Camaleão escrita por Peniel Jacob


Capítulo 2
Alerta! Uma nova ameaça foi encontrada!


Notas iniciais do capítulo

Desde já peço perdão pelos erros ortográficos. Fiquei revisando por alguns dias.

Se você quiser mais imersão, recomendo estudar “Evil Spider - BENEE” —>
https://youtu.be/uQ983htswu8

Esse também é o tema da Sarah!
Já vou avisando para ativar o seu antivírus... Vai que a Under Citizen se interessa por você... Não me responsabilizo! (Brincadeira, mas tome cuidado com os links que você clica!)



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Os passos de Sarah eram notoriamente apressados. Quando olhou para o relógio no seu celular, viu que realmente estava atrasada. Apertou ainda mais o passo para poder pegar o ônibus a tempo.

 

Toda essa pressa não era por causa da primeira aula. Na verdade, não era por causa de aula alguma. Ela queria chegar cedo para ver a reação das pessoas.

 

Já era quase noite quando saía do trabalho para a faculdade. Especialmente naquele dia estava cansada, mas tinha uma motivação extra.

 

Trabalhava na cafeteria Kingdom como balconista. O emprego tinha sido arranjado pelo seu tio Azad a pedido da sua mãe. O salário era uma quantia pequena, mas cobria a mensalidade da sua graduação. Além disso, sobrava alguns trocados para ajudar a mãe com certas despesas do apartamento.

 

Embora precisasse trabalhar, odiava o tipo de função que exercia. Isso porque tinha que lidar com pessoas, e na maioria das vezes eram pessoas sem nenhuma sombra de empatia e educação.

 

Já aconteceu de uma cliente ter jogado uma xícara de café-com-leite que estava quente em seu rosto. Alegava que não era aquilo que tinha pedido. E o que mais irritava não era o ardor do mesclado, mas a impossibilidade de fazer a mesma coisa com a cliente.

 

Quando isso aconteceu, chorou horrores. Não conseguia lidar com a presença da injustiça sem fazer nada.

 

O sentimento de impotência era uma das coisas que odiava.

 

Então resolveu dar um jeito e agir da forma que estava em seu alcance.

 

Quando um cliente fazia uma requisição de compra na Kingdom, era necessário fazer cadastro com o seu número de telefone e documentos. Sarah começou a observar aquela mulher impulsiva e com dedicação descobriu os seus dados.

 

Sabia que seu nome era Laura Yahontov. Era uma mulher de 25 anos. Uma jovem de alta classe que havia iniciado sua carreira como médica residente no hospital Care to Care recentemente. O dono do hospital era um senhor chamado Clement Yahontov, que por coincidência, ou não, era o seu pai.

 

O hospital era voltado para cuidar de pacientes com problemas neurológicos. O senhor Yahontov era o diretor-geral.

 

Sarah descobriu tudo isso com as informações dispostas de forma dispersa pela rede social de Laura.

 

Ela tinha quase cinco mil seguidores em uma rede social e postava majoritariamente coisas relacionadas a sua rotina de médica recém-formada. Seguia apenas duas pessoas, seu pai e um usuário chamado Dimitri Morozova.

 

Dimitri Morozova era o noivo de Laura. Pelo histórico de interações nas redes sociais, os dois estavam juntos entre 12 a 13 meses. Um tempo relativamente rápido.

 

Sarah questionou-se o porquê. Entrou no perfil do noivo da médica.

 

Descobriu que Dimitri Morozova era funcionário da empresa nacional de bebidas chamada “Casa Morozova”. Concluiu que Dimitri deveria estar relacionado de forma familiar com o proprietário da empresa. Isso era fácil de supor, tendo em vista o seu sobrenome.

 

Apenas com essas informações traçou a teia de informações que estavam presentes na rotina da senhora Yahontov. Sabia quem ela era, teve conhecimento da sua família e do seu local de trabalho. Teve acesso aos seus sonhos e aspirações através de postagens regulares no seu perfil. As pessoas expõem as suas informações na rede sem nenhuma prudência. E ainda querem estar seguras.

