Vítimas Das Decisões escrita por Leonardo Souza


Capítulo 7
Vamos Começar?




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20:20

Marcelo

Não conseguia parar de pensar na situação que estávamos, um novo assassino já era ruim, mas todas as coisas que aconteceram e ninguém chegou a contar era de alguma forma pior, significava que eles não confiavam em mim. Não. Significava que eles achavam que não conseguiria lidar com tudo aquilo. E por experiencia, só sobreviveríamos se todos confiassem em mim e uns nos outros.

— Ei! — Mateus me chamou. — Está tudo bem? Já te chamei três vezes.

— Está. — Mateus estava segurando uma caneca. Me lembrei que nos primeiros anos ele misturava bebida com outras coisas.

— É água. — Ele me mostrou como uma criança de cinco anos. — Você sabe que todos só querem te proteger né?

— O que?

— Por isso que ninguém contou nada para você, inclusive eu.

— Não preciso que vocês me protejam. Não vou despedaçar se outra coisa ruim acontecer.

— Para eles isso não importa, eles não falaram porque assim como você, achavam que podiam lidar com a situação sozinho e nós dois sabemos que isso não funciona, da última vez que fizemos isso, eu ganhei alcoolismo e você ganhou a habilidade de colocar o que tá sentindo no fundo do baú e não falar para ninguém.

— Ei! — Protestei.

— Você sabe que é verdade, quando foi a última vez que você falou sobre o que aconteceu com alguém?

Mateus estava certo, não me lembrava quando foi a última vez, tirando as entrevistas que fizemos algum tempo depois ou quando aceitei narrar tudo o que lembrava para o livro de Lucas.

— Temos coisas mais importantes para resolver. — Respondi. — Precisamos pensar como vamos parar ele dessa vez antes que seja tarde demais.

— Se você tiver um plano, pode me falar. — Mateus bebeu com pouco de água.

21:09

Jean

Após a conversa com Detetive Kauan, aceitei o convite para beber com Jonas e Gabriel, bebida no alojamento era proibido então compramos algumas garrafas no mercado e fomos em uma praça perto. Algumas crianças estavam brincando no fundo e nas mesas de cimento algumas mães assistiam e alguns senhores jogavam cartas, Gabriel estava sentado no banco, eu ao lado dele e Jonas apoiado no carro.

— Por que ficou até tarde com o Detetive? — Jonas perguntou.

— Resolvendo papelada. — Menti.

— Não precisa mentir para a gente, estamos juntos nessa. — Ele respondeu com um ar de arrogância.

— Como assim? — Gabriel perguntou.

— Jean estava falando sobre alguma coisa envolvendo o mascarado, alguma coisa que eu aposto nem Marcelo sabe o que é.

— Tudo bem, ele me ligou. — Falei.

— E? — Jonas estava me tratando como se fosse uma criança de cinco anos, são sabia se era de proposito ou apenas para me irritar.

— Ele falou que não sobreviveria.

— Não seria a primeira vez. — Jonas falou com o mesmo tom. — Os últimos policiais que ajudaram o Detetive também morreram, alguns policiais até brincam falando que não querem ser assistente dele.

— Superstição não serve na nossa situação. — Respondi.

— Superstição ou não, alguém está agora mesmo planejando a nossa morte, só vamos descobrir se ele consegue ou não. — Jonas jogou a garrafa de cerveja na calçada.

21:36

Victor

Lucas bateu na porta do meu quarto, escutei ele tentando abrir a porta antes, sempre deixava aberta, porém com tudo o que havia acontecido decidi trancar por segurança.

— Estou indo! — Corri até a porta.

— Ótimas notícias. — Ele não esperou abrir a porta completamente.

— O que aconteceu? — Perguntei.

— Acabei de falar com um diretor, ele quer ler o meu roteiro!

— Isso é ótimo!

— Viajamos amanhã!

— O que?

— Provavelmente começamos a escolher o elenco amanhã!

— E o Marcelo? E... a situação aqui?

Lucas era uma boa pessoa, mas sempre pensava nele em primeiro lugar, percebi que aquele foi o primeiro momento em que pensou sobre Marcelo e sobre outro assassino estar por aí.

— Droga. Eu esqueci completamente. — Ele se sentou na cama.

