Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 8
8 - Seus próprios vilões


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, como vocês estão? :3

Estou animada para os próximos capítulos que virão. Espero que vocês estejam gostando e agradeço demais pelas visualizações, caso queiram contar o que acham da minha história vai me ajudar demais para entender como poderei continuar a fic, seja o que for.

Desejo uma belíssima leitura.



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Capítulo oito
         Seus próprios vilões

“Alguns erros são cometidos
Tá tudo bem, tudo ok
Você pode pensar que está apaixonado
Quando está apenas com dor [...]
É engraçado como uma memória
Se torna um sonho ruim.”
(Moral of the story— Ashe)

 

Fiquei assistindo o resto do podcast, só que não tinha a mesma graça para mim, tudo isso porque não consegui assistir mais da metade dele. Poderia culpar esse idiota do Daniel? Sim, mas eu fui a trouxa que fiquei dando atenção ao ponto de nem ter conseguido pegar algumas partes.

Aprende, Elisa, ele não se importa com ninguém.

— Vai morrer tentando. — Sussurrei depois de tantas vezes que ligou para mim e não levantei um dedo para o atender.

Depois até números desconhecidos passaram a me chamar, contudo sabia que poderia ser algum dos seus amigos e por isso coloquei no silencioso para deixar de ouvir esse barulho que já estava irritando. Por que insistia tanto?

— Preciso de um estoque de iogurte para já. — Os passos eram lentos a cozinha, pois ainda sentia minha perna latejar e doer. Nem isso me impediria e sorte era que tinha alguns ali. Meu pai é o melhor do mundo.

Quando subi para o meu quarto já eram umas quinze horas e nada parecia me entreter em algum streaming ou no computador. Talvez ver algo de herói poderia me deixar mais animada, mas precisava encarar meus próprios vilões, ler aquele livro chamado “um cara nada perfeito”.

“Gostaria de agradecer ao meu namorado por todo apoio por e acreditar em mim, aos meus pais que foram inspiração para o livro por estarem super apaixonados e juntos desde o ensino médio, a...”

Não lembrava que era tão doloroso assim ler essa parte, o quanto eu sentia uma inveja da autora sem nem sequer começar. Não ache que agora queira de forma desesperada alguém me amando, longe disso, isso me fez voltar todas as cenas de brigas que tinham em casa antes do divórcio.

“Olha, alguém que não se separou desde a época de escola.” — Elisa.

Bati foto dessa parte e enviei para minha melhor amiga, para depois continuar a encarar esse papel que parecia uma prova de matemática para mim. As palavras “acredite no amor” estavam em tamanho grande e negrito, mas mesmo se não tivessem eram impactantes para mim. Impossível existir, é apenas hormônio e paixão.

“Estou lendo certo? Falando em romance? Se até você está crendo que existe casais que duraram para sempre mesmo começando na adolescência, quem sou eu para discordar?” — Alison.

Mesmo que soubesse que era ela tentando dizer que eu estava interessada em algo assim e ficasse brava com isso, algo em sua frase me fez rir. Comida para quê? Estava era precisando disso para me sentir um pouco mais animada.

“Não sabe brincar por acaso? Era para você ter tirado sarro comigo.” — Elisa.

Enquanto não me respondia comecei a rabiscar umas ideias e frases para o meu projeto. Claro que seria pela parte que acho mais divertida, que era de desmentir toda aquela bobagem de frases good vibes que algum coach solta.

“Tem aquelas frases motivacionais que jogam na sua cara para tentar te motivar, como “a beleza está nos olhos de quem vê, acredite nos seus sonhos que vão se realizar, beijos se quebrando com a maldição”, mas são tudo mentira. Achar o outro lindo é estar no padrão, a segunda frase é para não admitir que é sim um baita de um fracassado e o último é só um conto de fada para encantar meninas que vão entrar em um relacionamento abusivo atrás do outro.”

Agora que estava ficando bom me manda mensagem?

“Não vai conseguir estragar meu dia, Elisa. Estou tão feliz que resolveu começar a ler o livro.” — Alison.

Quando estava pronta para falar algo sobre síndrome do Walt Disney, ouvi um barulho na porta, era alguém tocando a campainha. Estranho, não lembro de ter pedido algo pela internet. Quem dera fosse o entregador, assim não teria visto a figura do Daniel bem na minha frente, com aquele sorriso que me deixa nervosa de tanta raiva.

— Que está fazendo? Como sabe meu endereço? — Comecei a disparar sem nem pensar se conseguiria me entender, só queria que saísse. — Isso já é demais, para de me perseguir! — Se não segurasse teria chorado na sua frente por todo esse inferno que estou passando.

