Tr3s escrita por Temy


Capítulo 2
Os Três Elementos da Rotina




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Os Três Elementos da Rotina

 

***CAFÉ DA MANHÃ***

Sakura tinha um andar particular pela manhã. Se é que aquilo pode ser chamado de andar, era muito mais um saltitar. Era a sua parte favorita do dia, ela adorava a iluminação, o brilho agradável do sol, os passarinhos cantando animados, a sensação de que tudo pode acontecer ainda hoje. Mas uma coisa estava lhe causando chateação em relação as suas manhãs mais recentes.

Desde que chegou a UPenn, Ino era sua melhor amiga, aquela pessoa para todos os momentos, principalmente porque ambas faziam o mesmo curso, tinham os mesmos horários e estagiavam no mesmo lugar. A Yamanaka era sua salvação para o seu relativo distanciamento de Naruto – já que os horários deles não costumavam bater. Como futura médica e como uma criança criada com bastante atenção e amor, Sakura Haruno considerava o café da manhã sua refeição favorita, a refeição mais importante. A rosada presava por um bom e saudável café da manhã, preferencialmente junto a quem ela gostava, essa pessoa costumava ser sua companheira de quarto, Ino Yamanaka, mas nos últimos meses, elas frequentemente não compartilhavam mais essa refeição, isso porque Ino usava esse momento para ficar com o namorado e Sakura não a julgava por isso, afinal Gaara era bem ocupado e esse era um dos poucos momentos da rotina que eles conseguiam dividir. Mas entender não significa que ela não fique incomodada por ter que fazer a refeição sozinha.

Naruto nunca foi uma pessoa matutina, na verdade, ele odiava acordar cedo e costumava levantar pouco antes do começo de suas aulas, dispensando a refeição para o desespero de Sakura, mas ela o conhecia bem o suficiente para entender que era dessa forma que o corpo dele funcionava.

Por isso, todas as manhãs, Sakura deixava o alojamento e ia para a cafeteria mais próxima, onde ela já conhecia todos os funcionários e teria pelo menos umas poucas e curtas conversas.

— Bom dia, Sakura. O de sempre?

— O de sempre.

O de sempre consistia em um cappuccino médio, duas torradas com geleia natural e frutas que ela preparava para rápido e limpo consumo na noite anterior.

Esperou pelo pedido escutando John comentar sobre o jogo de domingo enquanto preparava os cafés. Sakura não entendia muito de esportes e nem acompanhava, mas todos estavam comentando então provavelmente havia sido um bom jogo. O rapaz parecia particularmente empolgado e ela ria das piadas que ele fazia.

— Flat White.

Procurou pelo dono da voz conhecida e logo o achou. Seu sorriso se abriu ainda mais após confirmar que realmente se tratava dele.

— Mais alguma coisa?

— Não.

Sakura se adiantou e parou ao lado do rapaz colocando – com algum esforço porque ele é mais alto que ela – um braço sobre o ombro do rapaz.

— Ele vai querer o mesmo que eu.

Camille trocou o olhar de Sakura para Sasuke esperando pela confirmação do rapaz que ainda encarava a Haruno, mais surpreso com a presença dela e com fato de ela estar usando o sobretudo e o cachecol dele do que com o fato de ela ter pedido algo que ele sequer sabia o que era e que ele teria que pagar e consumir. Depois de algum tempo tentando processar se aquilo realmente estava acontecendo, ele se virou para a moça do caixa e assentiu. Sakura sorriu ainda mais animada e voltou para o lugar onde estava anteriormente a esperar o pedido. Sasuke se aproximou dela alguns segundos depois.

— Não é estranho? – Perguntou animada.

— O quê?

— Que nós estamos sempre nos mesmos lugares e nos conhecemos apenas dois dias atrás.

— Suponho que sim. Está sozinha? – Perguntou procurando por sinais dos amigos da moça, mas não achou nenhum.

— Sim.

O pedido dela já estava pronto em cima da bancada, mas ela continuava a esperar pelo dele. Sasuke olhou a bandeja e suspirou ao notar que tinha pedido por torradas de pão integral com geleia. Ele não era particularmente fã de coisas integrais.

— Eu não costumo comer nada no café da manhã. – Disse em tom suave apenas para informá-la e se arrependeu imediatamente. Não queria que ela se sentisse criticada. Sakura, no entanto, apenas sorriu ainda mais quando o pedido dele chegou.

— Vem. – Disse seguindo para uma mesa.

Sasuke conferiu as horas, ainda tinha cinquenta minutos até o horário em que deveria estar no estágio. Ele costumava chegar mais cedo para adiantar alguma coisa relativa ao trabalho ou até mesmo ao curso. Quando se sentaram, um de frente para o outro, Sasuke se preparou para começar a comer, mas foi rapidamente impedido por Sakura que estendia uma banana em sua direção.

— Isso já é mais do que eu comeria até as duas horas da tarde e você ainda quer que eu coma uma banana? – Perguntou com um sorriso de canto.

— Não apenas. – Respondeu descascando a banana e cortando no prato dele. Logo depois pegou um potinho com uvas e cerejas que ela dividiu para os dois. – Você tem que comer pelo menos uma fruta antes do café da manhã para que seu organismo absorva com maior eficiência os nutrientes da refeição, por isso deve ser a primeira coisa a comer. É isso que digo como médica, mas como Sakura, digo para comer três, afinal frutas são tão gostosas e três é um número melhor.

Sasuke assentiu em concordância como se dissesse “faz sentido” e começou a comer as rodelas de banana em seu prato para o deleite de Sakura que o observou por alguns segundos antes de também iniciar sua refeição.

— Qual você vai querer comer amanhã?

O moreno a olhou assustado.

— Amanhã?

— É. Eu estava pensando em trazer alguns mirtilos, framboesas e amoras. Tem alguma dessas que você não come?

— Não. – Respondeu incerto ainda encarando a menina assustado, mas ela não parecia notar entretida demais em suas frutinhas.

Por que ela agia como tanta naturalidade quanto a isso? Por que ela agia como se fosse completamente normal tomar café da manhã com uma mulher que não fosse sua mãe ou sua cunhada? Por que ela agia como se eles fossem amigos a anos e isso fosse parte da rotina? Mas ao mesmo tempo, seria realmente muito ruim se ele começasse a tomar café da manhã com ela? Quer dizer, ele já vinha até ali todos os dias, o que custava gastar uns dez minutos a mais.

— Posso fazer uma pergunta? – Sasuke parou a mão que levava a torrada a sua boca no meio do caminho e esperou que a mulher a sua frente olhasse para ele e assentisse, sempre com aquele adorável e convidativo sorriso. – Cadê seus amigos? Achei que você fosse do tipo que sempre anda acompanhada de pessoas.

— Não achou errado, mas é difícil manter isso na universidade. Ino dormiu no apartamento do Gaara. Tenten e Naruto costumam dormir até tarde e Neji e Hinata tomam café da manhã em casa. Eles moram meio longe e chegam só no horário das aulas.

— E você não toma café da manhã em casa?

Sakura negou.

— Sou de New Castle, moro no alojamento. Mas e você, o que te faz acordar tão cedo?

— Trabalho.

— Ah, sim. O do chefe que grita com você no telefone de manhã cedo.

— É. Mais ou menos.

— Como assim mais ou menos?

— Quem grita comigo é o Dylan Evans, ele é chefe de todo mundo lá e gosta de pegar no pé das pessoas vez ou outra, mas meu chefe mesmo é o Diego. – Sakura o escutava com atenção observando ele comer. – Ele não grita comigo. – Disse olhando rapidamente para ela com um sorriso de canto.

Obviamente, Sakura já havia percebido que ele era incrivelmente bonito, definitivamente acima da média de beleza masculina, mas só nesse momento ela havia notado o quanto aquele sorriso de canto a agradava e Sakura odiava sorrisos de canto, achava eles muito preguiçosos, ela era encantada mesmo pelos sorrisos abertos, por isso era bastante incomum toda a situação.

— Que ótimo.

Sasuke fez uma expressão pensativa durante um curto tempo e depois sorriu.

— Melhor dizendo, ele não costuma gritar comigo.

— Sasuke. – Chamou a mulher após alguns segundos de silêncio e esperou até que ele olhasse para ela. – Obrigada por tomar café da manhã comigo. Odeio ter que tomar café da manhã sozinha.

O moreno voltou a atenção para a comida com um leve sorriso no rosto.

