É só uma coisa implícita escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 25
Capítulo 25 – Em qualquer uma dessas estrelas




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Capítulo 25 – Em qualquer uma dessas estrelas

Meredith olhava curiosa enquanto Gamora mexia nos comandos do walkman prateado que mantinha secretamente na cela. Ela descobrira que o aparelho conseguia se conectar a estações de rádio, mas nos domínios soberanos ouvia-se apenas os sons barulhentos do vácuo da galáxia, não havendo qualquer sinal para alguma rádio, o que a zehoberi lamentava, uma vez que não tinha fone ou fitas.

Meredith estava com nove meses, vez ou outra Ayesha as deixava ir a alguma missão, sempre para aproveitar alguma de suas habilidades sociais ou de luta, e Gamora não sabia mais o que pensar sobre sua família estar viva ou não. Ela não sabia também quando bebês humanos começavam a falar, mas desde os sete meses Meredith fazia tentativas, e agora já balbuciava algumas palavras que aos poucos começavam a se parecer com algo compreensivo, e que traziam alguma alegria a esses dias sombrios. Gamora desconfiava que ela estava tentando dizer mamãe ultimamente, e mais algumas palavras como água, brinquedo, fome, e, para sua surpresa, Adam e Alia.

A menina riu, fazendo Gamora sorrir e deixar o walkman de lado, empurrando-o imediatamente para baixo do travesseiro ao ouvir passos do lado de fora da porta.

— Aaaaam! – Meredith exclamou com um sorriso quando a porta se abriu e Adam apareceu.

— Boa noite – ele lhes disse – Eu posso entrar?

Gamora lhe deu um olhar irônico, mas sem ameaça. O soberano sorriu e entrou carregando uma bandeja de comida e água como de costume. Era sempre ele ou Alia que vinham vê-la, uma vez que todos os outros passaram a temer o encontro. O homem dourado parecia feliz, mas um pouco tenso, como se escondesse algo.

— O que você veio fazer aqui?

— Trazer seu jantar – ele respondeu após acariciar uma das mãozinhas de Meredith e trocar um sorriso com a criança.

— Eu percebi, mas você parece tenso. Se Ayesha decidiu me matar, diga de uma vez, e espero que se lembre de minhas instruções sobre a Terra. Caso Xandar não exista mais, minha filha ficará bem com os Vingadores.

— Não, a sacerdotisa acha você útil, conseguiu até esfriar sua obsessão por vingança por causa disso, pelo menos por enquanto. Só... Estou trabalhando muito. É difícil ministrar muita coisa ao mesmo tempo.

Gamora lhe lançou um olhar penetrante, tentando decifrá-lo.

Adam queria lhe contar, queria lhe dizer que ele e Alia estavam trabalhando em segredo por uma forma segura de libertar as duas, mas não era seguro. Sabe-se lá o que Ayesha poderia fazer se descobrisse. Os dois tinham medo até de falar sobre isso sozinhos e longe do palácio.

— Eu vou lhe dizer algo, e que fique só entre nós e Alia.

— Que pena que não poderei contar a todos os vários amigos que tenho nesse reino – Gamora respondeu ironicamente.

Adam suspirou, não tendo resposta para aquilo, e sentou-se numa cadeira. Por um instante ele pareceu apurar os ouvidos, querendo ter certeza que não havia guardas por perto.

— Tem mais alguém caçando vocês. Alguém que talvez você conheça. Não temos muitas informações sobre ela, mas nossos guardas ficaram bem aterrorizados da primeira vez que apareceu, logo que você chegou aqui. Era só uma criança, agora cresceu um pouco, e aparece de tempos em tempos tentando acordos com a sacerdotisa pra entregar você ou informações sobre os outros.

— Por que alguém além do seu povo nos caçaria?

— Ela tem uma aparência incomum pra qualquer povo que já conhecemos. Ela fala sobre Thanos, sobre pais mortos na guerra num planeta chamado Terra, e culpa os Guardiões e os Vingadores por isso. Depois de eliminar vocês, ela quer ir à Terra.

Pela primeira vez desde que Adam havia entrado Gamora pareceu realmente preocupada.

— Se você contar algo dessa conversa a alguém eu te mato, nem que eu tenha que voltar dos mortos pra isso.

— Eu prometo.

— O que ela sabe sobre Thanos?

— Diz que os pais trabalhavam pra ele.

