que eu interpretei como positivo. A essa altura do campeonato não havia nada mais a perder, então não foi difícil eu decidir montar no cavalo com o homem bode.

Eu já havia montado diversas vezes em cavalos, porém todos selados. Dessa vez foi uma experiencia diferente, minha pele encostava na pelagem marrom do cavalo e eu não tinha outro apoio se não sua crina, a qual eu puxei um pouco forte demais (não queira que um cavalo empine com você em suas costas).

Quando eu estava minimamente acomodado, Gilles resolveu partir, mas não numa velocidade decente, parecia que estávamos fugindo de monstros ferozes que pudessem nos comer. E realmente estávamos, não é?

Cavalgamos por cerca de três horas, tempo suficiente para eu me arrepender de ter literalmente fugido de casa sem nem uma troca de roupa, sentir fome, perceber que meu celular acabara a bateria e, finalmente, pararmos em um mc donalds.

— Ei, garoto, onde estamos? – Perguntou professo Silvano, acabando de despertar enquanto eu pisava no chão. – Como viemos parar aqui?

— Bom, primeiramente, não faço ideia e, em segundo lugar, o que está acontecendo? – Perguntei, enquanto me livrava dos pelos de cavalo na minha roupa.

— Certo, certo, te devo algumas explicações, mas antes... – Ouvi sua barriga gritar de fome – podemos sentar lá dentro para comer?

Entramos na lanchonete e nos acomodamos em algum lugar ao fundo. Eu pedi um combo com bastante batata frita e uma coca-cola grande, enquanto o professor se contentou em pedir salada.

— Ok, garoto. Vamos lá. Primeiro de tudo, não posso te contar maiores detalhes enquanto não chegarmos ao acampamento, o trajeto é longo e, se você souber demais, será perigoso.

— Uau, respondeu muito minhas perguntas... – Revirei os olhos, degustando algumas batatinhas.

— Em segundo lugar – fui ignorado – você fez um bom trabalho acabando com aquela empousa... Outros teriam morrido em batalha, acho que ela te subestimou. Pode manter meu florete até chegarmos em Long Island.

— Calma, o que? Long Island? Nova Iorque? – Limpei o canto da minha boca – Você deve estar brincando. Long Island fica a tipo 4700 km da California!

— Sim, eu sei, mas tenho uma reserva de dinheiro para pegarmos trem, metro e avião... Até mesmo táxi... Preciso vasculhar para ver se ainda tenho algum dracma...

— Olha, eu não estou entendendo nada e nem sei porque resolvi subir naquele cavalo... Cara, que loucura, meus pais vão me matar. Onde estamos, preciso ir embora – Olhei para os lados procurando algum jeito de me informar e encontrei um jornal. – UTAH? COMO VIEMOS PARAR AQUI?

Me levantei desesperado, chamando a atenção de todo mundo. Professor Silvano me puxou de volta para a cadeira e começou a cochichar.

— Olha garoto, eu sei que isso é confuso e estranho, mas não podemos chamar atenção. Eu te encontrei por coincidência; sabe, muitos como você estão morrendo por ataques de monstros, como a que atacou você. Monstros poderosos, quero dizer. – Ele mordia um copo vazio enquanto falava, me puxando pela gola da camiseta. – Então você fez bem em subir naquele cavalo, minha missão é levar você são e salvo até o acampamento, e pretendo fazer isso rápido.

— Ok, então como faremos isso? – Me desvencilhei do homem bode e encostei na poltrona, cruzando os braços.

— Gilles é rápido, ágil e preparado; mas não vai ser suficiente; por Zeus, não podemos confiar em transportes públicos, essa região é sempre lotada de monstros... Seu cheiro não é típico de meio-sangue, mas eu não quero arriscar outro ataque... Estou pensando em pegarmos uma carona, tenho uns dracmas reservas.

— Certo – me levantei – preciso usar o banheiro.

Me levantei e antes que ele protestasse, entrei no banheiro e respirei fundo. Não foi a melhor ideia, porque o lugar não cheirava muito bem. Me olhei no espelho, ajeitei o cabelo e joguei uma água no rosto. Tateei o bolso para ver o que eu tinha levado: meu celular, um cartão de crédito, chiclete e alguns dólares.

Lista mental:

1 – Comprar roupas novas

2 – Comprar produtos de higiene

3 – Carregar o celular

4 – Não se meter em brigas com mulheres ferozes de pernas robóticas

Olhei para o lado e vi um menino carregando o celular que, por sorte (ou destino?), era igual ao meu.

— Ei, com licença, posso carregar meu celular um pouco? – Me aproximei, sorrindo.

O menino me olhou, com as bochechas vermelhas.

— Claro... Quer dizer... Pode usar à vontade, acabei de colocar para carregar, mas não tem problema nenhum... Digo... É um prazer...

Conectei o cabo ao meu celular e fiquei esperando enquanto ele não ligava. Ao meu lado, o menino tentava puxar assunto, sem sucesso e sem saber como ficar quieto.

— Bom, eu sou daqui da região, você é turista? Tô vendo que você toma bastante sol né, você veio da California?

— Santa Mônica – respondi, enfadonho.

— Nossa, que legal, sempre vou até lá nas férias escolares.

— Legal... – respondi sem emoção.

