Na Sua Pele escrita por Hermione Cullen


Capítulo 4
Capítulo 4




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POV Débora

Depois que Lucas perguntou um milhão de vezes porque eu chorava, e eu o ignorei, resolvi me recompor por alguns segundos. O ônibus estava prestes a parar. E eu ia ter que vê-la. Não poderia fugir. Talvez até visse os dois juntos. O que era pior, mil vezes pior.

Eu já tinha sofrido demais por um dia.

Simplesmente porque o garoto que eu amava, amava a minha melhor
amiga.

E isso doía demais.

Mas o que eu faria?

Sairia berrando com a Belle? Isso não ajudaria em nada. Pelo contrário, sem mim, ela ficaria mais tempo com ele, e ainda não entenderia o porque. Mas eu não conseguia mas me enxergar a tratando bem. Tudo o que eu queria é que ela sofresse. A garota mais sortuda do mundo.  O que eu faria?

Mas o ônibus já havia chegado, e pousado em frente ao colégio.

Quando freou, diversos alunos se precipitaram e já corriam para saída. Meu primeiro objetivo era fazer Lucas largar do meu pé.

—Lucas, eu vou no banheiro, então, por favor, não me siga. – Começei.

—Mas eu posso te esperar.

Suspirei.

—Não, obrigada. – Disse amargamente. – Quanto tempo vai demorar para perceber que eu não preciso de você? – Tentei dizer isso da melhor forma. Mas é claro que ele se magoou. ARGH. Como eu podia
ser tão estúpida e idiota? O garoto gostava de mim, e era do segundo ano. !!! Mas eu não agüentava mais ficar perto dele. Estava me deixando louca, escutar fofinha a cada cinco segundos. – Ah qual é? –
Murmurei para cara de depressão dele. – Somos amigos.

O humor não parecia ter melhorado. Ele ainda estava triste.
ÓTIMO. ¬¬

—A gente se vê. – Foram minhas últimas palavras. Saí do ônibus sem olhar para trás. Olhar para aquela cara de cachorro sem dono não iria me ajudar.

Quando desci do ônibus, olhei para os lados, em busca de algum vestígio dela.

Não havia nada.

Dei um suspiro de alívio.

Comecei a andar, entrando no prédio.

Eu iria ao banheiro, e depois embora, direto pra casa. Depois eu faria algo.

Quando saí do banheiro, as mãos levemente úmidas, percebi que meus pensamentos estavam congelados. Eu sentia ódio, repulsa e tristeza.

Mas era como se eu tentasse deixar esses sentimentos num canto
reservado e estivesse usando a parte automática do meu cérebro para as outras coisas.


Saí do banheiro sem me preocupar, ela não devia ter chegado ainda.

Só que quando coloquei o pé para fora, a primeira pessoa que eu vi, foi uma garota linda, mexendo no BlackBerry, a propósito, ela.
Fiquei imóvel. Meu cérebro começou a trabalhar com a parte de ódio.

Meu lábio começou a tremer apontando o meu nervosismo.

Até que ela me viu, ali, parada como uma monga. Ela abriu um sorriso
tão lindo, que daria vontade de apertar suas bochechas rosadas.

—Aí esta você! – exclamou ela com entusiasmo, saltitando em minha direção, os cabelos presos num rabo de cavalo regular com um presilha faiscante.

Não me mexi. Tinha medo de que se me mexesse começasse a socá-la.
Algumas imagens voltaram com fervor a minha cabeça. Aquela não era a minha amiga Annabelle. Era a cadela que estava com o meu garoto.

—Oi, Débss! – Disse ela feliz. Me deu um abraço. Mas eu fiquei parada, recebendo o toque da pele macia, a pele que o meu garoto gostava de tocar. Meu rosto não expressava emoção alguma, mas era uma mascara para o ódio. –Como você tá? – Perguntou ela, me olhando. Mas não esperou uma resposta. Ainda bem, porque não viria. –Aiii, me desculpa. Sériooo. Eu juro que queria ir com você, mas sabe como é. Eu tinha esquecido. – Ela deu um risinho. – Débs, você precisa conhecer o Dani...Já ouviu falar nele? Perae, DANIII! – Berrou ela, precipitada. Não esperou eu falar nada. E logo ela estava chamando, alguém, que eu não tinha reparado (meu choque ao ver Annabelle), estava à apenas alguns metros da gente, conversando com seu melhor amigo. Quando a voz meiga dela, mesmo em gritos, o chamou ele se virou. Pude sentir meu coração palpitar mais forte quando ele sorriu para Belle, enquanto terminava de falar com Léo.