 

É como você viver em uma casa de vidro e ainda querer  privacidade. Essa era uma das coisas que Sarah não encontrava lógica.

 

Tendo em consideração todos esses dados, teve uma ideia tanto quanto maldosa, mas necessária para dar o que a recém-médica precisava.

 

Na madrugada, após ter chegado da sua rotina estressante que se resumia a trabalho e estudos, sentou na sua escrivaninha e iniciou o computador. Seus dedos estavam coçando para ver o resultado daquela inspiração.

 

Passou a metade da madrugada diante da tela do computador para conseguir acesso ilimitado sobre as credenciais das redes sociais de Laura. Não foi uma tarefa fácil passar por todas aquelas camadas de segurança imposta pelo código da rede social. Mas teria certeza que o desfecho seria satisfatório.

 

Quem sabe dessa forma a senhorita Yahontov não se tornaria mais dócil e amigável?

 

Invadiu sua rede social e a deixou suspensa por semanas.

 

De início, Laura tentou inúmeras vezes recuperar as suas credenciais de acesso. Conseguia monitorar isso pelos inúmeros pedidos de recuperação que chegavam no e-mail cadastrado, que também estava na posse de Sarah.

 

Após algumas semanas, liberou as redes sociais da moça com uma mensagem que considerava ser atenciosa.

 

Querida Laura,

 

Sei que esses dias devem ter sido difíceis para você.

 

Também sei que está se sentido mal por perder a sua rede social com todas as suas curtidas e seus seguidores.

 

Mas estou aqui para dizer que toda essa angústia chegou ao fim. Inauguro novamente a sua rede social com essa mensagem de carinho e atenção.

 

Dei uma olhada aqui nas suas postagens e me decepciona o fato de você omitir muitas coisas dos seguidores que te apoiam tanto.

 

Por exemplo o fato de você ser uma pessoa desprezível e totalmente difícil de lidar. E além de tudo isso, pensa que as pessoas são obrigadas a lidar com todo o lixo que derruba sobre elas.

 

E isso vinha logo de você, a pessoa que dizia que “quem tem humildade, tem tudo” .

 

 

Mas vamos esquecer o passado, né?

 

Aqui está sua rede social. Inteirinha, sem perder nenhum seguidor nem curtida.

 

Espero que seja uma pessoa melhor daqui para frente.

 

Ps: Não me responsabilizo se eles deixarem de te seguir a partir de agora.

 

Com amor, Under Citizen :)

 

Depois de algumas horas Laura excluiu a mensagem do seu mural. Mas isso foi tempo o suficiente para que seus seguidores lessem o comunicado e expressassem as suas opiniões.

 

A hipocrisia é algo que precisa ser estudado.

— @annaj, às 23h04

 

Se isso for  verdade, acho que agora aprenderá como tratar as pessoas. É uma pena que precisou passar por tudo isso para aprender algo tão básico.

— @ivangusev, às 23h05

 

Seja quem foi que fez isso, não tinha esse direito. Laura, estamos com você. #força

— @dmorozova, às 23h15

 

Esses hackers estão cada vez mais criativos...

— @diana545, às 23h23

 

Ooops... Acho que alguém estava bem furioso com você. xD

— @minmin1, às 23h30

 

Após recuperar a conta, Laura continuou com a sua atividade na rede social normalmente. Nas manhãs, postava fotos da sua mesa de trabalho – o seu notebook, um livro sobre neurônios e nervos, uma caderneta com algumas palavras em letra cursiva e um o copo de café-com-leite da Kingdom. A tarde, uma frase inspiradora que causasse impacto. A noite, uma foto com a família ou o noivo.

 

Nunca havia desconfiado que a origem daquela situação vinha do balcão da sua cafeteria preferida.