Eu não queria ser grosseiro, mas estava mais preocupado com o meu celular. Quando sua tela brilhou e ele finalmente ligou, havia cerca de – sem brincadeira – 127 ligações perdidas, centenas de mensagens e o correio de voz (alguém ainda usa isso?) entupido.

— Obrigado por emprestar o carregador, sério, mas preciso ir. – Entreguei o carregador para o menino.

— Ah sim, o prazer foi meu...

Antes que ele pudesse emendar outra frase, sai do banheiro. A televisão do Mc Donalds mostrava uma reportagem dentro de casa, um casal – meus pais – em prantos.

“Nós só queremos nosso filhinho de volta, quem quer que tenha o sequestrado, nós faremos de tudo para traze-lo de volta. Bebê, se você estive ouvindo isso: Mamãe e papai te amam muito.”

Dei uma risadinha. Minha mãe nunca fez o tipo mãe preocupada. Quer dizer, nunca tinha feito o tipo mãe no geral. Ela é uma boa pessoa, mas eu a via mais na televisão do que em casa; meu pai também não gostava de fazer o papel de pai. Resumindo minha vida, posso dizer que é tediosa e bem cheia de afazeres durante o dia – aulas e mais aulas.

No momento que minha foto apareceu na tela eu soube que era hora de irmos embora. Peguei o florete e o professor Silvano e paguei a conta no caixa. Obrigado aos meus pais por não terem cancelado o cartão de crédito.

Saímos do estabelecimento. A rua estava escura, o horário no meu celular acusava 22h30 e, além das pessoas que comiam dentro da lanchonete, não havia mais ninguém em lugar nenhum.

— Ei garoto... Algo está cheirando mal, e não estou falando dessas suas roupas suadas de adolescente.

— Olha aqui, se vamos fazer isso, não é justo me ofender assim ok? No mínimo um resp-

— ABAIXA!

Fui empurrado para o chão, com o professor sobre mim. Por cima das nossas cabeças, uma enorme bola de metal brandiu e acertou um carro, que começou a disparar o alarme.

— Mas que porra foi essa? – Gritei, assustado.

Uma figura de três metro de altura apareceu a alguns metros de nós. Um homem de aparência rústica, cabelo grande e mal cortado, roupas esfarrapadas e uma cara terrivelmente assustadora se materializou no meio da escuridão.

— Ora ora, bem a tempo do meu jantar. Semideus ao molho de bode... – Resmungou a coisa, vindo em nossa direção.

— Garoto, isso é um Lestrigão... Precisamos correr antes que ele nos alcance e nos coma.

— Primeiro que meu nome não é garoto e depois, ele não faria isso na frente da lanchonete, com a chance de todo mundo ver, não é? – Perguntei tentando ser otimista, algo me dizia que isso não ia impedir nada.

— A névoa vai ofuscar os mortais...

— E se nós pedíssemos gentilmente para que ele não nos matasse? Sabe, gentileza sempre funciona...

Antes que o professor pudesse me impedir eu me levantei do chão e coloquei meus braços para o alto, em sinal de rendição.

— Ei! Pare aí! – O monstro parou de andar – Você pode nos deixar ir embora, por favor?

O monstro pareceu confuso por algum momento, mas voltou a andar em nossa direção, com outra bola de metal em sua mão.

— Você não via me enganar! Você é meu jantar!

Foi então que ele lançou sua outra bola de metal e, antes que me atingisse, saltei para o lado esquerdo, desviando da morte certa.

— Ok, você não quer parar por bem, então não tem outra saída. – Peguei um pedaço de pau e arremesse.

A cena seria cômica se não fosse trágica. O pedaço de pau quicou na cabeça do lestrigão e caiu no chão. Aquilo o deixou irritado e o fez correr até mim, me pegando pelas pernas. Eu estava de ponta cabeça e sendo levado direto para aquela boca de boeiro que exalava um cheiro podre, como se não fosse escovada por eras.

Quando eu estava aceitando meu destino para a morte certa, ouço algo como Sweet Child O’mine versão flauta e dezenas de pássaros raivosos começam a cercar eu e o gigante, bicando-o pelo corpo inteiro. Os pássaros foram incômodos o suficiente para que eu fosse lançado em um arbusto.

— Ei Garoto! Vamos logo! – Olhei para o professor, tirando sua flauta da boca e acenando com a mão.

Corri a seu encontro enquanto ele jogava uma moeda de ouro brilhante no meio da rua.

— MALDITOS PASSARINHOS! – O lestrigão gritava e se debatia.

— Guns and roses nunca foi minha banda preferida, gosto ais de Nirvana, mas essa música é perfeita para atiçar pardais contra homens gigantes. – disse o homem bode, enquanto coçava sua barbicha.

O ar começou a tremular e um táxi apareceu na nossa frente, abrindo a porta do passageiro. Eu poderia facilmente dizer que era um táxi americano comum: amarelo, faixas brancas, caindo aos pedaços e com uma placa branca no teto.

— Vamos entrar, rápido, antes que os pássaros desistam. – O bode me empurrou para dentro e logo ele se sentou ao meu lado e fechou a porta.

Se ele achava que íamos pagar uma viagem a Long Island de táxi, ele estava muito enganado.


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