Desabrochar escrita por madwolve


Capítulo 5
A manhã não pode chegar




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O cavaleiro chorou em silêncio por alguns minutos, não se perdoaria jamais por deixar aquele menino maltrapilho morrer assim mas não havia nada que pudesse fazer.

Tinha trancado o jardim, sempre trancava, tinha certeza disso já que lá era onde cultivava suas plantas, fazia seus experimentos, muitas vezes venenosos como quando cobriu as escadarias com o seu mar de rosas, planejava suas aulas de botânica naquele local e vez ou outra tinha crianças correndo pela casa, sempre foi muito cuidadoso com aquele jardim e aquela porta.

Ficou ali com a criança no colo por algum tempo, era o mínimo que podia fazer, dar conforto para aquele pequeno ser que estava morrendo da pior maneira que alguém poderia imaginar e o culpado era Afrodite e apenas Afrodite, ao menos na cabeça dele.

Alguns minutos se passaram, achou que o garoto morreria em menos de dez mas já haviam se passado vinte minutos, ainda respirava com dificuldade, queimava em febre, seu corpo parecia entrar em colapso e não tinha nem forças para protestar contra a dor excruciante que sentia mas estava vivo.

Era um sinal, Afrodite não ia desistir do menino, não agora.

Limpou suas lágrimas com a costa da mão e carregou o menino até o andar de cima, onde ficavam os quartos, abriu a última porta e o colocou na cama, ainda estava vivo, ao menos respirava.

Após sair do quarto ele fechou a porta e encostou sua costas nela para respirar um pouco, estava desolado mas havia feito uma promessa a si mesmo de que se aquele garoto estava lutando tanto para viver ele também iria fazer o máximo por ele.

Correu para o telefone e com esforço, já que suas mãos tremiam, discou alguns números e ficou apreensivo mas só de ouvir aquela voz já trazia um certo conforto, ele havia ligado para Dohko.

— Alô, mestre?

— Afrodite? Acho que os Deuses estão me pregando algum truque, você me ligando?- Ele falava rindo com a voz divertida e despreocupada de sempre mas acabou perdendo o tom quando percebeu o rumo da conversa.

— Eu preciso da sua ajuda, é urgente.-Afrodite não conseguia se controlar aquela altura, já falava entre soluços.

— Como assim, o que aconteceu?

— É complicado, preciso de você aqui, agora, por favor! Eu fiz uma coisa que eu acho que não consigo consertar.

— Certo, estou indo agora.

— Obrigado.

Afrodite desligou o telefone e se permitiu chorar mais um pouco enquanto colocava a cabeça entre os joelhos e abraçava as próprias pernas, este era de longe o pior dia da vida dele mas não ficou assim por muito tempo, poucos minutos após a ligação Dohko já estava na porta dele, nem havia trocado sua roupa “de trabalho” de tanta pressa, e o agora grande mestre, só entendeu a seriedade do problema quando Afrodite abriu a porta, ele estava deplorável.

— Pode me contar o que aconteceu?-Dohko agora colocava a mão no ombro do outro cavaleiro na intenção de acalmá-lo

— Será que podemos nos sentar primeiro?

— É claro meu amigo.

Foi o que fizeram, sentaram no sofá e Afrodite contou toda a história, como havia salvado o garoto, como ele deixava a porta do jardim dos fundos absolutamente trancada e mesmo assim por algum motivo ela havia se aberto, como o garoto ainda não havia morrido pelo menos até a última vez que verificou.

Dohko ouvia tudo aquilo paralisado como uma rocha, não ousava mover um músculo, estava tentando organizar tanta informação em sua cabeça mas logo que Afrodite terminou ele pediu para ver o menino e eles foram.

— Ainda está queimando em febre, mal respira…-Dohko estava sentado a beira da cama com a mão na testa do garoto, observava com preocupação os sinais vitais mas exatamente como o homem que o chamou ali ele estava surpreso pela morte ainda não ter alcançado aquele corpo pequeno e frágil. Afrodite observava a distância com uma das mãos cobrindo o rosto, não conseguia olhar.

— O que podemos fazer para diminuir todo este sofrimento Mestre?

— Eu conheço um medicamento muito antigo, o mais forte, farei tudo o que estiver ao alcance mas não posso garantir que isto irá salvá-lo. O veneno da rosa está se espalhando pelo sangue dele e atacando todo o sistema nervoso neste momento, você sabe disto melhor do que eu.