Poucos minutos depois, os dois estavam em pé do lado de fora da cafeteria.

— Se importa se eu ficar com o seu casaco? Eu não trouxe outro, - Sasuke observou que as bochechas dela ficaram mais rosadas que o normal – estava planejando te devolver só no final do dia, depois do estágio onde eu tenho um casaco reserva.

— Tudo bem. Eu não tenho porquê levar isso agora de qualquer forma.

— Bom, preciso ir indo para não chegar atrasada.

Sakura sorriu e antes que ele pudesse antecipar o que ela faria, já estava sentindo os braços dela ao redor de seu pescoço. Mas o momento passou antes que ele pudesse ter uma reação digna, ela já tinha se afastado e sorriu em despedida. Ainda parado no mesmo lugar, ele observou ela correr para aproveitar o sinal aberto para os pedestres. Um calor estranho se espelhava pelo seu corpo como se corresse em suas artérias, como se as reviradas irritantes em sua barriga não fossem o suficiente.

Irritado com o quão idiota ele parecia e se sentia, Sasuke passou a mão nos cabelos bagunçando-os. Como ele podia ficar tão retardado perto dela? Logo dela? Uma das pessoas que ele menos gostaria achasse que ele era retardado.

Quando finalmente se recompôs, o Uchiha fez o caminho até seu carro para poder ir até seu trabalho que não ficava muito longe dali. Ao parar no sinal, Sasuke começou a sentir um cheiro diferente, olhou ao redor e não achou nada que pudesse ter aquele cheiro floral e agradável, ninguém próximo para que fosse um perfume. Parecia que estava vindo dele mesmo. Discretamente – mesmo que estivesse sozinho -, Sasuke experimentou cheirar a gola do sobretudo que usava.

— Merda! – Disse com uma expressão de impaciência no rosto.

Por que ela tinha que o abraçar? Por que ela tinha que cheirar tão bem? Por que ela tinha que impregnar o cheiro dela no casaco dele, no casaco que ele estava usando? Parecia que ela havia planejado tudo para que ele tivesse uma péssima manhã no trabalho. Porque sim, ele iria procurar por aquele cheiro até que ele fosse embora de suas roupas.

*

*

*

Depois de se encontrarem, por acaso, no café que os dois costumavam frequentar, os dois começaram a se encontrar propositalmente na cafeteria pela próxima semana, e a seguinte. Por duas vezes, Sasuke teve a companhia dos amigos de Sakura, Gaara, Ino e Tenten, mas no geral, costumava ser apenas os dois.

Todas as manhãs, Sakura separava as frutas e fazia os pedidos enquanto Sasuke fazia alguma coisa do trabalho ou da universidade. O Uchiha só gastava toda aquela quantidade de tempo na cafeteria pela rosada que havia deixado muito claro seu desgosto por tomar café da manhã sozinha, então era mais do que justo que ela adiantasse as coisas para eles e Sakura sabia disso, sabia que ele odiava ficar no ambiente mais do que necessário e que ele só fazia por ela, ainda que quando ele começou a fazer, eles mal se conhecessem.

Agora mesmo, Sasuke tinhas seus dedos trabalhando o mais rápido possível, vez ou outra desviando o olhar da tela para o livro para conferir termos e ter certeza de que não haveria nenhum erro.

— Sakura!

O Uchiha olhou brevemente na direção do som e viu um rapaz de estatura mediana, cabelos castanhos, absolutamente normal e pensou maldosamente que não havia nada que se destacasse em relação a ele. Revirou os olhos quando Sakura o abraçou e voltou a atenção para o trabalho a sua frente. Ele já estava acostumado com isso, a Haruno parecia conhecer meio mundo de gente e sempre gastava muito tempo conversando com todos.

Leu o último parágrafo algumas vezes tentando voltar ao raciocínio anterior, mas então um carro buzinou na rua para qual ele estava virado sentado na bancada dentro do café. Bufou irritado. Que ideia estúpida ceder aos pedidos de Sakura para tomarem café hoje como em todos os dias quando ele tinha um trabalho para amanhã e nem estava na metade ainda. Passou a mão no próprio rosto irritado consigo mesmo.

O tempo que ele gastou lamuriando sobre suas escolhas foi o mesmo que Sakura usou para se despedir do rapaz e sentar-se ao lado do moreno. Em seguida ela começou a preparar o café dos dois enquanto ele continuava tentando adiantar o trabalho.

— Desculpa a demora, encontrei uns amigos.

— Achei que eu estivesse aqui porque não tinha mais ninguém para tomar café da manhã com você. – Disse sem tirar os olhos da tela.

— Uou. – Sakura riu colocando o cappuccino ao lado do laptop que ele usava. – Alguém está cedendo ao estresse da faculdade.

O Uchiha olhou para a mulher que passava manteiga de amendoim na torrada.

— Por favor, não coma isso perto de mim. – Disse olhando com nojo para a pasta.

— Por quê?

— O cheiro me dá náuseas.

Sakura encarou o amigo por alguns minutos enquanto ele tomava o café e continuava a digitar. E sim, eles já eram amigos, passavam todas as manhãs juntos, isso quando não se encontravam depois do estágio da Haruno no hospital. Ela sabia que ele estava sobrecarregado e por isso ignorava o fato de que nos últimos dias ele estava cada vez mais rude, pois sabia que em breve seria ela que estaria passando por tudo aquilo. Sasuke estava cumprindo as últimas matérias para que pudesse se graduar ainda nesse verão e ainda estava em semana de provas.

Mesmo assim, Sakura o considerava a companhia perfeita porque ele nunca parecia se cansar das intermináveis conversas dela, no entanto a incomodava que ele nunca falasse dele sem que ela pedisse ou perguntasse. Ele não era uma pessoa introvertida porque ele sabia se comunicar incrivelmente bem com qualquer um que quisesse pelo tempo que desejasse, mas na maior parte do tempo, ele não dava a mínima para falar com as pessoas e isso deixava Sakura louca.

O celular de Sasuke começou a vibrar ao lado do copo de café e Sakura observou o rapaz respirar fundo antes de criar coragem para entender.

— Sim. – Observou a expressão de cansaço dele se tornar cada vez mais presente conforme ele escutava o que a pessoa do outro lado da linha falava. – Mas eu falei com ela. E o que você esperava que eu fizesse? Você mandou eu falar com ela e eu falei, eu reportei exatamente o que ela falou. – Respondeu irritado fechando o laptop e o afastando de si. Enquanto isso, Sakura o escutava fazendo seu desjejum em silêncio. – Como é minha culpa ela ser uma maldita mentirosa até para os advogados dela? – Sasuke ficou alguns minutos em silêncio e quando falou novamente seu tom estava totalmente frio. – Ótimo.

Desligou o celular colocando-o sobre a mesa com certa violência enquanto encarava um ponto qualquer à sua frente.

— Tá tudo bem? – Sakura ousou perguntar, mas sem coragem para olhar para o rapaz.

— Não, mas logo estará. – Disse abrindo o pote de iogurte que ela havia escolhido para ele. – Assim que esse maldito caso acabar e essas avaliações passarem.

Sasuke tinha desistido de se preocupar com seu café da manhã em qualquer um dos dias que ele fazia a refeição junto a ela. Deixava que ela fosse fazer os pedidos e retirá-los e aceitava qualquer coisa que ela lhe oferecesse. Ele não tinha a menor paciência para observar Sakura falar com todas as pessoas possíveis e também, era um alívio que ele não tivesse que falar com ninguém ou sequer fazer algo para ter seu café preparado.

 Sakura se levantou e Sasuke não se deu ao trabalho de saber para onde ela iria, mas sentiu seu corpo inteiro se acalmar quando as mãos dela começaram a lhe massagear. Inconscientemente, ele jogou a cabeça para trás e fechou os olhos aproveitando a massagem que ele precisava tanto, embora não soubesse disso até então. Alguns minutos depois, o Uchiha abiu os olhos se deparando com os olhos verdes de Sakura o encarando.

— Sakura. – Ele sustentou o olhar amigável dela com naturalidade e Sakura se sentiu intimidada, suas bochechas começaram a arder e ela tinha certeza de que estava corada. Tudo que ela precisava para ficar corada perto de Sasuke era do olhar dele, mas quando ele falava o nome dela, o processo era catalisado. – Você está com um cheiro ruim.

