Por mais que gostasse de assistir as aulas de poções, ele precisava admitir que estava entediado. As palavras de Snape pareciam passar rapidamente por seus ouvidos para se alojar em um lugar vazio de sua mente. 

O fato de dividirem a aula com os alunos da Grifinória só aumentava seu tédio. Suspirou profundamente quando percebeu que Granger tentava responder a pergunta feita por Snape mais uma vez. “Sangue-ruim insuportável”, pensou ele trocando um olhar rápido com Pansy.

Varreu o olhar pela sala para ver se todos ali pareciam estar tão aborrecidos quanto ele. Seu olhar parou por um longo instante no fundo da sala, forçou a vista para tentar reconhecer quem era a garota sentada ao lado de Finnigan. Por um minuto ponderou se a menina em questão havia percebido a forma como Finnigan a observava. “Amador”, pensou ele revirando os olhos.

Snape ordenou que todos começassem a preparar suas poções e então se deu conta que não fazia ideia do conteúdo da aula. Olhou para a página aberta no livro de Pansy e logo se localizou. Tinha imensa facilidade no preparo de poções e a poção do morto-vivo sempre fora uma de suas especialidades. 

Abriu seu livro para separar os ingredientes e se posicionou estrategicamente para que pudesse observar Finnigan em sua tentativa patética de cativar a morena que parecia completamente concentrada em seu caldeirão. 

Começou o preparo de sua poção com tranquilidade, afinal, já havia preparado aquilo antes. Enquanto mexia o caldeirão com propriedade, ouviu o barulho conhecido de uma grande explosão. No instante seguinte, todos os sonserinos presentes estavam rindo, Simas Finnigan havia explodido seu caldeirão outra vez.

— Você está bem, Simas? – A morena perguntou com os olhos arregalados.

— Está tudo bem, não se preocupe... – Respondeu Simas em meio a um ataque de tosse.

Draco segurou o riso quando percebeu o olhar ferino que Snape mantinha ao se aproximar da bancada em que os grifinórios estavam.

— Menos dez pontos para a Grifinória, Sr. Finnigan. – Disse o professor com frieza — Um dia você vai acabar destruindo minha sala de aula. – E menos cinco pontos pra você, Srta. Standish, por não ter prestado atenção no que seu companheiro de bancada fazia.

Ele pôde perceber o quanto a morena havia ficado indignada. Por algum motivo desconhecido, Pansy riu gostosamente ao seu lado atraindo a atenção de Snape para a bancada dos dois.

— Algum problema, Srta. Parkinson? – Indagou sem emoção.

— Problema algum, professor. – Respondeu ela tentando se recompor da pequena crise de risos.

— Se não teremos mais interrupções, vamos prosseguir com a nossa aula.

Enquanto o professor voltava para sua mesa, ele manteve o olhar na bancada explodida dos grifinórios. Finnigan tentava recomeçar sua poção, já a morena ao seu lado continuava a mexer seu caldeirão com concentração, mas era perceptível que estava irritada com as palavras do professor. 

Antes que ele voltasse ao preparo de sua poção, percebeu que ela olhou em sua direção rapidamente. Seu olhar cruzou com o dela por um milésimo de segundo antes que ela voltasse novamente para seu caldeirão. 

“Standish... Onde foi que ouvi esse sobrenome antes?”, ele tentou puxar em sua memória, mas não obteve sucesso. Vendo que já havia perdido tempo demais, se voltou para o seu caldeirão para ver se sua poção já estava na cor adequada.

(...)

Pansy exibia seu vestido pela décima vez. Não sabia onde estava com a cabeça quando resolveu convidá-la para irem juntos, se arrependia amargamente. 

— O que achou do meu vestido, Draco? – Ela perguntou, desesperada por sua atenção.

— Já disse que está bom, Pansy. – Ele respondeu sem paciência — Será que podemos ir de uma vez?

 — Sim, vamos. – Concordou prontamente — Estou louca pra ver a roupa que as outras vão usar. Tenho certeza que a Granger vai estar ridícula.

— Não vai estar diferente do que ela é todo o dia. – Disse Blásio em zombaria.

A verdade é que o loiro não estava nem um pouco interessado em ir àquele baile idiota. Sabia que jamais seria melhor do que as festas que seus pais davam na Mansão Malfoy durante suas férias. 

Chegaram ao grande salão e ele vasculhou o local rapidamente. Sempre fazia isso quando chegava a algum lugar com muitas pessoas, gostava de reconhecer os rostos. Enquanto olhava para as pessoas, algo chamou sua atenção. Standish usava um vestido verde sonserínico, o que lhe pareceu engraçado, uma vez que sabia que a morena era Grifinória.

Draco cruzou os braços e parou por alguns instantes para avaliar a garota. O vestido que usava batia em seus joelhos, o que deixava parte de suas pernas à mostra. O laço do vestido marcava sua cintura e revelava um pouco de suas curvas. Seu cabelo, que agora ele percebia que batia na altura dos ombros, estava solto e ornado com uma tiara de brilhantes. Usava pouca maquiagem e ria abertamente para o rapaz que estava ao seu lado.

— O que você está olhando aí? – Perguntou Blásio curioso.

— Apenas apreciando a vista. – Draco respondeu simplesmente — Não vou aguentar ouvir Pansy sobre o vestido dela mais uma vez.

