CRASH – UMA BATIDA A MAIS escrita por Bubuh 2008


Capítulo 6
Capítulo 6




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—Meu filho! Que saudade! Que bom te ter aqui!

—Mamãe!- ao ver o abraço deles na minha frente, entendi que Poncho não passava por ali há muito tempo.

—Você está tão magrinho! Não tem se alimentado direito, né?

—Como eu poderia pensar em comer com todos esses problemas que me cercavam…

—Você não está sozinho no mundo, Poncho! Seu filho precisa de você e eu também!

—E é por vocês que estou aqui agora. Comoa senhora está? E Felipe?

—Estamos todos bem e cuidando bem dele! Fique tranquilo!

Logo entramos na casa que mais parecia um cenário de novela de época.

—Tudo aqui continua da mesma forma! –Poncho reparou.

—Nem tudo, meu filho. –disse a mãe dele me olhando e rindo timidamente. Poncho notou, coçou a cabeça e logo nos apresentou.

—Mamãe, essa é a Dulce, uma grande amiga.

—Prazer, Dulce! Eu sou Soraya! Seja bem vinda. Essa casa é sua também a partir de hoje.

—MAMÃE, MENOS! –Poncho disse todo envergonhado por mim.

—Quem te faz bem, nos faz bem também, Poncho! Aprenda isso! É por você que estamos aqui. –disse ela enquanto pegava Felipe, que estava brincando no chão da sala, no colo.

—Como vai o garotão do papai? –a criança começou a rir e logo pulou para o colo do pai.-Senti tanto a sua falta, meu amor. –disse dando cheirinhos nele. -Filho, essa é a tia Dulce, amiga do papai.-ri da apresentação que ele fez de mim. “Tia Dulce, eu? Quem diria.”

—Oi, Felipe! Nossa, você é bem parecido com o seu pai, sabia? Só que muito mais lindo do que ele! -caímos todos na risada mas de repente, Poncho ficou sério e passou Felipe pra mim.

—Mamãe, aonde está o Rakso?-Poncho perguntou para Soraya enquanto apertava as mãos, demonstrando nervosismo.

—Não o chame assim, Poncho! Ele é seu pai!- Soraya o advertiu.

—Pai… Sei! Onde ele está?

—No escritório como sempre. Ele ficará muito feliz em te ver!- Poncho ignorando o que sua mãe disse, fez um carinho em Felipe.

—Filho, o papai volta logo! Seja um bom menino pra tia Dulce, ok?- Felipe confirmou com a cabeça.-Dulce, já volto! Fique com ele, por favor.

—Sem problemas! Fique bem!-vi Poncho soltar um grande suspiro e ir ao encontro do pai.

—Gosto não se acha, se sente! Dá pra ver em seus olhos a admiração, o carinho, o amor que sente por ele.-“eu não sabia que meus olhos têm espelhos.”. Dei meia volta e ouvi Soraya desabafar. -Meu filho já sofreu tanto nessa vida… A mulher dele morreu quando Felipe nasceu. E depois foi preso por uma coisa que ele não fez.

—Como você sabia que não tinha sido ele?

—Poncho saiu daqui.-ela passou a mão em seu ventre. -Eu o criei. Coloco minha mão no fogo por ele e minha vida na cruz!-me emocionei ouvindo suas palavras.-Você entenderá quando for mãe! -me emocionei com Felipe em meu colo quase caindo no sono.

—Que lindo!-“Quando eu crescer quero ser como você!”.

Uns gritos começaram a sair de onde Poncho e Rakso estavam. Resumi a história pra “sogrinha” que nem se abalou ao saber da verdade.

—Eu já sabia que Rakso me traía.-ela limpou uma lágrima que caiu rapidamente. -E foi ótimo isso tudo ter acontecido.

—Foi?-perguntei confusa.

—Agora posso viver em paz, livre! Já não o amo como homem!-ela sorriu meio tímida. -Dulce, obrigada por tudo!

