É só uma coisa implícita escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 15
Capítulo 15 - Chegada




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Capítulo 15 - Chegada

                Dey os estava olhando há quase um minuto boquiaberto enquanto se sentavam em volta da mesa onde ele exibia hologramas de rastreamento de vários locais do espaço.

                - Ei! – Rocket chamou, perdendo a paciência – Vai passar o dia todo assim?

                Ele calou-se com um olhar de Nebulosa.

                - Eu... – Dey começou – Agora que finalmente me contaram esses... Sonhos... Com detalhes, incluindo os de que já tinham me falado, realmente parecem coincidências esquisitas. Mas somos agentes de segurança. Não podemos tomar decisões e atitudes baseadas em sonhos. Nossos equipamentos já mostraram que está tudo bem com vocês, apesar das condições emocionais difíceis que estão passando. Se houvesse certeza de que havia uma criança quando ela foi levada de vocês... Ou depois que voltou, ou que suas teorias sobre o funcionamento dos poderes de Thanos e das joias fossem comprovadas, talvez eu pudesse fazer alguma coisa mais concreta com as informações extras – disse a Nebulosa – Mas por hora, só posso garantir continuar o trabalho que já estamos fazendo. Nós não vamos desistir de procurar Gamora, mesmo que se passem anos – falou para Peter – E acredite, eu e Nova Prime, mais do que qualquer pessoa aqui, não queremos levar esse tempo todo pra encontrá-la, estamos fazendo tudo pra achá-la rápido.

                - Seus equipamentos não poderiam rastrear ondas mentais? – Drax perguntou.

                - Como? Não, isso seria telepatia. Sabemos que telepatas existem, mas não temos um, e nossos equipamentos não podem fazer isso. E mesmo se tivéssemos um telepata, teria que ter um dom muito bem desenvolvido pra procurar no universo inteiro.

                - Isso é muito estranho. Ela tem um chip como todos nós. Já devíamos ter encontrado – Peter falou.

                - Não posso mentir pra você. Todos nós sabemos que pode acontecer algo que cause danos ao chip. Você entende onde quero chegar? – Dey perguntou a Peter.

                O terráqueo apenas assentiu com tristeza.

                - Se o pior acontecer... Ainda seria possível rastreá-la? – Mantis perguntou com cautela, vendo o olhar chocado de todos ao perceberem que até ela estava considerando o pior.

                - Sim – Dey lhe disse – A menos que... Como eu já disse, o chip seja danificado no processo. Mas não queremos, e não vamos considerar isso até onde for possível. Faz apenas meses que estamos procurando. Algumas pessoas levam anos pra serem encontradas.

                - Eu sou Groot?

                - Recebemos dois alertas, mas comprovamos que eram alarmes falsos, por isso nem notificamos vocês.

                - Tem certeza? – Peter perguntou.

                - Absoluta.

                - Muitas pessoas passaram a amar minha irmã depois da derrota de Ronan há quase dez anos. Mas ainda há quem a odeie por aí, mesmo que num número muito reduzido. Por isso esse simples sonho me pareceu algo possível de acontecer. Se ela estiver presa em algum lugar, será mais difícil localizá-la. Thanos usava bloqueadores de rastreamento em algumas de suas naves. Era assim que ele se aproximava das vítimas sem que elas percebessem até que aquela nave gigantesca já estivesse em cima delas. Outras pessoas podem fazer o mesmo.

                Dey pensou por um instante.

                - Quando avisamos que desejamos informações sobre o paradeiro dela, não especificamos nada justamente pra que isso se aplique a qualquer tipo de lugar ou situação, incluindo naves suspeitas. Não podemos sair invadindo todas, alguns mafiosos tem uma frota e equipamentos de tecnologia tão avançada, e são tão articulados que mesmo se usássemos todos os nossos agentes e equipamentos, ainda poderíamos sofrer perdas. Então estamos nos concentrando em procurar potenciais contatos de pessoas assim fora das naves. Mas também não conseguimos nada ainda.