— Você não atendia o telefone, que poderia fazer? — Lembrei da cena ocorrida naquele intervalo em que me encurralou naquela minúscula sala para falar sobre o trabalho.

Mesmo com meu joelho ardendo consegui dar uns passos até chegar bem perto dele e o olhar da pior forma possível, quem sabe assim saberia de uma vez por todas que não estava contente com sua visita inesperada. Ele não tinha o direito de vir no meu lugar seguro para falar do que quer que seja.

— Quem sabe deixar de ser um doente? Não se vai na casa de alguém sem nem avisar, vai embora e eu finjo que nem esteve aqui. — Até tentei me virar para ir, mas era óbvio que não acabaria tão fácil assim.

— Por que fica fugindo? — Inacreditável.

Tive de dar meia-volta e olhar para ele para vê-lo encarar de volta, como se estivesse me desafiando para que revide e continue a conversa. Quer me vencer pelo cansaço.

— Eu não estou, você que não entende, disse mil vezes que não te quero de cobaia. — Pelo jeito a minha fala surtiu zero efeito. — Por que insiste tanto em estar nesse projeto? Por que cismou comigo se mal nos falamos nesses anos? Se já tem uma bolsa para estudar no exterior pelo futebol, para que todo esse desespero? — É só para te zoar depois, trouxa, nada além disso.

Foi a primeira vez que vi tirar os olhos de mim para ver sua cabeça indo ao chão, as vezes que fazia isso era para esconder que tinha ficado chateado. Eram raros esses momentos, mas gostava quando acontecia. É, Elisa, ainda lembra mesmo de suas manias.

— Melhor? — Como assim? — Do joelho. — Apontou para o local e segui para ali também, vendo que não saia sangue, mas não estava tão curado assim. Fez isso apenas para mudar de assunto e deixar de me responder, um covarde.

— Não te interessa, cai fora. — Gritei essas palavras para entrar na sua cabeça que quero ficar o mais longe possível dele, só que ainda estava parado feito uma estátua na minha frente.

— Você disse que foi minha culpa. — O tom baixinho, porém consegui pegar.

— E é, mas da sua preocupação não preciso e nem quero. — Quando deu as costas senti um alivio. Finalmente estava indo.

Senti as minhas pernas bambas e não compreendia se era por conta de haver relaxado ou era pelo machucado, porém tive de me agachar para não cair. Seria vergonhoso se isso acontecesse e agradeci que tinha saído.

— Sabia. — Mal vi pés a minha frente e sua voz chegou até mim, tentei de todo jeito me levantar e ignorar que tenha estendido sua mão para que a pegasse. — Deixa eu te ajudar. — Definitivamente não foi uma pergunta e o seu corpo bem perto dizia que não importava a resposta, seu braço encostando na minha perna era mais que confirmação disso.

Pude sentir o quanto estava ardente ao me levantar dali mesmo que eu tenha me batido para que soltasse, quando desisti e meu rosto ficou em seu peito era nítido que seu coração batia forte e a respiração bastante ofegante. Nesses dias que passaram era assim que o via quando nos trombávamos, seja na sala ou naquela escada da arquibancada.

— Boa garota. — Respondeu como se eu fosse algum de seus cachorrinhos. — Quer dizer, princesa. — Dito por algum personagem de romance escolar era até legal, vindo dele parecia um insulto.

— Me solta, por favor. — Quando percebi que ia entrar no meu canto sagrado não sabia o que fazer além de ficar me mexendo de novo, mas claro que em vão.

Deu risada enquanto fechava a porta atrás de nós, só que ainda comigo em seu colo, antes disso vi pela fresta a vizinha nos encarando com uma cara estranha e era um péssimo sinal. Aquilo estava me deixando mais constrangida ainda e continuar a ouvir os sons de seus passos, o cheiro de colônia que ficava mais forte e estar tocando cada parte de meu corpo como se fosse nada, piorava a situação.  

— Desculpa. — Estou ouvindo muito isso ultimamente.

— Pelo quê? — Quando me deixou no sofá da sala foi aí que entendi do que se tratava, ainda sentia minha perna queimar, mesmo depois de se afastar, e isso me irritava, porém não escutar mais as batidas de seu coração era o suficiente para acalmar. — Agora pode ir.

— É pelo Mateus, não foi o que estava pensando. Ele estava terminando uma tarefa no meu computador e acabou ficando. — Daniel me deixa confusa, em seus olhos sentia verdade, mas não conseguia confiar. — Por invadir sua casa também.

— Sempre espero o pior vindo de você, não sei porque ainda me surpreendo. — Foi como ter confessado meu maior segredo ao inimigo.