Um homem alto, meio calvo, barrigudo veio até nós com a cara mais serena do mundo. Enquanto se aproximava de nós, ele apontou o dedo para mim. Deu mais um passo e escorregou no tapete, caindo com o traseiro no chão. Soraya sacudiu a cabeça em sinal de reprovação, me fazendo rir com Felipe no colo.

—Foi você?-ele disse se recuperando do tombo.

—Eu?! Foi o tapete quem te derrubou!-ri.

—Eu já te falei mais de mil vezes, Rakso! Esse tapete escorrega e você insiste em passar por ele. Depois fica reclamando do bico de papagaio!-ele se levantou.

—Foi você quem descobriu um segredo que guardo há mais de 30 anos!

—Mais de 30? Poncho e Guido só têm 28 anos!-Soraya interferiu. -Você me traiu bem antes do nosso filho nascer?

—Oops! Falei demais…-ele passou as mãos pelos poucos fios de cabelo que ainda tinha. -Estou indo á delegacia… Não posso deixar meu filho lá!

—Vai tirar Guido de lá? Ele quase matou o MEU filho! Matou de desgosto, depressão…

—Olha, Soraya, Poncho é um homem forte! Ele foi criado por você! Nunca conheci uma mulher tão guerreira, sábia e decidida como você! Eu te traí e não tenho como voltar atrás. Naquela época eu era um imaturo mas não ia mandar matar o bebê, né?!

—Como você é compreensível, Rakso!-ela disse misturando ironia e coerência.- Vai lá, tente livrar o seu filho dessa encrenca!

—Ah, sabia que você ia me entender!-ele sorriu.

—E depois, quando voltar… Tire as suas coisas da MINHA CASA!-“Toma-teee, hihi”

—Soraya, essa casa é nossa!-ele disse perdido.

—Não, não! Ela é minha! Eu sabia que seus esquecimentos crônicos um dia me seria útil!

—Putz… A gente casou com separação total de bens, né?!

—Uhum!

—Isso porque eu sempre te amei! Isso prova que nunca estive atrás do seu dinheiro!

—Um amor sem fidelidade e cheio de mentiras! -ela abaixou a cabeça. -Vá logo salvar o seu filho!

—Eu te amo, Sô! Nunca se esqueça disso!-ele saiu andando de ré, batendo a cabeça na parede. -Aiiii, essa casa é assassina!

—Ele é único!-ela coçou a cabeça e riu. Ela ainda amava Rakso.

Batidas estressadas invadiram nossos ouvidos nos tirando do transe momentâneo! Soraya foi ao encontro do filho levando Felipe e fiquei na sala, sozinha, olhando tudo a minha volta.

Fotos de Soraya e Rakso em um lado e de Poncho do outro. Sorrisos e sorrisos. Rakso se mostrava sereno, tranqüilo e feliz ao lado da família. Nenhuma ponta de malícia, infidelidade, traição.

“Homens! Por que são tão mascarados e calculistas? RUN”

Uma foto se destacou pra mim. Era a única sem sorrisos mas era a mais linda.

Poncho com uma cara meio emburrada. Provavelmente era uma daquelas famosas fotos pagas de escola em que ninguém quer sair mal e acaba saindo horrível. Pela cara que fazia, não queria estar ali de jeito algum.

 -Quer ter pesadelos, menina?-ele colocou a mão em meu ombro.

—Hm?!- me fiz de desentendida.

—Pára de ver essas coisas!-ri da careta que ele exibia “ao vivo”.

—Cadê, Felipe?

—Está com minha mãe! Venha comigo! -ele me puxou pela mão.

Acompanhei seus passos, que nos levaram pra fora da mansão, a um jardim com o chão coberto de folhas secas. Folhas lindas e raras. Toquei-as com esperança de ser mais uma ilusão, mais uma fantasia da minha cabeça. Só que elas ainda existiam.

Ali no meio do colorido havia um banco branco, não muito grande, no qual Poncho me fez sentar.

Seus olhos me hipnotizaram e já não me importavam o jardim, a casa, as folhas secas… Só ele!

Poncho permaneceu calado e me encarando.