Ele estava tão lindo. Lindo, lindo, lindo. O cabelo, que antes ficava oculto por um boné, estava à mostra, despenteado e despojado, que deixava ainda mais perfeito o seu rosto com feições sempre sedutoras e seus olhos castanhos que brilhavam ao sol. Estava SEM o agasalho, só com a camiseta branca do colégio. Não existia, simplesmente não existia, garoto mais lindo.

Ele começou a andar em minha direção, ou melhor, na direção de Belle, sorrindo maravilhosamente. Quando olhava para ele, mal dava para sentir ódio da minha melhor amiga. Era como odiar diante de um Deus.

Meus pensamentos fugiam à cabeça.

Mas quando ele chegou bem perto, meus olhos analisando cada centímetro dele, suas mãos agarraram Annabelle pela cintura, e senti os olhos dela cintilarem para ele.

Quando ouvi a voz dela, foi como um baque.

Os detalhes se encaixaram novamente. Belle namorava o Dani. Eles estavam juntos, juntos. Eu não tinha a menor chance. Ele devia me achar patética e eles estavam felizes juntos.

Quem eu era?

—Dani, essa é a Débora, minha amiga. – Apresentou ela, como se também respondesse à minha questão anterior.

Quando ele sorriu, dessa vez para mim, o ódio que me tomava, deixou de ser tão violento por dois segundos.

—Oi, Débora. – Falou ele num timbre rouco. A voz dele era tão viciante que eu poderia escutar milhões de vezes aquele cumprimento sem me cansar.

Ele estava falando comigo! AAAAAAAAAAAAH!!!!

Mas... Porque Annabelle pediu.

Então, quando me dei por mim, lembrei que eles esperavam a minha
resposta. Mas eu não conseguia.

Fitei a mão dele a envolvendo.

Aquilo foi suficiente para marcar que me coração estava como pó. Não havia o que fazer.

Então aconteceu. Eu saí correndo feito uma louca, deixando os dois para trás, e me dirigindo a saída. Não havia quem visse que não me achasse retardada. Mas não importava, eu tinha que sair dali antes que acabasse vomitando de tão mal que eu estava.
 
Eu corria como jamais corri.

POV Annabelle

—O que ela tem? – Perguntou Dani olhando para o vulto da minha amiga que desaparecia no meio da multidão.

—Eu...Eu não sei. – Eu realmente estava chocada com a reação da Débs. Não sabia explicar.

—Hmmm... – Ele passou as mãos no cabelo confusamente. – Ela não gostou de mim? – Arriscou ele.

Mas aquilo era impossível. O que ele tinha feito?

—N-não. Não é isso. Ela não tem facilidade para lidar com pessoas.

—Ann...

—Desculpa. –Falei confusamente.

—NAAADA. Quer ir atrás dela? Ela REALMENTE não parecia bem, ela olhava para gente como se fosse desmaiar sei lá...

—Não, acho que depois eu falo com ela.

—Nossa...

—Foi muito ruim mesmo.., O que será que deu nela?

—Ela viu alguém... ?

—Acho que não...

—Belle, se quiser ir atrás dela, não precisa ficar por minha causa...

—Ah, que é isso Dani. Eu não perderia um segundo sem você.
Necessito ficar ao seu lado. – Disse para ele, com uma voz imensamente apaixonada.  

—Oww...Nesse caso...- Ele me puxou para os seus braços fortes, me levantou e girou. Eu sorri. Nos beijamos uma vez. E todo o incidente já parecia ter sido superado...Depois eu resolveria aquilo. Me sentia culpada é claro. Mas como poderia ficar preocupada com ele ao meu lado, me distraindo?

Impossível.

 

x-x

 

 