— E agora? — Perguntei e ele ficou pensando por alguns segundos.

— Já sei, eu vou até a reunião e você fica aqui para avisar caso alguma coisa aconteça.

— Não! Você está louco? Não vou ficar de isca para assassino.

— Não precisa se preocupar, se a teoria deles estiver certa você não é um alvo, só quem recebeu a ligação, lembra?

— Certo, mas você acha que ele deixaria você sair da cidade?

Falar em voz alta me fez perceber como era loucura alguém que não sabia quem era tinha controle até sobre se saia ou ficava na cidade.

— Não falamos para ninguém, é mais seguro assim.

— Eu não sei se é uma boa ideia, Lucas.

— Victor, essa é minha, nossa, oportunidade de fazer algo grande no cinema. — Ele me segurou pelos ombros.

—Tudo b- O telefone do hotel tocou e pulamos de susto.

— Alô. — Falei ao atender e por alguns segundos ninguém falou nada e então uma voz feminina saiu do outro ali.

— Senhor Victor, tem uma mulher procurado o senhor.

Não conhecia ninguém da cidade então a situação era bem estranha.

— Qual o nome dela? — Perguntei.

— Mariana. — A recepcionista respondeu depois de algum tempo.

— Pode mandar subir.

Desliguei o telefone e Lucas estava me olhando confuso.

— Quem era? — Ele perguntou.

— Mariana está subindo. — Respondi.

21:40

Mariana

Não sabia que estava indo para o hotel até chegar na rua, não foi difícil de achar, seguia Lucas no Instagram e ele fez questão de postar uma foto com a localização e tudo mais, o que achei estranho considerando que outro assassino estava por aí, isso só facilitava o trabalho dele. Fiquei parada na frente do hotel por alguns minutos antes de decidir entrar, quando a mulher do atendimento perguntou o nome da pessoa que estava ali para visitar, minha mente ficou em branco e o único nome que veio a minha cabeça foi Victor. Lucas estava me esperando na frente da porta do quarto.

 — Oi. — Ele me cumprimentou, desconfortável.

— Oi. — Respondi, também desconfortável.

— Vamos entrar. — Ele fez abriu a porta e eu entrei.

Victor estava sentado na cama e me cumprimentou com um aceno, que retribui. Lucas se sentou ao lado dele e os dois ficaram me encarando enquanto ficava parada em pé entre a cama e uma espécie de armário.

— Bem, — comecei a falar depois de algum tempo. — Vou ser sincera e falar que não sei o porquê estou aqui.

Victor me encarou confuso e Lucas não mostrava nenhuma expressão.

— Eu vou embora. — Me virei em direção a porta.

— Não. — Lucas falou. — Eu sei por que você veio aqui.

— Sabe? — Eu e Victor perguntamos juntos.

— Sim, você desvendou as ligações e agora precisa saber mais, precisa resolver o mistério e veio até um dos sobreviventes da primeira vez achando que vou ter alguma pista.

— Não...

— Antes que você continue. — Ele se levantou. — Você acha que agora é uma espécie de Nancy Drew, mas tudo o que fez foi deixar as pessoas cientes que vão morrer, e não tenho nenhuma pista para te ajudar. Você o que? Por que sobrevivi Daniel e Giovane sou um expert na área? Não sou.

— Não precisa responder ela assim. — Victor entrou na conversa.

Lucas tinha razão, eu fiquei de certa forma feliz por desvendar as ligações, mas não pensei o que aquilo significava para os outros, também pensei que ele teria respostas, Marcelo, Detetive e Mateus não era opções viáveis para conversar sobre aquilo, então fui até ele.

— Tenho que ir. — Falei e sai do quarto antes que eles pudessem falar qualquer coisa.

21:43

Victor

— Precisava ter sido tão grosso com ela? — Perguntei, não consegui evitar o tom irritado.

— Não sei o que aconteceu. — Lucas se sentou na cama. — Ver a esperança dela de resolver isso me deixou tão irritado e nem sei o porquê.

— Eu sei, você se viu nela, cinco anos atrás, com esperança de desmascarar o assassino antes de tantas pessoas morrer.

— Acho que sim, ela... eles não sabem como é.

— Sabe o que vai ajudar a pegar esse assassino? Você ficar aqui na cidade e ajudar.

