Mad World escrita por dianasprince


Capítulo 3
02: a Death in the Family.




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Com as duas malas prontas, observei brevemente o pequeno quarto perfeitamente arrumado, porém sem decoração e objetos pessoais que indicassem que alguém o usava, muito menos que fosse dividido por duas pessoas. Nada ali poderia ser reivindicado e isso tranquilizava a minha alma. Ele não se parecia nada com a suíte na mansão dos Zola, muito pelo contrário, estava distante de ser um cômodo que me trazia lembranças felizes da infância. Assombroso, sem cor e sem vida, rodeado por camadas de concreto para impedir o frio do lado de fora, mas de nada adiantava, pois me pegava frequentemente fora da base, esperando meu corpo sucumbir a neve. 

Ao acordar às cinco em ponto, percebi que havia sonhado com o pequeno balanço no quintal com grama recém cortada e lotado de rosas, as flores preferidas de mamãe. O coração disparado, o grito dado e as lágrimas acomuladas nos olhos, não foram o suficiente para acordar Diego de seu sono tranquilo, o primeiro em muitos anos. Mesmo que desconfiada, preferi levantar e começar os preparos para a missão, já que o sono foi se esvaziando do meu corpo. 

— Você está bem? — Daryl, como sempre, era o primeiro agente a acordar cedo na base e fazer a sua ronda matinal. Não me surpreendia vê-lo por ali, sentado na mesa do refeitório tomando seu café. — Não me parece bem. 

— Não sabia que era tão importante em sua vida. — resmunguei, carregando a bandeja até o outro lado, tentando evitar sua companhia. — Estou ótima.

— Não seja teimosa, Helena. — suspirou, levantando do seu lugar e me seguindo logo atrás. — Está preocupada com a missão? 

— Desde quando fico preocupada com coisas do tipo? — ergui a sobrancelha, indo até o banco e sentando no mesmo. — Não sou novata, minhas preocupações se resumem a coisas que você não entenderia. 

— Coisas do tipo… isso aí? — apontou para a minha luva de couro, tentando se aproximar de minha mão, mas o impedi, empurrando seu toque. — Você sabe o quão poderosa é? Tem noção do perigo que pode causar? Merda, é mais poderosa do que eu! E convenhamos, eu sou o telepata da organização. — riu secamente, abrindo e fechando seu isqueiro, olhando a chama atentamente. — Cada dia que passa, eu sinto sua força aumentar. Zola não acredita, pensa que estou ficando louco! Oras, a filha adotiva dele não pode tocar nada e nem ninguém e eu que estou louco! 

Segurava o plástico firmemente, preocupada que suas palavras me atingissem o bastante para causar algum dano irreversível ao local ou até mesmo o próprio homem. 

— Então é sobre isso que se trata? Pensa que sou uma ameaça? 

— Tenho certeza que você é uma ameaça. — vociferou. — Uma maior que o próprio cubo que enlouqueceu o Caveira Vermelha.

— O cubo era uma energia instável, Daryl. Schmidt, cego por sede de poder, não foi capaz de perceber no que estava se metendo. — dei os ombros, bebericando o café pelando. — Arnim o avisou, Diego o avisou. 

— Você também avisou. — constatou. — Engraçado, por mais que tente enganar a si mesma, dizendo que não iria fugir por amor ao seu irmão, você não me engana… sabia que Schmidt iria falhar, não é? O louco te contou. Eu sei, ou melhor, eu vi.

— Certo, então vamos fingir que louco é a única coisa que você chama meu irmão? Hm… parece que não sou a única escondendo segredos por aí. 

O sorriso cafajeste em seu rosto desapareceu, trazendo um toque de preocupação em seu olhar, provavelmente com medo de ter a sua reputação manchada, caso decidisse abrir a minha boca. 

— Não se preocupe, ninguém irá saber. Mas não será por sua causa. — neguei, rindo de seu nervosismo. — Diego não irá sofrer, seus poderes já causam estranheza o suficiente por aqui, não merece mais um problema em sua vida. É claro que você é um deles. 