Ela deu um tapa na cabeça dele e voltou para o lugar onde estava antes bufando irritada pelo comentário e enfiando ainda mais manteiga de amendoim na boca propositalmente. Ela estava fazendo um favor e ele a trata dessa forma?

— Obrigado. – Ele disse sorrindo de canto e finalmente comendo as frutas que ela havia escolhido dessa vez. Laranja, manga e maçã.

— Eu sei como você pode me agradecer. – Disse a rosada animada.

Sasuke a olhou assustado prevendo que ela faria uma proposta que ele não queria aceitar, mas aceitaria por ser ela a estar pedindo. Era muito difícil para ele negar os pedidos dela e ele realmente não entendia porquê.

— Vamos para uma festa nesse clube noturno. – Disse a menina mostrando o perfil do instagram do local. – E você vem com a gente. – Sasuke a encarou sem dizer nada. – Suas provas já vão ter acabado.

— Quem é a gente? – Perguntou tomando café.

— Ino, Gaara, Tenten, Neji, Hinata, Naruto, eu e você.

Sasuke assentiu.

— Legal saber que eu tive escolha nessa decisão de eu ir.

— Claro que teve. – Ela falou sorrindo. – Você escolheu ir e por isso eu comprei sua entrada. – Disse entregando a pulseira ao homem.

Sem paciência ou humor para discutir com a rosada sobre o fato de ela não ter falado com ele antes de tomar uma decisão ou sobre o fato de que mais uma vez ela estava gastando dinheiro com ele por coisas que ele não havia pedido ou sequer queria, o rapaz simplesmente pegou a pulseira e guardou no bolso do casaco.

***VIDA UNIVERSITÁRIA***

Passou o resto da semana se dedicando ao trabalho e aos estudos para as provas chegando a aderir ao paradoxo universitário de faltar aula para estudar, além de encurtar as visitas ao seu irmão que foram sempre seguidas de visitas até a biblioteca apenas saindo tarde da noite.

Assim que ligou o celular, após terminar a prova, as notificações começaram a apitar. Ignorando a maior parte delas, foi direto para a mensagem de Sakura respondendo com alívio que tinha ido bem na prova. A menina respondeu imediatamente com um emoticon feliz.

Ele tinha consciência de que essa semana ele não foi a melhor das companhias, estava completamente estressado, mas mesmo assim ela fez questão de tomar café da manhã com ele, além de acompanhá-lo na biblioteca todos os dias para compartilharem uma mesa, embora eles fossem passar horas calados, cada um com a cara enfiada em seus próprios livros e só trocariam poucas palavras quando Sakura o obrigasse a dar uma pausa para comer alguma coisa saudável.

Pensando bem, Sasuke estava definitivamente se alimentando bem melhor, isso não acontecia desde de quando ele trocou a casa de seus pais com as comidas deliciosas preparadas por seu pai para morar sozinho no studio que pertencia a sua família e era mais próximo a faculdade. Claro, todo o mérito era de Sakura.

Sentia-se aliviado de ter chegado ao fim daquela semana, durante a manhã se livrou do caso que importunou durante duas semanas no trabalho e agora acabara de fazer sua última prova dessa leva, teria uma ou duas semanas para respirar um pouco antes que o estresse começasse novamente.

Assim que chegou no carro, sentiu o celular vibrar novamente, mais uma mensagem de Sakura, lembrando que ele tinha de ir à festa hoje à noite, pois já tinha comprado o ingresso. Confirmou a presença e depois seguiu para casa para ter algum tempo de bobeira antes de ter que se arrumar.

Algumas horas depois, o Uchiha encarava o próprio reflexo no espelho incerto sobre sua escolha de roupas. Usava uma calça preta rasgada, um suéter branco e por cima um casaco longo azul escuro, usava também um tênis branco. Bagunçou o cabelo pelo que parecia a décima vez e se irritou consigo mesmo por estar tão preocupado com a própria roupa. Qual era a importância disso? Pensou nervoso enquanto tirava um cachecol cinza do cabideiro e enrolava no pescoço.

Conferiu se estava com a carteira, o celular e a maldita pulseira que havia passado a semana inteiro encarando antes de dormir e saiu do apartamento.

No caminho, Sasuke pensou em desistir algumas vezes principalmente quando parou para pensar que Naruto também estaria lá, além de todos os amigos de Sakura que ele esperava nunca mais ver, não que ele não tivesse gostado deles, mas ele definitivamente não esperava construir uma amizade com Sakura e com todos que vinha no combo.

Parando no sinal, Sasuke deixou a cabeça cair sobre o encosto do banco. Como ele poderia estar agindo de forma tão idiota? Por que ele havia se deixado levar pelas palavras da mulher? Por que ele havia se deixado cair no encanto dela?

Desde a festa de aniversário dela, quando a efetivamente conheceu, desde o momento em que a viu nos braços de Naruto, soube que ele queria aquilo, queria aquele tipo de sentimento. E desde que ficou sozinho com ela por poucos minutos soube que se sentia atraído por ela como nenhuma outra mulher havia o atraído até então.

É claro que ele não se apaixonou por ela naquela noite, mas aquilo foi definitivamente um aviso, um aviso do que viria acontecer. E ele estava sendo cada vez mais idiota ao se deixar levar pelas conversas dela, ao se deixar cair mais e mais nos encantos dela. Ela já era até sua amiga e Sasuke não tinha amigos.

Ele estava se apaixonando por uma mulher que era apaixonada há anos por outro, ele via tudo acontecendo, estava completamente consciente e ainda assim lá estava ele, dirigindo direto para a sua primeira derrota amorosa pela sua própria vontade.

No caminho do lugar onde estacionou o carro para a entrada da casa noturna, Sasuke elaborou um plano de fuga. Ele ia entrar, beber alguma coisa e caso não encontrasse nenhum deles nesse meio tempo ia embora e depois argumentaria isso a Sakura quando ela o questionasse. Era um bom plano, pela fila, o lugar deveria estar lotado.

Sasuke observou o ambiente brevemente quando entrou e seguiu direto para o bar onde pediu por um Bacardi e ficou tomando encarando a parede de bebidas para evitar de reconhecer algum rosto da multidão. Ele sentiu o celular vibrar em seu bolso, mas ignorou.

— Sasuke.

O Uchiha fechou os olhos praguejando mentalmente quando escutou seu nome. Olhou para a mulher sorridente em um vestido vermelho colado e um salto tão alto que os deixavam na mesma altura.

— Olá. – Disse o mais amigável que pôde considerando seu humor por ter tido seu plano arruinado por ela.

— Sakura está te procurando. Acho que ela já te ligou umas três vezes. – Falou a moça se aproximando.

— Não vi o celular desde que entrei.

— Ela está lá do outro lado junto com o resto do pessoal, se quiser se juntar.

— Hn. E por que você está desse lado?

— Evitando os machos do passado. – Disse levantando o copo de bebida para ele.

Sasuke brindou com a moça se identificando com os motivos dela e virou o copo sabendo que agora era inevitável não ver Sakura aquela noite.

— Será que ele está realmente no passado? – Perguntou fazendo um gesto para o garçom lhe servir mais uma dose da mesma bebida.

— Sim. – Ela respondeu rapidamente sentando ao lado dele.

— Então por que você está fugindo dele? Tem medo do passado?

Tenten não respondeu e Sasuke não esperou por uma reposta.

Quando o garçom colocou o copo a sua frente, ele o virou de uma vez, se preparando para o que viria em seguida, mas ele não pensou da forma que deveria, não se preveniu o suficiente.

— Bom, vou lá falar com a Sakura.

— A gente se ver mais tarde.

Sasuke assentiu e começou a atravessar a boate na direção apontada por Tenten. Assim que avistou o grupo parou criando coragem para se aproximar. Queria mais um copo de rum, mas decidiu acabar logo com aquilo.

O primeiro a notar sua presença foi Gaara que sorriu animado se aproximando dele com um copo de alguma bebida na mão e o abraçando. Sasuke sentiu o forte cheiro de álcool se misturando ao cheiro do perfume caro que ele usava. Notou que ele estava ainda mais animado do que ele se lembrava. Gaara era uma pessoa bem-humorada naturalmente e quando bebia se tornava o que chamavam de “alma da festa” pelas histórias que escutou.

— Sasuke, estou feliz que tenha vindo. Quase achei que ia recusar meu convite. – Gaara havia o convidado? Ele não sabia disso e por algum motivo sentia-se desconfortável com a informação. – Mas eu sabia que não tem nada que nossa pequena Sakura não consiga.

