My Own Private Waters escrita por Skadi


Capítulo 4
Utopia


Notas iniciais do capítulo

Utopia - Thalles Cabral



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Neil Anderson é muito gato e nem um pouco hétero.

E por algum motivo, agora ele era o namorado de Mike;conceito esse que Mike ainda estava lutando para compreender. Neil Anderson, quem Neil tinha gastado três meses admirando platonicamente, na verdade gostava dele. E eles realmente transaram.

Mike havia ficado honestamente assustando quando Neil havia confessado para ele. Scott havia passado horas assegurando de que tudo não era uma brincadeira de mal gosto depois que Neil havia deixado o apartamento pela manhã e havia dito 'Você devia ter ouvido o que ele me disse, Mike. Ele falava de você como se você fosse um anjo ou coisa assim. Bem fofo.'

E Mike se sentiu tão estúpido por duvidar dos sentimentos de Neil,porque o garoto era gentil, mas enigmático de uma maneira que fazia Mike hesitar. Neil Anderson era o tipo de pessoa que só deixava você ler a primeira página antes de arrancar o resto quando você tentava virar as páginas para ler o livro inteiro. Ele era o tipo de pessoa que botava um ponto final para quaisquer perguntas sobre si mesmo, além do básico: cor favorita, hobbies, aspirações para o futuro. E, às vezes, Mike tinha medo de que Neil fosse o tipo de pessoa que entrava em sua vida apenas para sacudir as coisas e depois sair.

“As férias de Natal estão chegando.”, Mike disse no final da noite de sábado, enquanto ele e Neil descansavam na sala de estar de seu apartamento,  Neil deitado no sofá com Mike esparramado em cima dele. Haviam passado a maior parte do dia assistindo a todos os filmes do Batman e entrando e saindo de cochilos leves. A semana infernal das provas finais começava na segunda-feira e o casal havia se enterrado em livros e projetos, o que transformou Mike em algo muito próximo de um zumbi. Neil parecia ter mais trabalho e Mike não conseguia entender como seu namorado conseguia se manter tão composto.

Neil cantarolou em resposta, olhos verdes intensamente focados no ultimato do Coringa, que estava forçando Bruce Wayne a escolher entre salvar a vida de centenas de pessoas ou a vida de sua amante. Mike perguntou a Neil quem ele escolheria se fosse o Batman, ao qual ele respondeu: "Eu deixaria o mundo queimar por você". Era para ser uma piada, mas Mike não pôde deixar de sentir como se Neil tivesse levado a pergunta muito a sério.

"Por quanto tempo você vai voltar para casa?" Mike perguntou, traçando distraidamente padrões nas costas da mão de Neil.

"Eu não vou para casa",disse ele friamente.

Desta vez, Mike olhou para ele, com o queixo empoleirado em cima do peito. "Por quê?

Neil ainda estava olhando para a tela. "Porque não há motivo para eu ir."

Mike deu a ele um olhar duvidoso. "Como assim, não há motivo? Você não quer ver sua família?"

Levou um momento para Neil responder, mas quando ele finalmente virou a cabeça para Mike, sua expressão era ilegível. "Meus pais estão muito ocupados", disse ele. "Geralmente comemoramos as férias mais tarde do que o habitual, porque geralmente elas estão em diferentes países para trabalhar".

Mike sabia que a resposta de Neil era razoável, mas tudo parecia tão ensaiado, como se fosse uma história que ele tivesse contado um milhão de vezes. Ele não pôde deixar de sentir como se Neil estivesse guardando segredos.

"Mas eles ainda ligam, certo? Desejam Feliz Natal e tudo?” Todos os amigos de Mike reclamavam dos pais em um momento ou outro e a mãe de Scott ligava todas as semanas.Mas Mike nunca viu Neil receber uma ligação de sua mãe ou pai, nem nunca falou sobre eles.Por um lado,poderia estar analisando tudo, mas, por outro, passava a maior parte do tempo rondando Neil desde que se conheceram há três meses.

Neil franziu os lábios com a pergunta. "Talvez", disse ele.

Mike se sentiu frustrado, porque este era um jogo de cabo de guerra que vinha acontecendo muito antes de eles começarem a namorar. "Neil", ele começou, "você sabe que se algo estiver acontecendo, você pode me dizer, certo? Você está fazendo uma quantidade louca de trabalho até o final do semestre e eu sei que não poder ver sua família deve ser chato.”

