— Draco – Hermione puxou a manga do uniforme dele com um sorriso – Que bom te ver aqui.

— Sério?

— Queria conversar com você.

Um pouco assustado o garoto a seguiu. Os dois estavam na saída do refeitório logo após o café da manhã e agora ela o levava para a biblioteca, seu canto seguro de conversa longe de olhares. Desde o dia anterior eles não tinham se falado e Draco estava nervoso para aquilo, pois sabia as perguntas que ela faria e sabia que tinha vergonha de respondê-las.

Chegando na mesa, o cheiro de livros e páginas antigas os inundava de todos os lados. Se sentaram e Hermione respirou fundo, parecia ter treinado aquilo.

— Eu quero confiar em você – Declarou – Mas antes eu preciso que me conte tudo, Draco. Porque aqueles caras estão fazendo isso. Porque você veio até mim. E as suas intenções a partir de agora.

O garoto sentiu as mãos um pouco trêmulas e suspirou.

— Tá bem... Então, por favor não me odeie – Pediu, sem receber uma resposta – Eu gostava de implicar com você. Não só com você, gostava de ser cruel com as pessoas porque isso é a única coisa que eu sei fazer e é o único jeito que eu sei interagir. Mas desde que começou o ano, os garotos mais velhos da sonserina, não só aqueles de ontem, tem pegado no meu pé. Acho que é uma vingança pelos oprimidos, ou eles só gostam de ser maus também.

Deu um meio sorriso levantando um pouco os olhos, mas ainda com vergonha.

— Eles estão me incomodando muito e meus amigos pararam de falar comigo, para não serem perturbados também. Depois disso eu comecei a pensar que, sabe, eu fazia isso com as pessoas, eu causava esse efeito ruim nas pessoas. Não é legal quando o feitiço se vira contra o feiticeiro. Daí eu pensei “é assim que as pessoas se sentem?” e percebi que eu tinha culpa nisso. Então vim para a biblioteca e te encontrei e achei que fosse algo como destino.

Hermione assentiu e ele se sentiu mais tranquilo.

— Eu só... Eu não sei o que eu quero agora.

— Você quer mudar? – Hermione perguntou tocando as costas das pálidas mãos de Draco por cima da mesa.

— Eu não quero mais ser cruel. E eu quero ter amigos de novo, não é agradável ficar sozinho – Deu de ombros como se não fosse grande coisa, mesmo sabendo o quanto estava solitário naquele começo de ano.

— Está bem. Eu posso te ajuda nisso.

— Sério? – Riu sem acreditar.

— Mas preciso que você faça algumas coisas primeiro.

— Não sei se concordo com esse termo.

— Preciso que me prove que está disposto a mudar – Explicou – E peça desculpas para Harry e Ron.

— Peça desculpas...? – Ficou boquiaberto.

— Draco – Chamou olhando dentro do azul dos seus olhos – Eu preciso de garantia de que você quer mudar.

Aquelas palavras pesaram no colo dele. Ele viu a confiança quebrada dela e entendeu sua parcela de culpa. Com um aceno positivo da cabeça, Hermione sorriu exibindo seus dentes levemente tortos, fazendo com que seu coração desse um pulo no peito.

— Então antes do almoço nos encontramos na porta do refeitório – Falou – Até lá e obrigada por ter aceitado.

Com um beijo na bochecha de Draco, Hermione correu porta afora, pois já estava atrasada. Também era a hora da aula do sonserino, mas ele ficou mais um pouco, saboreando o toque dos lábios macios em seu rosto.

***

— Ele aceitou o que? – Ron falou gesticulando de um lado da sala de aula para Hermione que estava do outro. O local era iluminado por grossas velas brancas que pingavam cera no chão e estava silencioso como uma tumba, com exceção do professor que passava os ensinamentos.

— Se desculpar – Repetiu.

— Ele o que? – Harry perguntou a Ron, que estava ao seu lado.

— Não entendi ainda – Sussurrou.

— S E D E S C U L P A R – Ditou letra por letra.

— Não, não entendi.

— Eu acho que ele aceitou se desculpar – Harry murmurou encarando os gestos da garota.

— Algo que gostariam de compartilhar? – Severo Snape perguntou para Harry e Ron, que conversavam entre si – Ou algo que tem a dizer para a turma? – Direcionou a questão para Hermione, que negou efusivamente com a cabeça, balançando seus cachos marrons.

— Bom. Então parem de palhaçada e prestem atenção.

O trio baixou a cabeça e focou na aula, antes que mais uma advertência fosse dada pelo professor ou pior, antes que ele tirasse pontos da casa.

— Menos cinquenta pontos para a grifinória – Murmurou e Hermione deitou a cabeça na classe chateada.

Na saída da aula, a caminho do refeitório para o almoço, tudo o que se ouvia pelos corredores eram murmurinhos sobre o baile de inverno que seria em uma semana e sobre quem seria o par de quem.

Avistando Draco na porta esqueceu essa preocupação e apressou o passo, fazendo com que os amigos andassem mais rápido também.

— Então, Draco – Hermione sorriu puxando os três garotos para um canto mais afastado, mesmo que ninguém estivesse se importando com eles.

— Anh, eu devo um pedido de desculpas pra vocês dois – Murmurou tentando soar confiante, mas suas mãos suavam como nunca – Desculpa por todas as coisas ruins que eu disse e fiz pra vocês.

— Hum – Ron estudou o rosto dele com seriedade para então abrir um sorriso – Me convenceu.

— Tá bom pra mim também – Harry comentou escorando o ombro na parede – Perdoado.

— Agora vamos almoçar? – O ruivo acariciou a barriga esfomeado.

— Só isso? – Draco indagou.

— É, sei lá – Ron deu de ombros – Foi um pedido show, mas temos fome. Vamos?

Hermione sorrindo orgulhosa concordou. Os três estavam saindo, quando o sonserino segurou suavemente o pulso da garota, que deixou os amigos irem na frente e voltou para conversar.

— Você foi bem – Comemorou – Eles nem ligaram muito, mas eles que pediram pra você se desculpar, é só o jeito doido dos dois.

— Obrigado – Draco mexia as mãos nervosamente no uniforme preto – É que tem um negócio que eu precisava fala.

— Pode falar.

— Só um pouquinho – Pediu, o rosto geralmente pálido tomado por uma tonalidade forte de vermelho. Draco estava derretendo de vergonha e Hermione não conseguia entender o porquê.

— Tá bem. Você tá passando bem, Draco? Quer ir ver a Madame Pomfrey?

Com um suspiro as palavras correram para fora dos lábios dele, sendo comidas pela timidez.

— Querirbailemigo?

— O que? – Hermione não tinha entendido nada além de baile e um sorriso tímido brotou em seu rosto bonito.

— Quer ir ao baile comigo? Você é a única garota que não tem nojo de mim, eu acho. Você tem nojo de mim? – Tentou mais uma vez. Sentiu vontade de fugir, não queria receber um não assim, na cara, mas ficou.

— Não tenho! Nós somos amigos, Draco. E claro que eu vou no baile com você – Hermione deu de ombros sorrindo e se virou, indo para o refeitório. Com muito autocontrole conseguiu não pular de felicidade até a mesa, mesmo sem saber porque estava tão feliz.