Sasuke encarou a mulher sentada ao lado de Naruto com um sorriso tímido e nesse momento a verdade que ele já conhecia ficou estampada em sua cara. Sentiu como se tivesse levado um tapa e talvez tivesse mesmo, um tapa da realidade.

Essa era a primeira vez que ele a via com Naruto desde a noite em que se conheceram e agora ele lembrava porque uma parte de sua mente vivia lhe dizendo para não responder todas as mensagens que ela lhe mandava, para cortar o costume que havia criado de tomar café da manhã com ela diariamente, para se colocar a uma distância segura dela.

— Vem.

Sasuke não teve muita escolha, Gaara já o arrastava para o grupo. Quando se aproximaram, o ruivo serviu um copo e entregou ao rapaz e embora ele estivesse consciente disso, sua mente não conseguia tirar a imagem de Naruto com um braço sobre o ombro dela nem mesmo quando ele fazia questão de não olhar na direção dos dois ou de até mesmo fechar os olhos.

Mas caramba, ela estava tão linda que ele tinha que lutar contra si mesmo para resistir à tentação de observá-la novamente para gravar de vez os pequenos detalhes dos cabelos ondulados caindo com delicadeza sobre o rosto doce que estampava aquele sorriso lindo de sempre.

Sasuke cheirou a bebida colocada em sua mão e logo a colocou para dentro virando de uma vez. Todos o olharam admirado, mas ele não se importou e se sentou ao lado de Gaara que procurava algo entre as pessoas. Não demorou para que achasse. Sasuke olhou na direção e viu Tenten vindo com uma garrafa de champanhe nas mãos. Gaara pulou sobre as pernas de Sasuke se adiantando para pegar a bebida da mão da mulher que se sentou no lugar onde o ruivo estava antes. Sasuke observava o Sabaku abrir a garrafa aliviado de ter para onde olhar. Qualquer coisa para evitar olhar para Sakura sentada ao lado de Naruto na intimidade natural que eles tinham. Gaara serviu as taças vazias e entregou a cada um dos convidados.

— Vocês sabem por que estão aqui? – Perguntou sorrindo quando todos o encaravam. – Claro que não. Vocês estão aqui para me ajudar a celebrar o fato de que eu consegui uma exposição em uma galeria em Tóquio. – Disse animado.

Os amigos comemoraram animados, batendo palmas e parabenizando o ruivo. Sasuke olhou superficialmente ao seu redor reparando como eles pareciam confortáveis naquela interação social, como eles pareciam felizes em estarem ali ao mesmo tempo em que tudo parecia tão natural, aquele tipo de evento era natural para eles.

Para Sasuke, aquilo era completamente estranho. Ele não tinha esse tipo de amizade, a única amizade que ele tinha era com os membros de sua família. Ele não tinha um grupo de amigos com a qual ia para festas juntos, Sasuke mal ia para festas e quando ia, ficava sozinho – talvez ficasse com alguma mulher -, mas nada como aquilo. Ele não receberia convites para participar de eventos íntimos em comemoração a grandes conquistas.

Gaara levantou a taça para o brinde e todos se levantaram para encostarem as taças umas nas outras e Sasuke fez o mesmo por educação, já que se sentia desconfortável ali, ele não fazia parte daqueles amigos, não era para ele estar ali. Por educação, Sasuke fez o brinde e parabenizou Gaara devidamente, mas resolveu que precisava de mais bebida antes de se propor a sentar ali e socializar com os amigos de Sakura mais uma vez.

Discretamente, o moreno seguiu para o bar onde voltou a beber rum.

— Ei, vai com calma.

Sasuke não se deu ao trabalho de olhar para a mulher.

— Você também. – Falou quando viu pelo canto do olho a moça virar uma dose de alguma bebida que ele não conhecia.

— Você acha que eu não percebi você fugindo de fininho na primeira oportunidade que teve?

— Vamos fazer o seguinte. – Sasuke finalmente encarando a morena ao seu lado. – Eu não reclamo que você está bebendo mais do que deveria e fugindo dos seus amigos por causa de uma única pessoa e você faz o mesmo.

— Justo. Mas só se você aceitar dançar comigo.

— Sem chances. – Disse voltando a sua atenção para a bebida.

— Por quê? – Perguntou Tenten fazendo bico.

— Porque eu não estou afim de apanhar do seu... passado.

— Ah, vamos lá, por favor. Nem precisa ficar muito perto, só não quero a sensação de estar sozinha. Vamos, vamos, vamos! – Ela disse já tentando puxá-lo para a pista.

Sasuke olhou para a mulher e bufou quando enquanto levantava e seguia o caminho escolhido por Tenten. Talvez a decisão não tivesse sido tomada por Sasuke Uchiha e sim pelas várias doses de Bacardi que ele já tinha tomado em menos de uma hora.

Como o que foi dito por Tenten, eles colocaram uma distância de segurança entre os dois que vez ou outra era quebrada quando eram empurrados por outras pessoas ou quando os dois se jogavam sobre os garçons que se aproximavam em busca de mais bebidas.

*

*

*

Sasuke acordou e imediatamente sentiu sua cabeça latejar. Se recusou a abrir os olhos por mais alguns minutos e se acomodou melhor nas cobertas fofas e confortáveis. Espera! Esse cheiro não é comum. Abriu os olhos e sentou-se rapidamente, logo em seguida veio o arrependimento quando sua cabeça latejou ainda mais forte. Olhou ao redor e não precisou de muito para constatar que aquele não era seu quarto e que ele nunca tinha estado naquele ambiente antes, embora a decoração lhe fosse familiar.

Levantou-se cauteloso para não piorar a dor de cabeça e só então notou que estava usando apenas a calça que estava na noite anterior, mas para a sua felicidade, suas roupas estavam bem ali em cima da cadeira ao seu lado. O Uchiha se vestiu ainda olhando ao redor e então notou o quadro em cima da cama.

Gaara. Ele estava no apartamento de Gaara. De novo.

Praguejou quando notou que teria que passar pela sala em que viu Sakura pela primeira vez nos braços de Naruto para ir embora e que ele teria muita sorte em conseguir sair dali sem ser visto por nenhuma daquelas pessoas que pareciam achar que ele fazia parte do grupo – afinal Gaara o havia chamado para a comemoração de seu sucesso em um evento que era claramente apenas para amigos próximos – quando ele visivelmente não era. Quero dizer, se ele pelo menos estivesse namorando Sakura, então faria mais...

Que diabos? Ele realmente estava pensando em namorar Sakura.

O Uchiha sacudiu a cabeça para banir os pensamentos sem sentidos e então procurou por suas coisas que logo achou no móvel ao lado da cama, não apenas seu celular, carteira e chaves estavam ali como também um copo de água e um analgésico. Gastou uns bons minutos encarando o remédio, isso era claramente coisa de Sakura e sua maldita mania de cuidar de todos ao seu redor. Qualquer outra pessoa esperaria que o outro acordasse antes de oferecer um analgésico, mas não ela, claro que não. Ela o deixou ali porque sabia que ele precisaria e não interessava que ele quisesse ou não tomar, como não interessava se ele queria tomar café da manhã ou comer frutas, ou sequer ir naquela maldita festa.

Bufou irritado enquanto tomava a – nas palavras dele – merda do analgésico. Pegou o casaco e o cachecol colocando-os sobre o braço e saiu do quarto tentando ser silencioso.

— Bom dia! – Ino falou em alto e bom som passando por ele no corredor enquanto ele fechava a porta milímetro por milímetro.

Sasuke deixou os ombros cair e fechou a porta de uma vez sem se importar em fazer de estar fazendo barulho, mas sem força excessiva.

— Bom dia.

Seguiu em direção a entrada do apartamento sabendo que teria que passar pela cozinha. E assim que ele teve visão da cozinha, viu Gaara sentado na ilha lendo um jornal enquanto tomava café. O ruivo logo olhou para o Uchiha e deixou o jornal de lado.

— Bom dia, sr. Uchiha. – Disse o rapaz com bom humor.

— Bom dia, sr. Sabaku. – Disse em mesmo tom.

— Como você está?

— Bem.

— Tomou o remédio? – Gaara perguntou descendo da ilha e indo até a geladeira pegando uma vasilha de plástico e colocando no balcão em frente a Sasuke junto com um garfo.

— Sim.

— Come. Você vai se sentir melhor.

