Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 33
Choque




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O toque do celular fez com que Drake abrisse os olhos novamente - tinha cochilado. Dick estava ligando para ele, provavelmente para perguntar sobre o gremlin também... preferiu não atender.

Ele ergueu a cabeça e olhou para o computador, esperava vê-lo funcionando perfeitamente, mas estava desligado. Ele encarou Damian, pronto para exigir explicações, mas o que viu o pirralho fazendo era mais do que suficiente para ter certeza de que ele estava mentindo sobre tudo:

A máquina de café expresso, o item mais amado por Tim naquela cozinha, estava destruída. Damian parecia ter jogado água e pó de café por cima dela várias vezes, tanto que a pobre máquina já tinha fumaça saindo de alguns pontos por causa de curtos-circuitos. O rapazinho, que ainda não tinha notado que o irmão acordou, continuava admirando sua travessura, derrubando mais um pouco de água por cima de tudo com a caneca, lentamente... parecia se deliciar com aquela pequena porção de caos.

— SEU DEMÔNIO!!! — Timothy gritou, praticamente pulando da cadeira — POR QUE FEZ ISSO!? — ele agarrou Damian pelo pijama — POR QUÊ!? — o balançou de um lado para outro, só ficando ainda mais irritado quando, ao invés de uma resposta, Damian apenas encarava o nada e terminava de derrubar a água no chão — É isso o que você queria!? Me infernizar e sair impune, como você faz com todo mundo!? — Tim rangeu os dentes, queria esganar o irmão, mas se contentou em jogá-lo no chão.

— T-Tim...? — o pequeno sussurrou, parecendo que finalmente tinha acordado daquele transe.

— Não se faça de maluco agora! Dessa vez você não tem como se fingir de inocente! — foi tudo o que Drake disse antes de sair da cozinha.

Com passos pesados como os de um elefante, ele foi até o corredor e tirou uma moldura grande da parede que escondia o quadro de disjuntores; odiaria que aquela brincadeira de mal gosto se transformasse em algo mais sério. Como não se lembrava ao certo qual pertencia à cozinha, começou a testar um por um.

Os estalos dos disjuntores praticamente ecoavam, já que a mansão estava no absoluto silêncio. Timothy praguejava em murmúrios a cada tentativa errada – ele conseguia ver a luz acesa da cozinha passando pela porta. Ele continuou, continuou até ouvir um xingamento em alto e bom som vindo do segundo andar, praticamente um urro enraivecido... era Jason.

Tim largou os disjuntores e caminhou até as escadas, estava pronto para terminar a pequena discussão iniciada pelo telefone, mas caiu em gargalhadas quando avistou o rebelde da família descendo apressado, com espuma escorrendo pelo cabelo e trajando apenas um roupão felpudo e salmão.

— A PORRA DA LUZ ACABOU! — Ele encarou o mais novo, estava irritado.

— N-Não...! — Tim tentou explicar, mas ainda estava rindo – se não fosse a situação, já teria corrido até a cozinha para pegar o celular e registrar aquele momento. As risadas aumentaram ainda mais com alguns tropeços do mais velho – estava escorregando por causa do sabão.

— O QUE CARALHOS VOCÊ FEZ!? — O mais velho colocou as mãos na cintura, já estava frente à frente com Timmy.

— Eu só... os disjuntores, eu... Droga! — Tentou recuperar o folego, chegava a ter lágrimas de tanto rir — O Damian fez merda, daí eu... — Antes que pudesse prosseguir com a explicação – ou as risadas -, um barulho alto de coisa se quebrando veio da cozinha — Damian! — Ele chamou com um tom irritado, esperava qualquer tipo de coisa ruim vindo do gremlin mentiroso.

— Damian!? — Jason chamou pelo irmão, mas diferente de Tim, estava preocupado.

