Tr3s escrita por Temy


Capítulo 1
Os Três Lugares


Notas iniciais do capítulo

Próximo capítulo não irá demorar



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Os Três Lugares

***CAFETERIA***

Três é o número favorito de Sakura Haruno, por quê? “Não há um motivo” é a resposta que ela daria, isso porque ela se encantou com o número desde muito nova para entender os próprios motivos. Apaixonada pela vida e grata por tudo que é e possui, Sakura adora a família que é constituída por ela, sua mãe e seu pai. O equilíbrio invejável que a família exercia fez com que a menina se encantasse pelo algarismo. Era o necessário, a quantidade perfeita, nada faltava, nada sobrava.

— Três frappuccinos, por favor. – Disse a rosada sorridente ao balcão de atendimento da cafeteria.

— Três frappuccinos?

— Isso mesmo.

— Dez e cinquenta, por favor.

— Aqui. – Entregou o dinheiro a moça. – Está tudo bem? Você parece tão triste.

— Não é nada. – Disse a moça tentando disfarçar com um sorriso enquanto pegava o troco na gaveta.

— Camille, você sabe que pode falar comigo. – Sorriu em incentivo

— Só uma discussão boba com o Dean. É só que... às vezes ele consegue ser tão egoísta.

Sakura franziu o cenho para a mulher negra de cabelos cacheados e olhos escuros.

— Todos nós somos egoístas às vezes. – Disse suavemente. – Se é só às vezes, qual o problema? Todos erramos. De qualquer forma, acho que vocês vão se ajeitar. Mas se precisar, estou sempre pronta a ouvir. – Sorriu e foi retribuída com um sorriso grato. – Você tem meu número.

A mulher seguiu animada para o balcão de espera e pegou o celular em seu bolso traseiro para conferir as notificações, pois havia acabado de vibrar. Deu uma risada discreta quando viu o vídeo de dois gatinhos brincando. Naruto lhe enviava ao menos um vídeo de gatinhos por dia e ela simplesmente amava isso.

— Três frappuccinos. – Disse o barista colocando os copos a frente da moça.

— Bom dia, John.

— Bom dia, Sakura. Como foi na prova de anestesia?

Sakura franziu o cenho em uma expressão de irritação como se dissesse “muito cedo para assuntos desagradáveis”, mas o homem sabia que não era sério.

— Não muito bem, devo tirar um oito e alguma coisa. – Disse guardando o celular e tentando equilibrar os três cafés até a mesa.

— Tenho certeza que na próxima você recupera.

— Assim espero. – Disse animada se distanciando.

Sakura Haruno tinha acabado de completar seus 21 anos e cursava o quarto ano de medicina na Universidade da Pensilvânia. Mas o que mais chamava atenção para todos que paravam seus olhos sobre a menina de cabelos rosados era o sorriso. Sakura tinha o sorriso mais encantador que muitos veriam durante toda uma vida e ela distribuía alegremente. Sempre animada e disposta a ajudar, ela simplesmente tinha um jeito especial para lidar com pessoas, sempre tentando cuidar de todos ao seu redor.

Distraída pelas memórias sobre a prova que ela não tinha ido tão bem quanto gostaria, Sakura não reparou que o rapaz que vinha em sua direção estava preso demais a ligação que atendia para prestar atenção no caminho e não desviou dela até que fosse muito tarde, até que ele esbarrasse nela.

— Argh! – Exclamou o rapaz quando o celular que usava para falar com alguém foi ao chão.

— Perdão, perdão. – Disse Sakura se agachando com os cafés equilibrados no suporte e usando uma única mão para pegar o celular do chão e entregá-lo ao homem em seguida.

— Tudo bem. – Disse pegando o celular da mão da menina e conferindo se ainda estava na ligação.

Sakura se sentiu brevemente incomodada por ele ter sido rude. Ela sabia que a culpa foi dele que não olhava para frente enquanto andava, ela havia apenas sido educada ao pedir perdão e pegar o celular.

— Desculpa, estou sim. – Escutou ele falar enquanto se dirigia ao caixa apressadamente.

Notou na expressão dele o cansaço insistente de quem não descansava direito há vários dias enquanto ele pegava o dinheiro na carteira equilibrando o celular com o ombro. Como alguém poderia parecer tão estressado àquela hora da manhã? Sakura deu de ombros e voltou ao seu caminho imaginando que provavelmente há uma explicação. Cada um com seus problemas.

— Eu falei que não ia demorar nem cinco minutos. – Disse Ino quando a rosada se juntou à mesa. – Sakura sempre consegue as coisas mais rápido o que é bastante engraçado considerando que ela tem que parar e conversar com todo mundo.

Apesar de ser extremamente sociável, após entrar no ensino médio, a Haruno se viu com dificuldades para fazer amizade com meninas da sua idade, pois as outras não gostavam dela porque além de ser muito bonita, era muito inteligente e a favorita de todos os professores já que ela sempre os ajudava e conversava com eles. Para completar a situação, Sakura sempre foi a melhor amiga de Naruto que era o garoto mais popular da escola entre as meninas.

Acostumada com tratamentos brutos vindo de meninas da sua idade, ela adquiriu uma certa timidez em relação a elas, mas isso só durou até ela conhecer Ino Yamanaka, que é uma loira muito bonita e muito bem-humorada que ao contrário de Sakura sempre foi bastante popular e havia crescido da cidade Nova Iorque. Se conheceram ainda no primeiro semestre quando por acaso acabaram por ter que dividirem o mesmo quarto e cursarem o mesmo curso.

— É porque eu sorrio de verdade, não aquele sorriso forçado e falso que as pessoas fazem para parecerem amigáveis. Eu realmente sorrio. – Rebateu enquanto entregava os cafés as amigas. – Sempre ajuda. – Bebeu do frappuccino. – Hn... Isso é maravilhoso de tantas formas. Se eu fosse rica, eu encheria uma piscina com isso.

— Tá para existir alguém mais exagerada que você. Isso nem é café. – Tenten reclamou remexendo a bebida com certo nojo.

Tenten Mitsashi era amiga de escola de Ino e foi uma das primeiras pessoas que a loira apresentou a rosada. Embora a morena fosse um ano mais velha e tivesse entrado na universidade antes, as duas nunca perderam contato e sempre faziam questão de se encontrarem rotineiramente, mesmo que não fosse tão simples já que Tenten cursava computação e tecnologia da informática.

— Mas fica lindo nas fotos. – Ino disse já pegando o celular para fotografar.