— E já encontrou algo do seu agrado? – Perguntou maliciosamente.

— Sempre. – Disse Draco com um sorriso torto nos lábios. Ainda não desviara o olhar da morena que conversava absortamente com o moreno de óculos.

O loiro fez um pequeno gesto com a cabeça para mostrar a Blásio a garota que apreciava com tanto gosto. No momento em que entendeu de quem se tratava, o amigo soltou uma risadinha pelo nariz.

— Aquela ali é Sarah Standish. – Disse Blásio em voz baixa, afinal, Pansy faria um escândalo se soubesse que Draco observava outras garotas — Ela é mestiça. – Completou rapidamente.

— Ora, Blásio... – Começou Draco sorrindo maliciosamente — Você sabe muito bem como me sinto em relação às mestiças. – Comentou — Qual o problema em me divertir com elas? Meu pai mesmo disse que fazia a mesma coisa enquanto estudava aqui.

— Se você diz... – Disse o amigo incerto — Boa sorte em tirá-la de perto do Walsh.

— Quem é Walsh? – Indagou Draco curioso. Havia escolhido seu alvo, queria ter todas as informações possíveis sobre Sarah Standish.

— Adam Walsh, aquele menino de óculos do lado dela. – Apontou Blásio.

— Nunca o vi nas aulas com a Grifinória. – Recordou Draco.

— Ele é da Lufa-Lufa. – Respondeu o rapaz — Está no quinto ano agora. Os dois não se desgrudam nunca.

— É namorado dela? – Perguntou o loiro levemente interessado. Não que um namorado fosse problema, já havia ficado com meninas comprometidas antes, mas precisava de dados.

— Até onde sei são apenas amigos... – Comentou Blásio incerto — Mas nunca se sabe até que ponto a amizade deles é colorida como a sua com a Pansy.

— Você é um grande fofoqueiro, já disse isso antes? – Perguntou Draco com leve desprezo.

— Culpe Emília. – Disse Blásio — Ela sabe de praticamente tudo que acontece nessa escola. – Ele reforçou — Mas você sempre se beneficia com minhas informações, não seja hipócrita, Malfoy.

Draco olhou de soslaio para o colega, sabia que Zabini falava a verdade. Sempre que escolhia um alvo, perguntava o que o amigo sabia e os resultados sempre eram positivos.

— E o que mais você tem pra me dizer sobre ela? – Retomou Draco.

— Ela é sobrinha neta da professora McGonagall. – Contou Zabini — E mesmo sendo da Grifinória, não anda com as pessoas da casa, prefere andar com os Lufanos.

— Seria um desperdício se toda essa belezinha fosse uma completa retardada como a Alícia Walker... – Disse Draco pensativo — A garota nem sabia beijar direito.

— Quanto a isso eu não sei, mas quem sabe pode ser sua primeira Grifinória... – Sugeriu Zabini analisando Sarah de cima a baixo.

— Seria interessante. – Disse Draco sinceramente — Estou querendo uma tem um tempo, mas elas parecem ser extremamente difíceis.

— Talvez porque sejam da mesma casa do Potter. – Disse Blásio cuspindo as palavras.

— Santo Potter. – Disse Draco com desprezo enquanto acompanhava Sarah com o olhar — Só espero que as Grifinórias sejam melhores do que essas francesas.

Draco analisava os passos de Sarah com atenção. A morena dançava descontraidamente com Adam Walsh, que o loiro concluiu ser apenas um amigo uma vez que já estavam dançando há meia hora e não haviam trocado um beijo sequer.

Depois de muita insistência, Draco tirou Pansy pra dançar. Posicionaram-se bem ao lado de Sarah e Adam e o loiro aproveitou para observar a morena mais de perto, percebeu que ela era realmente bonita. Já pensava em uma forma de dispensar Pansy quando percebeu que mais alguém havia se aproximado do casal de amigos ao seu lado.

— Adam, você se importa se eu dançar com a Sarah um pouco? – Perguntou Simas, que Draco pôde perceber, estava mais vermelho do que a gravata que usava.

— Problema nenhum. – Respondeu o rapaz ajeitando os óculos — Vou descansar um pouco.

O tempo passava e Draco tentava ouvir um pouco da conversa entre Sarah e Simas que já dançavam há bastante tempo, mas Pansy não parava de tagarelar em seu ouvido, o que o deixava extremamente irritado.

— Pansy, quer, por favor, calar a boca por um minuto? – Perguntou no momento em que escutou Sarah gargalhar de algo que Simas falara em seu ouvido.

“Se ela consegue rir das asneiras que Finnigan fala, talvez não seja tão interessante assim”, pensou o loiro com desdém. Olhou de soslaio no momento em que Simas beijou os lábios da morena e sentiu uma leve ânsia. “Que desperdício de mulher”, ele pensou com frustração no mesmo momento em que se separou de Pansy para sair da pista de dança.

Enquanto pegava uma bebida percebeu que uma das alunas de Beauxbatons com quem já havia trocado beijos mais intensos o observava com atenção. “Até que ela não é de se jogar fora”, pensou ele lançando um sorriso torto para a loira que foi em sua direção. Aproveitaria a noite de outras formas, afinal, aquele baile estava parado demais para Draco Malfoy.