Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 30
Nuvem de tormentos




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Capítulo 29

por N.C Earnshaw

 

JACOB ABRIU O ENVELOPE delicado com receio, arrancando o carimbo de cera vermelha com um brasão pomposo, e dando o seu máximo para tentar segurar a resignação que estava tomando cada célula do seu corpo. A qualidade do papel em suas mãos demonstrava a elegância de quem tinha enviado o convite e, mesmo que ele nunca tivesse sido convidado para um casamento que não fosse na praia, sabia que apenas alguém com riquezas poderia bancar algo daquela espécie. 

Ele pensou na sua ideia de casamento. Na praia, como todos os outros quileutes faziam. Não haveria necessidade de convites, visto que todas as pessoas importantes para si, estariam ajudando a montar o lugar. Ele imaginava esperar sua noiva descalço, com os pés sentindo a areia macia, e vestindo uma roupa simples, enquanto aguardava sua aparição com ansiedade.

Como Jacob não controlava seus pensamentos, a mulher que caminhava em sua direção sempre tinha o rosto de Bella. 

E, foi fitando a folha impressa com cuidado, que o quileute recebeu o primeiro tapa na cara. Ele nunca teria dinheiro para comprar algo naquele valor, ou nem mesmo bom gosto o bastante para mandar fazer alguma coisa daquele tipo.

No verso do envelope, com uma letra elegante, estavam escritos dois nomes. Um nome, era da garota que ele estava completamente apaixonado. O nome da sua melhor amiga e da mulher que ele esperou por anos que fosse sua. Também da pessoa que partiu seu coração várias e várias vezes. Abaixo do nome dela estava o nome daquele que tinha acabado com a sua vida, dizimado suas esperanças de ter um futuro feliz com seu amor verdadeiro e destruído tudo de bom que tocava. Não bastando ter feito isso, havia condenado ela a uma semi-vida de uma besta sugadora de sangue… E ele o odiava por isso. 

Suas mãos tremiam enquanto ele abria o fecho do envelope e, por muito pouco, ele não rasgou o papel em dois. Seu pai, Billy Black, fitava-o intensamente durante o processo. Os olhos do homem brilhavam de tristeza, uma vez que imaginava o quanto de dor aquele minuto traria para a vida do seu menino. 

O garoto soube exatamente o que veria dentro daquilo no momento que pôs os olhos no envelope, no entanto, algo dentro de si, acreditava que ainda restava esperança. 

Ele sempre esperava que tivesse mais tempo para conquistar o amor de Bella. 

Dentro do invólucro havia um papel solto, seus olhos passaram rapidamente pelo bilhete e pelo convite oficial duas vezes, tentando se assegurar que sua mente não estava criando aquela imagem perturbadora. 

Não estava. 

Bella, a garota que ele tinha devotado anos da sua vida, fez sua escolha. E ela havia escolhido o vampiro arrogante e, não menos importante, rico.

Seus joelhos fraquejaram por alguns segundos, mas ele não permitiu que seu corpo caísse. Antes que percebesse, amassou aquela coisa em uma bola minúscula, lançou-a para longe com toda força que conseguiu, e se entregou à raiva que pinicava cada nervo do seu ser. 

A última coisa que ouviu antes de se transformar, foi o grito angustiado do seu pai chamando seu nome. 

Jacob correu entre as árvores sentindo os últimos resquícios do cheiro da sua terra, despedindo-se do seu lar mesmo em meio ao frenesi. Ele estava decidido a ir embora. Queria se afastar o máximo possível daquele lugar, e dar quilômetros de espaço entre ele e o casal feliz prestes a se casar. 

O quileute cogitou por alguns segundos ir até a mansão dos Cullens e destruir aquele sanguessuga, mesmo que perdesse sua vida durante o processo. Contudo, nem sequer ele era tão mau perdedor assim. 

