Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 28
Alta




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— É melhor dormir mais um pouco... — Selina sugeriu enquanto colocava um dos braços de Bruce ao redor dos ombros dela — ... você está péssimo.

— Foram três horas dentro de um taxi... — o Wayne resmungou. Porém, ele não recusou receber ajuda.

— Alfred também ficou três horas dentro do mesmo taxi e me parece perfeitamente bem — rebateu ela, olhando ao longe para o mordomo que andava de um lado ao outro colocando tudo o que podia em ordem — Bruce, você precisa de repouso.

— Eu preciso saber como o meu filho está.

— Ele está bem — Ela o segurou com um pouco mais de força, estavam prestes a começar a subir a escadaria que dava para segundo andar, onde ficavam os quartos — E você precisa estar bem para cuidar dele...

— Por que todos são tão teimosos comigo? Eu só quero ver o meu filho e conversar com ele...

Selina preferiu não continuar aquela discussão.

Os dois subiram os degraus lentamente e, na medida em que se aproximavam do quarto de Damian, podiam ouvir com mais clareza algumas risadas e uma conversa animada. Estavam se dando bem...

— Tenta se manter calmo — Foi tudo o que a gata pediu antes de abrir a porta e largar o namorado lá. Sabia que aquele momento cabia apenas a ele e aos filhos, principalmente porque ela não iria concordar caso ele tomasse alguma medida mitigadora com alguém.

Bruce resmungou algo próximo de um “ok” e continuou em pé de frente a porta por alguns segundos, escutando a discussão dos filhos antes de interrompê-los:

— Eu quero uma revanche! — Jason disse irritado. Em primeira vista não dava para saber se ele estava incomodado com a partida perdida ou com Richard praticamente jogado em cima dele.

— Aceita logo que perdeu, cinco à zero já é vergonha o suficiente! — Tim disse entre as risadas.

— Só está ganhando porque o Dick não está empoleirado em você! — o outro retrucou.

— Eu estava exatamente assim quando o Bruce te venceu da outra vez... — Grayson relembrou entre risadas — Passa logo o controle para o Dami, anda!

— Para mim? — o pequeno, que até aquele momento tinha se contentado apenas em assistir, parecia quase lisonjeado com aquilo — Mas eu vou perder pior que o Jay...

— Ei!

— Vou pegar leve com você, gremlin — Drake sorriu encarando o irmão mais novo. Ele era o único sentado no chão, fazendo com que o rosto dos dois estivesse na mesma altura.

Depois daquela péssima primeira impressão entre eles, bastou que Tim dormisse por algumas horas até se dar conta de que por mais que Damian estivesse “fingindo”, aquilo não implicava necessariamente em algo ruim - na verdade, ele estava preferindo bem mais essa versão aprimorada e obediente do demônio Wayne. O pequeno, aliás, mal se lembrava do que tinha acontecido pela madrugada; o que colaborou para que Timmy fosse apresentado a ele como um irmão “nerd e legal”, ao invés daquela impressão de “malvado”.

— Obrigado, Tim — o caçula sorriu sem jeito, finalmente aceitando o controle.

— Antes de começarem mais uma partida de Dirt Rally sem mim, gostaria de esclarecer alguns pontos... — Bruce aproveitou aquela deixa e começou seu discurso ensaiado mentalmente por todo o trajeto de Metrópole até lá. Os filhos mantinham os olhos vidrados nele, olhares que se intensificaram ainda mais quando o mais velho ficou entre suas crianças e a TV. Ele respirou fundo e chamou a atenção da primeira “vítima”: — Dick.

— B? — o rapaz respondeu se sentando adequadamente na cama.

— Fez um bom trabalho na minha ausência... — Quando começou a arrancar um sorriso de Grayson, ele completou: — Mas precisa parar de ser tão impulsivo em relação ao seu irmão. Se Jason não tivesse chego, o que iria fazer? Sair atrás dos dois sem nem saber por onde começar?

— ... Desculpe — Não haviam outras palavras para ele dizer.

— Tim...

— Sim, Bruce? — o rapaz o encarou. Estava quase tão acabado quanto o pai: olheiras, olhos avermelhados, cansaço estampado no rosto... só faltava a barba por fazer – ou melhor, faltava algum sinal de barba.

— ... Descanse, conversamos depois.

Ressentido, Timmy se levantou e saiu do quarto. Dick foi com ele, não queria ouvir o final daquela conversa.

— ... Não precisa nem falar nada, Bruce... — Jason murmurou, se levantando também — Vou ir arrumar minhas coisas.

— Como assim? — Damian encarou o irmão — Jason, onde você vai ir? — Ele tentou se levantar também, mas bastou esforçar a perna machucada para mudar de ideia.

— Fica calmo, pirralho... te mando notícias, tá? — o rebelde sorriu tentando parecer bem com aquilo, quando na verdade a única coisa que o impedia de se jogar aos pés do pai e implorar para continuar ali - com aquela chance de poder fingir que tudo estava bem - era o orgulho.

— Jason, você nem me deixou falar — O mais velho disse depois de um longo suspiro.

— Falar o que? Que eu te decepcionei de novo; que eu sou um rebelde sem jeito; que é melhor eu me afastar antes que faça alguma coisa de errado ou... — Jason não conseguiu terminar de listar todos os possíveis erros que já cometeu – sorte a dele, porque haviam muitos antes de chegar ao sequestro do irmão e roubo da BMW.

