Capítulo 28

Na manhã seguinte tento o máximo que posso me manter distante de Levilian, e ele, percebendo a minha intenção não tenta em momento algum do dia se aproximar de mim. Não sei se é melhor assim, mas ele respeita o meu espaço e dessa forma nenhum de nós dois conversa por um bom tempo.

Todos os criados retornam, Levilian passa o dia todo na biblioteca da casa. Caminho até lá em algum momento, acabo sem pensar caminhando involuntariamente até lá, só me dou conta do fato quando já estou na porta.

 Levilian não dirige o olhar a mim, continua a olhar para o livro preto que tem em mãos.

- O que está lendo? – eu pergunto.

Ele olha pra mim por cima do livro.

- A Bíblia. – ele responde.

- Nunca li a Bíblia, na verdade...

- O que você quer? – ele interrompe.

- Eu não sei... – digo após um momento de silêncio.

- Não é algo muito específico. – ele diz.

O que eu podia esperar dele afinal? Ele já havia me dito que era um assassino... Mesmo que ver seja diferente...

- Por que ela pegou fogo...? – eu perguntei.

A pergunta veio instantaneamente, não consegui evitar em perguntar... Simplesmente saiu garganta a fora...

- Os elementares, quando mortos, se desfazem em seus próprios elementos. Ela, elemental do fogo, se desfez em fogo, da mesma forma como quando foi criada.

- Ah... – eu digo, desviando meu olhar do de Liv, estava começando a congelar minha alma por dentro.

- Ouça, se não quer ficar aqui eu não vou forçá-la a nada, eu não quero nem peço por desculpas.

- Mas...

- Eu sei que você está se sentindo culpada, acha que está me julgando, e que não tem esse direito.

- É... – como ele sabia?

- Não se preocupe com isso, ocupe-se em prestar atenção a não ser morta, certo?

- Certo... – eu digo.

Naquela mesma noite, continua muito escuro, mas hoje tem algo errado, Levilian está muito inquieto, ele parece estar preocupado com alguma coisa.

- O que foi? – eu pergunto.

- Nada... Só uma palpite ruim... Não saia da casa hoje. – ele diz.

- Está bem. – eu digo.

Mais tarde, vejo Levilian deixar a casa em direção ao jardim com um olhar preocupado.

Vejo algo se movimentar ao longe, entre as árvores, ele ou ela tem algo pontiagudo nas mãos, saio e berro pra Levilian que está de costas.

- Liv! Olhe pra trás!

Um ponto luminoso corta o ar, mas não vai na direção de Liv, mas sim na minha, fecho os meus olhos e aguardo o pior.

Levilian dispara na minha direção, empurrando-me contra a parede da casa. Bato com força contra a porta da frente. O ponto luminoso atinge Levilian no peito, abrindo um largo e profundo corte, ele cai de joelhos, pressionando o corte com a mão esquerda.

- LEVILIAN! – eu berro no meio do jardim.

Corro até ele ajoelhando ao seu lado, ele respira com dificuldade.

Duas pessoas surgem por entre as árvores, uma delas... É Nine...

- Olá sanguessuga do meu irmão. – ele ri.

Levilian está perdendo muito sangue, seguro ele junto ao peito, ele está gelado e trêmulo.

Uma das empregadas surge no jardim, postando-se entre mim, Nine e o outro rapaz. Pouco depois os outros deixam a casa, pulando pela janela do andar superior e pela porta da frente.

- Devo pedir que se retirem. – Madeline diz.

- E quem vai me obrigar? – Nine pergunta.

Os criados arrancam pilares de gelo do chão, criando uma parede entre mim e eles.

- Mestiço maldito... – Madeline diz.

Puxo meu celular, trêmula, com Liv sangrando nas minhas pernas, com os empregados, Nine e o outro cara brigando na parede de gelo a frente.

- [Alô? Lizie? O que foi?] – Alessa diz, num tom preocupado.

- Alessa! Liv está morrendo! Seu irmão está aqui! Estão tentado incendiar a casa! O que eu faço?! – berro em prantos ao telefone.