Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 19
Examinado




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790516/chapter/19

— Sim, sim Mestre Dick, ele está calmo. Não, ele não pode falar agora... — o mordomo olhou em sua volta, buscava por uma desculpa qualquer — ... foi ao banheiro. Assim que tivermos mais notícias, eu retorno. Sim, fiquem bem também... — E, com um sorriso pequeno que logo se desfez, Alfred encerrou a ligação. Agora que tinha avisado à Richard que já haviam chego na tal clínica, era vez de ajudar Bruce.

O mordomo caminhou pelos corredores e, à medida em que se aproximava da sala de lavagem gástrica, conseguia escutar os gritos de Damian mais perfeitamente. Em suma, ele implorava para que o “Senhor Pennyworth” ou o pai fizessem com que os enfermeiros o deixassem em paz.

Ele parou em frente à porta.

Alfred, que desde o começo daquele dia, estava arrumando forças sabe-se lá onde para conseguir lidar com tudo, sentia que já não tinha mais ânimo para conseguir aguentar aquela situação tão estressante por mais tempo. Pensou ter chego ao limite quando Damian teve uma verdadeira crise de pânico, epilepsia e seja mais lá o que tenha deixado a criança se debatendo sem consciência por tanto tempo – isso após ter visto que estava em um barco, terceira crise só naquela manhã.

Ele tinha inventado uma desculpa qualquer para sair daquela sala e tentar se recompor – evidentemente, ele não havia conseguido reestabelecer a fachada de tranquilidade ainda.

— CHEGA! — A voz grave de Bruce destoou dos gritos de Damian e dos murmúrios injuriados dos enfermeiros — Se meu filho não se sente bem com isso, ele não vai fazer nada! — ele disse, sendo claramente ouvido em meio ao silêncio que havia se instalado.

— Mas Sr. Wayne, os demais exames precisam de pelo menos quatro horas em jejum... — Um dos assistentes do médico tentou o convencer.

— Esperamos o tempo que for preciso! — o Wayne justificou, saindo da sala logo em seguida com o filho no colo. Damian estava com o rosto escondido no pescoço dele, aparentemente trêmulo ainda; ao menos era devido ao nervosismo dessa vez — Alfred... — ele disse tentando parecer calmo — Como estão as coisas em Gotham?

— Tudo em ordem! — o mais velho o respondeu, se aproximando e afagando os cabelos de Damian — E o que faremos agora, Patrão Bruce?

— Vamos esperar até que meu filho se acalme... — respondeu, tentando parecer realmente convicto de que aquilo aconteceria logo — Lembrou de trazer o material de desenho dele, para passar o tempo?

— Claro. Posso ir buscar agora mesmo se o Mestre Damian assim quiser — o mordomo sugeriu.

— Filho? — Bruce o encarou, esperando por uma resposta.

— ... tá —— o mais novo respondeu sem realmente se importar e se abraçou mais ao pai. Ainda estava com o rosto molhado das lagrimas, tudo o que queria era sair daquele lugar “ruim” – assim entendido por ele.

— Não vou deixar ninguém fazer mal a você, Damian, não precisa ficar assim... — O pai o abraçou com um pouco mais de força, se sentindo culpado por ter falhado em proteger o filho tantas outras vezes antes.

— É um comportamento bem razoável para um rapaz nas condições dele, Sr. Wayne — o médico, o tal especialista em neurologia, comentou enquanto se aproximava dos dois — Dr. Garner — Estendeu a mão — É um prazer imenso, apesar das circunstâncias infelizes, Sr. Wayne — Ele estendeu a mão para Alfred quando acabou de cumprimentar o milionário — Presumo que você seja o Sr. Pennyworth, com quem falei pelo telefone.

— Exatamente.

— E este rapaz deve ser o Damian — Sorriu, olhando para a criança que ainda mantinha o rosto escondido — Não se preocupe, vamos cuidar muito bem de você aqui e descobrir o que há de errado.

— ... quero ir para casa — o pequeno pediu, ignorando completamente as promessas do pai e do tal médico.

— Vamos quando tudo acabar... — Bruce relevou a “malcriação”.

— E quanto antes colaborar com os exames, melhor — Dr. Garner incentivou — Damian, você parece ser um rapaz muito forte. Não quer tentar fazer a lavagem gástrica? Se fizer, não vai precisar demorar tantas horas até poder ir para casa — Ele usava do melhor tom que tinha para lidar com crianças.

— ... Não.

— Nesse caso, por que não fica com o Sr. Pennyworth enquanto converso com seu “papai”?

— Não! — Dessa vez o pequeno Wayne se agitou e quase escorregou dos braços do pai, conseguindo se agarrar em tempo — Quero ir embora!

— Damian...! — Bruce tentou não soar repreensivo, mas não esperava por aquele tipo de reação — Filho, você ainda está com a tala. Evite se mexer assim, está bem? Pode machucar mais...

— Mestre Damian, por favor, tenha modos — pediu Alfred.

— Mas, mas...!

— Como eu disse antes, é um comportamento bem razoável — O médico interveio em favor da criança — Ele só está assustado com tudo. Vamos deixar o “papai” cuidando dele no quarto bonito com vista para o jardim enquanto eu converso com o Sr. Pennyworth, está bom para vocês? Damian?

— Pai, me leva pra casa? — Novamente a criança ignorou completamente o médico. Os olhos verdes já estavam avermelhados de tanto choro.

— Depois... — O pai o abraçou um pouco mais — Se me dão licença... — pediu, já caminhando pelo corredor com o filho nos braços. Não era só Damian quem precisava descansar um pouco.