Levemente relutante, Sasuke sentou-se no banco e abriu a vasilha se irritando ao ver as bananas cortadas em fatias que tinham exatamente o mesmo tamanho, juntamente com cubinhos de manga e quartos de laranja. Por algum motivo, as frutas cortadas deixaram Sasuke irritado, muito irritado e ao mesmo tempo confuso, pois ele nunca pensou que poderia se sentir tão irritado com frutas cortadas simetricamente.

— Gaara, posso te perguntar uma coisa?

— Claro. – Respondeu o ruivo enquanto operava a máquina de café.

— Você sabe o que aconteceu noite passada? Quero dizer, como vim parar aqui?

— Ah sim, você ficou absurdamente bêbado e ninguém sabia onde você morava então trouxemos você para cá no seu carro. – Disse colocando o café na frente dele. – Sakura dirigiu. Ela não bebe.

— E quando chegamos, eu fui direto para a cama, certo?

— Sim.

— Então nada aconteceu entre mim e...?

— Tenten? Não, mas eu te fiz um blowjob.

Sasuke quase engasgou com um pedaço de manga.

— Quê?

— Você disse que o foi o melhor que você já recebeu.

Sasuke encarou o rosto sério do homem a sua frente e até ousou olhar nos olhos dele.

— Não. – Disse por fim. – Você tem namorada. – Comeu uma fatia de banana. – Eu gosto da Ino.

Sasuke nunca ficou com ninguém que fosse comprometido e não tinha a intenção de quebrar esse princípio. Além disso, ele não costumava a ser do tipo de bêbado que faz merda a rodo, não, ele falava algumas besteiras, mas nada muito grande ou que fosse contra os próprios princípios.

— Não tanto quanto eu. Eu espero. Gostei da sua lógica. Você é bi?

— Não muito. – Disse tranquilamente afastando a vasilha de frutas vazia.

Gaara levou as coisas sujas até a lava louça e depois colocou um prato de panquecas na frente do rapaz. Sem questionar, começou a comer. Poucos minutos depois Ino se juntou a eles.

— Ele não caiu. – Disse o ruivo enlaçando a cintura da loira e roubando-lhe um beijo desprevenido.

— Claro que não. Ele é um bom garoto, nunca faria coisas erradas. À proposito, sou sua fã.

Sasuke levantou o rosto das panquecas para a Yamanaka que sorria para ele nos braços do namorado, mas Sasuke não observou a cena por muito tempo, pois algo incrivelmente fofo resolveu passear entre suas pernas. Ao olhar para baixo notou se tratar de um gato preto, com o pelo longo e brilhoso.

Isso explica as roupas de Sakura serem cheias de pelo de gato ainda que ela não tenha gatos.

— Por quê? – Perguntou ainda encantado com o fato de ser o escolhido pelo gato.

— Pelo que você fez noite passada.

— Ele não se lembra de nada, você vai ter que contar a ele. – Gaara falou também encarando o rapaz.

Ino sorriu animada e saiu saltitando para se sentar um banco ao lado do Uchiha.

— Não lembra de nada, mesmo?

— Não. Minha última memória é estar dançando com Tenten e muitas luzes. O que eu fiz?

— Você foi maravilhoso, foi pouco depois de começar a dançar com ela, Neji teve um acesso de ciúmes e foi para cima de você. Obviamente eu e Gaara fomos para evitar alguma coisa, mas aí você se livrou dele rapidamente e disse o seguinte “quem você acha que é para colocar as mãos em mim? Você, seu ciúme excessivo que você não sabe lidar e sua mania de não escutar a sua própria namorada que fizeram com que eu estivesse dançando com ela e não você. Se não fosse eu, seria outro e você só tem a si próprio a culpar. ” Ou algo assim.

Sasuke encarava a Yamanaka perplexo, ele não podia ter realmente falado aquilo, poderia?

— Tão merecido... – Gaara falou apoiado no balcão com o olhar distante e um sorriso prazeroso no rosto.

— Não acabou. – Como ainda não acabou? Pensou Sasuke desesperado. – Daí a Tenten riu, todos nós rimos para falar a verdade, você tinha que ter visto a cara do Neji, tava para cavar um buraco ali mesmo e se esconder, mas enfim, a Tenten começou a rir dele e você virou para ela falou “e você está rindo do quê? Terminou com um cara que você ama tanto sem nem sequer conversar direito com ele, nem tentar, por que você acha que pode rir dele? ”.

— Eu falei isso?

— Sim.

— E depois?

— Bom, eles ficaram muito envergonhados de ficarem perto de você e sumiram. Não muito depois, viemos para casa.

Excelente, ele tinha dado lição de moral e se metido no relacionamento de pessoas que ele mal conhecia. Coisa que ele nunca tinha feito antes. O que estava acontecendo com ele?

— Ino! – Sakura chamou animada pela amiga e correu até ela mostrando alguma coisa no celular.

— O que foi? – Gaara perguntou.

— Tenten alterou o status para namorando, de novo. – Respondeu a Haruno.

Os três soltaram risinhos animados com a notícia, mas Sasuke não estava realmente prestando atenção ao que eles estavam conversando, seus olhos estavam exclusivamente focados em Sakura que aparentemente sentia-se confortável o suficiente para nadar de toalha pela casa ainda que ele estivesse ali.

— Bom dia, Sasuke. – A menina falou a animada e se aproximando dele. Ainda chocado demais com o fato de ela estar apenas de toalha, Sasuke continuou a encará-la e ela por sua vez, levou a mão esquerda ao queixo dele levantando o rosto do rapaz para observá-lo melhor. – Como você está? Já comeu direitinho?

— Sim, senhora, fiz com que ele comesse todas as frutas como o ordenado. – Gaara respondeu por Sasuke.

— Ótimo. Bom, vou me vestir, já volto.

Sasuke a observou se afastar e sumir atrás da porta de um dos quartos. Quando seus olhos não mais conseguiam vê-la, ele se recuperou do transe e voltou-se para os outros dois.

— Qual o problema dela?

Gaara sorriu e Ino nem olhou para ele enquanto mexia o celular, mas foi ela quem falou: - Por qual você quer começar? A necessidade de agir como mãe o tempo todo e com todo mundo ou a relação de total dependência com o Naruto?

Sasuke não respondeu, mas as palavras da loira tiraram da cabeça dele a irritação por Sakura ter a audácia de aparecer apenas de toalha a sua frente quando eles claramente não tinham intimidade para isso e quando claramente isso não fazia bem para ele considerando os sentimentos confusos que ele tinha por ela. Agora ele só conseguia pensar no porquê de resolver se embebedar na noite anterior.

*

*

*

Seu primeiro horário de aula do dia foi um desastre. Chegou atrasado por causa do estágio, teve que se contentar em almoçar um sanduíche de péssima qualidade que ele havia comprado na lanchonete mais próxima a sala de aula. O professor chamou a sua atenção por não saber responder uma pergunta, que nas palavras dele, era bastante simples para qualquer que tivesse lido o texto que ele havia enviado no dia anterior e ele ainda teve que ouvir os comentários maldosos de satisfação de Nina, por ter errado algo tão fácil.

Quase deu graças aos céus quando a aula finalmente acabou. Arrumou seus materiais – que consistia em um fino caderno e uma caneta preta – rapidamente e desceu as escadas quase correndo para chegar ao professor antes dos outros. Teve que dar uma rápida corridinha no final para chegar a mesa antes de Naruto.

— Professor, preciso que o senhor assine esse documento.

— O que é isso?

— A comprovação de cumprir o tempo de estágio obrigatório. O departamento já assinou, só falto o senhor. – Disse tentando adiantar o processo.

Sasuke odiava que o sr. Fitz fosse o chefe de departamento, ele não gostava nem um pouco do Uchiha e o sentimento era mútuo.

— Está estagiando para o Dylan? – Perguntou o professor parecendo impressionando.

— Na verdade, quem me ofereceu a vaga foi o sr. Esteves, mas o contrato é feito no nome da empresa para todos os estagiários.

Essa informação era completamente dispensável, mas devido sua mais recente humilhação, Sasuke fez questão de dizê-la apenas para sentir gosto na surpresa e admiração que ficaram estampadas no rosto do professor.

Sem mais nenhum comentário, o homem assinou a folha e a devolveu ao Uchiha que saiu da sala guardando a folha em uma pasta em sua mochila.

Assim que virou no corredor, a primeira pessoa que viu foi ela. Sasuke gemeu inconsciente quando notou ela sorrindo e acenando para ele e tinha certeza de que era para ele porque olhou para trás a procura de outra pessoa.