Os dois rapazes correram para a cozinha quando não receberam resposta nenhuma. Chegando lá, havia ainda mais caos que antes: Damian parecia ter resolvido piorar o estado da máquina de café expresso, que agora estava dependurada sobre a pia apenas pelo fio de eletricidade – ela balançava suavemente de um lado para outro, pronta para despencar de vez no chão ao mínimo movimento -; o pote onde o café era guardado, de vidro, tinha sido arremessado no chão sem dó e piedade – agora restavam os cacos e o pó de café espalhados.

Timothy foi o primeiro a entrar e ir até o irmão – ele não estava preocupado, estava se comportando como um verdadeiro animal:

— POR QUE FEZ ISSO!? — Ele exigiu respostas, explicações, qualquer coisa que fosse — JÁ NÃO FEZ MERDA O BASTANTE POR HOJE!?

— E-eu... — O pequeno mal conseguia falar — Tentei tirar da tomada, mas levei um choque e-e... E... — A voz parou de sair, mas as lágrimas continuavam.

— VOCÊ QUERIA É MONTAR UMA ARMADILHA PARA ME MATAR ELETROCUTADO! — Tim acusou, estava completamente fora de si.

Jason observava aquilo tudo da porta, tentando entender o que havia dado de tão errado. Se soubesse, se ao menos desconfiasse que aquilo aconteceria, ele teria passado na cozinha antes de ir tomar um banho – que não teve nada de relaxante. Ele finalmente interveio quando, movido por uma raiva e frustração descabida, Timmy pulou em cima do irmão mais novo em um ataque.

Tudo aconteceu rápido, mas pareceu escorrer na percepção de tempo do jovem Timothy:

Ele pulou em cima de Damian para esganá-lo, mas Jason tirou o pequeno das mãos dele e o ergueu para manter longe de Tim que, motivado por uma sede de justiça infundada, não pensou antes de chutar o mais velho com esperança de que apenas aquilo fosse o suficiente para ter sua presa, o Demônio Wayne, mais uma vez ao alcance.

Aquele chute inesperado, nas costelas, junto com o chão ainda molhado e cheio de cacos de vidro foi a causa para Jason cair, levando Damian consigo, e bater as costas na bancada e – como prova de que tudo o que está ruim pode ficar ainda pior – acertar também aquela maldita máquina de café expresso em curto-circuito que estava pendurada. Ele mal teve tempo de um xingamento ou coisa do gênero: a eletricidade começou a percorrer o corpo dele, fez os músculos se comprimirem e ele perder o controle... uma péssima hora para ter estar coberto de espuma.

Vendo as consequências catastróficas das próprias ações, Timmy correu até os disjuntores e desligou todos eles. Enquanto ouvia os estalos dos disjuntores, o rapaz também ouviu mais barulhos vindos da cozinha: provavelmente a máquina de café despencou de vez, assim como Jason e Damian...

Depois, quando o que restava era voltar e arcar com as responsabilidades pelo que tinha feiro, Tim caminhou o mais devagar possível. Ele não tinha feito por mal, nem ao menos conseguia entender como perdeu o controle de si mesmo daquele jeito. Da porta, ele conseguia ver os dois irmãos caídos no chão; ele não queria chegar perto deles, então ficou apenas ali, parado, esperando que mostrassem qualquer sinal de que estavam bem – de que estavam vivos ainda – qualquer coisa além dos espasmos sistemáticos de Damian.

Depois de quase dois minutos, que pareciam ser horas a fio, Jason finalmente murmurou algo:

— ... Pirralho?

— Eu sei o que está parecendo, mas ele só levou uma descarga elétrica. Daqui a pouco ele volta ao normal, Jason — Tim tentou ser racional, mas não se atreveu a se aproximar deles — Aposto que o gramlin fez isso de propósito, era o plano dele o tempo inteiro: fazer tudo isso e me deixar como culpado!

— Mas o... — Jason nem ao menos terminou, bastou recobrar o que tinha acontecido para ficar nervoso novamente — Pirralho!? — Ele chamou pelo pequeno, que continuava se contorcendo e tremendo — Não, não, não... Droga, Dami... Não...! — murmurava, se ajeitando ao lado do irmão menor. Por mais nervoso que estivesse agora – e dolorido -, ele tentava repetir as ações de Alfred e dar apoio ao menos à cabeça de Damian — Vai chamar ajuda, Tim!

