É só uma coisa implícita escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 3
Capítulo 3 - Realidade cruel




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Capítulo 3 – Realidade cruel

— Onde estão os outros?! – Gamora questionou num tom de voz assassino, negando-se a gritar e deixá-los saber o quanto estava nervosa.

— É o que esperávamos que você nos dissesse. Durante todo o caos que se estabeleceu na galáxia por anos, incluindo neste planeta, não se teve qualquer notícia de vocês. Os grandiosos Guardiões da Galáxia, que deviam voar de planeta em planeta ajudando e salvando as pessoas, desapareceram, não dando as caras mesmo após a destruição em Xandar onde dizem praticamente ser sua sede.

Gamora respirou fundo da melhor maneira que podia sem que percebessem, sentindo seu sangue ferver de raiva. Ela poderia dizer mil coisas em resposta à ofensa da rainha dos soberanos, mas conhecendo Ayesha, isso só a deixaria mais confiante. E os motivos que os impediram de ajudar Xandar e todo o restante de sua galáxia e também da galáxia onde a Terra estava localizada já tinham sido cruéis o suficiente com todos eles para que agora Gamora os enumerasse e só conseguisse mais sofrimento em troca.

— Se seu planeta esteve no caos, deve imaginar que não foram os únicos afetados, e que essa guerra não ficou apenas na nossa galáxia – respondeu tranquilamente, abstendo-se de fornecer quaisquer detalhes maiores.

— É o que parece – a soberana respondeu, ficando um longo tempo em silêncio sem desviar os olhos de Gamora – Os outros também foram afetados ao ponto de reaparecerem desmemoriados como você? Ou isso não passa de mais uma oportunidade para nos roubar?!

— Sua paranoia em nada ilustra qualquer coisa que tenha nos acontecido.

— Você parece ser o único ser com juízo entre aquele bando de seres... Desprovidos de ética. Nossa mais nova criação não a considera culpada – Ayesha falou, lançando um breve olhar a Adam – Eu acho que ele pode ter razão. Como você poderia ir livre se nos esclarecer o paradeiro dos demais. Não estão nesse planeta, como já descobrimos enquanto você dormia. Também não parecem o tipo de grupo que abandonaria um de seus membros confuso e sem memória, seja lá o que causou isso. Não se lembra de terem sido emboscados e separados?

Gamora permaneceu em silêncio.

— Ela já acordou assim? – Perguntou olhando para Adam.

— Sim. Ela desmaiou enquanto eu tentava falar com ela. Acho que teve pesadelos, ficou agitada e até mesmo chorou enquanto dormia.

— Pesadelos... – Ayesha falou para si mesma enquanto refletia – Quais informações você tem sobre isso?

— Nenhuma, senhora – o homem dourado respondeu – Ela não se lembra do que viu. Acordou ainda muito confusa, mas se lembrou aos poucos de quem é, e quem nós somos.

— Você tem algo a ver com isso?

— Talvez. Eu tentei transmitir energia para ajudá-la. Mas não sei se isso influenciou em suas lembranças. Eu mesmo não entendi bem o que houve.

— Isso é bom, mais uma prova de que você está acima do que esperávamos. É mais uma nova habilidade a ser explorada e dominada.

Ele assentiu. Gamora esboçou rapidamente uma expressão confusa para Adam, não entendendo porque ele omitiu parte da informação, não sabendo se isso era ou não para ajudá-la, e retomou de imediato sua expressão vazia antes que Ayesha a olhasse outra vez. A mulher dourada respirou fundo e adotou uma postura de ameaça, a encarando profundamente. Gamora não cederia a seu olhar intimidador, mas concordava que para qualquer outra pessoa poderia parecer aterrorizante.

— O que fizeram é uma heresia de grau altíssimo! – A mulher falou mais alto do que nos últimos minutos – O que punimos com a morte. Você tem a chance de escolher um destino diferente.

— Talvez ela lembre depois, ainda está atordoada – Adam interviu.