Ele não a via desde a manhã no apartamento do Gaara em que ele aproveitou a ausência dela para sair do local o mais rápido possível. Desde então ele vinha ignorando ela, dando desculpas para não poder conversar.

— Sasuke, por que não apareceu hoje? – Disse procurando algo na bolsa. – Aqui.

Sasuke pegou a maçã que ela estendia tomando o cuidado de se manter propositalmente a um metro de distância da moça, não queria correr o risco de ser abraçado novamente ou receber qualquer tipo de contato dispensável.

— Sabe se o Naruto já saiu? – Ela perguntou animada.

Só então Sasuke notou a pequena caixinha transparente que ela segurava carinhosamente.

— Não. Ele está falando com o professor. – Respondeu sem tirar os olhos do pequeno cupcake dentro da caixinha.

— Ah, é que esse é o favorito dele, é um cupcake de caramelo com café. Quase nunca tem, por isso comprei esse para ele. – Se explicou, embora ele não tivesse questionado nada.

Com o término da fala, Sasuke finalmente se desprendeu do cupcake e olhou para o rosto da mulher.

— Um gesto muito bonito. – Disse sério em um tom bastante amargo que até então Sakura desconhecia e por isso havia ficado assustada desmanchando o sorriso. – Tenho que ir.

Ele passou pela mulher deixando-a para trás estática e confusa com a súbita mudança de humor do rapaz.

Sasuke estava irritado, nada estava dando certo em seu dia e ele culpava Sakura por isso, ele a culpava por mexer com a cabeça dele desde a maldita festa de aniversário que ele não havia sido convidado, ele a culpava por ser tão bonita, a culpava por cheirar tão bem e a culpava por agir como se ele tivesse chances de conseguir qualquer coisa com ela quando ela era claramente apaixonada por Naruto. Sasuke os xingou mentalmente por não estarem namorando, quem sabe assim ele conseguiria tirá-la da cabeça.

Mas será que ela tinha realmente culpa de ele ter se encantado por ela daquela forma? Será que ela merecia o tratamento que ele acabou de dar a ela? Olhou para a maçã e suspirou alto antes de virar-se para trás a procura dela para que pudesse se desculpar por ter soado tão grosso.

Não foi difícil achá-la, foi bem fácil na verdade, já que no meio de vários alunos zumbizados haviam dois pontinhos emanando felicidade. Sakura sendo um deles sorrindo alegremente nos braços de Naruto que agora segurava a caixinha transparente em suas mãos atrás do corpo da rosada.

Sasuke observou a cena por mais tempo que deveria, sua irritação voltando com maior intensidade, embora qualquer um que o observasse não notasse qualquer alteração. Virou-se na direção oposta e jogou a maçã na primeira lixeira que viu.

Agora ele havia tomado uma decisão, uma que ele deveria ter tomado a muito tempo.

***IDAS AO HOSPITAL***

— Nem consigo acreditar que eles já estão tão grandes. – Itachi falou encarando a foto nova dos filhos que agora enfeitava a bancada dele.

— Nem eu.

— Um dia desses Calli estava me contando que você é o tio favorito dela. – Sasuke desviou o olhar da foto para Itachi. – Ela disse que você tem os amigos mais legais do mundo. – Disse o mais velho ainda olhando para a foto das crianças.

Sasuke sorriu sem humor algum. Gaara e Ino não eram seus amigos, eles eram amigos de Sakura, o que significava que ele nunca mais teria contato com qualquer um deles.

— Só porque eu consegui um autógrafo de uma modelo que ela gosta.

— Modelo? Você tem ido para festas com modelos? – Itachi perguntou sorrindo.

Sasuke fez um gesto com a mão para indicar que não era uma grande coisa.

— Modelo de rede social, não modelo de passarela.

Itachi sorriu.

— Sim, ela me mostrou uma foto de vocês na tal festa.

— Foto?

— Sim. No instagram da tal modelo.

Sasuke não tinha instagram, portanto não tinha a menor ideia de que a mulher havia postado a foto deles juntos.

— Imagino que ela tenha surtado.

— Sim, ficou toda feliz que o “tio Sasuke apareceu no instagram da Ino”. – Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos até que Itachi voltasse a falar. – Você parecia feliz na foto.

— As pessoas eram legais.

— Você gosta dessa Ino?

— Quê? Não, não. – Sasuke focou sua visão em uma planta do outro lado do quarto. – Como eu saberia?

— Como você saberia se está apaixonado? – Sasuke assentiu. – Você nunca se apaixonou? – Sasuke pensou por alguns segundos, mas antes que formulasse uma resposta, Itachi voltou a falar. – Se você não tem certeza é porque você nunca se apaixonou. Não se preocupe com isso, quando você se apaixonar, você terá certeza de que está apaixonado.

Sasuke sentiu seu corpo gelar quando deu a si mesmo a resposta que pretendia dar ao irmão quando foi cortado.

— Bom, tenho que ir. Tenho que começar a adiantar umas matérias.

— Claro. Devo esperar pela sua visita amanhã?

Sasuke não o visitava desde o dia em que encontrou Sakura após sua aula. Ele tentava se convencer de que foi porque estava muito ocupado e embora ele realmente tivesse muito a fazer, a verdade é que ele queria evitar encontrar com Sakura, por isso em todos os dias que se seguiram desde a última vez que a viu nos braços de Naruto, Sasuke estava tomando seu café preto em casa e seguindo diretamente para o trabalho e então para as suas aulas na ala de direito, que ficava distante da ala de medicina, ele sempre saia pelas portas do fundo, cauteloso quanto a possibilidade de encontrá-la como da última vez. Também para evitá-la, ele não quis vir tantas vezes ao hospital.

Mas como já dito, Sasuke não suportava uma semana inteira sem ver o irmão e por isso acabou desistindo da ideia de não vir ao hospital e só começou a torcer para não encontrar a mulher de cabelos rosados, embora seu instinto lhe dissesse que isso não iria acontecer.

Ele assentiu e se despediu de Itachi. Saiu andando rápido, querendo sair daquele ambiente o mais depressa possível. Evitou os elevadores e foi direto para a escada onde não teria que suportar as lentidões dos elevadores – e diminuía suas chances de encontrar com Sakura.

Estava indo muito bem, ele já conseguia ver a saída, mas junto com a sua visão da saída também veio a visão dos cabelos rosados sobre o casaco preto. Em seu antebraço, cuidadosamente dobrado estava o sobretudo cinza que ele havia emprestado a ela uma semana atrás quando eles estavam saindo tarde da biblioteca.

Sasuke pensou em fugir, tentar achar outra saída, estava disposto a dar a ela seu casaco, ainda que fosse um Versace, ainda que fosse seu casaco favorito, apenas para nunca mais ter que encontrar com ela, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, o olhar dela chegou a ele. Ela estava esperando por ele e seu olhar se iluminou quando o viu. Sakura correu até o homem abrindo seu característico sorriso para o desespero do Uchiha.

— Finalmente consegui te encontrar. – Disse animada. – Por que não tem tomado café comigo? Tive que comer todas as frutas que cortei para você. – Ela falou com certa manha, mas era só pose porque seu olhar continuava iluminado. – Aqui seu casaco. – Ela estendeu a peça para o moreno que a pegou mecanicamente. - Sasuke, você está bem?

— Sim. Obrigado... Por devolver.

— Por nada. – Ela disse recompondo o sorriso.

Sasuke observou que ela estava com ambas as mãos atrás do corpo balançando levemente para frente e para trás e isso o fez suspirar, deixando todo o peso do corpo sobre uma perna apenas.

— O que você quer?

Sakura se sentiu envergonhada.

— Na verdade, estava esperando conseguir uma carona. Ino saiu no meu carro. – Disse olhando para os próprios pés.

Ele encarou o teto por alguns momentos. Ele queria nunca mais encontrá-la na vida, na verdade, nem havia sido tão exigente, se ele não a visse pelo menos por mais uns dois meses já estava bom, mas ao invés disso, ia acabar seu dia indo deixá-la em casa. Porque ele com certeza a deixaria em casa, não havia nenhuma possibilidade de negar, por isso era tão importante que ele nunca a encontrasse.

— Ok, vamos. – Disse e começou a andar devagar em direção ao carro para que ela pudesse o acompanhar.