Gamora ficou algum tempo em silêncio até que sua mente pareceu se iluminar.

— Havia um casal de criminosos na Ordem Negra. Próxima Meia-Noite e Corvus Glaive. Uma vez ouvi falar que eles tinham um bebê, mas não sabia se era verdade, não costumávamos nos ver, e se fosse verdade, achei que Thanos pudesse tê-lo matado, ou que os pais o teriam entregado a alguém ou escondido.

— Você acha que ela pode ter herdado as habilidades deles?

— Provavelmente. Ela tem um nome?

— Aster. Tem pele e cabelos de cor incomum.

— Sim, eles também tinham. Eu não os via com frequência, mas Meia-Noite costumava meter medo em seus adversários e vítimas. Tinha poderes muito peculiares.

— Você pode especificar alguma delas?

— Ela tinha força, velocidade e resistência num nível absurdo. E uma lança praticamente infalível com a qual conseguia controlar a densidade, um tiro podia ter o peso de galáxias.

— Pode ser isso que pôs as armas de todos os nossos seguranças no chão no primeiro contato.

— Uma criança passou pela segurança de vocês?! Onde você estava?

— Segurança não está entre minhas tarefas principais, eu nem soube que aconteceu até me contarem.

— Não que eu me importe com a segurança desse reino superficial, mas eu e minha filha ainda estamos dentro dele.

— Se serve como consolo, desde que isso acontece a sacerdotisa manda me chamar quando ela aparece tentando negociar pela sua cabeça.

— É sério?

— Sim. Ela quer todos, mas a sacerdotisa também. E até hoje não chegaram a um acordo.

Gamora queria ir mais longe, queria perguntar sobre sua família. Adam poderia ou não saber de alguma coisa, e contar ou não a ela. Talvez valesse a pena tentar, mas qual seria o preço disso?

— A sacerdotisa nos diz que ainda não sabe nada sobre o paradeiro dos outros. Às vezes penso que não é verdade, mas... Realmente não sei de nada – ele falou como se lesse seus pensamentos, e uma voz dentro da zehoberi a alertou de que nada garantia que Adam estivesse sendo sincero, embora suas atitudes nos últimos tempos indicassem que sim – Mas eu vou contar uma coisa – ele sussurrou tão baixo de repente que Gamora quase se assustou – Eu não sei dar detalhes porque foi muito confuso quando descobri, mas... Peter. Esse é o nome do pai de Metedith, não é?

Os olhos da guerreira se arregalaram, e ela lutou para não demonstrar mais nenhum sinal físico de desequilíbrio.

— Explique-se! – Ela sussurrou de volta, parecendo nervosa, raivosa, esperançosa e grata ao mesmo tempo.

— É uma habilidade recente que descobri e ainda não entendi bem como usá-la, não sei explicar e não posso falar muito agora, mas eu sei que ele está vivo. E sofrendo tanto quanto você, pelo mesmo motivo. E também... Outro membro de aparência incomum que vocês têm...

— O guaxinim falante?

— Vocês têm um guaxinim falante?! Ei, o que é um guaxinim?

— É uma forma de vida animal da Terra. Esse foi modificado e entre várias coisas, pode falar. E nunca o chame de guaxinim pessoalmente se quiser continuar vivo.

— Vou tomar nota disso. Como ele se parece?

— Pequeno, tem pouco mais de um metro de altura, pelo cinza, e sempre veste um macacão. Originalmente é um animal quadrúpede, mas ele é bípede.

— Não, não. É o outro, o que tem dois metros de altura.

— Groot.

— Parece uma planta viva.

— Isso! Como você descobriu? – Gamora questionou em tom ameaçador.

— Meu povo acha que sonhos são um momento pra nossa mente se divertir e relaxar enquanto dormimos, mas nunca pensei que fossem só isso. Alguns são reais demais pra serem só uma reação neurológica ao sono. Tão reais que parece que aconteceram de verdade.

— Você sonhou com Peter e Groot? Por mais que eu concorde com você, isso não prova nada.

— Eu sei, mas eu sinto. É uma... Como os humanos chamam? Intuição. Uma muito forte – ele disse, não querendo contar muito de sua experiência confusa antes compreendê-la.

— Eu sempre senti a mesma coisa. Achei que era só...

Saudade, ele imaginou. Alguns idiomas tinha uma palavra específica para isso, outros não. Uma palavra humana que Adam descobrira em seus estudos. Ayesha achava que era um dos principais defeitos que tornavam outros seres vulneráveis.