Dedicando seu último pensamento em nome dela, desejou que Isabella Swan, sua Bella, fosse feliz em suas escolhas. Ele sempre lembraria da sua garota com bochechas rosadas, ar nos pulmões e com o coração batendo. Guardaria no coração o som de sua risada e a cumplicidade que sentiam um pelo outro. Havia prometido que lutaria por ela até que seu coração parasse de bater e, aquele papel amassado em meio a lama, era a prova que tinha a perdido para sempre. A partir daquele instante, Bella estava morta para ele. 

O sentimento de luto o fez perder o equilíbrio, e o corpo gigante rolou pela terra várias vezes antes que tomasse de volta o controle de si mesmo e se erguesse. Cambaleando, ele retomou a corrida com determinação, mas enquanto se afastava do seu passado e a mágoa tomava conta de cada pedaço do seu ser, seu olfato captou um odor muito familiar. 

Todos que perderam alguém importante na vida, sabiam bem que o primeiro estágio do luto, era a raiva. E um corpo controlado por essa emoção, trazia à tona a inconsequência e a necessidade de culpar qualquer um que aparecesse. 

Wendy Cullen se tornou sua vítima no segundo em que farejou sua presença. Então, sem pensar duas vezes, foi em sua direção. 

Ao ouvir passos pesados de um lobo se aproximando, a Cullen parou. A princípio, ela estranhou a urgência das passadas, pois, apesar de ser uma vampira, tinha adquirido um certo nível de confiança dos lobos e não precisava mais de escolta para ir até à casa de Paul.

Wendy esperou que o quileute se aproximasse com o cenho franzido. Pensou em continuar seu caminho e fingir que não tinha ouvido nada, visto que as comidas na cesta em sua mão, iriam esfriar e, provavelmente, perderiam o sabor. 

A garota havia dedicado bastante tempo cozinhando para surpreender Paul. Após horas cansativas de ronda, ele merecia todos os mimos. Além disso, devia a ele por tê-lo lançado na parede vários dias antes e, no fundo, ansiava que ele provasse sua comida e achasse a melhor que tinha provado em sua vida; até melhor mesmo que a de Emily

Logo que viu os pelos castanho-avermelhado surgindo em seu campo de visão, semicerrou os olhos. O lobo tinha as presas gigantes de fora e se posicionava de uma forma ameaçadora em sua frente, rosnando e grunhindo de um jeito que nunca tinha visto nem um membro da matilha fazendo. A Cullen largou a cesta de lado e se colocou em guarda ao digerir a ideia de que ele realmente estava querendo atacá-la. Uma parte dela ainda se encontrava cética, em dúvida se um alien não tinha tomado conta do corpo do garoto Black para ele estar agindo daquela maneira estranha. A outra, pensava em formas de se defender do lobo furioso, já que não conseguia imaginar como usaria seus poderes com aquele tanto de pelo.

Jacob rosnou para Wendy com toda a fúria que conseguiu exprimir. Seus olhos apenas viam vermelho pela raiva que tomava conta de cada fibra do seu ser. E, por alguns segundos, ele cogitou atacar aquela vampira. Seria muito fácil pegá-la de surpresa e desmembrá-la. Planejou jogar seus pedaços no mar, para que não pudessem enterrá-la ou dar um jeito de juntar os membros de volta.

Seu peito se encheu de satisfação ao pensar na dor que aqueles sanguessugas sentiriam ao perder um membro da família. Seria uma troca justa, afinal. Eles experimentariam tanta dor quanto a que ele estava vivenciando pelo fim da vida de Bella. 

“Jacob!”, gritou uma voz em sua mente. “Não faz isso, cara! Você não está pensando direito. Essa vampira que você está querendo atacar é o imprinting do Paul!”. 

Jacob ignorou ao máximo os pedidos angustiados de Embry, tentando se focar na luta que iria ocorrer. Pelo que tinha presenciado e visto na mente dos outros garotos, a vampira a sua frente não era tão boa lutadora, mas se ela ao menos encostasse em um pedaço da sua pele, seria derrotado em segundos. 