— ... Jason, o B deve estar ocupado ainda e...

— CHAMA AJUDA! — O mais velho se desesperou.

— Jason, o Damian só está fazendo tudo isso para poder sair como vítima de novo! — teimou, mas precisou pegar o celular em cima da mesa quando começou a tocar, era Dick de novo — O que quer? ... Está tudo bem, eu devo ter acionado o sistema de segurança por acidente e...

— NÃO ESTÁ NADA BEM! PRECISO DE AJUDA, PORRA! — Jason gritou, sem se importar com quem estaria ouvindo.

— É só o Damian... Não, ele só levou um choque, é normal! Dick, é absolutamente comum e...! Cozinha, por que? ... Não, não precisa! Dick, não precisamos de... — Timmy parou de falar, afinal, Richard havia encerrado a ligação — Ótimo, mais um para ficar nervoso e agir do jeito que esse gremlin quer!

— CHAMA A CARALHA DA AJUDA, TIM!! ALFRED, BRUCE, QUALQUER UM! — O mais velho gritava em um misto de irritação e nervosismo — Se eu pudesse largar o pirralho e ir até você... seu... — ele rosnou entre os dentes.

— Vou ligar para o Alfred, não precisa ficar tão nervoso assim! É só uma convulsão!

— Só uma convulsão!? Você nem tem ideia do que...! — Antes que Jason pudesse continuar com o discurso explicativo sobre a situação em que estavam, batidas desesperadas na porta o fez ficar em silêncio. As batidas eram rápidas, depois foram tentativas de abrir a porta e, por fim, a pessoa desistiu da entrada tradicional e foi até o basculante acima da pia — ... quem caralhos é que...?

— O QUE ACONTECEU COM O DAMI!? — Dick perguntou assim que teve chance, quando Drake abriu o basculante para ver quem era — O QUE ACONTECEU!?

— ELE ESTÁ TENDO UMA CRISE! — Jason respondeu.

— PAREM DE GRITAR! — Tim pediu, suspirando e tentando ligar para o mordomo – única pessoa sensata em situações como aquela.

— Preciso que alguém abra a porta! — o mais velho pediu — Se eu tentar abrir vou acionar o sistema de alarme...

— Sistema de alarme? Você ativou o modo de segurança da mansão!? QUE ALFRED NOS SALVE DE VOCÊ, TIM! — Jason voltou a se desesperar. Aquele modo de defesa fechava as entradas da BatCaverna e, ao mínimo sinal de arrombamento, colocava a mansão inteira em estado de alerta.

— Alfred tranca as portas quando sai... — foi tudo o que o nerd mal-humorado respondeu.

— Abre pelo menos a janela então!

— Tá, tá... — Tim murmurou, tentando mais uma vez ligar para o mordomo — Você não passa pela janela da cozinha, Dick...

— ABRE LOGO A PORRA DA JANELA, EU PRECISO DE AJUDA AQUI! — Jason deixou o nervosismo tomar conta mais uma vez, ele já estava tremendo quase tanto quanto o irmão mais novo — Manda logo o Alfred vir, eu acho que o Damian está se engasgando!

— Se engasgando!? — Dick também se desesperou.

— Eu estou tentando ligar, dá pra ficarem calmos!? — Timothy insistiu, finalmente abrindo uma das janelas da cozinha – muito menor do que as amplas janelas da sala de jantar.

Como se um sopro de bom senso atingisse ao filho mais velho, Dick não se enfiou pela janela no mesmo instante em que ela foi aberta, ele preferiu tomar medidas mitigadoras caso o pequeno Damian acordasse: começou a tirar o uniforme. A roupa justa ao corpo, fina, foi praticamente destruída pelo rapaz que, devido ao nervosismo, não conseguia achar o zíper. Ao fim de uma verdadeira odisseia para tirar o collant preto e azul – coisa que ele sabia fazer com tanta facilidade em seu normal -, o rapaz finalmente se enfiou pela janela...