                Dey olhou para cada um deles enquanto absorviam suas palavras, e parecia tão errado. A equipe simplesmente não parecia os Guardiões da Galáxia sem Gamora ali.

                - Eu sinto muito, gente. E eu tenho que dizer, vocês nem parecem vocês sem ela por perto.

                Todos o olharam diante dessas palavras, até mesmo Drax que já estava distraído pensando em algo aleatório, como tantas e tantas vezes em visitas anteriores.

                - E esse é mais um dos motivos que nos fará continuar procurando em cada canto da galáxia. Mas é uma resposta que nenhum de nós sabe quando ou como vai vir. Então só posso pedir que continuem tendo paciência. E lhes desejar força pra enfrentar isso.

                Peter assentiu.

                - Obrigado, Dey.

                O amigo respondeu com um pequeno sorriso enquanto desligava as projeções sobre a mesa.

******

                Gamora se sentia estranha desde que acordara naquela manhã. Hoje Adam a levaria novamente ao jardim, uma semana depois de tê-lo ameaçado, e pela primeira vez estava pensando em recusar. As dores em suas costas tinham se intensificado, suas pernas pareciam pesadas e doloridas, e um mal estar a percorreu. Sentia-se com sorte por suas modificações e os atributos naturais de maior resistência de sua espécie terem adiado tanto tais sintomas. Talvez seu bebê fosse chegar mais cedo afinal, acompanhando o tempo dos humanos, e talvez simplesmente os bebês zehoberis também nascessem com nove meses, ela nunca iria saber.

                O soberano chegaria em poucos minutos para lhe trazer comida e esperá-la para caminharem juntos, e Gamora deitou-se em sua cama, pensando em simplesmente ignorá-lo quando chegasse, ainda que ele não precisasse de sua autorização para entrar, mesmo que sempre pedisse.

                Fechou os olhos tentando relaxar. Talvez se dormisse, um pouco do estresse dos últimos meses e o mal estar fossem embora. Por alguns minutos conseguiu descansar, mas abriu os olhos quando sentiu o bebê chutá-la com força, causando um desconforto incomum, e uma pontada atingiu seu estômago. Sentiu-se gelar de medo por dentro, querendo negar as possibilidades. Mas o que poderia fazer se suas deduções estivessem certas?

Os minutos passaram, e outras pontadas de dor a incomodaram, se tornando mais fortes e dolorosas. Uma contração incomoda a fez se sentir atordoada, deixando seu corpo tenso enquanto durou. Não era dor ainda, mas sabia que logo chegaria lá.

— Então é assim mesmo que vai ser... – murmurou para ninguém em especial – Você decidiu chegar justamente agora, querido? Não quer passear hoje?

Como se o bebê lhe respondesse, outra contração a atingiu, e finalmente Gamora se conformou, levando as mãos à barriga e encarando o teto enquanto tentava se preparar mentalmente para o que teria que enfrentar nas próximas horas.

— Eu vou dar um jeito. Eu vou cuidar de você. Venha tranquilo, meu amor – falou baixinho enquanto acariciava os locais onde sentia o bebê se mover, não conseguindo decidir se estava tentando tranquilizar mais o filho ou a si mesma.

Ouviu os passos de Adam se aproximando no corredor, e preparou-se para mandá-lo embora, ainda que não tivesse pensado em como.

— Gamora?

— Hoje não.

— Você está bem?

A guerreira ouviu a porta ser destrancada às pressas quando não conseguiu conter um gemido de dor com a nova contração, mais forte que a anterior. Em um segundo Adam estava ajoelhado ao seu lado.

                - O que há de errado?

                - O bebê – ela sussurrou, sentindo que se falasse mais alto sua dor aumentaria junto.

                - Está te machucando de novo?

                - Não. Apenas chegou o momento dele vir.

                A preocupação sincera nos olhos dourados de Adam a fez lembrar de Mantis, era o mesmo jeito doce e triste que ela olhava para qualquer um dos Guardiões quando sabia que estavam mal com alguma coisa.

                - Tem certeza?

                - Sim.

