—Eu reconheço o poder da tua forma atual, mas já é tarde demais. -Comentou Marwolaeth sem se deixar ser intimidada pela quantidade absurda de mana que Kurokawa libertou. -O ferimento que eu causei vai acabar por te matar mais cedo ou mais tarde. 

Kurokawa respirou fundo e disparou deixando um rastro de energia branca pelo caminho. Marwolaeth esperava um aumento de velocidade, mas aquilo estava muito acima das suas expectativas. Fechando a distância entre eles dentro de um piscar de olhos, Kurokawa balançou sua espada negra. Marwolaeth teve tempo de bloquear o ataque, mas quando as suas espadas chocaram uma explosão de energia negra foi criada.  

A espada de Marwolaeth quebrou-se com o impacto, o seu braço foi ferido e sua visão foi obscurecida. Ela rapidamente entendeu que os ataques de Kurokawa eram perigosos e colocou distância entre eles com um pulo. Quando pousou, sangue lentamente começou a escorrer de um corte superficial no seu tórax: 

—Quase não pude ver o segundo ataque. -Pensou ela. -Com aquela velocidade ele poderia ter continuado me atacando, mas ele não o fez. Esse poder tem alguma limitação. Eu consigo vencer. 

—Kurokawa, você precisa ir mais devagar, vamos ficar sem mana em um instante nesse ritmo. -Aconselhou Hikari. 

—Não posso, se eu desacelerar, ela vai conseguir desviar. -Respondeu Kurokawa tentando ignorar a dor e a exaustão. -Eu vou atacar de novo. 

Marwolaeth abriu o seu inventário e sacou um grosso e longo machado vermelho: 

—Toque do Carniceiro. Instinto de Batalha. -Disse Marwolaeth ativando habilidades que envolviam a sua arma e o seu corpo em auras sinistras. 

Kurokawa disparou novamente, mas Marwolaeth estava preparada dessa vez. Sua espada negra chocou-se contra o machado de Marwolaeth e outra explosão foi criada. Marwolaeth teve o seu braço danificado e não conseguiu evitar soltar a sua arma, porém, inexplicavelmente, Kurokawa também sofreu danos com o impacto. Dor percorreu o seu braço e ele acabou por deixar cair sua espada negra. Sem entender o que aconteceu, mas sabendo que não podia perder tempo, ele balançou sua espada branca na intenção de decapitar Marwolaeth. 

A velocidade daquele ataque não era algo que pessoas daquele nível conseguiam acompanhar com os olhos, mas Marwolaeth, de alguma forma, conseguiu esquivar-se e a aura que envolvia o seu corpo imediatamente sumiu. Kurokawa, pego de surpresa por aquela situação completamente inesperada, foi violentamente jogado para trás por um soco de Marwolaeth no seu estômago. Sentindo que tinha sido atingido por uma perfuradora, Kurokawa começou a vomitar sangue: 

—Ele de alguma forma conseguiu parar o sangramento do buraco que eu fiz no estômago dele, mas a ferida não está completamente curada. -Pensou Marwolaeth. 

Ela sabia que dar tempo para Kurokawa recuperar-se era perigoso. Marwolaeth pegou o seu machado caído no chão e começou a diminuir a distância entre eles: 

—Ela está vindo, Kurokawa! -Gritou Yami. -Levanta!!! 

Kurokawa levantou-se o mais rápido que pôde e esquivou-se por pouco de um ataque de Marwolaeth. Ainda meio atordoado, ele balançou a sua espada branca, mas teve o seu golpe bloqueado pelo machado de Marwolaeth. Novamente, no choque entre as duas armas, Kurokawa sentiu desconforto e não conseguiu evitar deixar cair a sua espada. Marwolaeth continuou com a sua sequência de ataques. Kurokawa esquivou-se do primeiro, mas o cansaço e dor começaram a se acumular. O segundo passou ainda mais próximo e sabendo que o terceiro o atingiria, ele ativou a sua única habilidade para se defender. 

O contato entre o machado do seu oponente e suas garras fez o seu corpo inteiro tremer. Marwolaeth gradualmente colocou mais força no seu golpe e as garras de Kurokawa começaram a ser preenchidas de rachaduras. De um momento para o outro, a aura sinistra envolvendo a arma de Marwolaeth desapareceu e Kurokawa parou de tremer. Ele aproveitou-se dessa pequena abertura para se afastar novamente do seu oponente e ela decidiu não atacar por enquanto: 

—A habilidade que ela ativou coloca algum efeito estranho sobre tudo o que ela toca, isso explica porque o soco dela me machucou tanto e porque eu sinto dor quando bloqueio os ataques dela. -Pensou Kurokawa quase exausto. -O efeito deve ter acabado e a habilidade deve estar em tempo de recarga agora, se eu não conseguir derrotá-la agora... 

Kurokawa respirou fundo mais uma vez: 

—Hikari, preciso da tua ajuda. 

—Tudo bem. 

Rapidamente as tatuagens negras no seu corpo foram substituídas por tatuagens brancas: 

—Modo Branco. 

Kurokawa correu até onde a sua espada branca estava caída, Marwolaeth tentou impedi-lo, mas a diferença de velocidades era clara. Com uma espada recuperada e uma clara vantagem, ele começou a sua investida. Marwolaeth esquivou-se do primeiro ataque enquanto tentava aumentar a distância entre os dois. Ela conseguiu bloquear o segundo ataque, mas sofreu um pequeno corte no terceiro. O corpo de Marwolaeth rapidamente encheu-se de ferimentos, mas não importava o quanto Kurokawa se esforçava, ele não conseguia desferir o golpe final. 