— Fodeu...! — ele disse quase sem voz, se remexendo como podia para tentar ter algum tipo de mobilidade, mas não ter passado os braços primeiro foi um erro fatal.

— ... Não acredito que você está preso... — Jason suspirou, olhando para Dick e depois para Damian — Falta mais alguma coisa dar errado!? — ele encarou Tim, que estava novamente na porta da cozinha — AVISA PRO ALFRED TRAZER ARMAMENTO PESADO! VAMOS PRECISAR!

— Jason! — Dick o repreendeu.

— Do jeito que as coisas estão indo, vamos morrer hoje em um apocalipse zumbi! Não, melhor: eu sou azarado o suficiente para ser um dos poucos sobreviventes e morrer de fome! Sozinho!!! — Todd já estava à beira de um colapso — Morrer sozinho pela segunda vez!!!

— Eu estou preso numa janela, sem roupas, enquanto o Dami está tendo uma crise e você fica assim!? — Richard não estava tão distante do limite também.

— Eu estou preso com vocês e estou perfeitamente bem... — Drake se sentou à mesa mais uma vez — Claro, estaria melhor se o gremlin não tivesse arruinado o meu dia!

— A culpa é sua por ele estar assim! — Jason retrucou.

— A culpa é dele!

— Você quem atacou ele!

— Você atacou o Dami!? — Dick se remexeu na janela mais uma vez, estava claramente desapontado com Tim.

— Ele quem começou! — ele se defendeu.

— Ele está espumando! — Jason disse com a voz embargada.

Damian, que era o motivo central de toda aquela situação, continuava em uma crise convulsiva. Apesar de já não estar se contorcendo tanto, parecia pior: agora, saia uma espécie de espuma pela boca... ele parecia sufocado.

— Alfred já está vindo, mas não tem muito o que fazer sobre o gremlin... — Timothy murmurou, apoiando a cabeça em cima da mesa — Vira ele de lado, talvez melhore...

— Do jeito que as coisas estão, só podem melhorar — Dick murmurou, tentando se desprender da janela.

— Eu pensei exatamente a mesma coisa quando a luz apagou no meio do meu banho e agora a minha vida tá essa merda: o pirralho vai morrer logo agora que começamos a nos dar bem...! — O rebelde da família chegava a ter lagrimas escorrendo pelo rosto enquanto lamuriava sobre a vida. Mesmo assim, além do limite do que conseguia suportar, ele fez o melhor para virar o irmãozinho de lado para que não se engasgasse.

— Jay... — Dick tentou dar um de seus sorrisos otimistas — Pensa bem: o que poderia dar errado agora além de tudo isso?

Foi a única coisa que Richard disse antes do tiro de uma espingarda ecoar do lado de fora.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente: caso note que algo está em curto-circuito, pare de usar o equipamento ou desligue a passagem de energia. Caso alguém fique agarrado ao equipamento em curto e não for possível cortar a passagem de energia elétrica, use algo de madeira para afastar a pessoa (taca-lhe pau).
Eu não sei vocês, mas sempre me perguntei onde ficam os zíperes dos uniformes dos super-heróis ou se pelo menos eles usam roupas intimas quando se fantasiam... Na minha cabeça, é impossível o Dick usar alguma coisa por baixo daquela roupa apertada.
É isto.
Não tenho muito o que dizer aqui, além de deixar claro que eu ri MUITO enquanto escrevia este capítulo – peço desculpa aos envolvidos. Ele não seria assim, sabe? Seria algo bem mais sério e um tanto mórbido, mas vou guardar isso para depois...
Um agradecimento especial para a minha amiga e praticamente coautora da fanfic: muitos desses “o que não poderia ficar pior, ficou” foi graças a ela. Mais um pouco e já podemos escrever roteiros de filmes de ação indiano, drama que não vai faltar!
Nota da nota: em DCeased, Jason fica na Terra, lutando para sobreviver no meio de vários zumbis. Foi o coitado quem enterrou Dick, Tim e Bruce na Batcaverna... tadinho.



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