Os dois seguiram em silêncio boa parte do caminho que não era muito longo. Sasuke sabia que ela estava no alojamento então seguiu para área sem nenhum problema prestando muita atenção no transito e no caminho para tentar afastar seus pensamentos sobre o fato de estar levando Sakura em casa, mesmo tendo prometido a si mesmo que nunca mais cederia aos pedidos dela. E acima de tudo, tentando não pensar sobre ela e Naruto.

— Sasuke.

— Sim. – Disse sem tirar os olhos da estrada.

— Você está me evitando?

Sasuke engoliu em seco. Eles realmente precisavam falar sobre aquilo? Sasuke não era uma pessoa que costumava mentir, se ele mentia tinha um excelente motivo, mas qual era o excelente motivo aqui?

— Sim.

Escutou Sakura rir ao seu lado e por impulso olhou para ela. Mas ela não tinha no rosto o sorriso de sempre.

— Você é bem sincero. – Sasuke se absteve de uma resposta. – Por quê? – Ela perguntou baixinho.

Ninguém, além das meninas da escola, tinha evitado ela antes e ela estava bastante confusa com o porquê de ele está fazendo isso. Embora a maneira como eles se conheceram fosse provavelmente a mais trágica maneira que Sakura tinha conhecido alguém, ela não entendia o porquê disso. Quero dizer, eles deixaram esse constrangimento para trás, não? Eles tinham tido ótimas conversas depois de tudo. Eles eram amigos.

Sasuke parou em frente ao alojamento dela e manteve o carro ligado apenas para se manter com o aquecedor ligado, pois ele sabia que ela não sairia sem uma reposta e ele não tinha uma.

— Tenho meus motivos. – Respondeu encarando a rua.

— Você não gosta de mim?

Agora foi a vez de Sasuke rir.

— Você já conheceu alguém que não gosta de você? – Perguntou com um sorriso de canto.

— Claro que já.

— Quem? Meninas que ficavam te odiando de longe sem nunca tentarem te conhecer?

Sakura o encarou com a boca levemente aberta piscando em uma frequência desnecessária como se processasse o que ele disse. Sasuke sorriu ainda mais da expressão dela. Ele sabia que tinha acertado.

— Então por quê?

— Eu só... Eu tenho muito para lidar já. Não tenho tempo para me dar o luxo de criar mais perturbações.

— Por que eu seria uma perturbação para você?

Sasuke voltou a encarar os olhos verdes. Ele a encarou por tanto tempo que Sakura corou diante ao olhar intenso do rapaz, mas não tirou os olhos dele nem por um segundo. Enquanto Sasuke comparava os detalhes do rosto dela aos que ele tinha gravado em sua mente, Sakura admirava o quanto ele parecia lindo sobre a luz amarela do poste.

— Porque você já é. – Disse por fim e tirou o olhar dela. – Eu preciso fazer uma ligação em vinte minutos. Gostaria de estar em casa nesse tempo. – Disse sem olhar para ela.

Sakura sentiu-se bastante magoada com o fato de ele estar literalmente expulsando ela do carro dele, mas aceitou.

— Boa noite. – Disse quando já estava fora do carro.

— Boa noite. – Sasuke respondeu baixinho sabendo que ela não poderia escutar, pois já tinha fechado a porta.

*

*

*

Sasuke escutava o que estava sendo dito, mas cada vez mais a voz do médico parecia mais distante, ainda que eles estivessem a poucos metros de distância. Pouco depois de o médico sair do quarto, Izumi caiu no choro se jogando sobre o marido que acariciou os cabelos dela e olhou para Sasuke em busca de ajuda.

Eles haviam acabado de receber o resultado dos últimos exames, a quimioterapia não estava respondendo como o esperado, os efeitos sobre o câncer haviam sido pequenos e a estimativa de vida estava em menos de seis meses agora, mesmo com o tratamento.

O mais novo dos Uchihas se dirigiu até a janela do quarto e ficou observando o movimento dos carros enquanto escutava sua cunhada chorar. Alguns minutos depois ela finalmente se recompôs e Itachi pediu para que ela fosse embora, pois as crianças logo chegariam da aula. Ela se despediu dos dois, mas Sasuke não respondeu ou se mexeu.

— Sasuke. – O irmão chamou e ele demorou alguns minutos para que ele conseguir olhar para o mais velho. – Eu sei que tudo isso é difícil, mas eu preciso de um favor. – Itachi pegou na gaveta da cômoda ao lado de seu leito um envelope pardo e estendeu ao irmão.

Sasuke se dirigiu em passos lentos até o mais velho. Abriu o envelope, leu as primeiras palavras e não precisou terminar de ler, apenas guardou a folha de volta e ficou observando irmão.

O mais novo cresceu vendo o irmão como um exemplo, um excelente exemplo, cresceu vendo os longos cabelos dele e as várias camisetas de banda que ele nunca mais usou desde que foi internado ao hospital. Agora, ele tinha que ver o irmão fraco e sem os cabelos e isso talvez fosse pior do que se ele tivesse apenas morrido.

— Testamento.

— Sim. Eu não quero que a Izumi tenha que lidar com isso, ela já vai ter muito na cabeça pelos próximos dias. – Sasuke assentiu. – E também, quero que você resolva as questões com o hospital.

— Que questões?

— Eu não quero morrer aqui. Você escutou, o tratamento não está tendo efeito, então não tem porque continuar com isso. – Sasuke desviou o olhar, não conseguia mais aguentar aquilo tudo. Havia um bolo em sua garganta. – Quero ir para casa, quero ficar com meus filhos o máximo que puder.

Sem que ele percebesse, as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.

— Eu sei que você está bastante sobrecarregado, mas será que você pode fazer isso ainda hoje. Para que eu possa sair amanhã?

Sasuke secou as lágrimas e olhou para o irmão.

— Claro. Vou fazer isso agora e eu tenho que terminar um trabalho então já vou indo depois de resolver essas coisas, amanhã cuido disso. – Falou apontando para o papel.

Itachi sentia-se horrível por fazer seu irmão passar por tudo isso, mas ele também não queria ficar longe de Sasuke e nem deixar tudo para a mulher. Além disso, ele era pai, não conseguia pensar o sofrimento que seria perder um de seus filhos, portanto não queria que seus pais tivessem que fazer essas coisas e só restava Sasuke.

Sem dizer nada, o mais novo saiu do quarto e foi até a recepção agindo no automático, falou com a recepcionista e pediu para que ela resolvesse os papeis, ela informou que tudo estaria pronto no dia seguinte pela manhã.

Saiu da recepção procurando o número dos pais nos contatos do celular, Izumi e ele estariam trabalhando pela manhã, portanto ele iria pedir para os pais – que são aposentados – irem buscá-lo.

— Sasuke!

O Uchiha olhou para a menina que sorria animada para ele. Faziam duas semanas que ele não a via, estava fazendo um excelente trabalho em fugir dela. Suspirou e fechou os olhos guardando o celular no bolso. Não iria adiar mais um segundo a colocar um ponto final naquela história, de uma vez por todas.

— Tá tudo bem? – Perguntou a menina mais próxima dele.

Sakura sabia que ele não estava bem, nada bem. Ele parecia triste e ela já estava acostumada a ver o rapaz triste em seus encontros noturnos que costumavam acontecer no hospital antes de ele começar a ignorar todas as tentativas dela de se aproximar.

— Não. Obrigado por perguntar. – Respondeu rapidamente e Sakura sentiu-se intimidada pelos olhos negros que cravaram nos dela.

— Por que não tem me respondido? – Perguntou com a voz falha.

— Sakura, lembra que me fez uma pergunta antes de eu te deixar em casa? – A mulher assentiu. – Lembra da minha resposta?

— Sasuke...

— Qual foi a resposta?

— Eu...

— Qual foi a resposta?

Sakura abriu e fechou a boca algumas vezes sem conseguir elaborar nada para dizer. Ela sabia que era uma armadilha, que ele estava falando aquilo para dizer com todas as letras que queria ela a quilômetros dele, que iria ignorar completamente e definitivamente tudo que ela mandasse e Sakura não queria isso. Ela gostava de Sasuke, muito. Ela o queria na vida dela tanto quanto queria Naruto, a rosada tinha se acostumado a presença dele e não estava preparada para ter que perder isso. Sakura não perdeu ninguém, ela não saberia como lidar com isso.

— Por favor. – Disse com a voz entrecortada.