— As vezes fico impressionado como você consegue manipular situações.

— Aprendi com o melhor, posso ligar para o diretor e remarcar a reunião?

— Pode.

22:30

Rodrigo

Estava jogando com Roberto, Igor, Wesley e Luan, costumávamos jogar juntos quase toda a noite quando a faculdade não estava nos sobrecarregando, Isa também jogava para fechar o time de cinco, porém ela estava cansada e com dor de cabeça depois de tudo o que aconteceu e decidiu dormir mais cedo. O que significava que precisávamos jogar com uma pessoa aleatória e abrir uma chamada de áudio paralela ao jogo. Durante esse tipo de chamada acabávamos falando mais sobre coisas aleatórias do que sobre a partida em si.

— Vou pegar alguma coisa para comer enquanto espero a partida. — Luan fala.

— Vocês viram que Lucas está em um hotel caro da cidade? — Wesley pergunta.

— Não olhei minhas redes sociais, com tudo o que aconteceu. — Roberto responde.

— Vocês seguem ele? — Perguntei.

— Claro, — Igor responde. — Mesmo que ele não seja uma... ótima pessoa.

— Voltei. — Luan anuncia. — Falando sobre o que?

— Lucas. — Igor responde.

— Não gosto dele. — Luan fala.

— Nós sabemos. — Wesley comenta.

— Falando sobre isso. — Começo a falar. — A questão das-. Paro de falar.

— Das? — Roberto pergunta.

— Acho que escutei alguém batendo na porta. — Falo.

— Como, não está usando fone? — Igor pergunta.

— Estou.

— Deve ter sido algum barulho do jogo. E seu prédio tem interfone.

— Deve ter sido mesmo.

Escuto o barulho outra vez, alguém batendo na porta, mas não parece ser as três batidas normais e sim uma batida forte.

— Acabei de escutar de novo. — Falo.

— Você está falando sério? — Roberto pergunta.

— Espera aí. — Tiro meu fone, espero alguns segundos e dessa vez escuto uma batida. — Definitivamente tem alguém na minha porta.

— Chama a polícia. — Igor fala.

— O que? — Luan pergunta. — Vai ver quem é.

— Você está louco? — Wesley fala, e se for...

Até aquele momento não havia pensado na possibilidade de ser o assassino, um arrepio percorreu meu corpo.

— O que eu faço? — Perguntei.

— Liga para a polícia! — Igor repete.

— Tenho que ir olhar. — Falo.

— Você é idiota! — Roberto grita.

— Qual a outra opção? — Pergunto. — Ficar no meu quarto e esperar ele desistir ou vir me matar, se for ele.

— Pega alguma coisa para se defender e espera a polícia chegar trancado no seu quarto. — Wesley sugere.

— Não tenho nada aqui. — Respondo.

— E agora? — Igor pergunta.

— Se ele está batendo é porque ainda não entrou, certo? Posso correr até a cozinha e voltar. — Falo.

— Vocês nunca assistiram um filme de terror? — Luan pergunta.

— Outra vez, qual a outra opção? — Pergunto.

Ninguém responde.

— Ótimo. Vou abrir a ligação no celular. — Falo.

Pego meu celular, abro a chamada e vou até a porta do meu quarto, que leva a um corredor com o banheiro e o outro quarto. A sala e a cozinha ficam no final do corredor, todas as luzes estão apagadas tirando a do meu quarto, minha mãe tinha esse ditado de se não está no cômodo apague as luzes, fantasmas não precisam de claridade para enxergar. Vou andando devagar até a cozinha, quando chego na sala, a batida na porta outra vez. Dou um pulo de susto.

— Rodrigo! — Roberto grita.

— Estou aqui. —Sussurro.

— Vai logo! — Luan fala.

Abro a gaveta devagar e tiro a maior faca que encontro, tentando não fazer tanto barulho. Enquanto estou focado na faca, escuto o barulho da porta se abrindo, me abaixo atrás da bancada.

— Ele abriu a porta! — Sussurro desesperado.

— Merda! — Todos falam, além de outros palavrões.

— Rodrigo? — Uma voz fala, meu cérebro demora alguns segundos para reconhecer a voz, é meu síndico. Poderia chorar de alívio ali mesmo.