— Não entendo qual o benefício dessa conversa – ela disse, dessa vez não conseguindo esconder a tristeza em sua voz – Além das informações extras pra vocês saberem como se proteger de Aster. Ela provavelmente vai ficar mais forte com o tempo, não deve ter dominado tudo que pode fazer ainda.

— Eu contei isso porque não quero que você desista. Eu guardei essa porta pra Meredith nascer, eu curei você e convenci a sacerdotisa de que você é mais útil viva. Não quero nada em troca, só que você espere.

— Esperar o que?

— Mam... – Gamora e Adam olharam para Meredith quando a menina chamou a mãe.

— O que, querida? – Gamora perguntou, emocionada pela nitidez do chamado.

— Mama! – A menina sorriu, e Gamora sentiu seus olhos se encherem de água.

Adam não entendeu o motivo da comoção, mas sorriu ao ver a amiga puxar a filha para o colo e abraçá-la. Meredith a abraçou de volta, e Gamora riu, balançando a menina em seu colo e fazendo-a gargalhar.

— Eu nunca tinha visto isso – ele falou, ainda sorrindo – Outro ser aprendendo a falar. Todos os que eu conheci já sabiam. Que pena que Alia não viu. Foi adorável.

Com isso o olhar da zehoberi lacrimejou ainda mais, e ela não conseguiu evitar que lágrimas silenciosas deixassem seus olhos. Secou-as imediatamente, tentando retomar a expressão neutra. Peter deveria estar vendo isso agora.

— Eu disse algo errado?

— Não – ela garantiu – É só mais uma coisa que vocês não entendem.

— Há algo que você precise?

— Não.

Adam assentiu e se levantou, recolocando a cadeira no lugar.

— Eu devo ir agora. E, a não ser pra Alia, nós nunca tivemos essa conversa.

— Não espere que eu confie em você tão facilmente com tão pouca informação.

— Nem eu. Por isso prefiro entender o que aconteceu primeiro. Mas a sacerdotisa não vai matar vocês, eu não vou deixá-la fazer isso. Agradeço pelo que me contou.

Depois que ele se foi, Gamora se permitiu chorar, e se odiou por estar assim num momento tão feliz para ela e para a filha. Meredith a olhava confusa, e a zehoberi secou os olhos e respirou fundo para se estabilizar, não querendo que a pequena acreditasse ter algo a ver com isso. Quando finalmente conseguiu se acalmar, sorriu para a menina e voltou a abraça-la.

— O que você estava dizendo mesmo?

— Mam...

Gamora riu.

— Continue.

— Mamã...

******

Mantis caminhou pela nave silenciosa quando a noite caiu. Nebulosa estava fazendo a manutenção de uma de suas peças, Drax estava na academia, Rocket e Groot construindo alguma coisa na oficina, Kraglin ouvindo música e relaxando em seu quarto, apenas Peter não estava à vista, nem dentro da Milano, que estava estacionada no quadrante dos Saqueadores.

Aproveitando sua habilidade recém descoberta de grudar nas paredes e saltar super rápido, a mestiça procurou Peter tentando ver dos pontos mais altos da nave, mas sem muito sucesso. Ela riu sozinha ao se lembrar de como essa habilidade deixou Kevin Bacon apavorado e como se divertiram com o desfecho de tudo aquilo. A pequena enorme loucura que ela e Drax fizeram tinha alegrado Peter por um tempo. Na época eles estavam em Luganenhum, ajudando a reconstruir depois de terem comprado o lugar do Colecionador junto com os Saqueadores. Mas Gamora parecia tão presente em sua ausência quanto na situação contrária, porque o terráqueo sempre quis que ela estivesse com ele se conseguisse conhecer seu herói de infância pessoalmente. Poucas semanas depois ele estava deprimido de novo, e agora variava entre triste, cansado, confuso e apático. Continuava dando seu melhor pelo trabalho e pela equipe, mas havia bem menos música ecoando pelos cômodos agora, e seus olhos verdes não pareciam mais tão alegres e brilhantes.