A TV tinha deixado ligada e agora que notava, queria poder apagar, mas o medo de que me pegasse de novo foi maior. Apenas as vozes de um vídeo qualquer contaminava o ambiente, porque estávamos sem dizer uma palavra, mas sentia que logo ia estar em chamas de tanto que me olhava.

— Eu sei, disse que me odeia. — Nem era novidade, mas a forma que falou foi como se estivesse triste por saber disso me deixou sem saber como reagir.

Quando finalmente resolvi o encarar vi que estava no assento mais afastado de mim, como se quisesse mostrar algum respeito e cavalheirismo. Tarde demais, não adianta fazer isso se há poucos minutos tinha feito algo tão escroto.

— Não vai embora? — Estava sem paciência. — Vou assistir o novo episódio do podcast. — Comentei enquanto pegava o controle com dificuldade e colocava no canal para ver se se tocava.

— Podemos ver juntos? Nem prestei atenção nele. — Também?

— Daniel, ficou tempo demais aqui já. — Suspirei depois de dizer isso e ver que não ia desistir. — Meu pai daqui a pouco chega. — Completei e se levantou dali para finalmente me deixar em paz, isso se não estivesse parado ao meu lado.

— Posso pelo menos pegar gelo? — Essa gentileza forçada me enojava.

— Está no meu quarto. — Juro que tentei me levantar para que não precisasse pegar para mim, mas não conseguia. Apenas torcia para que encontrasse logo e não dissesse nada constrangedor.

Cenas do meu quarto todo revirado, computador ligado, uma estante cheia dos livros de terror e serial killer, mangás, um coelho em cima da cama, e até a meia e copo de iogurte jogados ao chão, foram coisas que me deixaram com vontade de gritar.

— É essa compressa? — Perguntou e fiz que sim com a cabeça. — Está toda murcha e morna, tem algo na geladeira? — Sabia que dizer que poderia me virar sozinha não serviria para nada e apenas concordei.

A cada segundo a mais que passava com ele ali na cozinha meus mais tensa eu ficava, era como se toda minha intimidade tinha sido exposta de uma vez. Será que é assim que sente quando vai perder a virgindade? Se for eu prefiro ser pura e me tornar freira mesmo.

— Voltei. — Olhei na sua mão, tinha um pano molhado enrolado e algo dentro. Poderia estar surpresa pelo seu cuidado, se não jogasse futebol.

— Eu faço. — Praticamente gritei quando estava chegando perto para botar em meu joelho. Sentir sua mão quente de novo ali seria um erro que jamais queria cometer de novo.

— Elisa. — Me chamou e fui obrigada a vê-lo bem de perto, para assim perceber que estava com um livro em mãos, mas não qualquer um e sim aquele que tem casal ficando junto. — E ainda diz que não gosta de romance. — Debochado.

— Quem é meu para ficar mexendo nas minhas coisas? Já disse que é para não se meter. Não te interessa o que gosto, deixo de fazer ou com quem ando. — E essas palavras pareciam duras, mas ele merecia por ficar achando que pode entrar assim na minha vida. — Quero você longe, está me entendendo? Eu te odeio e estava falando sério! — Ele jogou o meu livro ali perto de onde estava e foi indo para a porta.

— Não vim para te incomodar ou te perseguir como acha. — Foi sim. — Amanhã começa o treino pesado para o jogo de fim de semana e não poderei sair direito, por isso vim trazer os ingressos. — Quê? Quando vi direito o que estava no sofá não era apenas o “um cara nada perfeito”, mas também uns papeis. — Eu daria para a Alison, mas disse que estava fora. — Que mentirosa.

— Então tchau. — Só o que respondi por ainda tentar assimilar tudo que ocorreu.

— Te vejo lá, não se esqueça que prometeu. — Olha o cara mais sem moral me pedindo alguma satisfação, ainda dizendo essas asneiras sem olhar para trás.

Mesmo que a porta tivesse se fechado e não sentisse mais nenhum rastro dele ou de sua colônia enjoativa, ainda ficava pensando nessa tarde. Daniel era uma pessoa traidora, egoísta, cara de pau, falsa, mas algo no fundo me dizia que até dizia a verdade as vezes e isso não era bom.

Fiquei assistindo o vídeo e quase no fim o meu pai chegou para me ver naquele estado e correr para o hospital ao ver que não conseguia andar direito. Quando o médico disse que não tinha quebrado um osso e apenas tinha magoado, senti alivio e ele mais ainda.  


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Notas finais do capítulo

O que acharam desse capítulo? Do que o Daniel faz? Da reação da Elisa?

Apenas para dizer que a gif não é minha, sim da atriz Chloe Moretz. Se tiver algum erro de português podem me falar.

Quero agradecer demais desde já a todos que deram a chance de ler esse capítulo, caso queiram comentar sintam-se a vontade.



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