POV Débora

Eu apertava o botão de off antes mesmo de chamar pela segunda vez, a droga do meu telefone celular. A foto dela com seu sorriso de covinhas deixavam-me com mais raiva que o normal, e só não jogava o celular na parede, porque depois me arrependeria enquanto estivesse catando os seus pedacinhos. Ignorar Annabelle no final de semana estava se tornando uma tarefa difícil. Ela lotou a minha caixa de e-mails, com coisas do tipo “ Débs, me desculpa. Eu sei que fui muito grossa, se me der uma chance de consertar tudo, eu..Bom, estou com saudades. Beijos, Belle.” > como se esse discursinho tosco fosse suficiente para tudo o que ela fez. É claro que ela não sabe direito porque eu estou assim, mas não importa. Só o fato dela existir já é suficiente. Ela também me ligava a cada dois segundos, mesmo eu sempre ignorando as ligações. Ela até mandou uma carta pelo correio normal, mas eu nem me dei ao trabalho de ler. Peguei um isqueiro e queimei o papel com gosto. Eu sabia que dali duas horas, eu não conseguia dormir, então ficava pensando no tempo que me restava até ir a escola, eu a veria. Eu não sabia qual seria a minha reação. Bom, eu não poderia sair correndo de novo que nem uma retardada, só porque o meu..., porque o Dani estaria envolvendo-a com desejo. Ele ia me achar patética. Bom, isso ele já acha sem sombra de dúvidas. Mas a Annabelle ainda me encheria o saco, e eu tinha que dar um basta. Eu não suportava mais ela. Não queria vê-la nunca mais, embora soubesse que isso era impossível. Mas ela era o motivo de todo o meu sofrimento... Se tornou tão importante para mim, mas depois me traiu, me atirou aos leões famintos. Estraçalhou meu coração com um ato inocente, mas imperdoável. Eu teria que dar um ponto final na nossa relação de melhores amigas. Eu não poderia suportar mais um segundo fitando-a com ele. Ah, ele. Eu bem que poderia dizer que tudo isso é culpa dele. Mas não é. Ele não tem culpa de ser tão irresistível e perfeito que me fez ficar apaixonada, e nem tem culpa de gostar da desgraçada da Annabelle. As vezes, eu sei que a culpada sou eu. Eu nunca falei nada para Belle sobre o Dani. Mas de qualquer jeito, volto a repetir, por mais inocente que tenha sido, é imperdoável. Uma lágrima escorreu perversa pelo meu rosto. Droga, eu odeio chorar. Eu odeio ser eu.

POV Annabelle

Enquanto estava na Mercedes, a caminho da escola, eu estava pensando. O que de tão ruim eu poderia ter feito, para minha melhor amiga, não querer nem saber de mim... Certo, eu não havia a acompanhado no ônibus, mas....Sem sombra de dúvidas isso não perturbaria tanto ela. O Dani? Mas o que tinha de mal eu estar com ele? Eu não via como aquilo poderia afetá-la.

Quando ultrapassei os portões, e estava indo direto para minha sala, enrolando os meus cabelos louros nos dedos, e ajeitando a minha jaqueta jeans, reparei que Débs ainda não tinha chegado, mas existia uma surpresa agradável. Ele estava ali sorrindo perfeitamente para mim.

Não existia melhor forma de se começar um dia.

—Oi. – Comecei, roubando-lhe um beijinho.

—Oi, meu amor. – Retribui ele. – Como é que você está?

Pisquei algumas vezes, e fiz cara de pensativa.

—Hmmm...melhor agora. – Ele sorriu.

—Fez alguma coisa com o cabelo?

—Não.

—Hm... É claro, ele já é lindo assim por natureza.

—Ah, para com isso.

—Só to falando a verdade.

—A verdade, é que o que é lindo aqui é você.

Ele sorriu para mim, e em seguida, entrou comigo na minha classe, segurando as minhas coisas. Ele era tão educado, tão perfeito.

Acomodou as minhas coisas no meu lugar habitual. Mas eu não sabia como ele sabia que eu sentava ali.

—Como é que você sabe que eu sento aqui? – Questionei, franzindo o cenho.

Ele parecia se divertir.

—Andou me espionando é? – Adverti, com uma falsa voz brava.

—Éah, por aew, sempre quando eu passava por aqui sabe...

—OWNN...

Eu estava prestes a agarrá-lo de novo, mas percebi que Bridget e umas garotas não paravam de nos secar, com sorrisos de falso desdém e inveja. Então, incomodada, conduzi Dani para fora da classe, para termos mais privacidade.

—Aqui é melhor. – Afirmei. Em seguida envolvi sua nuca e apliquei um beijo demorado nos seus lábios macios. Então ele me interrompeu.

—Ei, Bell’s... – Chamou ele, com o novo apelido que ele acabara de inventar. – Aquela ali não é a sua amiga...er...estranha? – Disse Dani, apontando para alguém que eu não conseguia ver, já que estava de costas. Virei e então a fitei, ela estava muito diferente. Há uns dez metros de noz, recolhendo os materiais que ela acabara de derrubar, tentou inutilmente desviar o olhar de mim. Os olhos dela estavam contornados com um lápis escuro forte, forte e borrado. Sem dúvida, dando uma aparência medonha na minha meiga Débs. Ela estava parecida com a Morticia da família Adams, e seus olhos evitavam se pousar em mim.

