Iluminados escrita por Nuat


Capítulo 3
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! E não esqueçam de comentar ^^



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Ambrose segurou os ombros de Caleb, chamando seu nome várias vezes. Ele não respondeu. Sua respiração irregular ficava cada vez mais rápida, e ele sabia que tinha que se acalmar. Com as mãos trêmulas, apertou o botão no punho da cimitarra, jogando-a no chão. Dan o olhou com assombro.

— Cal! O que foi? — exclamou, andando até Caleb. Subiu nas costas de Nissa para ficar do tamanho do rapaz e usou a asa para fazê-lo olhar em seus olhos. — Me diz o que está acontecendo. Se não disser, não vou ter como ajudar.

— É ele, Dan. — falou, a voz engasgada. Dan o encarou por longos segundos, analisando o rosto do rapaz ofegante.

— Ele quem, Cal?

— O meu pai. — o silêncio que se seguiu foi constrangedor. O som da respiração ruidosa de Caleb era o único ouvido além do som de fora do beco. Ambrose, então, pigarreou.

— O que tem o seu pai?

— Ele está morto, Ambrose. Morto. — respondeu Caleb, apertando os olhos. Quando os abriu novamente, as íris azuis de Ambrose estavam fixas nele.

— Ao que parece não está tão morto assim.

— Por que ele não veio me procurar? Por quê? — choramingou, levando as mãos ao rosto. Ambrose permaneceu em silêncio, observando.

— Talvez ele não pudesse, sabe? Ou achasse que você está morto. — disse, e Caleb balançou a cabeça.

— Ele não apoiaria a May. Ela é o diabo encarnado, como ele sempre dizia. — respirou fundo, deixando as mãos caírem ao lado do corpo. E então, uma ideia brotou em sua cabeça. Ivan, seu pai, não podia estar lá por vontade própria. Nunca se renderia à ditadura, e nunca seria um serviçal de May. Ele só podia ter sido preso. Não entendia como e nem o motivo, mas ele não tinha nenhuma intenção de deixar seu pai sozinho. Não, tinha que fazer algo. Estufou o peito, encarando Ambrose nos olhos. Ela era alguns bons centímetros menor. — Quero me juntar à Rebelião. Como eu começo?

*

A base dos rebeldes era esquisita. Ficava abaixo do mercado, embaixo da terra mesmo, entrando pela loja do Velho Ben. Eles a chamavam de Toca. A Toca era dividida em setores, chamados Distritos. Eram seis ao todo, e tinham vários pisos. Caleb e Ambrose estavam no primeiro piso do Distrito 2. Os setores eram grandes, o que fazia demorar uns vinte minutos para chegar no Distrito seguinte. O maior de todos era o 6, onde ficavam as armas. Tinha de todo o tipo, mas a maioria era inferior à dos Legionários. Ambrose estava explicando tudo para Caleb, mas ele estava mais interessado nas máquinas que carregavam as coisas de um lado para o outro com braços robóticos perfeitamente desenhados.

— Ei, Ambrose, quem faz esses robôs? — ele interrompeu, chamando a atenção da moça. Ela o olhou, mas ele continuou fascinado pela forma como os robôs levavam as caixas. — São perfeitos! Qual a fonte de energia deles?

— Não faço a mínima ideia. — Ambrose ergueu uma sobrancelha. Ele estava esquisito. Não parecia aquele garoto rabugento. Suspirou profundamente. Sabia quem chamar para conversar com ele e talvez baixar um pouco sua guarda. — Vem, temos um lugar pra ir. — pegou em sua mão, puxando-o para o outro lado do Distrito, onde ficavam os elevadores. Caleb sentiu o rosto esquentar com o toque, mas simplesmente ignorou e seguiu a moça. Chegaram ao elevador com os escritos 5-D2 na porta de metal e entraram. O rapaz se assustou com o número de andares que o Distrito 2 tinha. 34. Ambrose apertou no botão 7 e o elevador moveu-se imediatamente. Caleb constatou imediatamente que não gostava de elevadores.

— Chegamos. Quero que conheça uma pessoa. — a morena sorriu, puxando Caleb entre as caixas. O rapaz corou novamente. O que diabos estava acontecendo com ele? — Calina! — ela chamou, fazendo Caleb franzir a testa. 