—Você é um príncipe?-ele riu.

—Filho de um rei traíra? Prefiro não ser!-ele jogou sua cabeça pra trás e admirou o céu.

—Não fique assim! Tudo vai melhorar e olha, você já está com o seu filho!

—Verdade! Eu já te agradeci por isso?-disse voltando a me olhar.

—Pára! Se você me agradecer mais uma vez, eu vou te dar um soco!-ele riu de novo.

—Haha… Como você descobriu que era o Guido?

—Intuição feminina!

—Acredito! Você faz o que da vida, Dul?

—Sou uma estudante universitária que nas horas vagas aterroriza o instrutor da auto escola.-agora era eu quem olhava para o céu.

—Aterroriza? Por quê?-sentia seus olhos me focando e cada vez mais eu queria penetrar naquele céu.

—Eu não sei dirigir! Bom, na verdade o meu instrutor acha que eu não sei dirigir…

—kkkkkkkkkkk! Sei como é!-o olhei com uma das sobrancelhas erguidas. -Eles são meio terroristas… -ele pegou minha mão. -Dul, você só tem que confiar no que sabe, confiar em si! Nessa menina que tem o poder de mudar e renovar!-ele estava tão sereno, me passando calma.

—E você?-mordi meus lábios. -Acredita que eu possa te mudar e renovar?

—Eu? Kkkkkkk Não! -seu silêncio tomou conta da nossa conversa. Encostei minha cabeça em seu ombro e ao céu voltei a admirar. Ele aninhou sua cabeça a minha, me abraçou e eu cantei baixinho uma de minhas músicas preferidas, Déjame Ser.

—Duuulce… Que linda!-ele ficou a acariciar meu rosto, meus lábios. Fechei os meus olhos e ele riu. -Duuul, está anoitecendo! Vamos voltar pra cidade!-concordei com ele.

Entramos na mansão de novo pra nos despedir de Soraya e Felipe.

—Mamãe, depois eu volto pra levar Felipe pra minha casa!-ele a abraçou.

—Ah, filho! Vou sentir muito se essa casa ficar vazia de repente!

—Rakso voltará!-Poncho deu um beijo na testa da mãe.

—Dulce, cuide do meu menino pra mim!-disse Soraya quando já estávamos na porta. Poncho ergueu uma das sobrancelhas pra mãe e eu ri.

Ao passarmos pela garagem, Poncho disse que voltaríamos de carro.

—Leve o carro pra mim?-ele fez uma cara de cachorro sem dono.

—Você está maluco?-perguntei achando que saberia a resposta.

—Eu confio em você! “Uaaaaaaaaauuu”

—E se alguém parar o carro?!-perguntei confusa.

—Ninguém vai pará-lo!-ele pegou as chaves do carro e as colocou em minha mão.

Com a confiança de nós dois, levei o carro de volta e o parei na frente da casa da minha avó. Saldos negativos?! Nenhum, pelo menos antes de ter puxado o freio de mão.

—Está entregue!-Poncho riu, tirando o cinto de segurança de mim.

—Hahaha… Quando nos veremos outra vez?-perguntei.

—Não terá uma “outra vez”! Não sou homem pra você!-ele dizia seco olhando para o porta-luvas.

—Poncho, qual é o seu problema?-me estressei. -Poxa, até uns minutos atrás, você estava bobo, feliz como nunca havia te visto. Fiquei feliz em te ver assim!

—Ain, garota! Tu é muito teimosa!

—Você está fugindo do quê?-o encarei e ele virou o rosto.

—Por favor, me esqueça, Dulce! Vá viver a sua vida e ser feliz!-saí do carro e bati a porta com força. Logo, me apoiei na janela e o olhei com raiva.-Eu não posso ser feliz sem você! -“O que estou fazendo?” -Eu te..

—Não fale isso! SAI DAQUI, VÁ EMBORA!-ele disse nervoso e saí correndo.

Depois desse ocorrido, voltei pra minha cidade e desde então não vi mais Poncho, nem notícias tive dele.


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