Ele deu um passo adiante ao ouvir o uivo urgente de Embry, e se impulsionou para saltar sobre a vampira. Teria que se apressar ou os outros chegariam e o impediriam de cometer sua vingança. 

O outro garoto, ao se dar conta da determinação do seu amigo em ferir um imprinting, forçou ainda mais suas pernas e uivou com mais afinco. No entanto, tinha conhecimento que se ele mesmo não se apressasse, um desastre de proporções catastróficas ocorreria, dado que se falhasse, perderia não só um amigo, mas dois. 

Paul não iria resistir à morte da sua companheira. 

Embry ainda não havia encontrado aquela que o completava, sabia apenas pelos pensamentos dos seus irmãos de bando que tinham achado seus imprintings o quanto o sentimento era forte e arrebatador. Lembrava do coma que o corpo de Paul tinha se induzido para resistir a dor de ter sua companheira longe, dos pensamentos dele girando apenas em torno dela mesmo que o Lahote não percebesse e, principalmente, da intensidade com que ele a amava. 

Jacob, ao ver enxurradas de memórias que não pertencia a nenhum dos dois, titubeou.  

— Black, que droga você está fazendo? — inquiriu a vampira ao perceber sua hesitação. Ela tinha uma expressão confusa no rosto e os punhos cerrados, preparados para socar.  

O lobo achou aquela uma boa pergunta. Na verdade, uma ótima pergunta. Estava a ponto de cometer a pior burrada da sua vida, e teria sido a coisa mais imprudente que poderia fazer, uma vez que estaria declarando guerra à sua própria família. 

Agradeceu mentalmente por Embry tê-lo parado, mas a angústia que sentia com a notícia do casamento de Bella não havia cessado e ele precisava dar um jeito nisso antes de partir. 

Wendy deu um passo para trás quando percebeu a movimentação do lobo. Ela nunca tinha parado para observar quando eles se transformavam de humano para lobo ou vice-versa. Era, de fato, fascinante a rapidez com que aquilo acontecia.

A Cullen fez uma nota mental de perguntar a Paul mais sobre sua transformação, mas, naquele instante, sua atenção estava no garoto em sua frente completamente pelado.

Ela não soube muito bem para onde olhar e decidiu então fitar o rosto dele, totalmente horrorizada com as partes masculinas balançando em suas vistas. 

— Vou falar isso rápido, Cullen. — A vampira arregalou os olhos, surpresa com a naturalidade que ele começava a conversa enquanto estava nu, logo após quase tê-la atacado.

— Antes posso saber o motivo desse surto? — indagou Wendy, dando dois passos para trás.

— Não tenho tempo para bobagens — rosnou ele. — Estou indo embora e quero que passe meu recado para aquele sugador de sangue nojento que se diz ser seu irmão. 

— O quê? Você vai embora? E o que o Edward tem a ver com… Oh! — O rosto da vampira se iluminou e os olhos dela brilharam com tristeza. — Então você já recebeu o convite. 

Ele sorriu ironicamente, irritado com a pena que irradiava dela. 

— É, recebi. 

— Sinto muito, de coração. A Bella… — A garota sentiu um aperto no peito ao ver indícios na aparência dele que não tinha percebido antes. Ele parecia arrasado de maneiras que ela não poderia descrever. 

— Não fale esse nome! — gritou Jacob com a voz meio embargada. — Você não tem direito de falar o nome dela enquanto assiste ela caminhar direto para a morte!

Wendy ergueu as mãos em rendição, tentando não estressá-lo mais ainda. Não queria machucar o garoto quando ele havia acabado de ter seu coração partido, contudo, se ele partisse para cima dela, não poderia ficar parada deixando que ele a machucasse.  

— Eu não tive nenhuma parte na escolha dela, Jacob. A Bella fez a própria escolha e nem você, nem muito menos eu, poderíamos fazer algo a respeito disso. 