— Quem é…? — mas se deteve ao ver uma moça sair de trás de uma caixa grande. Ela era menor que ele, mas Caleb tinha um metro e oitenta, então não contava. Ela tinha cabelos completamente brancos, o lado esquerdo completamente raspado e com uma tatuagem triangular azul. Seus olhos eram muito azuis e ela tinha um piercing no meio do lábio inferior. Seu braço esquerdo era uma prótese preta perfeita, assim como todos os dedos da mão direita. Ela rodava uma moeda entre os dedos cibernéticos com total maestria.

— Oi, Ambrose. Quem é o garotão? — ela dirigiu um sorriso malicioso para a outra garota, que corou violentamente.

— É o Caleb. — Ambrose sorriu, soltando a mão do rapaz e cruzando os braços. Caleb continuava embasbacado com a beleza exótica da garota em sua frente, e seu olhar ia de Ambrose para Calina e de volta para Ambrose. As duas eram extremamente bonitas.  — Ele é muito inteligente, e tava falando todo animadinho sobre os robôs que você produziu aqui embaixo.

— Foi ela que fez? — o rapaz perguntou, claramente animado. Ambrose sorriu, assentindo. Ela gostava mais dele assim. — Cara, eles são simplesmente perfeitos!

— Não é pra tanto! — Calina riu, erguendo as mãos em rendição. Caleb subitamente ficou sério, como se tivesse percebido algo. E realmente tinha. O que diabos estava fazendo? Tinha um objetivo e estava ali para cumpri-lo. Ia salvar seu pai. Limpou o suor do pescoço com a mão, pigarreando.

— Bem, vou ficar feliz em te ajudar. — anunciou, ainda meio desconfortável com a animação que havia demonstrado. Ambrose e Calina ergueram as sobrancelhas, trocando um olhar que Caleb não soube interpretar. A moça de cabelos brancos deu de ombros depois de um longo minuto, olhando-o de cima a baixo.

— Preciso saber o que você… — o analisou mais um pouco com uma cara de quem não gostava do que via. Caleb se irritou, mas não podia culpá-la. Usava uma calça marrom folgada sustentada apenas por um cinto de ferramentas que ficava escondido pela blusa escura de mangas compridas grande. Por cima da peça cinza, usava um colete também marrom, fechado. E no rosto tinha seus óculos redondos. No meio de seus cabelos negros revoltos tinha um óculos de aviação para quando voasse com Dan. Não era exatamente uma visão agradável. — Bem, basicamente o que você sabe fazer. — a garota completou por fim, e, como se tentasse provar algo, o rapaz tirou o Ponto que havia terminado naquela madrugada do cinto.

— Sabe o que é isso aqui?

— Não.

— Óbvio. Minha pergunta é idiota. — o garoto se repreendeu. Não era sua intenção parecer um completo imbecil: queria provar que era útil. — Eu que fiz. Tem um sistema de aderência à pele e deve ser colocado na têmpora esquerda — para ilustrar suas palavras, fez exatamente o que estava falando — assim. Depois tu aperta um botão, e aí ele mostra um painel holográfico na tua frente, como uma tela de TV. Mas é meio transparente, aí tu pode ver através dela. Olha só. — apertou o botão de ativação e aconteceu exatamente o que falou. — Se chama Ponto. Ele usa energia solar e a bateria dura até três dias, mas recarrega em uns 30 minutos no sol forte. — concluiu, orgulhoso de si mesmo e olhando as meninas através do holograma na frente de seus olhos. Calina soltou um assobio, ao passo que Ambrose parecia maravilhada.

— Parece que o Polleck 'tava certo em querer trazer você. — Calina falou em tom de admiração. Caleb tentou não transparecer o quanto ficara feliz ouvindo aquilo, mas obviamente falhou. O risinho de Ambrose confirmava isso. — Então, Garotão, acha que é capaz de fazer mais desses? Com um outro propósito?

— Claro. Mas com que propósito exatamente?

— Ora, Garotão. Achei que fosse inteligente. — Calina sorriu. — Militares, é claro.

O sorriso dela deu a impressão de que era um pouco mais esquisita do que Caleb imaginou.

*

— Acredito que isso seja o suficiente. — Calina sorriu, soltando um "tadá" e apontando para a versão melhorada do Ponto. Ela e Caleb passaram boa parte da manhã e a tarde toda para finalizar o protótipo novo. Já eram 18:00h e a barriga do garoto roncava.

— Calina, tu pode arranjar comida 'pra mim? — ela o olhou, analisando-o por alguns minutos antes de sorrir.