— Pelas informações que me deu, eu a darei algum tempo – a sacerdotisa respondeu ao homem – No entanto ainda não compreendo o motivo de sua compaixão com uma prisioneira de nível máximo – falou olhando para o fundo da cela, e Gamora sabia que ela estava observando o travesseiro e o cobertor que Adam trouxera.

— Ela tem uma condição especial como citei. Por isso lhe pedi tempo para uma reunião o quanto antes. Apesar de tanto protegermos nossa honra, lembro-me de terem me ensinado que isso também está em não condenar inocentes comprovados.

— Eu não vejo inocentes com provas aqui, temos apenas hipóteses – Ayesha falou ainda encarando a zehoberi – O que o faz pensar dessa forma?

— A energia.

Ayesha finalmente se virou para encará-lo com curiosidade.

— O que sentiu?

— Ela carrega uma vida nova, como me disseram que os seres normais fazem em outros locais da galáxia. Eu tenho certeza que é a energia de outra pessoa, embora se pareça muito com a dela.

Ayesha arregalou os olhos, e por um instante olhou perplexa de Adam para Gamora.

— Isso certamente muda as coisas – a rainha falou.

Mais uma pausa silenciosa se seguiu.

— Mas não há nada de diferente nela.

Gamora teria rido se não estivesse trabalhando mentalmente para combater a ameaça ao bebê. Os soberanos eram tão ignorantes sobre isso e tão isolados de outros povos que sequer imaginavam quais alterações o corpo de uma gestante sofria? Mas Rocket lhes contara sobre o relato de Yondu, de que Ayesha aparecia pessoalmente em outros planetas quando lhe interessava. Não era possível que uma vez em sua vida não tivesse visto uma mulher grávida.

— Talvez precise de tempo – Adam lhe disse – Como nós. Mesmo sendo de outra maneira. Ela também vai precisar de uma cápsula embrionária?

— Não. Não parece ser o que o senhor Quill nos indicou da última vez que o vimos.

Gamora poderia ter uma crise de riso agora. Ayesha de fato jamais vira uma gestante, o que indicava que devia sair muito pouco, provavelmente mandando apenas subordinados na maioria das missões. Gamora não perdera o sorriso suspeito de uma soberana jovem no dia em Peter flertou com a rainha.

— Mas poderia nos explicar se quer que a ajudemos.

Gamora percebeu imediatamente a mudança de ameaça para curiosidade, se apenas curiosidade pura ou para fins científicos ela não sabia, mas mataria quem sequer pensasse em prejudicar seu bebê de alguma forma.

— Você buscou dados sobre isso? – A mulher perguntou a Adam.

— O que pude pesquisar rapidamente enquanto deixei a ala da prisão. O que acontece com ela afeta a criança.

— Criança?

— Sim. Em condições naturais os nascimentos geram seres muito menores e mais jovens que os mais jovens que já criamos.

— Eu sei disso. Embora nunca tenha observado alguma de perto.

— Ela estava com frio e parecia desconfortável. Além dos pesadelos. Achei que desejaria saber sobre isso, e portanto precisamos dela em boas condições. Se está dentro do corpo dela, o que acontece com ela deve afetar a criança, e talvez o contrário também.

Gamora e Ayesha trocaram um olhar profundo cheio de pensamentos silenciosos. A zehoberi quase podia sentir o quanto o cérebro da rainha estava agitado pensando em questões que para qualquer outro ser normal seriam simples, e certamente estava se lembrando do que Peter lhe disse naquele dia e se questionando sobre como um bebê é gerado de forma natural.

— Se também possui o conhecimento para fazer pessoas, poderia recriar sua espécie.

— Não é assim que funciona – Gamora respondeu simplesmente.

— Isso será interessante... Se quer ficar em silêncio, que seja, por enquanto. Não sairá daqui. Mas lhe garanto que nada será feito enquanto sua criança não nascer.

Gamora observou Ayesha virar-se na direção da saída e se distanciar, e trocou um último olhar com Adam antes dele também deixá-la.