Alfred continuou encarando Dr. Garner, o analisava minuciosamente. Era um procedimento raro precisar levar uma das crianças para se tratar fora da Mansão, principalmente em um lugar tão “comum”, um centro de estudos neurológicos - com tantas pessoas sabendo de tudo...

— Tenho algumas perguntas, mas acredito que seja melhor conversamos em um lugar mais reservado — o especialista sugeriu, começando a andar — Imagino que cuidar de uma das crianças Wayne requer, no mínimo, a mais absoluta discrição.

— Evidentemente, Dr. Garner — O mordomo o acompanhou.

— Tive tempo para dar uma rápida olhada nos históricos familiares. Apesar da epilepsia não ser hereditária, pode ser um sintoma de alguma outra doença... — começou o médico, assim que entraram na sala dele.

— E encontrou algo, Dr.? — Alfred perguntou, sentando-se à mesa.

— Na verdade, sim.

— E o que seria? — O idoso perguntou com o timbre cansado. Estava sem forças para lidar com ainda mais problemas.

— Que os dois tem uma incrível inépcia no que diz respeito a esquiar.

— ... Perdão?

— É a mais pura verdade, meu caro Pennyworth — Começou Garner, indicando os papéis sobre a mesa e algumas imagens de raio-x no monitor — O Sr. Wayne tem pouca cartilagem nos joelhos, nos cotovelos e ombros são quase inexistentes; lesões residuais em vários órgãos, cicatrizes... — Ele suspirou — O pequeno Damian, pelo visto, vai pelo mesmo caminho: fratura exposta na perna, dedos quebrados, uma lesão séria do lado esquerdo da cabeça... — O médico suspirou, claramente sentia pena daquela criança — ... Tudo isso esquiando.

— Sim.

— ... Esquiando?

— Exatamente, é uma atividade comum dos dois — Alfred afirmou, se mantendo firme.

— Céus...! Eles não podem apenas jogar xadrez? — Apesar do tom de graça, Garner estava levando tudo muito à sério.

— Acredite, as coisas podem ficar bem piores em uma partida de xadrez — O mordomo também se permitiu uma fala mais leve.

O médico sorriu, sentou-se de frente para o mais velho e o encarou. Agora tinha as feições sérias, como se fosse um jogador de pôquer em seu momento de blefe:

— Acredite, Pennyworth. Este não é o primeiro caso de um milionário que pode acabar com a minha vida profissional com apenas uma ligação, então sinta que pode confiar em mim. — A este ponto, Alfred o encarava quase certo de que Batman e Robin haviam sido descobertos — Damian sofre maus-tratos ou negligência?

— ... Si-sim? Perdão, eu não entendi a pergunta — O anoso desconversou, soltando uma risada abafada — Acredito ser a idade chegando.

—  Vou ser ainda mais claro: Bruce Wayne permitiu que o filho se machucasse de alguma maneira? Não estou falando que foi exatamente ele quem jogou o filho do alto de uma montanha com neve, talvez um dos irmãos mais velhos...

— Como pode pensar algo assim!? — Alfred se levantou, deixando claro o quão surpreso estava — Patrão Bruce ama aquela criança mais do que qualquer coisa! E os irmãos de Damian também!

— Mas tudo leva a crer que...

— Dr. Garner! — o mordomo o interrompeu — Se tem dúvidas, investigue a vida pública dos Wayne e comprovará: a inépcia não é apenas em esquiar! Patrão Wayne costuma tropeçar nas próprias escadas em noites de gala — Ele abriu a porta pronto para sair e ir ver suas “crianças”, mas antes: — Um homem, que vive para o bem dos filhos e dos necessitados... um pai que ficará o tempo que for aqui, com Damian, para que ele não se sinta ainda mais nervoso com procedimentos médicos... É este homem quem o senhor acusa de ser negligente? Um abusador!?

— Eu realmente sinto muito, Sr. Pennyworth — o médico respondeu com as bochechas vermelhas de constrangimento, desviando o olhar para as folhas sobre a mesa.

A primeira alternativa para tudo foi descartada.

Restava agora investigar mais a fundo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

RETIFICAÇÃO: epilepsia não tem cura! Vou copiar as palavras de minha leitora Dama Layla, muito querida, que me alertou: “epilepsia não tem Cura, o paciente é considerado em ‘remissão’ se, após tratamento, chegar a 2 anos sem uma crise após a retirada dos medicamentos”. Ela também justificou o meu erro porque “é o tipo de coisa que ou você é da área da saúde (especialmente neuropsiquiatria) ou vive para ter conhecimento”. Como eu já havia dito antes, eu não tive tanto tempo para pesquisar profundamente em artigos científicos da área – e, infelizmente, não é coisa tão fácil de encontrar. Obrigada à todos que se interessaram pelas informações sobre a epilepsia e deixo aqui registrada as minhas mais sinceras desculpas por este erro! Se souberem de mais alguma informação relacionada, só me avisar ♥
Para o diagnóstico da epilepsia alguns exames são necessários, como: ressonância magnética ou tomografia computadorizada; exames laboratoriais de sangue e urina; eletroencefalograma. Exames estes que precisam de algumas horas de jejum.
Como Damian já havia tomado o café-da-manhã, Dr. Garner sugeriu um procedimento chamado “lavagem gástrica” – não é tão ruim quanto parece. Vi uma vez o Dr. Nowzaradan sugerir isso quando uma das pacientes não cumpriu o jejum antes de uma cirurgia de retirada de pele (Quilos Mortais, sou viciada). Caso não se encaixe nessa situação, me avise: posso substituir depois!
Nota da Nota: tudo o que o Dr. Garner disse sobre Bruce eu tirei de uma tirinha com imagens de um dos filmes do Batman, que não sei qual é. Sei apenas que é um dos quais Christian Bale interpretou o morcego.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Reviver" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.