Peter também começara a ter algumas crises de ansiedade, geralmente à noite quando ia dormir, e em muitas delas Mantis o socorreu, controlando seu sistema nervoso para ajudá-lo a respirar corretamente e relaxar para dormir. Os pesadelos se tornaram mais raros, mas Peter acordava cansado, ou não lembrava de seus sonhos, ou dizia que mesmo não lembrando a sensação não era de que tinham sido bons. Algumas vezes ele acordou sentindo uma alegria inexplicável, mas que o levava a uma ânsia de choro por sentir que havia perdido alguma coisa. Drax questionou que ele devia estar louco ou bêbado, mas com seus poderes Mantis viu que não.

Distraída por seus devaneios, Mantis mal percebeu quando automaticamente seguiu para a sala de controle da nave. Era onde encontrava Peter em muitas noites, às vezes conversando com Kraglin sobre alguma coisa aleatória, ou sobre os bons tempos da infância e adolescência que passaram juntos.

Ela desceu para o chão e caminhou devagar. A sala de controle agora tinha mais cadeiras, e conseguiu ver Peter sentado numa delas, à frente da enorme janela de onde conseguiam ver o espaço. Milhares de estrelas iluminavam o infinito conforme a nave passava por elas em piloto automático. A reconstrução de Xandar tinha progredido muito, já estando próxima de se completar, e é para lá que estavam indo para continuar ajudando.

O Senhor das Estrelas estava tão perdido que não a viu chegando. Seus olhos pareciam não estar fitando nada a sua frente, provavelmente refletindo seus pensamentos. A julgar pelo movimento de subida e descida de seu peito e o som de sua respiração, Peter estava voltando de mais uma crise de pânico solitária. Às vezes ele simplesmente queria passar por isso sozinho. Mantis esperou que o corpo do irmão relaxasse e seu olhar se tornasse mais lúcido antes de chamá-lo.

— Peter?

O meio celestial a olhou devagar, agora já tendo percebido que ela estava ali. Peter suspirou, deixando seu peso pressionar mais a cadeira. Ele costumava se sentir muito cansado e até com sono após as crises de ansiedade.

— Você quer ajuda?

Ele negou com um aceno de cabeça, e Mantis sentou-se na cadeira ao seu lado.

— Eu posso ficar?

— Pode – falou baixo.

— Aconteceu alguma coisa que você queira contar?

— Eu não sei... Eu tive um sonho importante, mas esqueci o que era. Isso me deixou com raiva e frustrado, e senti um aperto muito forte no peito. Então vim pra cá tentar relaxar.

— Você sentiu dor?

— Não, não cheguei nisso ainda.

— E espero que não chegue nunca, é perigoso.

— Hoje Dey me disse uma coisa quando liguei pra avisar que estamos a caminho. Eu fiquei com tanta raiva, mas não contestei, porque ele pode ter razão.

— E o que foi?

— Que apesar de todos os nossos esforços e suspeitas, nada garante que algum dia vamos encontrar Gamora ou que ela vai voltar.

— Que pesado! Vou dar uma surra nele quando chegarmos!

— Não, não... Mantis! Ele tá certo. O universo não vai parar porque Gamora sumiu... Só o meu.

Mantis ficou em silêncio, vendo lágrimas correrem pelo rosto do irmão.

— Talvez isso seja verdade. E talvez não. Não dá pra saber. Mas eu sinto com muita força que em algum momento vamos ter sucesso.

Peter abriu um pequeno sorriso.

— Você é uma ótima irmã, mas vamos ser adultos aqui?

— Não! Quem inventou que adultos precisam ser tristes, lógicos e desprovidos de sonhos é muito burro e cruel! Não precisamos ser assim. Vamos encontrar Gamora! – Ela insistiu, tomando as mãos do mais velho nas suas, e vendo-o sorrir novamente.

Em todas as noites que ele estava aqui nesse estado, um dos outros Guardiões acabava o encontrando e se sentando para conversar com ele. Na maioria das vezes eram Mantis, Nebulosa ou Groot. E Peter era grato pela paciência e o afeto de todos eles, que nem por um segundo tinham demonstrado qualquer irritação ou cansaço por precisarem cuidar tantas vezes de seu líder ferido emocionalmente.

Ele acordou com uma sensação física tão nítida de ter trocado um abraço com alguém importante, mas essa foi a única memória que ficou, deixando-o angustiado e nervoso. E agora aqui estava, olhando novamente para as estrelas lá fora, pensando que Gamora podia estar em qualquer uma delas, e que tudo que queria é que um dia ela estivesse olhando para essas mesmas estrelas ao seu lado de novo.


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