A Yamanaka era uma dessas pessoas abençoadas pela era do Instagram e seu perfil tinha milhares de seguidores, ela não era precisamente famosa, apenas o suficiente para não pagar por várias das coisas que consumia. A família Yamanaka tinha dinheiro o suficiente para bancar seus estudos em uma das melhores universidades do país sem qualquer bolsa, mas a família Yamanaka não fornecia dinheiro o suficiente para bancar os luxos que a filha adorava – e não era por falta de dinheiro – e, portanto, a loira logo achou uma maneira de ganhar dinheiro sem prejudicar suas notas perfeitas no curso de medicina, essa forma foi documentar sua vida nas redes sociais. Seu perfil era cheio de fotos de seus artigos de luxos, dicas de moda e maquiagem e festas com outras personalidades interessantes como seu próprio namorado.

— Então você pode beber o meu porque eu definitivamente não vou colocar essa porcaria dentro de mim. – Tenten falou afastando a bebida de si.

— Eu fico. – Sakura puxou a bebida para si. – Mas você não vai tomar café?

— Já tomei. Eu gosto de café, não preciso de outros ingredientes para disfarçar o gosto. De qualquer forma, só vim pela companhia mesmo. – O celular vibrou em cima da mesa e Tenten o puxou para que visse do que se tratava. – Afe. – Em seguida colocou o celular no mesmo lugar, dessa vez virado para baixo.

— Neji? – Ino perguntou finalmente tomando de sua bebida depois de fazer sua postagem.

— Sim. Ele está me enchendo o saco desde ontem.

— O que aconteceu? – Sakura perguntou preocupada.

— Eu flertei um pouquinho com o professor de estrutura de dados para ele aumentar minha menção. Não me olhe desse jeito, eu precisava de dois décimos para ficar com a menção mais alta. É uma matéria muito difícil, uma menção máxima nela da UPenn e a Samsung vai brigar com a Apple por mim.

— Ah, claro. – Ino disse revirando os olhos.

— Enfim, daí o Neji teve um ataque de ciúmes por causa disso. Precisava ver, fez a maior cena, foi ridículo. E o pior, foi tudo na frente da priminha perfeita dele que conta absolutamente tudo que acontece na vida sem graça dela para a família inteira.

— Ela pareceu legal. – Sakura comentou agarrada em seu café como uma criança se agarra ao seu brinquedo favorito.

— Não é que ela não seja legal, mas puta que pariu! Tudo que acontece entre nós, o Neji tem que compartilhar com ela. Não que dessa vez ele precise dizer algo já que ele fez questão de fazer a cena na frente dela. Mas sério, estou farta disso. Já estamos a cinco anos nessa putaria e agora que ela entrou na UPenn tá ainda pior.

— Então o que você vai fazer? – Ino perguntou.

— Parece que não me conhece. – Disse com desdém.

Sakura arregalou os olhos preocupada.

Tenten era uma pessoa bastante imprevisível, ela tinha uma moral forte, porém razoavelmente flexível e agia de acordo com suas vontades desde que não batessem de frente com a sua moral. Uma pessoa incrível e maravilhosa de diversas formas, porém se deixava levar demais pelas emoções – principalmente as do tipo raiva – e isso fazia com que ela frequentemente fizesse coisas da qual se arrependeria depois, gerando uma série de preocupações para pessoas com alto instinto materno como Sakura.

— O que você fez?

Tenten sorriu confiante se apoiando com ambos braços sobre a mesa para ficar mais próxima das amigas.

— Terminei.

Mais uma para lista de coisas que causariam arrependimento a Mitsashi: terminar com sua grande paixão, Neji Hyuuga. Assim como ela e Ino, Neji também era de Nova Iorque e eles começaram a namorar no último ano do colegial. O rapaz não tinha intenções de vir para UPenn, estava mirando Harvard – principalmente por pressão familiar –, mas acabou vindo para Pensilvânia porque era o que Tenten queria. Eles eram compatíveis, em sonhos e gostos, talvez não tanto em personalidade, mas formavam um excelente casal, por isso era uma besteira ter terminado com ele.

— Tenten! – As amigas exclamaram juntas.

— Não dá, é sério, não dá mais. Quando eu pedi ele em namoro...

— Por que você sempre tem que dar ênfase ao fato de foi você que pediu? – Ino revirou os olhos. – Neji não está aqui para ficar irritado com o comentário.

— Eu achei que ia namorar com ele, não com ele e a Hinata.

— Por que você não arranja um namorado para ela?

— Porque eu tenho muito mais o que fazer do que bancar de cupido de uma menina que é totalmente incapaz de socializar com qualquer pessoa que não seja uma Sakura da vida e faça todo o trabalho por ela.

— A solução para isso é óbvia. – Ino falou com ar de quem sabe das coisas e as outras duas grudaram seus olhares curiosos sobre a loira. – Se ela é capaz de se comunicar apenas com Sakuras da vida apresente a ela a versão masculina da Sakura.

A rosada revirou os olhos.

— Sakura nunca mais falaria comigo se eu arranjasse uma namorada para o crush de infância dela.

— Ele não é meu crush.

As outras duas caíram na risada.

— Sakura, por favor, né?

— Ele é meu amigo, quantas vezes vou ter que repetir isso?

— Meu amor, - Ino falou com um olhar de mãe – um dia você vai ter que aceitar que você é apaixonada pelo seu melhor amigo.

Tenten e Ino riam do desconforto de Sakura, enquanto a menina tentava fingir uma irritação que sua personalidade simplesmente não conseguia aceitar e por isso ela acabou se juntando as duas na risada.

Mas Sakura não era apaixonada pelo melhor amigo, ela estava completamente certa disso, porém ela também tinha bastante consciência de que seu relacionamento com Naruto era errado. Eles dependiam um do outro de uma forma que tornou qualquer relacionamento que os dois tentaram ter impossível pois de alguma forma, até hoje, nenhum dos dois tinha se encantado tanto por alguém como havia acontecido entre eles. Eles eram prioridade na vida do outro e qual parceiro aceitaria isso?

*

*

*

Sasuke Uchiha considerava o número três seu número de sorte. Era seu número na camiseta do time de lacrosse, havia sido sua classificação quando passou na UPenn e quando foi aceito no grupo de estagiários da Evans Halls. Não que ele seguisse superstições, mas ele definitivamente tinha um carinho especial pelo número, lhe era confortável.

Mas nesse momento em particular, não estava muito feliz ao notar as três ligações perdidas no celular. Hoje era seu dia de ser atormentado pelo chefe e isso significava que sua manhã definitivamente seria péssima.