— Estou aqui. — Respondo me levantando.

— Quem é? — Roberto pergunta.

— Meu síndico. — Respondo.

— Desculpa vir até aqui, as crianças quebraram os interfones e tem uma entrega para você na portaria, bati algumas vezes e ninguém abriu, decidi verificar.

— Tudo bem, seu Arthur. Já vou descer.

— Vou desligar e já volto. — Falo para os meninos.

O que aconteceu depois foi tão rápido que nem sei como meu corpo reagiu tão rápido, assim que coloquei o fone no bolso, olhei para seu Arthur e vi uma pessoa atrás, antes que pudesse falar qualquer coisa, a pessoa enfiou uma faca na garganta dele, quando ele caiu eu vi a máscara, pensei que iria congelar de medo, mas quando percebi estava correndo para o meu quarto. Antes de passar pelo primeiro quarto, senti uma pontada no meu braço, olhei para trás e o assassino ainda estava na porta com uma arma apontada para mim, havia levado um tiro no braço, talvez a adrenalina ou o medo não deixaram meu cérebro processar a dor. Continuei correndo e senti a pontada na minha perna e um pedaço de parede explodiu quando uma bala atingiu, me joguei no meu quarto. Fui até o computador.

— É ele! — Não pretendia gritar, mas aconteceu.

— Ele quem? — Roberto pergunta.

Não consigo falar outra coisa, a porta do meu quarto se abre, me viro e ele está ali, parado com a arma na mão. Percebo que estou chorando, não sei se comecei agora ou na sala, a adrenalina devia estar acabando porque minha perna e braço começaram a doer, estava apoiado na mesa do computador, mas não consigo me manter apoiado e me sento no chão.

— Por favor. — É tudo o que consigo pensar em falar.

O assassino continuou parado na porta me olhando, parecia estar admirando a situação.

— Por favor. — Repeti em meio a lagrimas.

Ele começou a vir na minha direção, tentei me afastar, porém não tinha forcas e nem lugar para ir. E então tudo ficou preto quando ele me deu um golpe na cabeça.

22:40

Roberto

Quase todos haviam mutado a chamada, Rodrigo provavelmente iria demorar lá embaixo. Só eu e Luan escutamos Rodrigo gritar “é ele!”.

— Rodrigo! — Gritei.

— Rodrigo, que brincadeira é essa? — Luan pergunta.

— Rodrigo?

Será que ele no caso é o assassino? Mas poderia ser rodrigo fazendo piada com a situação. Porém se fosse caso de vida ou morte não podia deixar meu amigo morrer, peguei meu celular decidido em ligar para o Detetive e antes que pudesse desbloquear a tela, uma mensagem de número desconhecido apareceu.

“Vamos começar?”

22:40

Marcelo

Havia acabado de entrar no banheiro para tomar banho quando Mateus começou a bater na porta desesperadamente.

— Marcelo! — Ele gritou.

— Oi. — Abri a porta e ele me mostrou o seu celular com a mensagem.

Vamos começar? Sabia o que era, sabia quem era e sabia que alguém estava morto ou iria morrer nas próximas horas. Corri para o meu quarto, meu celular estava em cima da cama, vibrando com as mensagens, assim que peguei ele, Roberto me ligou.

— Roberto, está tudo bem? — Perguntei.

— Rodrigo, alguma coisa aconteceu. — Ele respondeu com a voz tremula.

— O que aconteceu? Onde ele está?

— Na casa dele... ele estava lá. Marcelo o que a gente faz?

— Preciso que você cheque com os outros, garanta que estão em casa ou que estão bem.

— E você? — Roberto perguntou.

— Vou até lá. — Respondi e desliguei antes que ele pudesse protestar.

— Temos que ir. — Falei para Mateus.

— O que aconteceu? — Ele perguntou.

— Rodrigo foi atacado, temos que ir até a casa dele, fica a quinze minutos daqui.

— Vamos sozinhos? E o Detetive?

Chamar o Detetive não havia passado pela minha cabeça, mas não podíamos esperar por ele chegar.

— Vamos ligar para ele no caminho. — Fui em direção a porta. Mateus ficou parado no lugar.

— Você vem? — Perguntei.

— Não sei.

