Amanheceu, PRIMAVERA escrita por Bubuh 2008
Depois daquele ano, nunca mais nos vimos. A última notícia que tive dela foi através de uma carta. A confusão criou vida em minha mente e coração.
“Não pensei que fosse tão difícil escrever essa carta. Mas tem que ser assim. Poncho, é melhor não nos vermos mais. É melhor deixarmos tudo o que aconteceu entre nós em uma linda lembrança, como a mais preciosa de todas. Eu andei pensando e está complicado seguir com esse sentimento. Parece que nunca me irei sentir completa, sempre falta um pedaço de mim. E esse pedaço é você!
Como você não pode voltar pra cá e eu não poderei ir a Liubliana para sempre, eu deixo o seu caminho livre pra felicidade aí. O Mai é uma pessoa maravilhosa! Ficaria muito feliz em saber que vocês estão juntos. Serei sempre sua amiga e você morará sempre em meu coração. Você estará sempre em minha vida. Amo você!”
Preciso dizer o quanto essa carta cortou meu coração?
Corri para os braços de Mai. Não do jeito que a loira queria. Mas do jeito que um amigo machucado necessita. Eu só tinha a ela pra recorrer naquele lugar. Meu pai nunca me ouvira, nunca me deu atenção. Ainda mais quando sua ruiva estava grávida. Oscar tinha um novo filho para paparicar.
Eu desabafei com Mai e ela me aconselhou, conversou comigo.
—Poncho, eu não a conheço minha vida inteira. Mas do que a conheço falo que essa carta está salgada pra ser dela.
—Será?
—Você está machucado por essas palavras!
—Também achei que ela jamais escreveria isso. Ainda mais pra mim, depois das coisas lindas que aconteceram entre nós.
—Calma, Poncho! Ligue pra ela e tire suas conclusões depois que conversarem.
Foi o que fiz quando cheguei ao meu quarto. Liguei mas só deu ocupado. E foi assim que permaneceu nos dias seguintes. E a minha anestesia foi esquecê-la.
“Another day has gone
I’m still all alone
How could this be?
You’re not here with me
You never said good-bye
Someone tell me, why?
Did you have to go?
And leave my world so cold?
Everyday I sit and ask myself
How did love slip away?
Something whispers in my ear and says:
That you are not alone
I am here with you
Though you’re far away
I am here to stay
You are not alone
I am here with you
Though we’re far apart
You’re always in my heart
I thought I heard you cry
Asking me to come
And hold you in my arms
I can hear your prayers
Your burdens I will bear
But first I need your hand
Then forever can begin
Oh…whisper three words and I’ll come running
Fly…and girl you know that I’ll be there
I’ll be there…”
Os anos foram passando, mas jamais deixei de esquecê-la. Talvez por que a cada dia cri que uma carta ou uma ligação eu receberia e todos os enganos seriam esquecidos. Mas isso nunca aconteceu.
Mergulhei no trabalho como refúgio, como terapia tentando levar minha vida ao normal. Tudo em vão. Não sei como Maite me suportara durante todos esses anos. Acompanhado de minha frustração, de minha angústia.
Mas a vida foi generosa com ela. Além de cuidar da livraria do pai, ela se casou com Ucker Uckermann! O pasteleiro mais conhecido de Liubliana. Famoso por seus pastéis doces e salgados. Coisas finas da nossa terra brasileira. Eles tiveram dois filhos lindos e colocaram neles o meu nome e o da galega. Uma linda homenagem! Aquelas crianças serão muito felizes.
Estava tudo estranhamente normal na minha vida até na semana passada. Eu seguia a minha rotina imperfeita até um anjo ruivo chegar ao meu quarto.
—Poncho!-a ruiva se encostou na porta.
—Me chame de Alfonso, por favor. Não é cabível intimidade entre nós. -a ignorei como de costume.
—Eu quero falar com você!-senti sua mão apertar meu braço mas dei um jeito de afastá-la.