— Não sei do que está falando, Helena. 

— Pois, eu sei. Também sei o motivo de evitá-lo, não pense que nasci ontem, loirinho. — pisquei. — O que foi? O gato comeu sua língua?

— Cala a porra dessa boca, Zola! — bateu os punhos na mesa de metal, fazendo um estrondo e chamando a atenção dos poucos por ali. 

— Não é o único com cartas na manga. 

— Está aprontando algo, não é? Sei que está! — mudou de assunto rapidamente.

— Não tenho tanta certeza se aprontar é a palavra certa. — neguei, levantando, mas não sem antes deixar um recado. — Saiba que, um dia, caso seja necessário, eu mesma irei eliminá-lo. Não será difícil, ninguém sentirá sua falta, muito menos irá se importar. Grite aos quatro ventos o quão ameaçadora eu sou, isso ainda não será o bastante para me deter, Browning. 

Ignorando seus gritos e chiliques, o deixei para trás, preparando respostas rápidas, para caso fosse interrogada devido a nossa pequena discussão. Em poucas horas, iria se espalhar pela base, mas isso não seria uma novidade para ninguém. Helena e Daryl perdendo a cabeça novamente e novas teorias seriam criadas. Será que estão brigando por atenção? Será que estão discutindo para ser o centro das atenções de Arnim Zola? Ninguém sabe. 

Outras teorias sem cabimento já foram exploradas e a falta de criatividade dos outros, me deixava entediada. 

— Provocando fofocas logo cedo? — Diego saiu do elevador, trazendo sua mala consigo e indo em direção ao hangar. — Ouvi dizer que discutiu com Browning, novamente. 

— Hm, isso acabou se espalhando mais rápido do que pensei. — revirei os olhos, sabendo que suas visões estavam ficando fora do controle. — Tem que parar de se esforçar, não faz bem para sua saúde. 

— Não estou me esforçando. — assim como eu, ele também é um péssimo mentiroso. — Elas estão vindo como se fossem uma enxurrada de informações desnecessárias. 

— É isso, ou você está tentando obter algo em particular? — minha pergunta o fez parar de andar, estagnado no lugar. — Diego? 

Parei em sua frente, segurando suas mãos e esperando voltar ao normal. No começo, me assustava com seu olhar penetrante e seu corpo congelado. Algumas vezes tremia ou até mesmo chorava, e nessas vezes, se recusava a me falar o que tinha visto. Em sua maioria, as visões eram desconexas ou de um futuro tão distante que não me preocupava.

— Diego? — o chamei novamente, ignorando os olhares estranhos que ele recebia de alguns agentes. — O que está olhando, hein? Saiam daqui antes que eu quebre suas pernas! 

Após assustá-los, saíram correndo, me deixando para trás, resmungando coisas idiotas ao meu respeito, mas preferi ignorar, pois não iria deixar meu irmão numa situação tão vulnerável. 

— O que aconteceu? Por que está segurando minhas mãos? — ao voltar, se afastou e passou a andar novamente. — Você vem ou não? 

— Então agora você finge que não aconteceu nada? — irritada, o acompanhei até o seu destino. — Não vai me contar o que viu? 

— Nada que precise se preocupar. — sorriu, mas não foi capaz de me convencer. — Estou falando sério.

— Isso está realmente ficando fora de controle! Não pode sair numa missão desse jeito. — preocupada com seu bem-estar, não poderia deixá-lo ir para o outro lado do mundo desacompanhado. — Vou com você.

— Não, não vai. Arnim não irá permitir.

— Ele que vá para merda! 

Minha voz ecoou pelo hangar, chamando atenção de todos que trabalhavam nos dois aviões que em breve iriam decolar. Zola, que mexia em seus papéis atentamente, veio até o nosso encontro, carrancudo como sempre. 