— Que merda! – Disse irritado quando leu o nome no celular que havia começado a tocar em sua mão. Atendeu enquanto olhava a rua em busca de uma oportunidade para atravessá-la correndo e chegar ao café do outro lado. – Bom dia, Mark.

— Cadê o processo da Kazen?

Sasuke buscou desesperadamente pela resposta em sua mente. Seus olhos quase girando de tão rápido que ele trocava o lado para qual olhava. Ele tinha memória fotográfica e foi por isso que praguejou mentalmente quando chegou à conclusão de que ele nunca tinha lido esse nome em lugar algum, o que só podia significar que o contrato nunca chegou às suas mãos já que ele nunca deixava nada sem ler.

— Sasuke! Eu estou falando com você! – O homem gritou do outro lado da linha e o Uchiha podia praticamente ver a saliva escapando de sua boca enquanto ele gritava.

— Nunca esteve comigo. – Disse tentando fazer a sua voz parecer calma, embora ele definitivamente não estivesse.

Ele havia sido bastante cuidadoso para não dar a entender que a culpa era do chefe, embora fosse.

Um carro buzinou quando ele desistiu de esperar e simplesmente atravessou a rua.

Branco. Honda. Accord. GEA2054. Nova Iorque. Esse era o carro de Nina, também aluna de direito, também estagiava na mesma firma que Sasuke, ela tinha ficado duas classificações a sua frente, em primeiro lugar e isso apenas catalisou e amplificou a raiva da mulher quando ele foi escolhido pessoalmente para trabalhar ao lado do melhor advogado da Evans Halls – a melhor corporação de advocacia da cidade – e começou a odiá-lo ainda mais. Sasuke teve esperanças de que o sentimento se amenizasse após a transa deles no banheiro da última festa do pessoal de direito, mas tudo continuou exatamente na mesma, o que ele não considerava ruim, mas também não era um progresso.

— Como nunca esteve com você? Eu te entreguei ontem à tarde! Sasuke, eu preciso dele agora! E já são sete e quarenta, cadê o meu café?!

Sasuke ficou tentado a dizer que em seu contrato não lhe dizia nada sobre ele ter que levar café ao chefe e deixava bastante claro que o horário em que ele deveria começar seu expediente era às oito e meia, mas ao invés disso ele apenas empurrou a porta do estabelecimento e embora ele quisesse gritar ficou minimamente feliz que seu corpo já não era mais maltratado pelo vento gelado e cortante que corria pela cidade nessa manhã.

— Está a caminho. – Sasuke respondeu com um sorriso forçado no rosto.

— Sasuke! – Por que ele tinha que falar seu nome a cada oração? – O meu contrato, onde está?

— Ah, lembrei. – Não, ele não lembrou. Ele não tinha como se lembrar de coisas que nunca aconteceram. – Estão na sua gaveta, a segunda.

A gaveta em que o sr. Evans sempre guardava os documentos que lhe eram entregues e eles não tinha tempo ou não queria ler na hora.

E então esbarrou em algo. Alguém.

— Argh!

Falou para si mesmo por não estar prestando atenção no que fazia e ter feito merda.

— Perdão, perdão. – Disse a moça chamando sua atenção.

E começou...

Cabelo rosa. Um pouco velha demais para rebeldia adolescente, fazia parte da essência dela. Olhos verdes. Lindos. Dentes perfeitamente brancos, sorriso amigável e verdadeiro. Ela realmente considerava o sorriso sua porta de entrada e sabia como usá-lo. Colar. Pedra verde degastada, assim como o cordão. Não tinha muitas condições... Espera, o cachecol é caxemira. Presente? A blusa, a calça, tudo que ela usa é caro. O colar é um presente, de alguém especial, provavelmente usado por essa pessoa anteriormente. Frappuccinos, três. Acompanhada. Sem pressa. Pretende consumir no estabelecimento. Pelos. Ela tem animais. Por que alguém que tem animais de pelo escuro usaria uma calça branca? Moletom. UPenn. Ah, claro. Ela cursa medicina, talvez esteja residindo ou talvez um estágio.

— Tudo bem. – Disse pegando o celular das mãos da mulher levemente atordoado.

No momento em que o contato visual acabou, Sasuke esqueceu-se da menina que sua mente resolveu se forçar a desvendar ainda que não houvesse benefício algum nessa atitude afinal ele nunca mais a veria e voltou a sua situação anterior de lidar com seu chefe.

— Está me ouvindo?! – Seu chefe gritou.

— Desculpa, estou sim. – Continuou seu caminho até o caixa para realizar seu pedido.

***APARTAMENTO 999***

— Isso é loucura. – Protestou uma das estudantes na turma de práticas legais, após o professor dizer que eles teriam que preparar uma defesa para a aula de amanhã.

Sasuke apenas revirou os olhos. Ele já havia se acostumado com dinâmica absurda da universidade e sua inteligência acima da média definitivamente o ajudava, mas não significa que ele não terá de perder horas de sono preparando o trabalho.

— Você pretende ser uma advogada? Porque se você não quer passar por esse tipo de situação, sugiro que desista agora. – Professor Bins rebateu irritado. – É isso que vocês vão esperar na carreira, o tempo todo, pedidos inesperados em cima da hora, portanto vocês deveriam me agradecer por fornecer uma real experiência. Agora, vamos as duplas... – Disse o professor mexendo em seu notebook. – Banks e Benson... – Seguiu-se uma lista que Sasuke notou estar em ordem alfabética, portanto ele afundou na cadeira enquanto esperava pelo seu nome e como demorou, principalmente com as constantes interrupções dos alunos que protestavam contra suas equipes. – Uchiha e Uzumaki.

Sasuke deixou um leve sorriso escapar.

Naruto Uzumaki era o melhor aluno da turma, o aluno exemplar perfeito nos mínimos detalhes, querido por todos os professores. Talvez você possa pensar que Sasuke ficaria irritado, pois o Uzumaki era seu “concorrente”, mas ele realmente não se importava. Naruto iria ajudar e ele não teria que fazer o trabalho todo sozinho, só isso já era o suficiente para que ele ficasse feliz com a dupla.

Sasuke arrumou seus materiais rapidamente e desceu apressado os degraus do auditório. O Uchiha sentava entre as últimas fileiras – principalmente devido aos seus costumeiros atrasos devido ao estágio – enquanto o Uzumaki sentava na primeira fileira, o mais próximo possível do professor.

— Sasuke. – Naruto falou quando ele se aproximou.