—Dani... – Comecei, virando-me de novo para ele, que parecia assustado ao ver a garota que era a minha melhor amiga. – Eu...Não sei como dizer isso, mas...Acho melhor você ir para sua sala...- Ele franziu o cenho, confuso. – Não é que eu não queira que você fique comigo, meu amor. – Expliquei. – É que sei lá. Parece que ver nós dois juntos, meio, que sei lá, a perturba. – então voltei-me para Débs que terminava de recolher o fichário do chão.

Dani foi compreensivo.

—Tudo bem, então. –Ele falou. – Depois me conta como foi. – em seguida beijou minha testa, e começou a seguir na direção oposta da que Débs estava.

Agora ela ia caminhando devagar até onde eu estava, ainda evitando me secar. De perto ela parecia cada vez mais estranha. Os cabelos estavam cheios e bagunçados e os olhos muito profundos e escuros.

Ela parecia mais magra, como se tivesse parado de comer durante uns dois dias.

Quando ela chegou perto de mim, fez que não me conhecia. E entrou
na sala de aula, ignorando-me completamente.

Fui atrás dela. Muitas outras pessoas, os meninos da nossa sala e Bridget repararam no seu aspecto mortal.

Ela acomodou seus materiais na carteira, puxou a cadeira e se sentou esparramada, ainda fingindo que eu não existia.

—Oi. – Arrisquei, mas ela me ignorou completamente.

O sinal tocou, e eu me sentei no meu lugar de costume, perto do dela.

A Prof. Lúcia, de inglês, adentrou na sala, severa, e mandou todos se sentarem.

Eu não conseguia prestar atenção na aula dela, então, resolvi rabiscar um bilhete para Débs.

“O que aconteceu?”

Mas ela nem chegou a ler o bilhete, quando eu o postei na sua carteira, na verdade, ela o amassou e enfiou embaixo da carteira.

Aquilo de certa forma me afetou, eu queria sacudir a garota, e
perguntar:

“PORQUE VOCÊ ESTÁ ASSIM!!???”

Mas, sem dúvidas isso não ajudaria muito.

Então quando deu o sinal para o intervalo, ela se levantou e saiu da sala. Eu a segui, acompanhando cada passo dela. Ela se sentou em uma das mesinhas do refeitório. E eu também. Muitas garotas davam risadinhas maléficas para nós o que só piorou a situação.

Débora não me olhava e parecia nem perceber a minha presença.

Foi aí que eu explodi.

—DÉBORA, SERÁ QUE DÁ PARA ME EXPLICAR O QUE ACONTECEU? PORQUE VOCÊ NÃO FALA MAIS COMIGO? PORQUE NÃO ATENDE AS MINHAS LIGAÇÕES NEM RESPONDE OS MEUS E-MAILS!? ATÉ UNS DIAS ATRÁS EU ERA SUA MELHOR AMIGA. VOCÊ PODE CONTAR TUDO PARA MIM!! E AGORA, EU ESTOU AQUI COM VOCÊ...

Ela ia me olhando fazendo expressões diversas, então me interrompeu com uma voz, fina e seca.

—Ninguém está te obrigando a ficar. Na verdade seria um favor se você fosse embora.

Aquilo me feriu de uma forma grotesca, olhei-a com um rosto muito confuso. Ela me deixou sem palavras.

—PORQUÊ???!!

—Será que pode parar de gritar que nem uma patricinha mimada, as pessoas estão começando a olhar mais para a gente. E olha que eu não preciso de nenhuma ajuda para que reparem o quanto eu sou
estranha.

Fiquei calada, eu realmente não sabia o que responder. Então voltei a ponto inicial.

—Porquê?

Ela me olhou com desdém.

—Eu não quero mais ser sua amiga, Annabelle. Sinto muito, mas percebi que isso só tem me feito mal, e que você não passa de uma garota mimada que me usa apenas para acentuar a sua beleza que é
a essência da sua vida.

Eu não me conformei com tanta bobagem.

—O QUÊ?

—Você ouviu bem. Não leve para o lado pessoal. Apenas não quero mais ser sua amiga, então, será que pode me deixar em paz. Estou tentando pensar em algumas coisas. – A voz seca e indiferente da garota que eu não reconhecia mais, quase me estraçalhou.
Eu senti os meus olhos se enchendo de lágrimas. Eu não conseguia mais ficar um segundo ali. Então, me levantei e sai, deixando a minha ex-amiga, sozinha com o seu novo e mau comportamento sem explicação.


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