                - Vou levá-la ao quarto que falei – ele disse se levantando e olhando em volta – Eu vou levar você. Alia levará o restante das suas coisas que estão aqui.

                - Espere.

                Adam a olhou com atenção.

                - Preste muita atenção. Se algo me acontecer... Se quando isso acabar algo der errado pra mim, eu preciso que você tire meu bebê deste planeta.

                Adam abriu a boca para falar, mas ela não o deixou continuar.

                - Eu não sei até onde posso contar com você, e nem se estaria disposto em trair seu reino, mas eu acredito que o certo seja mais importante pra você do que uma simples vingança. Se eu não sobreviver – falou, decidindo finalmente ser clara sobre as possíveis consequências – Você precisa levar meu bebê até Xandar. Entregue-o à Tropa Nova. Ele estará bem com eles. E se Xandar de fato não existir mais, você deve levá-lo a um planeta um tanto distante, chamado Terra, fica numa galáxia vizinha a Andrômeda e bem menor, chamada Via Láctea. Vá à América do Norte, Estados Unidos da América, ao estado de Nova Iorque. Entregue meu bebê aos Vingadores, pessoalmente, a algum deles. Procure por Pepper Potts Stark se for possível. Meu filho também estará seguro lá. Não se esqueça de dizer que façam isso por Nat.

                - Quem é Nat?

                - Isso não é importante agora. E se você contar a alguém sobre isso, eu voltarei dos mortos para acabar com você.

                - Gamora... Você ficará bem.

                - Eu não sei. Eu nunca fiz isso antes. Eu perdi minha mãe tão cedo que nem sei em quantos meses um bebê da minha espécie deveria nascer. Eu não tenho certeza do que vai acontecer. Agora... Se você puder me ajudar... Há coisas que precisarei depois para o bebê.

                - Claro.

                Adam a pegou no colo cuidadosamente e a ergueu. Gamora fechou os olhos, tentando relaxar e poupar energia enquanto não sentia novas contrações. Sua bolsa ainda não havia rompido, então isso poderia realmente durar muitas horas.

                Adam a levou para fora da cela e seguiu para o corredor à esquerda. Apesar do mal estar, Gamora não perdeu a oportunidade de prestar atenção ao caminho por onde estavam seguindo. Deixando para trás os quatro blocos de celas, entraram num corredor com salas aleatórias. Não havia identificação clara nas portas, apenas placas de um cinza mais claro com escritos que Gamora não conseguiu ler. Algumas portas estavam abertas, e ela notou que o interior era semelhante ao de um escritório. Apesar do cinza metálico permanecer do lado de fora, as cores variavam lá dentro, entre dourado e tons escuros de azul, verde ou vermelho, tanto nos móveis quando nas paredes. Ela não percebeu a presença de funcionários no entanto, e se perguntou se as portas abertas significam que poderiam estar em horário de troca de turno, ou se simplesmente os funcionários haviam sido mandados a outro lugar por alguma razão.

                Adam a olhou brevemente quando outra contração a atingiu e seus músculos se contraíram. Gamora cerrou os dentes com o incomodo que começava a se transformar em dor, e sentiu Adam apressar seus passos.

                - Estamos chegando – ele lhe disse.

                Tudo que Gamora queria é que sua bolsa não quebrasse antes de chegarem ao destino. Ela não estava com paciência para explicar nada de sua biologia ou do processo do nascimento a qualquer um dos soberanos, e nem queria fazê-lo.

                Felizmente chegaram a uma porta. O metal era aparentemente bastante pesado, mas Adam segurou a maçaneta e a empurrou com extrema facilidade, adentrando o cômodo seguinte, que se destacava completamente do interior da prisão. Dois guardas os saudaram com um aceno de cabeça e a costumeira expressão séria e fria da maioria dos soberanos, provavelmente já avisados sobre o que estava acontecendo. Enquanto Adam cruzava a sala com ela, percebeu que a porta era dourada por fora, assim como as paredes e o teto. O chão estava adornado por um carpete azul escuro de canto a canto, com desenhos de arabescos dourados. Outras portas, provavelmente trancadas, podiam ser vistas em volta da sala, talvez fornecessem acesso a outras áreas da prisão ou do palácio. Mas Gamora não pode ver mais nada, estavam passando por outra porta na parede oposta, e entraram em outro corredor.