Sorriso fraco. Olhos levemente fechados. Ombro esquerdo levemente mais levantado que o outro. Ele estava desconfortável, ele estava prestes a dizer algo desconcertante. Sasuke praguejou mentalmente contra a sua falta de sorte, mais uma vez teria que fazer o trabalho sozinho, mesmo tendo caído com o melhor aluno da turma.

— Naruto.

— Então, eu sei que o trabalho é para amanhã e que você vai querer fazer ele agora de noite. – Sasuke assentiu, com estágio durante a manhã, não é como se ele tivesse muita escolha de horários. – Mas hoje é aniversário da minha melhor amiga.

— E o que tem? Se você não fizer o trabalho, sua nota não terá a menor chance de ser máxima. Falta.

O Uzumaki cerrou os olhos pelo modo de falar do Uchiha, mas ignorou seu eu interior que reclamava, pois sabia que o moreno estava certo.

— Eu não posso faltar. – Naruto respondeu olhando nos seus olhos e Sasuke entendeu que não adiantaria insistir, ele era apaixonado pela garota em questão. – Ela é minha melhor amiga desde de sempre, se eu não for...

— Tudo bem, eu faço. – Suspirou já pensando em correr para casa para que pudesse ter uma chance de não virar a noite. – Mas não pense que você terá a chance de se destacar no último minuto. Eu faço a defesa. – Disse decidido.

Se tinha uma coisa que Naruto jamais poderia ganhar de Sasuke, era em suas defesas e postura diante juiz e júri. Sasuke Uchiha tinha absolutamente tudo para ser o melhor advogado de defesa da cidade, na verdade, do estado. E ele seria. Então desde o princípio, quando o professor explicou como funcionaria o trabalho, o Uchiha optou por esse papel.

— Tudo bem, mas não me sinto bem deixando você fazer o trabalho todo. É desonesto. – Disse coçando o cabelo. – Por que você não vem comigo?

— Para o aniversário da sua amiga? – O Uchiha arqueou uma sobrancelha surpreso com o convite inesperado.

— Sim. A gente fica um pouquinho lá e depois fazemos o trabalho. Começa as seis, portanto no máximo as nove estamos indo embora. O último trabalho dele eu levei cinco horas para fazer sozinho. Com você, tenho certeza que conseguimos terminar em umas três horas. Quero dizer, a brecha da...

— Filha. Sim. Também percebi.

Sasuke analisou suas opções com bastante cuidado ainda que rapidamente. Ele poderia negar o convite e ir para casa fazer o trabalho sozinho sacrificando algumas das suas preciosas e necessárias horas de sono ou ele poderia fazer apenas metade do trabalho e deixar o resto nas mãos de Naruto. Descartou rapidamente essa opção, ele não poderia dormir até ter certeza de que estava tudo pronto, então daria no mesmo. Ou, ele poderia confiar em Naruto e ir para o aniversário dessa menina que ele não conhece acreditando que o colega não se renderia a festa e diversão e sairiam no horário marcado. Se ele estivesse com ele, seria mais fácil cobrar o prometido. E desde que os dois entraram a universidade, Naruto sempre foi um aluno exemplar e comprometido, não era uma aposta muito arriscada.

— Tudo bem. – Disse por fim colocando o cachecol ao redor do pescoço se preparando para seguir o colega sala afora. – Mas eu me recuso a dormir depois de duas horas na manhã.

— Não se preocupa, se ficar faltando alguma coisa, você dorme e eu continuo. – Disse o Uzumaki rabiscando alguma coisa em uma folha do caderno que ele logo rasgou e entregou ao Uchiha.

*

*

*

Naruto abriu a porta com o número 999 cravado na madeira sem qualquer cerimônia. Alguns segundos depois ele já estava gritando dentro do apartamento.

— Sakura! – Chamou sorridente correndo até a menina que estava no meio da sala.

Ela se jogou nos braços dele e ele a girou no ar.

Sasuke observou a cena de certa forma encantado. A tal melhor amiga do único aluno da sua turma de práticas legais que tira notas mais altas que ele, Sakura, era a moça que ele havia esbarrado nessa mesma manhã. Sasuke engoliu em seco, de repente sentia-se envergonhado, provavelmente algo relacionado à ausência de um pedido de desculpas por parte dele dirigido a ela.

Pôde observar que agora ela parecia ainda mais bela do que pela manhã, usava uma calça preta legging com vários zíperes pratas, uma blusa branca folgada e ankle boots pretas. A maquiagem não era tão forte, exceto pelo batom vermelho e os cabelos rosados estavam presos em um rabo de cavalo frouxo. A estudante de medicina parecia bem mais nova do que ele, mas talvez não fosse tão mais nova quanto ele havia imaginado.

Mas o que realmente encantou Sasuke foi a maneira como eles se olhavam. Quando ele a colocou no chão e falou coisas que ele estava longe demais para escutar, mas não interessava. Ao contrário do que ele imaginava, aquilo não era paixão, ele viu vezes demais para confundir, além de ser um sentimento bastante óbvio. Aquilo era amor.

Sentindo-se desconfortável de encarar os amigos que pareciam compartilhar de um momento íntimo demais para ser compartilhado com outras pessoas, ainda que eles não parecessem se incomodar, Sasuke resolveu fechar a porta que ainda estava aberta atrás de si e observar o ambiente na qual se encontrava.

O apartamento em questão era grande e muito bem decorado. Os donos, sejam quem fossem, tinham bastante dinheiro. Muitas pessoas no ambiente para que ele pudesse prestar atenção em todas, mas ele logo identificou o dono, confortável abrindo uma garrafa de vinho e servindo a sua namorada – tinha a impressão de que já tinha a visto em algum lugar – que estava sentada na ilha da cozinha que era separada da sala por um balcão de mármore. Como Sasuke sabia que ele era o dono? Foto dele e da namorada na estante da sala.

Vermelho. Preto. Cores que ele parecia adorar, era tudo que ele usava.

Sasuke deu uma breve olhada ao seu redor e percebeu os quadros espalhados em todas as paredes, eram todos do mesmo artista. Ele era o artista, um bem-sucedido para variar. Gaara. Se esse fosse realmente o nome dele, mas era. A posição dele, a quantidade de quadros expostos em seu próprio apartamento, ele gostava da atenção, ele gostava que as pessoas soubessem quem ele é. Ele ou talvez a mulher que ele beijava nesse momento.

— Ah, me desculpa. Sakura, esse é o Sasuke. – Sasuke acordou do transe e se adiantou para se aproximar da moça que lhe sorria gentilmente. – Meu parceiro no trabalho.

Então ele já tinha a informado sobre o trabalho. Ótimo.