Sasuke hesitou com a reação dela, não esperava que ela agisse dessa forma, mas ele –achava – que sabia muito bem o porquê de ela estar agindo daquela forma. Sakura amava ser cercada de amigos e não suportava a ideia de que alguém que ela considerasse não gostasse dela.

— Eu não posso me dar ao luxo de... cair agora. – Sasuke falou em um tom mais leve. – E principalmente não por você.

— Por quê?

Sasuke entregou o envelope a Sakura que o encarou confusa antes de abrir e ler.

— Quem é Itachi Uchiha?

— Meu irmão. Ele está internado aqui desde o ano passado, fazendo uma quimioterapia que não deu resultado nenhum e nem vai dar. Ele não tem mais do que seis meses de vida e eu não vou deixar que ele morra sem ir na minha formatura.

— Sasuke, eu sinto muito.

O Uchiha tomou o envelope da mão dela, guardando a folha.

— Meu trabalho é difícil. A faculdade, apesar de estar acabando, também não está fácil, além disso vou ter que lidar com todos esses papeis. Eu não tenho tempo para continuar a sair com seus amigos. Eu não tenho tempo para continuar comendo todas frutas que você me faz comer.

— Mas nós somos amigos.

— Eu não preciso de amigos. – Disse se afastando e atravessando a porta de para sair do hospital.

— Mas vai precisar. – Sakura falou atrás dele.

— Tenho minha família.

— Sim e eles vão poder compartilhar do seu sofrimento e entender a sua dor, mas eu posso te ajudar a lidar com ela. – Ela tentou acompanhá-lo, mas cansando de correr, puxou o braço do rapaz parando os dois um de frente para o outro no meio da calçada. – Você vai precisar de alguém que não tenha essa carga, alguém para conversar sobre besteira. Eu sou essa pessoa.

— Não, Sakura. Você não é. – Sasuke disse quase gritando após perder a calma e em uma tentativa de recuperá-la levou a mão a testa. – Toda vez que você encosta em mim, eu passo minutos para deixar de sentir minha pele formigar. Toda vez que eu cometo o erro de olhar nos seus olhos, eu passo minutos sem poder sobre minhas faculdades mentais. Toda vez que você me abraça e deixa seu cheiro na minha roupa, eu fico me distraindo até que acabe. – O Uchiha olhou para mulher a sua frente novamente. – Você é uma mulher incrível, mas eu não posso... – Sasuke engoliu em seco. – Tchau, Sakura.

Decidido a não olhar para trás, Sasuke saiu em passos largos em direção ao carro, mas antes que conseguisse se afastar muito, Sakura segurou o pulso dele virando-o para ela mais uma vez.

— E se eu me sentisse da mesma forma? E se eu também ficasse completamente perdida toda vez que você me olha nos olhos? E se eu sentisse minha barriga se revirar toda vez que você sorri para mim? E se você soubesse que toda vez que marcamos de nos encontrar, eu fico completamente nervosa e sinto meu corpo em chamas toda vez que te vejo? E se eu te disser que eu fiquei tão de mal humor porque você não estava me respondendo que Ino está me evitando e dormindo no Gaara todo dia? E se eu estiver apaixonada por você?

Sasuke engoliu em seco procurando por sinais de que ela estivesse brincando com ele, mas ele sabia que ela jamais faria isso. Ele sentiu seu corpo esquentar e sabia que até suas bochechas estavam coradas naquele momento. Antes que ele conseguisse pensar direito, antes que ele conseguisse fugir do efeito dos olhos verdes de Sakura, ela se aproximou e ele observou em câmera lenta.

Quando os lábios dela encostaram nos dele, ele sentiu seu corpo explodir de êxtase. Ele havia esperado tanto por aquele momento, queria tanto beijá-la, mas nunca tomou coragem para experimentar o sabor dos lábios dela. E era ainda melhor do que ele havia imaginado. Se ele soubesse como se sentiria, como seria, teria a beijado na mesma noite em que se conheceram. Dominado pela sua vontade de estar com ela, de senti-la, de saber se ela era tudo aquilo que havia imagino, ele se deixou levar. Retribuiu o beijo sem tirar o domínio dela, mas não resistiu em puxá-la para mais perto e isso incentivou Sakura para aprofundar beijo, quando sentiu a língua dele brincar com a sua, sentiu suas pernas tremerem, era realmente excelente que Sasuke tivesse segurando sua cintura.

Sakura era uma pessoa que adorava contato físico, mas ela sabia que Sasuke não era e ela tinha intenção de respeitar isso, mas a rosada cada vez mais se sentia atraída pelo moreno estudante de direito que estava sempre vestido com maravilhosos ternos e cheirando incrivelmente bem. Era inevitável para Haruno inventar desculpar para encostar nele, sentar mais perto para que os braços se encostassem ou procurar mesas pequenas para que sua perna encostasse levemente na dele. E apesar de Sasuke perceber todos esses gestos e ela sabia que ele percebia porque ele prestava atenção em todos os detalhes, ele nunca fazia nada para evitar.

Sakura manteve o beijo pelo maior tempo que conseguiu, mas já começava a sentir falta de ar e embora ela não quisesse, sentiu-se obrigada a se separar dele. O beijo não acabou de uma vez e a Haruno segurou o lábio inferior do moreno entre seus dentes segurando-se para não voltar a beijá-lo. Ela sentia-se atraída por ele como nunca havia se sentido por nenhum homem e isso estava a deixando louca de desejo e preocupação com a mania de Sasuke de fugir dela.

Por que ela sempre o surpreendia? Eles tinham acabado de discutir no meio da rua, ele havia deixado claro que não queria mais ter que lidar com ela, que não tinha tempo nem vontade para isso e ainda assim ela o beijou. Por quê? Para tirar completamente a capacidade dele de tirá-la da cabeça? E ela ainda tinha que mordê-lo? Quem terminava o primeiro beijo daquela forma?

Quando eles se separaram de vez, Sasuke a soltou e os dois ficaram se encarando. Sakura estava nervosa, mas sentia-se aliviada porque ele havia retribuído e não simplesmente a afastado, mas agora ele precisava falar, ele precisava dizer que mudou de ideia e isso a deixava insegura, mas esperançosa.

— Você vale a pena. – Ele falou finalmente observando os olhos de Sakura brilharem ainda mais. – Mas eu não consigo lidar com isso agora.

— Por que você fala como se fosse um problema? Eu gosto de você, Sasuke.

— E você também gosta do Naruto, há mais tempo do que de mim e ele também gosta de você.

— Isso não é verdade. Ele está saindo com a Hinata.

— E é por isso que você está vindo até mim agora.

— Não. – Sakura falou firme. – Não coloque palavras na minha boca.

— Sakura, ele estar com a Hinata foi a razão de nós conversamos pela primeira vez.

— Isso não importa mais, o que importa é como nos sentimos agora.

— Sim e você ainda se sente da mesma forma em relação a ele.

— Sasuke, eu acabei de me declarar para você. Se você não quer ficar comigo, não seja covarde, admita, mas não arranja uma desculpa.

— Não é uma desculpa e você sabe disso.

— É claro que é. Eu conheço o Naruto desde sempre e nunca disse nada do que eu disse agora para você para ele e nem vou porque não é como eu me sinto em relação a ele, se fosse, eu já teria falado com ele anos atrás.

Sakura o encarou implorando com o olhar e por um instante Sasuke imaginou como seria ficar com ela, ter ela ao seu lado, como seria poder beijá-la quando ele quisesse, acordar com ela a seu lado e ele não mentiu para si mesmo. Era uma visão maravilhosa. Mas não seria assim e ela sabia disso. Mesmo que não tivesse que lidar com Naruto pelos próximos meses, ela teria que lidar com ele estressado e ainda com os problemas familiares, tudo isso no começo.

— Eu sinto muito.

— Sasuke não faz isso. Não seja tão covarde. Por favor.

— Sinto muito. – Falou se afastando ainda encarando a mulher de cabelos rosados.

Sakura observou ele se distanciar. Quando ele se virou ela levou a mão ao cabelo segurando com força enquanto tentava controlar os próprios sentimentos, mas de nada adiantava. As lágrimas já corriam pelo seu rosto.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todas as pessoas que deram um chance e leram essa fanfic tão gostosinha de escrever e que tem me feito tão bem.

Não tenham medo de comentar, eu leio absolutamente todos os comentários e respondo logo depois de postar um novo capítulo, por isso se quiserem interagir comigo, sejam muito bem-vindos. Mais uma vez, obrigada.



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