— Você acha que eu não sei? Ela foi muito clara quando aceitou se casar com ele. — O garoto apertou as mãos em punhos. A respiração estava ofegante pela raiva que sentia e as unhas crescidas feriam sua carne. — Você tem toda razão, sabe? A minha opinião ou a sua não importam para a Bella, mas se aquele sanguessuga tivesse esperado só mais uns meses, eu teria… — Ele balançou a cabeça. — Teria…

— Conquistado ela? — Wendy completou a frase gentilmente. — Você sabe que não… O que a Bella e o Edward têm é algo intenso e devastador, quem chega muito perto pode acabar saindo machucado... Sinto muito, muito mesmo que tenha sido você, Jacob. Quando você encontrar seu imprinting, tudo isso vai melhorar, tudo vai ficar bem quando você encontrar a sua pessoa. É só questão de tempo, prometo.  

Ela esperou que suas palavras fizessem algum efeito nele. 

E fizeram, mas não da forma que ela ansiava. 

A gargalhada que Jacob soltou foi amedrontadora. Era seca e sem alegria, e Wendy sentiu um mau pressentimento. 

— Você acha mesmo que meus problemas vão ser resolvidos com essa porcaria de imprinting? 

— Eu não…

— Acha mesmo que quero ter todas as minhas escolhas tiradas de mim e virar uma maldita marionete nas mãos de uma desconhecida? — cortou ele secamente. 

— Não é bem assim…

— Não é bem assim? — Ele continuou a interrompê-la com um semblante feroz e determinado. — Acha mesmo que se o Paul pudesse ter alguma escolha, ele teria escolhido quem? Você?

Jacob se sentiu exultante ao perceber que havia conseguido magoá-la. A dor de perder Bella quase desanuviou quando percebeu que tinha obtido êxito em perturbá-la de alguma forma. No fundo da sua mente, ele sabia que Wendy não tinha culpa de nada, entretanto, ele precisava machucar alguém, ou explodiria.  

— Acha que ele trocaria um corpo humano e quente por um cadáver frio? 

Wendy sentiu o primeiro golpe. 

— Você nunca vai ser o suficiente para o Paul, assim como aquele sanguessuga nunca vai ser o suficiente para a Bella, vocês sempre vão machucá-los de alguma forma, sempre vão desejar cravar as presas na pele deles mais que qualquer coisa…

Segundo golpe. 

— Eu nunca machucaria o Paul — sussurrou a vampira mais para si mesma do que para que o outro a ouvisse. 

— Nem você acredita nessa droga! — rebateu ele. — Agora, vai parecer ser suficiente a vidinha que vocês levam, é divertido por algum tempo… sempre é. Mas daqui a uns anos, tudo isso vai deixar de ser novidade e eles vão se cansar. Sabe o que acontece quando as pessoas se cansam? Elas querem mais. E esse mais você ou seu irmão não vão poder dar nunca.  

Nocaute. 

Ela quis gritar para ele que havia sido suficiente, que ela já estava se sentindo tão miserável quando ele, contudo, não conseguiu. As palavras fugiram da sua boca, e Wendy apenas conseguiu ficar parada enquanto era atingida novamente. 

— Vocês nunca vão poder ter filhos. Nunca vão ter uma vida normal. E, quando a Bella perceber isso, vai ser tarde demais. 

Tarde demais, pensou a Cullen quando um lobo cinza com manchas pretas parou entre ela e Jacob. Sua mente estava bagunçada em demasiado para prestar atenção no que estava acontecendo entre os dois. Ela somente conseguia repetir várias e várias vezes aquelas palavras e, em cada uma delas, a dor em seu coração aumentava. 

A vampira não viu quando Embry a protegeu de Jacob. Não percebeu Jacob ir embora. Não deu a mínima para o garoto esguio tentando tirá-la do transe ou para a chegada dos outros lobos. 

Estava perdida em um turbilhão de sentimentos ruins, afogando-se em uma nuvem de tormentos, sem meios possíveis de escape. 

Quando sentiu que não aguentaria mais, dois braços fortes irradiando calor a tiraram daquele estupor e ela, finalmente, relaxou.

 


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