— Muito prazer. Sasuke Uchiha. – Sasuke falou sorrindo abertamente em uma tentativa de compensar pela manhã e surpreendeu-se com o calor que foi transferido para a sua mão quando eles se cumprimentaram ao mesmo tempo que os olhos verdes caiam sobre os seus pela segunda vez no dia. Por um breve segundo, Sasuke se perguntou se todo aquele calor era proveniente dela ou se seu próprio corpo também teria uma parcela de culpa. – Feliz aniversário e desculpa por hoje de manhã.

— Oh! Eu sabia que tinha te visto em algum lugar. Tá tudo bem. Sou Sakura Haruno. – O sorriso dela se abriu ainda mais. – Seja muito bem-vindo. Qualquer colega do Naruto é sempre muito querido. Posso te oferecer alguma coisa? Alguma bebida?

Tão solicita, tão amigável e a expressão corporal dela dizia que ela estava acostumada com aquele tipo de interação, mas não estava exatamente confortável, ela era do tipo de pessoa que gostava de mais contato físico e apenas tinha se mantido no aperto de mão porque ele havia sido formal. Sakura se colocou a frente de Naruto para parecer mais interessada em Sasuke e ele havia notado, porém ela pareceu querer ter certeza de que Naruto não se sentisse deixado de lado, já que sua mão direita procurou por ele.

— Ahn...

— Não, não, não, me deixa brincar. – Disse uma morena com cabelos perfeitamente ondulados se aproximando.

— Tenten gosta de brincar de “qual é a sua bebida”. – Sakura explicou.

Tenten segurava um copo de cerveja e Sasuke percebeu que ela já se encontrava levemente alterada, ainda que ela não demonstrasse muito, as roupas estavam perfeitas condições e ela andava perfeitamente bem sobre o salto fino e alto. E como era alto. Alto até demais. Tentativa de compensar por algo claramente. Mas esse foi o máximo que Sasuke conseguiu deduzir, ela não era um livro aberto, na verdade, ela não era nada fácil de ler, ainda que não parecesse muito complicada. Ela só não confia em estranhos o suficiente para deixar que eles pudessem lê-la.

— Muito gostoso. – Ela falou o observando dos pés à cabeça. – Muito bem vestido. – Por impulso Sasuke olhou para o terno Burberry que estava usando, presente de Itachi por ter sido escolhido por Diego Esteves, o mais procurado advogado da cidade. – Um ar de eu leio livros e sou inteligente. Você é whisky, mas não qualquer um. Os bons, quanto mais caro, melhor. Estou correta?

Sakura, Naruto e Tenten o encaravam ansiosos.

— Sim.

— Yay! Gaara, um blue label para o nosso convidado. – Disse animada chamando a atenção do ruivo que conversava com a namorada.

— Blue label?

— Ghost Glenury fucking Royal.

— Uau! – O ruivo deixou escapar e abriu um armário de onde tirou uma garrafa intocada.

— Não precisa abrir por mim. - Disse tentando passar pelas pessoas para se aproximar dele a tempo de impedir que a garrafa fosse tocada, mas logo foi impedido por Sakura que se colocou a sua frente.

Sasuke parou de repente e a rosada abriu um sorriso.

— Deixa eu tirar essas coisas de você. – Falou já desenroscando o cachecol do pescoço do Uchiha. – Agora me dá seu sobretudo.

Sasuke olhou por cima da menina e notou que Gaara já tinha aberto a garrafa. Olhou novamente para Sakura que o olhava sorrindo ansiosa e tirou o agasalho entregando a mulher que saiu rapidamente de sua frente

O Uchiha seguiu o caminho que fazia anteriormente e se aproximou do ruivo.

— Não precisava, nem vou ficar muito tempo. – Disse quando Gaara empurrou o copo com o liquido âmbar em sua direção sobre o balcão.

— Relaxa. Eu ganho essas porcarias e acabo nem bebendo. – Gaara abriu o armário cheio de bebidas caras para provar o que dizia. – Vodka guy.

Sasuke pegou a bebida e tomou. Quando posou o copo sobre o balcão novamente percebeu que Gaara e os outros ao seu redor pareciam esperar que algo acontecesse, mas nada aconteceu.

— Sem gelo? – Então era isso que eles esperavam? Que ele pedisse gelo? – Então você é o tipo de cara que é problema? – Sakura perguntou algo que aparentemente era óbvio para todos ali, menos para ele.

— Eu não acho que seja. Quero dizer, nunca tive problemas no quesito relacionamento, se é isso que está insinuando. – Disse com sinceridade.

E de fato estava sendo verdadeiro, Sasuke nunca ficou com uma pessoa mais de uma vez, isso não conta como relacionamento, certo? Então como poderia ter um problema?

— Claro, porque não é problema para você. – Sakura se aproximou. – É problema para quem se apaixona por você.

A frase deixou o Uchiha pensativo por poucos momentos.

— Só pode ser brincadeira. – Tenten sussurrou ficando ao lado dele, mas virada na direção oposta.

Sasuke dirigiu o olhar para a porta de entrada, onde a morena olhava algo com bastante desconforto.

— Ele é parte do grupo. – Disse a loira que Sasuke havia visto trocando beijos com Gaara. – Não podemos não o chamar.

— Porra Ino, pelo menos avisa.

Sakura e Naruto se adiantaram para cumprimentar os novos convidados.

Um menino de longos cabelos castanhos e olhos azuis vestindo jeans azul e uma camiseta branca e uma menina de cabelos negros e olhos azuis usando um vestido preto sorriam para a aniversariante. Eles eram parentes, definitivamente, talvez irmãos. Uma diferença razoável de idade, talvez quatro anos.

— Desculpa, achei que fosse óbvio demais para precisar avisar. – Disse se apoiando no balcão no lado oposto a Sasuke e acenando brevemente para os dois novos convidados quando eles olharam na direção em que eles estavam. – À propósito, sou Ino Yamanaka.

Sasuke retribuiu o sorriso lembrando-se de onde havia a visto, agora que ela estava mais próxima e após escutar o sobrenome Yamanaka, não tinha mais dúvidas. Ela era a influencer que sua sobrinha havia perguntado se ele conhecia duas semanas atrás quando ele ficou a cuidar dos filhos de seu irmão. A pequena havia dito que ela estudava no mesmo lugar que ele e que ela era linda e muito inteligente e o namorado dela era ainda “mais lindo que o tio Sasuke”.

— Pergunta desconfortável. – Disse para a loira após apreciar a bebida mais uma vez. – Pode me dar um autógrafo?

