Desabrochar escrita por madwolve


Capítulo 4
Olhos cinzas assustados e olhos azuis que choram




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O homem até tentou desferir o golpe mas sentiu uma mão forte em seu pulso, era Afrodite.

— Senhor Afrodite! Que bom que veio! Este moleque estava me roubando as maçãs. - O feirante dizia agitado e crente de que tinha toda a razão do mundo - Vamos! Dê uma lição nele para que este ratinho nunca mais nos roube!

Afrodite não havia soltado o feirante ainda mas estava sentindo uma náusea terrível, não por causa da ressaca mas porque não suportava estar na presença daquele homem nojento.

— Isto paga a maçã, não é? - Afrodite agora tinha tirado uma certa quantia da carteira e direcionado ao homem, com certeza conseguiria comprar mais do que uma maçã com aquele valor.

— Mas senhor! Você deve ensinar para este ladrãosinho uma lição, caso contrário vai continuar aqui nas ruas batendo nossas carteiras e roubando nossa mercadoria!

— Aqui, quero toda a sua barraca! Agora pode ir embalar pra mim, eu cuido disso.

Afrodite estava sem paciência e queria se livrar daquele homem o mais rápido possível antes que decidisse matá-lo, tirou ainda mais dinheiro da carteira, muito dinheiro, e o senhor apesar de não muito feliz com o desfecho da história aceitou o prêmio de consolação, pegou seu dinheiro e foi embora pisando fundo e reclamando alguns palavrões.

Quando teve certeza que o homem estava longe Afrodite então olhou para o “rato” que o homem se referia, era uma criança, devia ter em torno de 6 anos e seus olhos acinzentados contrastavam com o seu cabelo escuro e desgrenhados, estava suja e com vários hematomas, vestia alguns trapos que Afrodite nem ousava chamar de roupa, a adrenalina do momento ainda o fazia segurar a maçã com muita força entre os dedos e seus olhos parecerem ainda maiores.

Ficaram parados ali por um tempo, olhando um para o outro e só se ouvia a movimentação fora do beco agora, até Afrodite se abaixar para ficar na altura da criança a sua frente.

—...Oi...- Afrodite apesar de conviver com seus afilhados não tinha tanta desenvoltura com crianças, neste momento queria ter o mesmo carisma que Camus tinha com seus alunos.

—...

—Aonde estão seus pais?

— ...

— Qual o seu nome?

—...

— Então, o seu nome, sabe? Como as pessoas te chamam?

— Moleque. Eu já sou grande, me cuido sozinho - A criança finalmente falava algo, Afrodite quase achou que seria muda.

— Não, isto não é um nome e você não deveria andar sozinho! Qual o seu nome, sabe? Que te deram quando nasceu, como te chamam?

— Moleque, é assim que me chamam, às vezes pirralho, rato e as vezes me chamam de menino mas só às vezes.

— Certo...eu tenho muita coisa pra carregar, você quer me ajudar?

Afrodite não sabia porque tinha feito isto, não era do seu feitio, normalmente não interferia na vida das pessoas, deixava que tudo seguisse seu fluxo, agora lá estava ele colocando seu cachecol no pescoço do garoto e lhe estendendo a mão, se surpreendeu ao sentir aquela mãozinha pequena, fria e suja tocando a sua.

Saíram daquele beco de mãos dadas e o cavaleiro fez questão de passar na barraca de maçãs com o menino e levar todas elas para a casa, já estava no final da feira e o homem realmente embalou todas as frutas pra ele, não pode também evitar de rir discretamente quando percebeu que ao virarem as costas para ir embora o garoto, que agora ajudava a carregar a mercadoria ao lado dele, se virou rapidamente e mostrou a língua para o velho.

O menino era abusado e ele gostava disto.

Assim que chegaram ao seu carro ele guardou todas as suas inúmeras sacolas, Afrodite era sem sombra de dúvidas um exibido que amava ser o centro das atenções sempre e por estes motivos comprou um Aston Martin DBS preto na primeira oportunidade que teve, ao perceber que o garoto se distanciava discretamente ele o chamou a atenção.

— Aonde pensa que vai? Temos que descarregar tudo isto aqui, ainda não acabou, prometo que depois de tudo isto podemos comer algo.

Comer era a palavra mágica, o garoto não era muito expressivo mas seus olhos brilharam com a possibilidade de comida quente, não pensou duas vezes em entrar no carro, até imaginou que alguma coisa ruim poderia acontecer com ele mas qualquer coisa que acontecesse não era pior do que estar na rua mais uma noite, fora que conhecia o cavaleiro de peixes de vista e conhecia a fama do santuário, da fundação Graad, na sua cabecinha infantil ele estava salvo.