 

Provavelmente pensava que aquilo foi um ataque de alguém que invejasse a sua vida perfeita que transcrevia nas fotos de uma rede social.

 

As pessoas são assim. Não é muito importante para elas buscarem viver algo em sua verdadeira essência. Elas apenas se interessam em mostrar o que querem que as outras pessoas vejam.

 

E isso fazia com que elas se tornassem desesperadas por algumas migalhas em pixels. Por que não postar uma foto da sua família sorrindo? Por que não compartilhar o seu restaurante favorito? Por que não tirar uma selfie com o seu uniforme do novo emprego que arranjou?

 

Podem parecer coisas inofensivas, mas para quem entende, são armas poderosas. Armas que dão a qualquer pessoa o poder de saber sobre você e tudo o que faz parte da sua vida.

 

E Sarah tinha perfeita consciência disso. Tanto é que começou a usar os poderes que os algoritmos davam àqueles que sabiam os manejar.

 

Aquela não foi a primeira vez que usava os códigos a seu favor. E nem seria a última.

 

Mas decidiu ser cautelosa em suas ações.

 

Quando viu uma garota sendo assediada pelo professor de matemática, Vladimir Petrov, soube que era hora de agir novamente.

 

Tudo começou quando estava correndo pelo corredor para não perder o ônibus das 22h30. A aula tinha acabado excepcionalmente cedo. Gostaria de chegar cedo em casa hoje e praticar um pouco mais de programação. Não queria ser útil apenas por quebrar camadas de segurança dos programas, mas de também saber construir softwares úteis para pessoas e empresas.

 

Foi então que ao passar pela sala D19, viu a garota com o professor tendo uma conversa. A princípio não parecia nada suspeito, até que ouviu um grito que ecoou pelo corredor vazio.

 

— Me deixe em paz, por favor!

 

Imediatamente parou os seus passos. Aproximou-se sorrateiramente da sala. Não havia ninguém no corredor porque todos estavam tendo a última parte da aula.

 

A porta estava aberta.

 

— Janet, não precisa gritar!

 

— Eu grito quantas vezes eu quiser. Me deixa em paz, entendeu? Se não conto tudo o que você tem feito.

 

— Ah, mas vai dizer que você não gosta?!

 

— Me deixa em paz! Não quero nunca mais te ver!

 

— Janet, meu anjinho...

 

— Não sou seu anjo.

 

— Você não quer levar essa conversa para outro lugar?! Para um motel?

 

— O quê?????? Não acredito que ouvi isso.

 

Ouviu passos direcionados para o corredor.

 

Rapidamente saiu dali. Não queria ser vista.

 

Na ida para casa, pensou em tudo o que tinha ouvido. Quando pensava nas palavras do professor, sentia repulsa. Muita repulsa.

 

Foi então que começou a seguir o caso mais de perto. É claro, sempre buscando não ser vista.

 

Janet era uma garota de 23 anos de idade com suas melenas azul cintilante e um visual alternativo. Fazia o curso de graduação de Física. Vladimir era o seu professor de matemática nesse bimestre.

 

Janet tinha influência nas suas redes sociais. Tinha um canal de vídeos destinado para dizer sua opinião na música, principalmente no gênero metal. Fazia críticas, dava recomendações e fazia propaganda de festivais. Tinha muitos seguidores. E entre eles estava o professor.

 

Ele sempre deixava reações e comentários.

 

Em alguns intervalos, Sarah encontrava a garota no banheiro feminino. Na maioria das vezes seus olhos estavam inchados de chorar.

 

Percebeu que não poderia mais ficar de braços cruzados observando essa opressão. Deveria fazer alguma coisa.

 

E novamente Sarah utilizou os poderes dos algoritmos. Esperava que isso foi suficiente para mudar a situação e parar Vladimir. Provavelmente Janet não era a única garota assediada.

 

Chegando no ponto de ônibus, seu celular vibrou.