                Esse corredor era bem mais largo e continha várias portas, além de se conectar a outros dois corredores idênticos, que deveriam levar a outros locais do palácio. As paredes também eram todas douradas, com adornos em azul marinho no rodapé. Gamora já estaria irritada com o excesso de ouro nesse lugar se não tivesse questões maiores para se preocupar agora. Adam parou em frente a uma porta, guardada por dois homens, e trocou um aceno de cabeça com eles. Um dos guardas abriu a porta, permitindo que Adam passasse com ela, e a fechou novamente depois.

                Gamora se viu num quarto muito maior que as duas celas anteriores, e para seu alívio as paredes eram de um tom agradável de marrom claro ao invés de mais cinza escuro ou dourado. Uma cama maior e visivelmente mais confortável estava num canto, e uma outra peça acoplada à lateral formava um perfeito berço para um recém nascido. Uma mesa menor com uma bandeja com alguns instrumentos cirúrgicos estava do lado oposto. Outra mesa estava no centro do quarto, com uma banheira transparente para bebês. Recipientes térmicos, também transparentes estavam ao lado, preenchidos com água aquecida, além de toalhas esterilizadas. Duas cadeiras estavam junto à mesa. Também havia uma cômoda de quatro gavetas ao lado da cama, com um pequeno baú de plástico colorido em cima, claramente feito para guardar pertences de crianças. Ao lado havia bolsas impermeáveis dobradas. Uma porta na parede próxima à cama parecia pertencer ao banheiro.

                - Eu ainda preciso arrumar algumas coisas. Me deixe sentar em uma das cadeiras.

                Adam obedeceu.

                - Diga-me como posso ajudar.

                - Não. Por favor, vá embora. Isso não vai acontecer agora. Ainda posso descansar um pouco. Apenas... Não permita que ninguém me incomode.

                - Tem certeza?

                - Tenho. Obrigada por me trazer aqui. Agora, me deixe.

                - Eu estarei do lado de fora se precisar.

                Ele hesitou por mais alguns segundos antes de sair. Gamora esperou para ter certeza de que ninguém viria incomodá-la, e aproveitou os minutos sem novas contrações para forrar a cama com algumas das bolsas impermeáveis e se colocar em roupas mais confortáveis, trocando o vestido preto por uma camisola salmão que encontrou em uma das gavetas da cômoda. Não era uma cor que ela costumava usar, mas tinha gostado quando Alia trouxe. Se acomodou debaixo das cobertas, não pretendendo dormir, mas relaxar o quanto possível para quando o momento chegasse.

                O silêncio do lado de fora fez seus pensamentos vagarem novamente para Peter, e outra vez uma voz irritante no fundo de seus pensamentos lhe disse o que vinha fazendo tudo para negar. Talvez Ayesha esteja certa. Ele se foi.

                - Não... – sussurrou para si mesma.

                Ele atravessaria o universo para encontrar você onde quer que estivesse. Ele a rastrearia, ele nunca desistiria de você se estivesse vivo.

                - Não... Não pode ser assim. Ele só não sabe onde estou. Eu ficaria surpresa se até mesmo a Tropa Nova me localizasse em uma prisão soberana. Precisa ser mentira.

                E o que você vai fazer se não for?

                - Antes de decidir isso eu preciso ter meu bebê e sobreviver.

                E depois que isso acontecer você já terá a resposta?

                - Eu não sei o que fazer – falou baixinho, percebendo que estava perdendo mais uma batalha para as lágrimas, e secando a primeira delas que correu por seu rosto – Agora não. Eu preciso estar bem pra ele ou ela.

                Outra onda de dor atravessou seu corpo, e Gamora se encolheu, conseguindo finalmente ignorar seus pensamentos.


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