Então percebi que a situação poderia ser difícil para ele e dependendo do que acontecesse, Mateus voltar a beber era uma opção.

— Você não precisa ir se não quiser. — Falei com o tom mais sincero possível.

— Não posso deixar você sozinho, vamos.

Saímos de casa e pela primeira vez em anos não verifiquei se a porta estava trancada, não precisava mais pensar na possibilidade de alguém entrar nela, agora aquilo era só uma questão de tempo e uma pequena parte da minha consciência estava aliviada.

O portão automático pareceu levar horas para abrir, finalmente sai com o carro, antes que pudesse manobrar para realmente dirigir até a casa de Rodrigo, alguém parou na frente do carro.

— Alan! — Mateus gritou.

— Quem é esse? — Perguntei.

— Oi! — O homem respondeu.

— Ele e meu... amigo. — Mateus respondeu como se fosse a primeira vez que pensou sobre o nome da relação dos dois.

— Aonde estão indo com tanta pressa? — Ele perguntou enquanto se aproximava do lado do passageiro. — Oi. — Ele me cumprimentou.

— Temos que ir. — Falei e Mateus me olhou com uma expressão de quem não sabia qual seria a opção mais educada ali.

— Entra no carro. — Falei. — E ele entrou.

Assim que fechou a porta um cheiro de álcool preencheu o carro, não era muito forte, talvez uma pessoa não perceberia, mas por passar tanto tempo com Mateus na época em que ele tentava esconder a bebida, conseguia distinguir, olhei para Mateus e ele estava claramente desconfortável por também ter sentido o cheiro. Não podia lidar com aquilo agora, precisava focar no que era importante, comecei a dirigir.

22:40

Giovana

Só lendo a mensagem meu estomago revirou, corri para o banheiro e acabei vomitando. Alguns minutos depois, Luiza me ligou.

— Está tudo bem? — Ela perguntou antes mesmo que pudesse falar alô.

— Está. — Respondi. O gosto amargo preenchendo minha boca.

— Que bom, as meninas estão bem. — Ela respondeu aliviada.

— O que aquela mensagem quer dizer? — Perguntei.

— Não sei, talvez uma espécie de anúncio do assassino ou talvez ele já tenha feito alguma coisa com alguém.

— Isso é horrível. — Falei.

Luiza não respondeu nada, não esperava uma resposta, porém ela ficar sem palavras era de alguma maneira pior.

— Preciso ir, se algo acontecer pode me ligar a qualquer hora, tudo bem? — Ela falou depois de algum tempo.

— Tudo bem, tchau. — Desliguei.

Antes de guardar o celular, vi uma notificação do Instagram no celular. “Bolão das novas vítimas começou a te seguir.” E meu estomago embrulhou outra vez.

22:43

Alan

 

— Então estamos indo para a cena de um possível crime? — Perguntei.

Mateus havia explicado toda a situação, porém precisei falar em voz alta para ver se fazia sentido. Não fazia.

— Não devíamos ligar para a polícia? — Outra vez uma pergunta que não parecia real.

— Se ele quiser, o Detetive vai estar lá. — Marcelo respondeu sem tirar os olhos da rua, estávamos em alta velocidade, ultrapassando outros carros e passando sinais vermelhos, pelo menos ele estava focado no caminho.

— Quando chegarmos lá, qual o plano? — Ainda estranho.

— Vamos até o apartamento do Rodrigo, depois disso vamos improvisar. — Mateus respondeu.

A resposta calma de Mateus, como se fosse a coisa mais obvia do mundo me fez lembrar que os dois já passaram por isso, eu era o novato ali. Para eles era apenas mais uma atividade que lembrava cinco anos atrás.

— Chegamos. — Marcelo falou.

Ele estacionou o carro da pior maneira possível e saiu, Mateus foi logo atrás, decidi seguir os dois.

— Você fica aqui. — Marcelo falou antes que eu pudesse abrir a porta.

— O que? Por quê? — Perguntei.

— Se algo ruim acontecer, precisamos sair daqui o mais rápido possível, então deixe o motor ligado.

— E se vocês não saírem do prédio em dez minutos?

— Encontre o Detetive Kauan. — Marcelo respondeu.

— E se o assassino sair pela porta da frente?

— Passa com o carro por cima dele. — Os dois responderam. Como se fosse obvio e correram para dentro do prédio.