O cansaço, a falta de mana e a dor estavam lentamente consumindo Kurokawa e Marwolaeth aproveitava isso para bloquear os ataques de forma a proteger as suas zonas vitais. Enquanto se moviam pelo campo de batalha, Kurokawa finalmente conseguiu uma oportunidade recuperar a sua outra espada. Ao tocá-la, ela imediatamente tornou-se em uma cópia de sua espada branca. Com duas espadas extremamente velozes em mão, ele sabia que o momento tinha chegado. 

Kurokawa balançou-as com toda a sua convicção, mas Marwolaeth estava à espera desse momento: 

—Instinto de Batalha. -Sussurrou ela. 

Contrariando toda lógica mais uma vez, ela conseguiu evitar simultaneamente os dois golpes de Kurokawa. Aproveitando-se da abertura que surgiu quando Kurokawa concentrou toda a sua força naquele ataque, Marwolaeth chutou-o para longe. Kurokawa não sofreu muito dano, mas perdeu provavelmente sua última oportunidade de acabar aquela luta. Enquanto tentava controlar a sua respiração, a sua visão começou a escurecer: 

—Kurokawa, nossa mana acabou. -Disse Hikari. 

—Tanto faz, eu não vou desistir. -Respondeu ele. -Dê um jeito, arranje mais mana. 

—Vão haver consequências se você continuar abusando do nosso poder. -Disse Yami. 

—Eu não me importo. 

—Tudo bem... -Respondeu Yami. 

Kurokawa sentiu mais mana fluir através das suas espadas juntamente de uma sensação de profundo desconforto, mas ele não tinha tempo para tentar entender o que era. Marwolaeth respirou fundo: 

—Toque do Carniceiro. 

Aquela aura retornou à sua arma e Kurokawa entendia a situação em que se encontrava. Mas não havia volta a dar. Ele sabia que sairia dali morto ou vitorioso: 

—Yami, vamos lá. 

As suas tatuagens brancas foram substituídas por tatuagens negras e a cor de suas espadas também se inverteu. Marwolaeth e ele dispararam um na direção do outro. O choque entre as duas espadas negras e o machado vermelho de Marwolaeth machucou os dois. Marwolaeth suportou a explosão inicial e continuou pressionando-o. A dor que corria o corpo de Kurokawa apenas se intensificava conforme o tempo de contato entre as armas aumentava. Sentindo os seus músculos emaranharem-se e os seus ossos quebrarem, ele percebeu que estava prestes a perder. 

Mas perder não era uma opção. Ele buscou poder nas partes mais profundas de sua existência e achou algo. Como se estivesse em contato com as próprias almas que habitavam as sua espada, ele sentiu o calor da vida junto ao seu peito. E sabendo que essa era a decisão errada, ele decidiu usar aquele calor para atingir os seus objetivos. O calor sumiu. Uma sensação de desconforto ainda maior do que antes dominou-o. Mas ele não se importava se esse era o preço que ele precisava pagar para ganhar. 

Os seus braços reganharam força e ele começou a deixar de ser pressionado por Marwolaeth. Ignorando toda a dor que atravessava-o, Kurokawa lentamente começou a aproximar as suas espadas do corpo de seu oponente. Marwolaeth não conseguia entender o que estava acontecendo, como era possível alguém possuir uma vontade tão forte assim? E já não conseguindo suportar a força de Kurokawa, ela aceitou o seu destino. 

Kurokawa cravou suas duas espadas nos ombros de Marwolaeth. Sangue mais uma vez jorrou no campo de batalha. Ele retirou uma de suas espadas da pele do seu adversário e cravou-a novamente, dessa vez no tórax. Marwolaeth fechou os seus olhos e deixou o seu corpo ir ao chão enquanto sangue escorria. A única coisa que podia ser ouvida na arena era a respiração pesada de Kurokawa. Ninguém conseguia acreditar no que estava acontecendo, a Rainha Vermelha havia sido derrotada. Após alguns segundos de choque houve a primeira intervenção: 

—I-Inacreditável! -Gritou o narrador. -A Rainha Vermelha caiu! Temos um vencedor! Kai conquista a sua primeira vitória no torneiro de Euler! 

Silêncio tornam-se em aplausos, mas nada daquilo é relevante para Kurokawa, ele apenas faz o seu melhor para manter-se consciente. De um momento para o outro, um objeto cai no centro da arena, levantando poeira e formando uma pequena cratera no chão. Kurokawa vira-se e vê um homem ruivo caminhando em sua direção. Completamente exausto e indefeso, tudo o que ele pôde fazer foi observar. 

O homem caminhou na direção de Marwolaeth: 

—Isso realmente estava fora dos meus planos. -Diz Blut. -Mas você tem potencial demais para morrer aqui. 

Ele retira as espadas cravadas no corpo de Marwolaeth sem piedade e mais sangue escorre. Blut faz um corte no seu punho e derrama o seu sangue nos ferimentos de Marwolaeth que rapidamente se fecham. Ele pega no corpo inconsciente daquela mulher e se prepara para ir embora, mas não antes de virar o seu olhar para Kurokawa: 

—Você não é Kai, qual é o teu nome? 

Kurokawa mesmo que quisesse responder não tinha forças para o fazer: 

—Tanto faz então, eu assisti a luta, você fez um sacrifício bem grande para ganhar. Meu nome é Blut, eu sou o líder da guild Royalty, venha me procurar quando começar a ter problemas com Yami e Hikari.  

Blut pula para fora da arena e desaparece tão rápido quanto apareceu. Kurokawa apenas é capaz de observar a situação confuso antes de perder a consciência: 

—Como...ele sabe...esses nomes?