— Então você me conhece? – Perguntou a Yamanaka sorrindo enquanto puxava uma caneta e um bloquinho que estavam no canto do balcão.

— Não exatamente. – Disse observando a caligrafia caprichada da mulher. – Se você pudesse assinar também. – Falou olhando para Gaara que o encarou levemente confuso. – É para a minha sobrinha, ela tem oito anos e adora você dois, tenho esperanças de que isso – apontou para a folhinha que a loira empurrou para o namorado – me torne o tio favorito mesmo que eu não tenha uma casa com piscina. Ainda.

— Isso é tão fofo. – Tenten falou ao seu lado e Ino pareceu concordar.

Sasuke apenas sorriu.

Após receber a folhinha que ele guardou cuidadosamente na carteira, Ino insistiu que eles tirassem uma foto para mostrar para a pequena e depois Sasuke compartilhou fotos dos sobrinhos com os três que pareciam fascinados com a capacidade dele de cuidar dos trigêmeos.

— Uma semana ajudando na ala de pediatria me deixou completamente louca. – Comentou Ino.

Sasuke sentiu seu bolso vibrar e pegou o celular conferindo quem o ligava.

— Licença. – Disse se afastando dos três e indo para a varanda espaçosa separada da sala de estar por uma porta dupla de vidro.

O frio havia se encarregado de manter todos os convidados do lado de dentro da casa protegidos pelos aquecedores e por isso o exterior estava completamente vazio.

— Alô.

— Sasuke, está tudo bem?

— Sim, sim. Houve um imprevisto, esqueci de mandar mensagem avisado que não poderia visitá-lo hoje.

— Sem problemas, apenas fiquei preocupado porque já passou do horário que você costuma aparecer.

— Professor passou um trabalho para amanhã e eu meio que vim parar numa festa, foi complicado.

Escutou a risada abafada de seu irmão do outro lado da linha.

— Tudo bem, confio em você. Fico feliz que esteja bem e que esteja se divertindo, você precisa de mais imprevistos desse tipo.

Sasuke deixou um sorriso fraco escapar.

— Obrigado.

— Bom, já que está tudo bem, vou deixar você aproveitar a sua festa. Tchau.

— Até amanhã.

— Até.

Sasuke guardou o celular no bolso e encarou as luzes da cidade. O apartamento ficava a vários metros do chão e em uma região com vários prédios. Observou um pai brincar com uma criança no parque no final da rua com angústia. A vida conseguia ser tão injusta sem motivos.

O Uchiha estava tão perdido em pensamento que se assustou quando seu casaco foi colocando repentinamente sobre seus ombros. Olhou para menina que tinha um sorriso travesso no rosto.

— Desculpa pelo susto. Vi você aqui fora e pensei que pudesse estar com frio. – Sakura falou e olhou ao redor como se estivesse tentando evitar os olhos dele. – E acho que estava certa. Está congelando aqui fora.

Sasuke observou a jaqueta de couro negro que ela usava quando ela esfregou o braço direito. Com um gesto rápido, ele tirou o sobretudo de si e colocou sobre os ombros da menina de cabelos rosados.

— Obrigado, mas acredito que você precisa mais que eu. – Sorriu ajeitando a peça sobre o corpo dela de forma que a cobrisse mais.

Quando terminou, notou que o olhar dela estava travado no seu.

— Você é bem diferente do que eu esperava.

A voz baixa e suave dela acordou Sasuke para o fato de que eles estavam bem mais próximos do que o comum. Cautelosamente, Sasuke colocou as mãos no bolso da calça e deu um passo para trás.

— O que você esperava?

— Hn... Alguém mais frio? Sem muito tato social. – Ela sorriu e Sasuke a acompanhou no sorriso.

— Suponho que isso seja justo considerando a maneira como nos conhecemos. – Ele olhou para os sapatos novamente envergonhado. – Desculpa por aquilo, meu chefe estava gritando comigo no telefone.

— Tudo bem, esquece isso.

Ela deu um leve empurrão no braço dele e Sasuke olhou para ela bem a tempo de ver o corpo da mulher ser sacudido por um involuntário calafrio.

— Vamos para dentro, você está congelando aqui.

— Não!

O Uchiha se surpreendeu com a negação abrupta e sua cabeça caiu um pouco de lado enquanto ele observava melhor a mulher de cabelos rosados. Ela segurava as próprias mãos e mordia o lábio, as bochechas estavam levemente avermelhadas, pelo frio e algo a mais.

Sasuke olhou para o ambiente interno, as pessoas conversavam e se divertiam. Rapidamente ele encontrou o problema. Naruto estava sentado no sofá conversando com a menina de vestido preto e cabelos escuros. Ele sorria animado enquanto ela parecia levemente desconfortável, mas também parecia entretida no que ele dizia.

Sentiu-se confuso. Os dois se amavam, então por que não estavam juntos? Rapidamente, o Uchiha tratou de apagar a pergunta de sua mente. Ele não tinha nenhuma intimidade com ela para realizar esse tipo de questionamento.

— Desculpa. – Sakura falou sorrindo e Sasuke voltou a encará-lo. – Desculpa por pedir para você ficar no frio comigo, nem nos conhecemos direito.

— Não estou com frio. – Respondeu sorrindo.

Ele estava com frio, mas não o suficiente para que seu corpo demonstrasse, embora isso provavelmente aconteceria em breve caso eles não saíssem dali.

Sakura olhou para os dois conversando no sofá e o sorriso sumiu de seu rosto.

— Eu sou tão boba. Não é a primeira vez, sabe? Óbvio que ele já namorou com outras meninas antes. E Hinata é bem legal e tão fofinha, mas eu não consigo não sentir ciúmes. – Sakura encarou Sasuke que escutava tudo em silêncio tentando controlar mais ainda sua vontade de saciar sua curiosidade. – Ele é meu melhor amigo desde sempre e nunca aconteceu até hoje, mas eu sempre tenho medo dele me esquecer.

— Tenho certeza de que isso não vai acontecer. – Sasuke sustentou o olhar dela para mostrar que estava sendo sincero. – Ele te ama. Tanto quanto você o ama. Todo mundo consegue ver.

Sakura sorriu.

— Você está certo.

— Perdão por ser tão invasivo, mas por que vocês não estão juntos? – Perguntou finalmente cedendo a sua curiosidade.