22:53

Marcelo

 

O prédio de Rodrigo não tinha porteiro, você interfonava para o apartamento e eles abriam o portão para você, porém o portão estava destravado, entramos no lobby, havia um elevador ali, mas a escada era a resposta certa naquela situação, subimos a escada em silêncio, eu na frente pois sabia onde Rodrigo morava, assim que chegamos no andar parei na porta, respirei fundo e abri. Havia seis apartamentos em cada andar, três em cada lado, Rodrigo morava no último a direita. Antes de chegar na porta já era possível ver alguém caído na porta.

— Merda. — Mateus falou.

Quando nos aproximamos eu percebi que não era Rodrigo e sim um senhor, o síndico ou o vizinho. Ficamos parados na porta, por algum motivo, entrar no apartamento não parecia seguro.

— Vamos entrar? — Mateus sussurrou.

— Sim. — Respondi.

O corpo na porta impedia ela de fechar completamente, mas não era o bastante para passar, empurrei a porta com todo o cuidado para tocar no corpo enquanto entrava no apartamento, as luzes estavam todas apagadas exceto a do quarto de Rodrigo, quando chegamos no corredor eu vi o sangue no chão, sem pensar me apressei até o quarto, naquele momento não me importava em encontrar o assassino, só queria encontrar meu amigo, quando cheguei no quarto, quase escorreguei em uma poça de sangue olhei em voltar procurando por Rodrigo, mas ele não estava ali.

— Cadê ele? — Perguntei.

— O sangue vai para o armário. — Mateus respondeu.

Fui até o armário, respirei fundo e abri.

Rodrigo estava ali dentro, o armário não era grande o suficiente para alguém da sua altura então ele estava contorcido para caber ali, vários cabos de computador e vídeo games estavam jogados por cima do corpo dele e por experiencia própria sabia como ferimentos de bala se pareciam.

— Porra... — Mateus falou e me assustei, havia esquecido que ele estava no quarto.

E então eu vi no fundo do armário.

— Corre! — Gritei.

22:58

Alan

 

Tentei ligar o rádio para aliviar a tensão, mas não parecia certo escutar música pop enquanto os dois estavam indo encontrar um corpo, para piorar, qualquer movimento na rua eu achava que era o assassino. Nunca desejei tanto algo para beber.

— Se controla, Alan. — Fechei os olhos e então um barulho alto, olhei pela janela do carro, um dos apartamentos no prédio havia explodido.

Sai do carro e entrei no prédio sem pensar duas vezes, encontrei a escada e comecei a subir, porém não considerei que os outros moradores estariam correndo na direção oposta, meu plano de correr escadas acima virou uma sequência de pedidos de licença para pessoas que não estavam me escutando. Outro ponto fraco do meu plano era não saber em que andar eles estavam, a única opção era voltar para a entrada e esperar que os dois saíssem de lá vivos

23:00

Kauan

 

Estava na minha mesa analisando papeis sobre o primeiro caso e tentando achar formas de conectar com o que estava possivelmente acontecendo quando Jean entrou correndo na minha sala, ele não estava usando uniforme, o que significava que algo grande estava acontecendo.

— O que aconteceu? — Perguntei.

— Não sei exatamente, um prédio explodiu e as pessoas estão falando que Marcelo estava envolvido, tentei te ligar, mas caia direto na caixa postal. — Ele respondeu tentando recuperar o folego.

Peguei meu celular e realmente estava sem sinal, sabia que era algum tipo de bloqueador como da primeira vez.

— Temos que ir, isso não é bom.

Sai da sala e fui direto para o fundo do prédio onde deixava meu carro estacionado, ele havia deixado a polícia fora disso por algum motivo, aparecer com uma viatura não era uma boa ideia. Assim que saímos do raio do bloqueador, meu celular começou a vibrar sem parar com mensagem e ligações perdidas. A tela acendeu com a ligação de Lucas, atendi.

— Onde você estava? — Ele perguntou antes que pudesse falar qualquer coisa.

— Meu celular estava sem sinal, mas já estou indo até o prédio, alguma coisa do Marcelo?

— Não, ele não atende e Mateus estava com ele.

— Mateus? — Jean perguntou surpreso, eu também estava.