Finalmente sozinha, respirou fundo e sentou-se no chão, abraçando os joelhos. Como isso fora acontecer? Na verdade ela sequer entendia o que estava acontecendo e não tinha a menor ideia de como a galáxia era agora após toda a destruição de Thanos. Não sabia se ainda existia Xandar para acolhê-la caso fugisse, não tinha a menor ideia do que havia acontecido aos Guardiões, embora em sua conversa com seu eu mais jovem na joia da alma a outra Gamora tivesse lhe dado uma indicação de que se encontrara com eles. Gamora achava ter visto algo através dela, mas de repente não se lembrava, em sua mente estavam apenas os momentos com Adam.

Seus dedos deslizaram suavemente pelo ventre e o medo a tomou. Olhou em volta em busca de câmeras, rastreando a cela e o exterior dela cinco vezes antes de ter certeza que não havia nenhuma. Então gastou as horas seguintes procurando qualquer maneira de burlar aquela prisão, mas os soberanos pareciam tão bons nisso quanto eram ignorantes sobre a vida normal, e não achou nada. Se Rocket estivesse aqui... Se Peter estivesse com ela! Os dois eram bons nisso, ou em enganar os guardas para achar uma saída fácil e rápida, e às vezes suicida, mas que geralmente funcionava. E se ela tivesse ido pela direita? Essa pergunta nunca saiu de sua cabeça, e seus olhos se enchiam de lágrimas toda vez que se lembrava dos últimos instantes em que esteve com seu Senhor das Estrelas.

Gamora ignorou as lágrimas que queimaram em seus olhos e os secou, tentando se acalmar antes de retomar sua busca por falhas. Tentou pensar no bebê. Com quantos meses ela estava? O tempo na joia da alma certamente não contava uma vez que parecia não passar. Forçou sua memória por sinais que ela não tinha percebido ou tinha ignorado antes de ser raptada por Thanos. Ela tivera sinais, pequenos, mas estavam lá. No entanto sua mente estava ocupada suficiente com outras preocupações na época para que não notasse logo. Houve dias em que se sentira mais sonolenta que o normal, e achou que a leve dor em seus seios nada mais era que mais uma consequência de algumas missões longas e mais pesadas que os tinham deixado exaustos naquela época. Mais alguns dias e provavelmente ela teria percebido.

Isso não devia ter acontecido na última vez em que ela e Peter tiveram tempo sozinhos para isso, devia ter sido antes. Possivelmente estava com pouco mais de um mês quando Thanos a levou. Se perguntou porque o Caveira Vermelha não citou isso, ou se Thanos soube de alguma forma antes ou depois de sacrificá-la. Mas tanto quanto não tinha essas respostas e provavelmente não teria, ela o odiava agora mil vezes mais do que antes se era possível.

Suas mãos passearam pela barriga mesmo que ainda fosse impossível notar alguma diferença, e olhar para o lado de fora da cela a horrorizou com as possibilidades futuras. Seu bebê não podia nascer aqui. Sabe-se lá o que Ayesha faria. Apesar da promessa de que ela não seria tocada até o nascimento, não estava ansiosa para descobrir se a curiosidade dos soberanos sobre concepção e nascimento podia ser perigosa ou insana.

— Eu tenho que sair daqui.

******

Ayesha entrou na sala onde por tanto tempo havia discutido com sua assistente os detalhes para a criação de Adam. A mais jovem já a esperava lá quando a rainha sentou-se em uma das confortáveis cadeiras de seus aposentos.

— É verdade que ela acordou com a memória restaurada? – Alia perguntou.

— Não completamente. Ainda está confusa e não sabe onde os outros estão. Parece que algo aconteceu durante os últimos anos.

— Então não estavam sumidos à toa?

— Creio que não.

— E se já estiverem mortos?

Ayesha a olhou e ficou pensativa por alguns instantes.

— Não podemos descartar essa possibilidade, apesar do quão difícil parece ser matar aqueles ladrões. Afinal estiveram desaparecidos por todo esse tempo. Mas por que só ela? E por que veio até nós?

— Se ela chegou sem memória pode ter sido uma coincidência. Ou alguma lembrança leve a trouxe até aqui em busca de ajuda.

