Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 20
Extra




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— Com licença Sr. Wayne, teria alguns minutos para uma entrevista para o Planeta Diário? — Clark Kent, com seu bloquinho de anotações em mãos, perseguia o milionário pela cafeteria da Clínica de Neurologia.

— ... Não — Bruce murmurou, indo até uma das máquinas de salgadinhos.

— Soube que seu filho está internado, o que contradiz sua última entrevista mencionando uma colónia de férias em... — Antes que o jornalista conseguisse continuar a fazer seu trabalho de importunar Bruce, ele observou o amigo esmurrar a pobre máquina enquanto tentava pegar alguma coisa. Os demais que estavam na cantina simplesmente ignoraram, como se fosse algo rotineiro — Quer ajuda?

— Não! — Bruce tentou mais uma vez.

— ... Tem certeza, Sr. Wayne?

— Eu quero a porra da barrinha de cereais! Você consegue pegar ela!? Consegue!?

Das poucas e extremamente raras vezes em que Clark viu o amigo naquele estado de nervos, não tinha muito o que se fazer. O jornalista apenas deu uma “forcinha” e fez com que uma das barrinhas caísse – talvez melhorasse o clima.

— Então, Sr. Wayne, podemos ter uma conversa agora? Ao menos enquanto você... — Enquanto ele falava, Bruce foi se afastando em direção ao elevador. Clark se viu obrigado a ir atrás dele para conseguir arrancar alguma coisa e, por sorte, a cabine estava vazia — Bruce, será que você pode ao menos me responder o que está acontecendo?

— Não.

— Bruce, Jon viu quando vocês chegaram e me deixou realmente preocupado. Sei que parte do que ele disse deve ser só imaginação, mas se Damian está aqui isso significa que...

— Desliga um pouco o lado repórter — Bruce praticamente ordenou, enfiando a barrinha na boca de uma vez só.

O jornalista o observou enquanto tentava entender toda aquela relutância. O Wayne estava desgastado, visivelmente abatido, ansioso e provavelmente sem dormir desde que pôs os pés em Metrópole primeira vez, três dias atrás.

— Ele vai ficar bem? — Clark perguntou como um amigo, tentava manter os pensamentos positivos.

— ... Ninguém sabe. — Bruce murmurou fechando os punhos com força o suficiente para nocautear quem quer que recebesse aquele golpe – ele queria acertar a própria cara, estava se considerando o pior dos vilões pelo que deixou acontecer com o filho. Ele encarava o chão, não tinha forças para lidar com o “símbolo de esperança” quando ele mesmo não tinha mais.

Os dois ficaram em silêncio.

Super, que naquele momento se sentia um completo inútil ali, ficou surpreso quando o amigo repousou uma das mãos no ombro dele. Seria um ato completamente normal devido às circunstâncias, mas conhecendo o melhor amigo tão bem quanto Kent afirmava conhecer o morcego, sabia que aquilo era um péssimo sinal – visão turva.

— ... Ele... — Clark se deteve, precisou de alguns segundos até conseguir continuar: — Ele pode morrer?

O elevador abriu.

Estavam em um dos últimos andares daquele instituto neurológico aos arredores de Metropolis. Há anos aquele centro de estudos passou a funcionar como uma clínica para casos especiais, o que não impedia de ser um local requintado e à altura dos Wayne. Damian ficava em um dos maiores quartos, curiosamente o único leito ocupado daquele andar.

— Se continuar só olhando, as portas do elevador vão se fechar — Bruce murmurou contrariado.

— Alfred sabe que você está com a pressão alta desse jeito? — Super perguntou tentando se controlar para não dar risadinha: o “invulnerável” Batman se mostrar como um “morcego cego”.

— Por quê? Vai contar a ele?

— A última vez que você ficou assim, a Terra estava sob...!

— Não importa. — o interrompeu, continuando logo depois: — O que me importa é o meu filho, a minha pressão eu trato depois. O resto do mundo: a Liga da Justiça cuida.

Clark Kent, deixando novamente seu lado jornalístico se aflorar enquanto conduzia o amigo pelo corredor em passos lentos, começou:

— Já tenho o título da minha matéria: “Pai do ano tem ataque cardíaco tentando cuidar do filho”, uma experiência realmente nova para você... Não! Não é chamativa o suficiente! Que tal essa: “Pai inconsequente enfarta deixando seus filhos órfãos”, hun? — sem conseguir se controlar, ele acabou dando um de seus sorrisos idiotas e continuou: — Pobre Alfred, precisando fingir que não notou o seu estado ainda... ele também deve estar à beira de um ataque de nervos!

— Você nunca cala a boca? — Bruce mantinha o tom frio, não via a menor graça naquela situação — Não sei como conseguiu se tornar um repórter com títulos tão ruins.

— Acho que são os óculos... Louis sempre diz que falo mais quando uso eles — Sorriu novamente, ignorando as alfinetadas — Só é algo novo demais o que está acontecendo: você agindo como um pai preocupado, um Batman preocupado.

— Se você entendesse a gravidade de tudo... — Murmurou contrariado, sem paciência para demais explicações. Alfred era melhor em lidar com pessoas, ele só queria lidar com o filho.