— Chego no prédio em dez minutos. — Falei.

— Vou esperar na casa do Marcelo.

— Tudo bem.

Lucas desligou e ficamos em silêncio por alguns minutos até que Jean falou.

— Você recebeu a mensagem?

— Que mensagem?

Ele me mostrou o celular e na tela “Vamos começar?”

 

Pisei no acelerador.

23:05

Marcelo

 

Conseguimos sair do apartamento antes da explosão, porém mal saímos da porta, o choque nos jogou contra a parede, acabei apagando, até que escutei uma voz me chamando e me sacudindo, achei que era Alecsandra e senti uma vontade de chorar de alívio, tudo tinha sido um sonho, mas recuperei a consciência o suficiente para ver que era Mateus gritando alguma coisa.

— Temos que ir! — Finalmente entendi. — Marcelo!

— Tudo bem. — Tentei me levantar e por instinto coloquei a mão no estomago, da última vez que algo explodiu acabei com um ferimento horrível, dessa vez não havia sangue.

— Precisamos ir rápido, talvez a explosão tenha desestabilizado o prédio ou talvez outras bombas estejam espalhadas.

Descemos as escadas correndo, mas era como se estivesse me assistindo fazer tudo aquilo em terceira pessoa, quando chegamos no primeiro andar, Alan veio correndo na nossa direção.

— Achei que vocês estavam mortos. — Ele falou.

— Eu também. — Mateus respondeu.

— Vamos sair daqui rápido.

Saímos do prédio, caminhamos ate o meu carro, sabia que os moradores e até pessoas que não moravam ali estavam tirando fotos e filmando, mas nada daquilo parecia importante no momento. Quando chegamos no carro, Mateus falou que iria dirigir, me sentei no banco de trás.

— Rodrigo está morto. — Falei, não para eles, e sim para ver se conseguia me livrar do sentimento de que estava debaixo da água. Não funcionou.

— Não é culpa sua. — Mateus respondeu.

— Eu sei.

— Aquele não é o Detetive famoso? — Alan apontou.

Mesmo sem ter visto onde Detetive Kauan estava, sai do carro e comecei a caminhar em direção as pessoas.

— Marcelo? — Escutei Mateus gritar, mas parecia estar a quilômetros de distância.

23:08

Mateus

 

— Ele bateu a cabeça? — Alan perguntou depois que Marcelo saiu do carro.

— Não, acho que não. — Respondi. — Talvez esteja em choque.

— Mas vocês não já fizeram isso? — Alan perguntou e na mesma hora percebeu que havia passado do limite.

— Vou atrás dele, você fica aqui. — Sai do carro.

Kauan e o outro policial estavam tentando organizar o caos, pessoas gritando onde iriam dormir, pessoas perguntando se outro assassino estava por a solta, Marcelo estava parado olhando para a situação como se estivesse assistindo um filme.

— Marcelo? — Chamei quando cheguei ao lado dele, mas nenhuma resposta.

— Marcelo? — Falei um pouco mais alto e dessa vez ele escutou.

— Oi. — Foi tudo o que respondeu.

— Está tudo bem, preciso levar você no hospital?

— Não.

— Você está agindo estranho e não acho que bateu a cabeça e está sangrando internamente, precisa me falar o que está acontecendo.

Ele parou de olhar na minha direção, olhou para as pessoas, para o prédio e depois de alguns segundos começou a falar.

— Não sei se isso vai fazer sentido. Da primeira vez, a única vez que realmente achei que ia morrer foi na escola antes de atacar Giovane, em algum lugar na minha cabeça eu sabia que ele precisava de mim vivo até o último momento, fazia parte do teatro dele, mas agora quando vi a bomba no armário eu tinha certeza de que estava morto, seja lá quem estiver matando dessa vez, ele não está fazendo um teatro.

Naquele momento eu consegui entender como a experiencia dos primeiros ataques tinha sido diferente entre nós, Marcelo tinha razão, Giovane e Daniel precisavam dele vivo até o final, mas os outros viveram em pânico de ser o próximo, esse foi um dos motivos para começar a beber, ignorar o medo. Só que dessa vez as coisas seriam diferentes. Ficamos em silencio até Kauan acalmar os moradores e finalmente vir na nossa direção.


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