— Adam pensa que ela pode se lembrar de mais depois. Talvez a criança a esteja afetando. Se compartilham o mesmo organismo até o nascimento, isso pode sugar suas forças.

— Criança? Quis dizer que ela está grávida?

O olhar de Ayesha ficou curioso quando a rainha registrou o termo em sua mente.

— Então essa é a denominação.

— Sim. Já vi algumas mulheres nas missões as quais me enviou.

— Ela não quis nos fornecer qualquer informação. O que pode dizer sobre isso?

— O corpo dela vai sofrer algumas alterações no processo, eu não sei exatamente em quanto tempo, mas se decidir não sentenciá-la, precisaremos conseguir roupas novas pra ela.

— De que tipo de alterações físicas você fala?

— A barriga se torna maior, é onde o bebê é gerado aparentemente.

— Bebê?

— É como chamam.

— Essa criança pode ser uma excelente chance de vislumbrar como a vida se forma por... Métodos tradicionais como o senhor Quill citou há vários anos. Como meu principal contato com o exterior do planeta, você deve saber algo mais concreto.

A jovem tomou um segundo para respirar. De fato essa era a razão pela qual ela não era tão ignorante quanto os demais soberanos sobre a vida considerada normal fora do planeta. Mas não tinha informações completas ainda assim.

— Tudo que sei é que são precisos dois seres pra que isso aconteça, um casal – falou simplesmente, não desejando revelar tudo que realmente sabia – Mas não tenho muito mais dados sobre o desenvolvimento da criança, ou como pode ser extraída do corpo da mãe quando o momento chega. Acha que ele teve algo a ver com isso? É o mais parecido com ela da equipe inteira. Devem ser compatíveis geneticamente. Não acho que espécies com grandes diferenças poderiam gerar um descendente.

— É possível que sim. Ele deixou claro que sabe como fazê-lo. Isso torna tudo ainda mais interessante levando em conta que são de padrões de cor completamente diferentes.

— Acha que o descendente terá duas cores?

— Isso só o tempo dirá... Por anos estudamos e nos aperfeiçoamos pra criar seres perfeitos. Não devemos nos empolgar e esperar muito de um ser gerado de uma mistura tão desordenada, ainda que compatível. Especialmente se tiver o temperamento do senhor Quill.

— E se for feroz como ela? O que faremos quando nascer? Vamos manter os dois aqui para sempre? E quanto tempo isso pode levar? Nossas cápsulas levam um ano ou bem mais dependendo da matriz genética que foi criada.

Ayesha ficou em silêncio enquanto refletia sobre os questionamentos de sua assistente, mas não pode respondê-los. Um de seus guardas entrou às pressas na sala, parecendo aterrorizado.

— Suma sacerdotisa! Ela exige lhe ver! Ela pôs nossas armas no chão! Diz que possuímos algo que lhe interessa.

— Ela quem? – Ayesha perguntou no mesmo tom de seriedade misturado com revolta que usou quando todas as suas naves foram destruídas anos atrás.

— Está na entrada do palácio. Parece inofensiva à primeira vista, e não passa de uma criança, mas suas ameaças parecem sérias.

Ayesha e Alia se entreolharam, imediatamente seguindo para a entrada, onde todos os guardas estavam parados em horror, desejando pegar as armas jogadas a seus pés, mas nitidamente com medo de fazer isso.

— Podemos conversar se nos acompanhar – Alia falou para a menina, buscando manter sua voz o mais neutra possível como sempre fazia em negociações complicadas.

A garota era bem mais baixa do que todos eles. Os cabelos azuis escuros e as roupas estranhas escondiam o rosto cinzento enquanto ela olhava para baixo. Seu silêncio a fazia parecer ainda mais aterrorizante. A garota os fez congelar por dentro quando lentamente os encarou, os olhos vermelhos pareciam em chamas.

— Não preciso de nenhuma conversa. Só preciso dela.

— Poderia deixar mais claro de quem está falando? – Alia questionou.

— Sua prisioneira, ou convidada, tanto faz. A ex-assassina mais mortal da galáxia


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