 

Lars, às 18h55: Onde você está? A aula está para começar.

 

Começou a dedilhar o teclado de celular.

 

Sarah, às 18h56: Ainda no ponto de ônibus. Hoje fechamos tarde, tínhamos muitos clientes. Como estão as coisas por aí?

 

Uma figura desfocada apareceu no horizonte. Vinha com uma rápida velocidade. Era o ônibus.

 

Lars, às 19h00: Um caos! Você sabia que hackearam o sistema da faculdade?

 

Achou engraçado a ingenuidade do namorado. Deu um leve sorriso e subiu no ônibus. Pagou o valor da passagem para o cobrador e passou pela roleta.

 

Sarah, às 19h03: Nossa! E aí? O que aconteceu?

 

Lars, às 19h04: O professor Vladimir está com o seu nome comprometido. Ouvi dizer que ele vai ser demitido. Estão falando que ele abriu um vírus que infectou outros computadores além do dele. Os computadores dos professores estão inutilizáveis pois estão infectados com ransomware. Hoje a aula será na lousa ao invés de slide.

 

Sarah, às 19h06: Para os professores nos pouparem daqueles slides graficamente horrorosos é porque algo sério aconteceu! Mas enfim... Isso mostra que o sistema de gestão educacional tem uma falha na segurança.

 

Lars, às 19h06: E como! O vírus veio pelo e-mail da professora Martha. Ela amava compartilhar mensagens de bichinhos no servidor da universidade... Isso em si já é uma falha. Uma falha humana.

 

Não pode conter o riso. Sentia pena da professora Martha, mas era necessário expor as atitudes do professor Vladimir.

 

O celular sinalizou outra mensagem.

 

Lars, às 19h15: E que horas você vem, amor? Tô com saudades :(

 

Sarah, às 19h15: Já estou chegando. Hoje não consegui arrumar rosquinhas para você. Espero que não esteja com fome.

 

Lars, às 19h16: O quê?????? Amor, isso não é justo.

 

Sarah, às 19h17: O intervalo vai ser por sua conta hoje ;)

 

Lars, às 19h18: Coxinhas e guaraná, pode ser?

 

Sarah, às 19h19: Você pagando... Pode ser tudo.

 

Lars, às 19h20: O seu escravo está sempre pronto para servir.

 

Não conseguia parar de sorrir.

 

Quando tinha Lars ao lado, parecia que estava nas nuvens. Às vezes pensava em como tinha sorte em encontrar alguém assim. Tão carinhoso, tão companheiro, tão engraçado, tão... Lars.

 

Contava os minutos para encontrá-lo. Não via o momento do “Eu aceito” chegar. Já havia imaginado a cerimônia, o vestido, o gosto do bolo...

 

Além disso, seria um alívio não morar mais com a mãe.

 

Lars chamou a sua atenção desde o primeiro momento que ela o viu. Tinha cabelos longos castanhos-claro e um par de olhos com a tonalidade castanho claro. Quando àqueles olhos caíram sobre ela pela primeira vez, sentiu o seu coração gelar.

 

Ele despertava algo dentro de si que estava há muito tempo dormente.

 

O celular vibrou mais uma vez. Entusiasmada, pensou que era o namorado novamente.

 

Mas era um número desconhecido.

 

?????, às 19h30: Under Citizen, compareça à estação do metrô principal hoje às 23h30 na plataforma A11. Preciso falar com você, o assunto é de seu interesse. Não leve ninguém.

 

Caso não compareça, toda Moscou saberá quem é a pessoa por trás dos ciber ataques.

 

Que estranho. Ninguém sabia que ela era a Under Citizen. Na verdade, isso nem era possível... Ela havia tomado todas as preocupações de esconder o seu IP e a sua localização. Nunca deixou nenhum rastro nas suas atividades virtuais.

 

Mas como haviam descoberto o seu número de telefone?

 


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Notas finais do capítulo

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