— Helena, se comporte, por favor. — pediu. Na verdade, mandou. — Vejo que já está preparado para a missão, Diego. O avião decola em vinte minutos. 

— Está bem, senhor. 

— Onde estão suas coisas, Helena? — fez um sinal com as mãos para que o seguisse. — Você também irá partir daqui alguns minutos. 

— É sobre isso que quero conversar, senhor. — seguindo o exemplo do meu irmão gêmeo, fui respeitosa. — Diego está fora de controle, suas visões estão fora de controle. Não pode mandá-lo para uma missão sozinho.

— Não só posso, como vou. — afirmou. — É para isso que ele é treinado, para se virar sozinho.

— Suas visões o deixam vulnerável. Qualquer um pode atacá-lo, se o senhor deixar, posso acompanhá-lo…

Virando para me encarar, Arnim me interrompeu com o seu olhar sugestivo, provavelmente suspeitando minhas palavras e ações.

— Então é disto que se trata? Helena, não irei repetir. — parando para conversar com um agente, me dispensou. — Ligações emocionais a tornam uma pessoa fraca e sem utilidade para a organização, tenha isso em mente.

Seu tom ameaçador não foi o suficiente para me assustar, muito menos tirar o meu sono nos próximos dias. Irritada e com mais uma conversa entrando para a lista de argumentos perdidos com aquele que chamo de pai, respirei fundo, tentando se contentar com a minha fraqueza atual. 

— Ele não deixou, não é? 

— Algo me diz que isso não te surpreende. — ri sem humor algum. — Tome cuidado. 

— Eu sempre tomo. — deu os ombros.

Com as suas coisas dentro do avião, Diego parou no meio da escada e fui até o seu encontro, mas não esperava ser abraçada fortemente, pois, assim como eu, ele tem problemas em demonstrar afeto. Falar que sua ação não me assustou, seria uma tremenda mentira. Por um instante, meu coração apertou e algo me dizia que ele havia mentido e continuaria mentindo até o seu meio de transporte partir para a América do Sul. Já impedi-lo não é uma opção viável, apenas retribui seu carinho, me preparando mentalmente, caso fosse a última vez.

— Se cuide. — sussurrou em meu ouvido, se afastando lentamente. — Ich liebe dich.*

Sorri, descendo os degraus e sentindo uma mão em meus ombros. Daryl. O empurrei, preferindo não assistir o avião partir com a única família que me restou. 

— Ele te contou algo? — perguntei quase que num sussurro. — Vamos, me diga! 

— Helena… — o loiro suspirou, massageando suas têmporas. — O que vai acontecer, não pode ser revertido. 

— É claro que pode! Ele sempre me falou isso! — nervosa, o empurrei mais uma vez com os punhos. — Que merda! Como pôde? Como pôde deixá-lo ir dessa maneira?! Como eu pude?! 

— Helena! Não é ele! — berrou, pegando-me pelo antebraço e me puxando para o corredor, longe de Zola e seus ouvidos potentes. — Diego partiu, preferiu partir, pois não teve coragem de olhar em seus olhos e te contar a verdade. 

— Que merda de verdade?! Eu deveria ter ido com ele, eu sabia! — me soltando de seu aperto, apoiei as costas na parede, deslizando meu corpo até o chão e sentindo as lágrimas se acomularem uma segunda vez naquele dia. — Eu vou perdê-lo…

Daryl se aproximou devagar, observando meus movimentos atentamente. Que covarde! Agora sentia medo do que poderia acontecer…

— Helena. — me chamou novamente. — Diego não vai morrer, mas você vai. 

— Não seja idiota. 

— Estou falando sério, Helena. — sua expressão não mudou. — Você vai morrer. Diego me contou pouco antes de partir. Você vai morrer, Helena. 


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Notas finais do capítulo

*Ich liebe dich significa "eu te amo" em alemão, uma das línguas mais faladas na Suiça, país de origem da família Zola.



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