— Namorando? – Sasuke assentiu. – Nós não temos esse tipo de sentimento que faz você querer morar com aquela pessoa, ou que você consiga se ver tendo filhos, ou construir uma vida juntos levando em consideração os desejos de ambos. – Sakura olhava para o lado. – Claro que eu espero que ele sempre esteja presente na minha vida, mas – Sasuke, de repente, sentiu a necessidade de engolir a saliva que foi acumulada em sua boca por causa daquele olhar verde que do nada resolveu procurar pelos seus olhos – nós não temos entre nós o tipo de sentimento que faz você sentir atração, sabe? Tipo uma vontade incontrolável de beijar o outro.

Sasuke não soube dizer se a sua impressão de que ela havia falado a última frase com um intervalo de tempo maior entre as palavras condizia com a realidade. Ela falou aquilo para provocá-lo? Ele não saberia dizer, mas ele sabia que se sentia bastante tentado a descobrir o sabor que os lábios dela teriam. Ela parecia querer também, mas ele não tinha certeza, quero dizer, ele ainda não estava completamente certo de que acreditava nas palavras dela sobre Naruto. Além disso, Sasuke sempre soube dizer quando alguém apreciaria a suas carícias e ele não sabia nesse momento o que não era um bom sinal.

Ainda assim o Uchiha se aproximou testando a reação dela, mas ela não teve nenhuma, o olhar continuou preso ao dele. Ele poderia beijá-la, qual mal teria?

— Sasuke!

Com dificuldade e lentamente, Sasuke tirou o olhar dos olhos verdes e olhou na direção daquele que havia lhe chamado.

— Naruto. – Disse olhando para o colega que o encarava com uma expressão diferente da usual.

— Vamos. – Ele sorriu e se aproximou de Sakura a envolvendo por trás em seus braços e depositando um beijo nos cabelos rosados. – Tentar terminar isso antes da meia noite.

— Vamos. – Falou se afastando dos dois para dar privacidade para o momento.

Se despediu rapidamente das pessoas com a qual havia conversado e pouco tempo depois, Naruto e ele já estavam saindo do apartamento.

*** HOSPITAL ***

Sasuke andava pelos corredores brancos desanimado. Ele odiava ter que vir aqui caso quisesse ver o irmão. Odiava cada visita. Não o entenda mal, ele não conseguia ficar sequer uma semana sem falar cara a cara com o irmão mais velho, mas odiava ter que vir ao hospital para que pudesse fazer isso acontecer. Odiava que o irmão estivesse doente, se fosse para que um dos dois fosse embora antes de esperado que fosse ele e não Itachi.

O mais velho dos irmãos Uchiha tinha uma carreira sólida construída com dedicação e trabalho duro, uma mulher incrível que o amava com todas as forças e mesmo com as dificuldades entre manter a própria carreira e cuidar dos filhos, sempre – sempre mesmo – achava tempo para vir cuidar do marido, para amá-lo em sua forma mais pura. E principalmente, Itachi era pai de três crianças adoráveis e lindas, trigêmeos, dois meninos e uma menina, Kai, Ishi e Calli. Enquanto isso Sasuke não tinha namorada, não tinha amigos – apenas colegas -, ainda estava em processo de formação profissional e definitivamente não era pai – era bastante cuidadoso com isso.

Repudiava os pensamentos depressivos que surgiam em sua mente, mas a verdade é que ele não tinha muita esperança que Itachi saísse do hospital vivo e isso o perturbava profundamente. Não que a morte fosse algo inimaginável e impossível de lidar, não, ele tinha consciência de que seria difícil, mas acreditava que a dor passaria, embora ele não realmente soubesse como seria já que ninguém próximo dele tinha morrido até então, até mesmo seus avós ainda estavam vivos e saudáveis. O que realmente perturbava Sasuke quando pensava em como as coisas aconteceriam caso esse cenário estivesse próximo, eram seus sobrinhos e como eles teriam que crescer sem o pai, sem a figura a paterna.

Sasuke cresceu com os dois pais e o irmão em uma família que como todas, tinham seus problemas, mas era tão perfeita quanto poderia ser, não havia cobrança excessiva, nem ausência de sentimentos necessários ou dos pais, nem mesmo superproteção. Como os dois irmãos haviam sido planejados e desejados pelos pais, ambos estavam preparados para darem seu melhor na criação deles, e Sasuke sinceramente acreditava que eles tinham sido bem-sucedidos nesse quesito. Ele não conseguia pensar sem pesar que talvez seus sobrinhos não pudessem crescer da mesma forma.

Em passos desleixados, o moreno seguiu para o elevador onde parou ao lado de uma médica que lia informações em uma prancheta. Sem querer dar a ele o que pensar naquele momento, não olhou para moça tempo o suficiente para adquirir mais informações do que apenas a consciência de sua presença.

Os dois entraram no elevador, onde a irritante música preencheu o ambiente. Por que eles colocavam essas músicas para tocar em elevadores? Era incrivelmente desnecessário. Ah, sim, lembrou-se Sasuke, porque a maior parte das pessoas não suporta o silêncio, nem por poucos segundos, ainda mais na presença de outros seres humanos.

O Uchiha observou com leve impaciência as portas se fecharem lentamente e o visor começar a mudar os números... 5... 4... 3... O elevador parou. As portas se abriram lentamente e a médica ao seu lado, saiu deixando-o completamente sozinho. Ninguém esperava do lado de fora. As portas começaram a se fechar lentamente, mas antes que se fechassem completamente, uma mão acionou o sensor de presença e a porta parou abruptamente e começou a se reabrir no mesmo processo lento.

Sasuke respirou fundo para controlar sua impaciência, deveria ter ido pelas escadas, pensou encarando os sapatos e colocando as mãos nos bolsos do sobretudo preto que usava hoje.

— Sasuke!

A voz doce o fez levantar a cabeça e encarar e menina sorridente a sua frente. Involuntariamente, ele sorriu. Após o gesto, se sentiu confuso. Sasuke não era exatamente uma pessoa sorridente e, portanto, quando ele não estava de bom humor – como agora – isso acentuava-se ainda mais.

— Não vai entrar?

— Ah, claro. – Disse se colocando ao seu lado e ajeitando a bolsa no ombro. – O que veio fazer aqui? Está tudo bem com você?

Sasuke olhou brevemente para a moça quando a porta do elevador finalmente terminou de se fechar.

— Sim. Só visitando.

— Ah!

O Uchiha sentiu que a moça queria fazer mais perguntas, mas não o fez e ele agradeceu por isso.

Quando a porta se abriu do andar térreo, ele deu passagem para que Sakura saísse primeiro e a seguiu sem muita pressa ou vontade atrás dela.

— Você está ocupado? – Sakura perguntou repentinamente virando-se para ele com seu usual sorriso cativante.

— Não.

— Me acompanha para um café?