— Sim. Fica aí, testando o Ponto. Eu já volto. — respondeu, fazendo Caleb assentir.

O novo Ponto era bem mais bonito que o anterior. O que Caleb criou sozinho era todo preto, quadrado, com peças antigas que ele mesmo roubou. O novo, por outro lado, era circular com detalhes azuis e bem menor. O garoto gostava mais assim, era muito mais discreto.

— Nossa, foi você que fez isso? — ouviu uma voz masculina atrás de si. Quando virou, viu um homem que aparentava ser da sua idade. Tinha os dreads pretos bagunçados e um sorriso muito branco. Sua pele era escura e seus olhos amarelos, mais claros que os de Dan. Segurava o Ponto quadrado com seus dedos longos e esguios. Usava um casaco marrom com mangas que chegavam até metade de seus dedos, e que tinham um furo para o polegar. O casaco estava aberto, deixando sua blusa azul colada ao corpo amostra. Usava jeans escuras e coturnos pretos. Era mais alto que Caleb, o que era bem impressionante, e era bastante musculoso. Tinha um corvo em seu ombro.

— É, fui eu, sim.— Caleb disse, rude como sempre. O rapaz sorriu.

— Que legal, cara! Eu queria ser inteligente assim, mas sou mais… Bem, Calina é o cérebro e eu sou os músculos, entende? Meu nome é Ness Baster, e essa aqui é a Diix. Minha Luz. Ela é bem rabugenta, sabe? Não gosta muito que eu fale com estranhos, diz que eu falo demais, mas quem liga? Se bem que pode ser isso mesmo, já que todo mundo sempre sai de perto de mim quando abro a boca. — ele disse em um fôlego só. Caleb estava com as sobrancelhas erguidas, assustado. Ness de fato falava bastante. — Ah, qual o seu nome?

— Caleb Bacchs. — foi tudo o que disse, e Ness abriu ainda mais o sorriso. 

— Uau, isso aqui é uma cimitarra?

— Ei, não toca! — Caleb franziu a testa, pegando Dan.

— 'Tá bom, calma. — Ness ergueu as mãos em rendição. — É a sua Luz?

— Sim. O Dan.

— Posso ver? Qual o animal? Você…

— Cala a boca, cara. — Caleb o interrompeu, suspirando. Apertou o botão no punho da cimitarra, e logo Dan estava no meio dos dois. Os olhos de Ness brilharam.

— Caralho, é uma águia! — exclamou, maravilhado. Dan apenas o olhou interrogativamente. — Ah, eu sou Ness e essa aqui é a Diix. Muito prazer.

— Eu sou o Dan. — a águia disse, sorrindo. Olhou para Caleb, que permanecia de braços cruzados e de cenho franzido.

— Qual poder ele te ensinou? — o mais alto perguntou, sorrindo novamente. Ele sorria bastante.

— Como assim? — O Bacchs franziu ainda mais o cenho, e Ness revirou os olhos.

— O poder, cara! Diix me ensinou o do fogo, é muito foda. — disse, estalando os dedos e fazendo uma labareda acender em seu indicador. Caleb arregalou os olhos, dando dois passos para trás e esbarrando na mesa. Foi a vez do Baster franzir a testa. — O que foi?

— Cara, como tu consegue fazer isso? — a pergunta soou mais como um grito de exasperação. Ness ergueu as sobrancelhas.

— A águia ainda não ensinou nada pra você? — perguntou, genuinamente surpreso. Caleb negou com a cabeça, olhando desconfiado para Dan. A águia fez algo equivalente a dar de ombros, o que fez o rapaz estreitar os olhos.

— Como assim?

— Ah, as Luzes costumam ensinar os seus Iluminados algumas habilidades. Às vezes de cura, algum elemento, alquimia… Essas paradas. — Ness deu de ombros, mais interessado no Ponto quadrado. Dan olhou Caleb pelo canto do olho, e o garoto parecia furioso.

— Ness. — o corvo, Diix, falou pela primeira vez. — Estamos atrasados para a reunião com o Polleck.

— Ah, claro, claro. Vamos. — respondeu o rapaz, andando, colocando o Ponto na mesa e indo em direção à saída, não sem antes acenar para Caleb. O Bacchs estava furioso. Olhou para Dan, exasperado, cruzando os braços em busca de uma explicação. A Luz estreitou os olhos para seu Iluminado.

— Precisamos conversar, Cal. E você não vai gostar nem um pouco disso.


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