Procurou em sua memória e, não recordando-se de nenhuma referência, Gabrielle segurou o braço de um dos homens que corriam desesperadamente de um lado ao outro ao seu redor: "Quem são esses carniceiros? Eu nunca ouvi falar deles!".

O homem, tentando se desvencilhar dos braços fortes da loira, respondeu afoito: "Você nunca ouviu falar deles porque é pouco provável que alguém sobreviva para contar história, uma vez que os conheça!".

Gabrielle soltou o homem e achou melhor pedir explicações a alguém menos desnorteado.

"Capitão! Capitão! Eu quero que você me explique quem são esses homens, Os Carniceiros."

Mas o capitão não pareceu ouví-la. De longe ele era o mais desbaratinado dali. Ela então sentou alguém aproximar-se e se virou para confrontar-lhe. Uma vez mais, o moço magricelo protestou: "Hei, calma aí! Eu gostaria que você parasse de me apontar essas coisas"- estirando o indicador em direção aos sais de Gabrielle.

"Oh, sim, é claro! Me desculpe, Damian, mas quando ouvi que seríamos atacados eu me coloquei em um modo combate automaticamente."- defendeu-se ela.

"Eu ouvi você perguntando ao capitão... Bem, uma vez resgatamos um homem à deriva. Ele nos contou o que aconteceu com sua embarcação e tripulação, que foi atacada pelos Carniceiros. Posso dizer que ouvi que eles não são homens... São bestas, vieram do próprio Tártaro, para onde querem voltar e para isso, precisam levar o máximo de almas que puderem... Para a travessia, sabe?"- explicou.

Gabrielle pediu para o jovem lhe contar tudo o que ele sabia e assim o jovem fez, orgulhoso por poder ajudar uma guerreira como Gabrielle.

Ela se deu conta que o perigo que iria enfrentar colocaria à prova o que ela realmente tinha aprendido com Xena.

Então elaborou um plano e o compartilhou com o capitão que, alegremente cedeu o comando do Ouro Branco a ela, sabendo que o pior destino em batalhas é reservado ao líder inimigo e, em se tratando dos Carniceiros, eles certamente teriam maneiras impronunciáveis para acabar com a vida de seus rivais.

Apesar da embarcação inimiga se aproximar cada vez mais deles, a estratégia de Gabrielle de lançar ao mar todos os ítens e mantimentos, a fim de ganhar velocidade, acabou dando resultado e o navio avançava ligeiramente mais rápido em direção a nova rota traçada, a Ilha Eidola.

Esta ilha era um lugar de repouso de um Eidolon, quando este se originava logo após um defunto entrar no reino de Hades. Perdendo sua identidade, vagava sem rumo, perdido em memórias que já não lhe pertenciam. 

Era um grande risco estar ali. Desde que os Deuses do Olimpo foram praticamente exterminados por Xena, os deuses menores foram vistos cada vez com menos frequência. Melinoe, a deusa grega dos fantasmas já não passava ali para coletar os novo Eidolon criados e a ilha aglomerava centenas dessas cópias astrais de defuntos, todos ansiosos por apoderarem-se de un novo corpo físico.

Por outro lado, o lugar era perfeito para o plano de Gabrielle que era usar justamente os fantasmas para atrair os Carniceiros, assim que o risco valia à pena. Se funcionasse o truque, os Carniceiros, seriam atraídos pelos fantasmas, pensando se tratar de almas, ao mesmo tempo em que os fantasmas pensariam que os Carniceiros seriam corpos. Uma vez estivessem unidos, seria mais fácil se livrar deles.

É comum confundir fantasmas com almas ou espíritos. Isso foi o que Gabrielle se lembrou de uma das poucas conversas que teve com Xena sobre a morte ou a vida após esta, ainda enquanto Marcus esteve com elas.