—Fale rápido, por favor! Estou indo para o trabalho. -terminei de me pentear e coloquei meu blazer.
—Tentarei ser direta!-ela se aproximou de mim e acariciou meu rosto. -Eu não amo o seu pai!
—Disso eu já sabia! Mas não tenho nada a ver com isso! Então, adeus!-fui em direção a porta mas ela me segurou.
—Espere, por favor! Eu preciso falar! Não aguento mais isso!
—Estou a ouvidos. -agora era eu quem me encostara-se à porta.
—Eu te amo, Alfonso. Não consigo mais ficar perto de você sem poder te tocar. Sem poder te beijar, te abraçar, sentir o seu perfume junto ao meu. -a ruiva me abraçou.
—Para com isso, mulher! Está maluca? Não posso acreditar no que estou ouvindo. –dei meia volta e me sentei em minha cama.
—Eu queria amar o Oscar mas não consigo. Você invadiu meu coração e não há mais espaço nele nem mesmo pra mim.
—Você é uma ótima atriz, Anahí. Deixou-me comovido com suas palavras. Deve ser por isso que ganhou o Oscar!-ri dela.
—Não deboche dos meus sentimentos.
—E a filha de vocês?-a encarei.
—Não é dele!
—Era pra eu me assustar?-olhei para o alto procurando compreensão.
—Ele sabe! Essa foi a razão de termos nos casado. Ele estava com muita pena de mim.
—Oscar com pena de alguém? Conte-me outra!-me levantei rindo ironicamente.
—Seu pai é um homem maravilhoso! É o pai que nunca tive.
—Bem vinda ao clube! Ele também é o pai que eu nunca tive. Talvez porque ele tenha ligado a vida inteira mais para seu trabalho do que para mim. Acho que nem a minha mãe ele amou. Talvez porque ele queria ter uma filha e não um filho.
—Ele te ama, Alfonso!-ela se aproximou e segurou meu rosto.
—Não consigo acreditar! E a respeito de você, eu não te amo! Não posso te amar… Amo há quinze anos a mesma pessoa!-me irritei com tudo.
—A sua loirinha, não é?!
—Não a chame assim! Só eu posso falar dela desse jeito!-fui até a janela, buscando ar em vão.
—Se você a ama de verdade, o que faz aqui ainda? Por que não está com ela no Brasil?-Anahí tocou em minha ferida.
—Estou fazendo o melhor para nós! Estou me tornando um homem bem sucedido para dar o melhor pra ela. -ela me sacudiu.
—Acorda! O melhor que você tem a dar pra ela é seu amor, Alfonso!
—Você não sabe de nada, Anahí!
—Sei que te amo e que é difícil não ter seu amor! Se você a ama de verdade, não vale a pena ficar aqui.
—Não lutará pelo meu amor?-olhei-a confuso.
—Você já deixou claro que a ama e eu já sabia disso antes de conversar contigo! Só queria desabafar mesmo. Eu quero te ver feliz!-ela me abraçou e pela primeira vez correspondi a um abraço dela.
—Você tem razão! Mas e Oscar?- a encarei.
—Eu cuido dele pra você! Ele ficará feliz em saber que, finalmente, você tomou a atitude certa!
“I’m on my way back to you
And I wanna make it up to you
And all the prolems that I caused you
If ti takes my life I’ll make it up to you
I just want you to take me, take me
Take me, take me, take me, take me
Take me back, forgive me
Take me back where I belong
If you can, if you can find it
In your heart to forgive me.”
Não pensei duas vezes para começar a arrumar minhas malas. Joguei-me ao destino mais uma vez. Passei rapidamente na casa de Maite. Deveria dar satisfação a pessoa que mais me apoiara e queria minha felicidade.
A viagem longa para o Brasil teria recompensa. Isso foi o que pensei em todo o tempo. Tanto que não consegui dormir.
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