Mais ou menos.

Estavam no carro a caminho de casa, o garoto mal se mexia no banco do passageiro e o cavaleiro percebeu isto.

— Toma, é pra você, coma até chegarmos em casa.- Afrodite esticou o braço no banco de trás e alcançou uma maçã para o menino.

O garoto nem respondeu, comeu como se fosse a melhor refeição que já teve na vida até o momento, talvez fosse mesmo.

Afrodite ainda estava nervoso por dentro, não sabia porque havia ajudado aquela criança, não sabia porque tinha comprado toda a mercadoria daquele homem e não sabia porque estava levando aquela criança para casa com ele, atualmente na sua vida ele não sabia de muita coisa e absolutamente não gostava de todas estas incertezas.

Colocou uma música qualquer no rádio para se acalmar, não adiantou. Chegaram em casa e ele estacionou seu carro na garagem.

A frente da casa de Afrodite era limpa e bonita, um sobrado grande com a frente em pisos brancos com uma pequena trilha em pedras que levava até a porta da casa e jardins de darem inveja a qualquer um, havia janelas grandes já que Afrodite gostava muito de aproveitar a luz do dia.

Os dois juntos descarregaram as sacolas, que não eram poucas, não haviam trocado muitas palavras ainda e ele ainda se sentia nervoso com a situação.

O garoto ficou surpreso quando entrou na casa, havia um sofá espaçoso junto a uma lareira e uma TV a direita, a esquerda uma porta dupla grande que descobriu ser a cozinha, ao lado uma escada e um corredor com uma porta fechada, assumiu que levava aos fundos da casa. Era espaçoso, bonito e muito bem decorado apesar do garoto não entender muito bem como aqueles quadros que mais pareciam manchas de tinta espalhadas aleatoriamente poderiam deixar o ambiente mais bonito, estava convicto de que podia fazer bem melhor.

— Agora você fica sentadinho aí, vou arrumar aquelas coisas na cozinha e aí podemos comer.

Afrodite disse isso apontando pro sofá sem parar de caminhar até a sua cozinha, o garoto prontamente obedeceu, sentou-se com suas pernas balançando levemente e olhando para o chão imaginando o que iria comer quando o cavaleiro de peixes voltasse.

O ambiente ficou extremamente silencioso agora, é quase como se o tempo tivesse parado, o garoto estava absorto em seus pensamentos até que um pequeno barulho de ‘click’ chamou a sua atenção, vinha da porta no final do corredor.

A porta se abriu lentamente sobre os olhos dele revelando o jardim de rosas mais bonito que já tinha visto, nem em seus sonhos poderia imaginar algo tão belo, ele precisava chegar mais perto, ele podia sentir aquele jardim chamando por ele e prontamente atendeu andando a passos lentos até a luz do jardim.

Afrodite ainda arrumava sua cozinha, com certeza precisaria inventar muitas receitas para dar um destino a todas aquelas maçãs e isto lhe ocupou a cabeça por um tempo, ainda pensava em como ajudaria aquele garoto afinal podia pedir algumas roupas infantis para seus amigos por hora e até comprar algumas pra ele, conversaria com Saori para colocá-lo na escola, talvez até nos novos alojamentos, sentia que precisava fazer alguma coisa mas ainda não sabia o que, este sentimento logo deu espaço a outro não tão confortável.

Sentiu seu sangue gelar por um segundo e um mal estar tomar conta de si, não pensou duas vezes em correr para fora da cozinha e todos os seus piores medos tinham se confirmado, a porta do jardim estava aberta e ele não sabia como, o garoto não estava mais no sofá.

Correu como se sua vida dependesse disto, tropeçava em seus próprios pés e já não enxergava tão bem devido as lágrimas que se acumulavam em seus olhos mas isto não impediu que ele olhasse bem para aquela cena.

O garoto estava lá, no chão, havia tentado pegar uma das rosas vermelhas do jardim que tanto lhe chamara atenção, suas preciosas rosas vermelhas e envenenadas.

Afrodite caiu de joelhos e pegou o garoto nos braços na mesma hora, as lágrimas ainda caiam dos seus olhos.

— Garoto! Oh garoto! GAROTO!

A criança não respondia, mal respirava, o cavaleiro fez a única coisa que ele poderia fazer naquele momento, abraçou aquele corpo pequeno e se deixou chorar.

Ele se arrependeu amargamente, era melhor ter deixado o garoto morrer nas mãos do feirante, seria uma morte menos dolorosa.


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Notas finais do capítulo

Pra você que chegou até aqui, um beijo ♥
Estou aberta a sugestões e comentários sempre gente!

Até o próximo :)



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