— Você fez o certo e... — Bruce o interrompeu, colocando uma das mãos no ombro dele — ... Estou orgulhoso de você.

— ... Sente... sente orgulho de mim?

— Sim.

— ... D-De mim...? — Todd tentava pensar em como reagir, mas as palavras apenas se embolavam na garganta dele. Os olhos pinicavam. Ele saiu do quarto antes que Bruce tivesse chances de negar o que havia dito, murmurando apenas um: — ... até o café.

Damian ainda olhava para a porta, esperançoso que ao menos um dos três voltasse para brincar com ele mais um pouco. Ele não queria ficar ali sozinho e, por mais que o pai estivesse lá com ele, bastava se lembrar de a estadia naquele hospital para sua mente recusar Bruce como algum tipo de proteção tão eficaz quanto os irmãos.

— Damian? — o mais velho o chamou, se sentando na beirada da cama.

— Pai, o Jason não vai ir embora, vai? Se ele não me deu tchau é porque ele não vai, né?— perguntou para ter certeza.

— Não, ele não vai ir... — Bruce acabou sorrindo — Ele é um bom irmão mais velho?

— Sim! Dick também é! — O pequeno sorriu e encarou a porta mais uma vez - se mantendo esperançoso - mas logo se conformou com a realidade solitária.

— E quanto ao Tim? Ele te tratou bem?

— Ele é estranho, mas parece ser legal...

Damian olhou para a TV, o pai acabou repetindo o gesto dele. E assim os dois ficaram em silencio encarando o jogo pausado... Bruce precisava reunir muita coragem para a próxima pergunta:

— Damian, pode me perdoar?

— ... Por quê? — O pequeno encarou um ponto qualquer no chão. Ele sabia o motivo daquele pedido, mas queria entender o que Bruce tinha feito de errado – porque ele se considerava o único culpado por algo, não o pai.

— Por ter mantido você naquele lugar contra a sua vontade; por ter deixado você ficar com medo; por não ter notado nada de errado... — Bruce sentia o coração falhar a cada vez que falava um dos motivos, sentia-se um monstro tal como Dr. Garner. Ele realmente havia negligenciado aquela criança.

— Foi para o meu bem, não foi? — Apesar de já estar com os olhos marejados só por se lembrar, Damian queria encarar toda aquela experiência terrível como um “mal necessário”.

— Poderia ter sido de outro jeito se eu não fosse tão... inconsequente — Ele repetiu o adjetivo que tinham atribuído à ele tantas vezes — Eu acreditei ser o melhor para você, acabei te entregando aos cuidados de um...

— Médico malvado?

— Isso — Bruce acabou sorrindo com aquelas palavras tão “gentis” para designar aquele ser doentio, o que só tornava tudo ainda pior: o peso da culpa aumentava.

Céus, Damian era apenas uma criança nas mãos de um monstro...

— Quando descobriu que ele é malvado?

— Quando já era tarde demais... — sussurrou, sentindo como se uma faca lhe atravessasse o peito.

Apenas uma criança inocente...

O silêncio se instalou novamente pelo que pareceu uma eternidade. Bruce conseguia ouvir o próprio coração, quebrado e agitado, tentando voltar ao normal... fingir que estava bem requeria esforço demais.

— Então eu não vou precisar fazer mais exames? — Damian finalmente quebrou aquela quietude — Nenhum? — Olhou para o pai com os olhos esperançosos.

Como ele consegue manter esse olhar tão pueril?

— Nenhum — Bruce bagunçou os cabelos do filho, se forçou para sorrir.

O pequeno só conteve toda a alegria que estava sentindo quando tentou se levantar e mais uma vez acabou forçando a perna ainda dolorida. Porém, isso não o impediu de fazer um pedido:

— Posso ir brincar no jardim? Por favor?

Bruce o avaliou de cima abaixo: a calça ainda era aquela que o filho usava no hospital; a parte de cima de um pijama qualquer e a jaqueta de Jason coberta de farelos de algo que estavam comendo no quarto. Pelo visto, a falta de memória fez o pequeno esquecer até mesmo de escovar os dentes: ainda haviam resquícios de um filete de baba em um dos cantos da boca.

— ... Depois do banho — finalmente respondeu.


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Notas finais do capítulo

PEDIDO IMPORTANTE: me sigam no Facebook (laviniacrist13) ou/e no instagram (@laviniacrist13). Este pedido tem um motivo: semana passada eu perdi o acesso em uma das minhas contas e não tive como avisar ninguém, eu nem ao menos sabia se poderia postar normalmente ou não hoje. Não precisam curtir nada, comentar nada e nem interagir comigo, até porque eu não sou tão ativa por lá, é apenas para eu ter um meio de avisar caso algo assim aconteça novamente.
Agora sobre a fanfic: vocês já notaram como o Damian é uma criancinha adorável? Completamente diferente do que ele era antes, né? Só para lembrar que ele perdeu a memória e as primeiras lembranças que tem é do Dick conversando com ele, o Sr. Pennyworth mostrando fotos antigas e o pai contando historinhas para ele dormir. Não estou querendo dar ideias para teorias, mas, por exemplo: se eu esquecesse de tudo e depois ainda fosse deixada internada com um médico maluco, eu me tornaria algo ainda pior que o Dami de antes, kks. Ainda bem que agora o Damian é um garotinho obediente, né?
Nota da nota: o título é porque o Damian recebeu alta de tudo... desculpe, eu sou péssima com títulos! Kks.



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