Os dois voltaram ao silêncio: Bruce não queria falar mais nada e Clark começou a pensar no que havia dito – aquilo não era a hora e muito menos o lugar para tentar ser o “amigo bem-humorado”, apesar da recusa em respostas indicar sempre e indiretamente que tudo ficaria bem.

Quando finalmente chegaram em frente à porta do quarto, Clark a abriu para o amigo – julgou ser necessário, já que das duas vezes em que o Wayne levou a mão em uma tentativa de abrir, errou a maçaneta. Assim que entraram, se depararam com uma cena que conseguiu quebrar qualquer expectativa:

Naquele quarto amplo e refinado, Damian parecia desenhar algo com movimentos sistemáticos e repetitivos. Ao lado dele, Alfred afagava o cabelo rebelde de Jonathan, rapazinho este que tinha os olhos ainda chorosos.

— Ele logo vai ficar bem, não precisa se preocupar... — O mordomo tentava soar otimista.

— Jon!? — Clark praticamente ignorou o amigo que ainda precisava de alguma ajuda e foi até o filho — Como entrou aqui? Pedi para me esperar no carro... Filho, o que foi? — Com a falta de respostas, ele recorreu ao único que deveria saber a resposta — O que houve, Alfred?

— ... Damian, ele... — o mordomo suspirou, estava visivelmente cansado.

— Mais uma crise? — com a voz transparecendo o quão preocupado e frustrado estava, Bruce perguntou dando passos tortuosos até conseguir alcançar o filho. Estar com a visão turva não era o bastante para pará-lo naquela situação.

— Exatamente — O mais velho dentre eles concordou, encarando o chão — Começou há menos de dois minutos, quando o jovem Jonathan entrou para saber como o amigo estava.

— Eu não fiz por mal! E-Eu só queria ver ele, mas... mas... — o mais novo tentava se explicar, mas se sentia tão culpado que voltou a chorar antes de conseguir falar mais uma palavra que fosse. Estava fazendo jus ao apelido de “bebê chorão”, apelido tal que Damian ainda não tinha usado.

O jornalista endireitou os óculos e olhou para a outra criança. Damian continuava rabiscando seu bloco de desenhos, literalmente rabiscando. O olhar estava perdido no mais completo nada, enquanto ele continuava fazendo uma sequência de riscos pela folha.

— O jovem Jonathan entrou pela janela. — o mordomo terminou a explicação, deixando claro o motivo de sua criança preferida estar naquele estado.

— Jon...! — Clark, levado pela incerteza e angustia do momento, acabou repreendendo o filho – por mais que querer ver o amigo fosse algo normal.

— Ele não fez por mal — Bruce interviu, sem realmente dar atenção para aquele conflito familiar. Ele simplesmente não queria piorar a atmosfera naquele quarto, que consequentemente poderia piorar o estado do filho — Damian está passando por uma situação delicada, da qual ninguém precisa saber. Meu filho só precisa de tranquilidade.

— ... Quando diz ninguém, é realmente ninguém além de quem já sabe? — Clark endireitou os óculos, tentando manter o lado repórter em repouso.

— Sim.

— E-ele vai ficar bem logo? — Jon perguntou com a voz embargada.

— Ainda não sabemos muito sobre a Epilepsia — Alfred respondeu.

— Bruce... — Superman buscou alguma palavra que pudesse reconfortar o amigo, mas não conseguiu achar.

— Eu já consigo lidar melhor com isso — ele respondeu, tirando cuidadosamente o bloco de desenhos e o lápis das mãos de Damian — Meu filho é epiléptico — Afirmou, abraçando o pequeno de modo que ainda permitia que os movimentos repetitivos continuassem — Não posso ajudar ele, nem mesmo você pode, Clark... ninguém pode.


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Notas finais do capítulo

Clark Kent, o que falar desse superamigo? Se você não o conhece, lamento, mas eu nem ao menos sei como te explicar o que seria o Superman. Foi um dos, senão o maior, motivador do crescimento das industrias de quadrinhos nos EUA e, consequentemente, no resto do mundo. Ele serviu como o símbolo de esperança para o período pós-guerra e assim é visto até hoje por seus leitores: um símbolo da esperança de que tudo vai ficar bem (coisa que andamos precisando, né? Kkkks).

Ele é o melhor amigo de Bruce. Aliás, vocês sabiam que no Renascimento, o Super destruiu a caverna lugar do Batman? Não fazem ideia de quantas piadas eu fiz disso! Kkks.

Como civil, Clark Kent trabalha como repórter do jornal Planeta Diário, onde conheceu sua esposa, colega de profissão, Lois Lane. Ambos tiveram um filho, o adorável Jonathan Samuel Kent (Jon).

Se Clark e Bruce são amigos, por que não seus filhos serem também? E assim, Damian e Jon formaram uma dupla mais do que perfeita nas aventuras dos Super Filhos (Renascimento). Eles são meus queridinhos!

Nota da Nota: Christopher Reeve, ator que personificou Superman nos cinemas e até hoje é relembrado por sua brilhante atuação (ele não usava apenas os óculos como disfarce) foi um verdadeiro herói com sua campanha pela liberação da pesquisa com células-tronco.



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