— Ao menos se fosse uma rosa diabólica real ele poderia morrer sem dor mas o jardim, as plantas e os venenos...ele deve ter quase a mesma idade da Serena e vai morrer em uma dor insuportável, sem um nome, sem nada, como um cão.- Afrodite já estava cansado de chorar, havia chorado o suficiente pelo o resto do ano mas simplesmente não conseguia.

Agora que Dohko já havia cuidado do menino era a hora de cuidar do seu amigo, se aproximou e após um abraço longo e mais algumas lagrimas de Afrodite ele se afastou alguns passos colodando ambas as mãos nos ombros do cavaleiro de peixes.

— Todos tem o seu destino, todos tem a sua estrela, tenha um pouco de fé.

Afrodite assentiu e logo mais Dohko se retirou para juntar o que precisava para a medicação. O cavaleiro de peixes ficou no seu sofá, refletindo tudo o que havia acontecido, não conseguia enxergar uma luz no final deste túnel conturbado e quando pensava que havia encontrado a luz ele descobria que na verdade é o farol de um trem vindo em sua direção.

Parecia que haviam se passado horas para Afrodite mas foram apenas alguns minutos e Dohko já havia voltado com alguns livros, frascos, ervas, plantas e para o espanto do cavaleiro de peixes, com Shunrei.

— Trouxe Shunrei para ajudar, ela conhece todas as ervas e estudou todos os meus livros em Rozan, vamos fazer isto juntos.- Dohko dizia isto com confiança enquanto apoiava a mão no ombro de Shunrei mas principalmente com um orgulho que só um pai teria.

— O mestre me falou o que aconteceu, fique tranquilo. O medicamento precisa ser feito e tomado logo em seguida então vamos fazê-lo aqui. Vamos salvar ele, confie em mim.

Shunrei sorria,esbanjava positividade e isto foi o suficiente para amenizar aquela tempestade que havia se formado no peito de peixes, ver aquela mulher grávida de 7 meses ali disposta a dar tudo de si lhe trazia um fio esperança.

Começaram a trabalhar na cozinha, ferveram, esmagaram, extraíram, trituram ervas e consultavam livros, foi um trabalho árduo mas conseguiram o que queriam no final de algumas horas. Afrodite não tinha coragem de verificar o menino então o grande mestre ficou incumbido de ministrar a medicação e ao descer as escadas havia um par de olhos azuis atentos e ansiosos, porém cansados, esperando por ele.

— Calma, ele ainda respira, com dificuldade mas respira.

— E agora? - Afrodite estava aflito com a situação, e não era para menos.

— Agora é a hora daquele pequeno guerreiro reagir, precisamos confiar nele e esperar.- Shunrei falava em um tom ainda mais calmo agora.

— Assim que o sol nascer amanhã eu volto aqui para checarmos ele juntos, certo?- Dohko agora voltava a ter seu tom ameno também.

— Certo, obrigado Mestre! Obrigada Shunrei! Não sei como agradecer! Eu sei que foi tudo culpa minha mas…

— Não foi culpa sua. - Dohko o interrompeu por um momento. - O destino tem sua própria maneira de fazer as coisas e não há nada que possamos fazer para mudar isso, acredite em mim.- Dohko agora sorria na intenção de amenizar o sofrimento do amigo mas isto não surtiu o efeito esperado, Afrodite ainda aparentava estar destruído, e ele estava, apesar disso tinha anotado mentalmente que quando tudo aquilo passasse precisaria no mínimo montar o melhor buquê de rosas que já montará na vida para agradecer a Shunrei e Dohko.

Se despediram e lá estava peixes mais uma vez jogado em seu sofá, sozinho, com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, olhando para o teto imaginando como estaria aquela criança. Não tinha coragem de ir ver mas às vezes ouvia um ou outro suspiro mais alto do garoto, procurava de alguma maneira através do seu cosmo sentir o garoto vivo, ou não.

Ele não tinha certeza se queria que o amanhecer chegasse logo ou que nunca chegasse.


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Notas finais do capítulo

Oi Gente! Então, todo mundo também com o coração na mão? Calma que logo ja temos o desfecho disto :)

Pra você que chegou até aqui, um beijo ♥



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