— Tudo bem. – Respondeu de imediato.

Quando a mulher se virou para frente novamente, o Uchiha franziu o cenho sem entender o porquê de ter aceitado o convite. Ele não estava de bom humor, ele não estava feliz, estava morto de cansado por ter dormido tarde e até com fome por ter comido um simples wrap enquanto corria para não se atrasar para a defesa na aula. Tudo que o Uchiha queria era ir para o seu apartamento studio, comer o resto da comida que seu pai preparou no final de semana, tomar um banho e dormir. Então por que aceitou o convite de ir tomar um café? Pelo amor de Deus, ele aceitou ir tomar um café, as 19h30? Seria o mesmo que se condenar a uma insônia nada bem-vinda e completamente desnecessária.

Sasuke passou tanto tempo se martirizando pela aquela péssima escolha de palavras na hora da resposta que não teve tempo de colocar seu plano de “mudança de ideia” em prática, pois Sakura já estava abrindo a porta da cafeteria que ficava literalmente em frente ao hospital, bastava atravessar a rua. Quando ele entrou no ambiente, o cheiro de pão recém assado tirou de sua cabeça qualquer possibilidade que tinha de fugir. Seu estômago vazio protestou imediatamente.

— Sakura! – Cumprimentou a caixa animada ao ver a menina de cabelos rosados. – Como você está?

Sasuke escutava, mas não prestava muita atenção, estava bem mais entretido nas comidas à mostra, como estava com fome. Tudo era tão bonito e parecia tão gostoso que era quase uma tortura.

— Estou ótima, e você?

— Excelente também. O que vai querer?

Aquele muffin de blueberry parecia particularmente mais saboroso.

— Dois pain au raisins, dois de apricot, um pão de azeitonas, um chocolate quente e um chá de erva-cidreira com camomila e hortelã. Ah, e me dá dois muffins de blueberry também.

Sasuke finalmente olhou para sua companhia raciocinando que aquela quantidade de comida não era apenas para ela, mas Sakura já estava passando o cartão.

— Eu levo para vocês na mesa. – Disse a moça sorrindo.

— Obrigada. – Disse Sakura.

A Haruno se dirigiu a uma mesa próxima a parede sentando-se em uma poltrona confortável e talvez grande demais para as pequenas mesas redondas que conseguiam acomodar no máximo três das cadeiras. Sasuke retirou o sobretudo e jogou sobre a cadeira ao lado, a mesma que Sakura usou para colocar a bolsa.

— Quanto eu te devo? – Perguntou pegando a carteira no bolso.

— Nada. Você paga a próxima.

Próxima? Haveria uma próxima? Sasuke guardou a carteira intrigado, mas nada disse.

— Desculpa por ter ficado com seu casaco. – Ela falou com as bochechas levemente coradas e agora, Sasuke tinha plena certeza de que não era por causa do frio, enquanto encarava o casaco dele. – Eu ia entregar para o Naruto te devolver, mas acabei não conseguindo me encontrar com ele hoje.

— Tudo bem.

— Você costuma vir aqui? Digo, no hospital?

Sasuke assentiu.

— Quase todo dia.

— Então amanhã te entrego. – Falou sorrindo e mais uma vez, Sasuke sorriu involuntariamente.

Logo uma garçonete serviu o pedido aos dois.

O chá o aqueceu de uma forma inesperada que Sasuke não sabia estar precisando, de repente, se sentia melhor. Itachi e a família sumiram de sua cabeça enquanto ele devorava a comida escutando Sakura contar sobre uma adorável senhora bastante divertida com quem tivera o prazer de conversar e estar durante o estágio. Descobriu que ela estagiava fazendo testes bacterianos no laboratório do hospital e sua supervisora faltou e foi substituída pela tal senhora. Sasuke quase engasgou de tanto rir quando ela contou sobre as aventuras amorosas da tal senhora.

— Eu queria falar com você sobre ontem à noite. – Ela falou quando ele terminou de rir.

Sasuke levantou o olhar para mulher e esperou que ela terminasse o chocolate que bebia.

Sobre o que exatamente ela se referia? Sobre o seu desabafo sobre Naruto? Ou sobre o fato de eles quase terem se beijado mesmo que tendo se conhecido naquele dia mesmo. Sasuke sentiu-se inquieto.

Agora, do banquete pedido por Sakura, só restavam os muffins, envergonhado como nunca antes havia estado, principalmente por causa de uma mulher, ele começou a abocanhar o doce.

— Tudo bem. – Disse, pois sentiu que ela precisava de um incentivo verbal, mas continuou a encarar o muffin como se o confeito fosse particularmente intrigante.

— Eu... Eu... – Ela procurou por algo que não achou no próprio colo. – Eu não quero passar a impressão errada.

O Uchiha sentiu um frio em seu interior. Ficou bastante grato por Naruto tê-lo impedido de beijá-la. Por quê? Por que ele se sentia grato por isso? Qual teria sido o problema? Se fosse qualquer outra pessoa, nenhum. Mas Sasuke não queria fazer nada que causasse desconforto para o relacionamento deles. Relacionamento deles?

— Qual impressão você acha que passou?

Sakura sorriu desconcertada.

— Eu não sei bem. Na verdade, eu não sou muito acostumada a beber, sabe? Eu não bebo, para ser sincera. Nem consigo dizer qual foi a última vez que bebi antes de ontem à noite.

— Sakura, - Sasuke a interrompeu e no momento em que falou e percebeu que era a primeira vez que dizia o nome dela – nada aconteceu. E não se preocupe, não vou falar nada a ninguém, sobre seus sentimentos por Naruto.

Sakura sorriu.

— Eu só não queria que você ficasse com a impressão de que eu sou o tipo de pessoa que sai querendo beijar as pessoas quando fica bêbada, não que tenha algo de errado nisso, eu só queria que você soubesse que essa não sou eu. Eu só realmente fico muito perturbada quando se trata de Naruto. Eu também não queria que você pensasse que eu queria te beijar só porque estava com ciúmes do Naruto.

Sasuke quase engasgou ao escutá-la admitir que queria beijá-lo em voz alta, ao mesmo tempo que sentiu sua barriga revirar de uma forma desconfortavelmente boa e não soube explicar o porquê disso, mas soube que não o incomodava.

— Pode ficar tranquila. – Disse quando os olhos dela procuraram pelo dele.

— Eu espero que você me dê a chance de mostrar quem eu realmente sou. Espero que você queira me conhecer, porque eu realmente quero te conhecer. – Fez questão de dizer cada palavra olhando no fundo dos olhos dele.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por darem uma chance.



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