Neil sorriu. "Eu estou bem, Mikey." Mike estreitou os olhos com ceticismo. "Realmente estou. Mas obrigado por se preocupar comigo. Realmente significa muito.” Ele então se inclinou para dar um beijo no cabelo de Mike e este suspirou no gesto.

“Sabe, se você quiser voltar para casa comigo no feriado, pode. Meus pais não são homofóbicos nem nada, e eu sei que minha mãe amaria você.”

Neil fez uma careta. "Não acho que seja uma boa ideia".

"Mas por que? Você é meu namorado."

"Olha, Mike..."

"Se você está desconfortável com a idé ia de conhecer meus pais como meu namorado tão cedo, tudo bem. Entendi. Vou dizer a eles que você é apenas um amigo."

"Mike",Neil disse seu nome com mais firmeza desta vez e Mike calou a boca. Neil suspirou cansado. “Eu realmente aprecio a oferta. Sério. Mas... podemos fazer isso da próxima vez, por favor?”

"Mas por que?" Mike questionou altivamente. Sabia que estava sendo irracional. Sabia que ficar chateado com uma questão tão simples é um absurdo. Sabia que Neil era paciente, gentil e atencioso, mas não conseguia deixar de sentir como se Neil não confiasse nele. Não podia deixar de sentir que há algo que Peter sabia que ele não tinha o privilégio de conhecer. E não, não era o fato de Neil não dizer a ele que incomodava Mike; e sim fato de Neil negar tudo. Não existia um "eu vou lhe dizer quando estiver pronto" ou "não me sinto bem hoje, então não quero falar sobre isso". Neil apenas sorria e tentava convencer Mike de que estava tudo bem e isso o irritava.

"Mikey, estou cansado",disse Neil. Ele nem parecia zangado com a atitude de Mike, apenas cansado. Mas não é o tipo de cansaço causado pelo estresse e pela responsabilidade de ser um estudante universitário. É o tipo de cansaço da alma que ele via refletido naqueles olhos. É um cansaço que ele não entende;semelhante a esse olhar que Neil tinha quando pensava que ninguém estava olhando e que Mike ainda não conseguia decifrar - e não sabia se queria a resposta.

Então ele abandonou o assunto com um pedido de desculpas e voltou a se abraçar com Neil e os dois passaram o resto do dia descansando em seu apartamento.

Mas o sentimento ainda queimava na boca do estômago de Mike e no dia seguinte ele se viu estudando na biblioteca do campus com Scott e Peter, reclamando da mesma coisa que ele havia prometido esquecer. Culpava Scott, já que foi ele quem perguntou sobre o casal e perguntou como as coisas estavam indo.

"Estamos ótimos", disse Mike, "mais do que ótimos, na verdade. O Neil é legal;muito legal.”

"Maaaaaas...?" Scott questionou com uma sobrancelha levantada.

Mike suspirou. "É que às vezes sinto que ele não confia em mim.”

Peter bufou. "Por que ele não confiaria em você? Ele nunca cala a boca sobre você.”

"Sério?" Mike fingiu que não estava lisonjeado.

Peter fez uma careta. "Eu gostaria que não fosse verdade. É nojento."

Mike revirou os olhos. “Por favor, Peter. Como se você calasse a boca sobre o Scott.”

Peter parecia pronto para atravessar a mesa e estrangulá-lo. “Seu filho da puta,eu deveria-”

"O que está acontecendo aqui?" Mike silenciosamente enviou uma oração quando Henry apareceu de repente bem a tempo de impedir sua morte prematura. Ele jogou sua mochila descuidadamente sobre a mesa antes de puxar uma cadeira e se jogar nela e Peter fez um comentário malicioso sobre o moreno alto quebrando a cadeira.

"Ei, Henry!" Scott cumprimentou amigavelmente. "Mikey aqui estava apenas falando sobre como ele não acha que Neil confia nele."

Mike olhou para seu melhor amigo, como se quisesse mata-lo mas Scott apenas lhe deu um sorriso atrevido.

"Por quê?" Henry perguntou.

Mike mordeu a língua, debatendo se ele deveria divulgar suas inseguranças ou não. Mas então lembrou que Scott era basicamente seu irmão, Peter estava se formando em Psicologia no final do ano letivo e Henry era o bastardo mais filosófico que já conheceu, o que significava que estava com as pessoas certas.

"Eu não sei", Mike começou com um suspiro. “Como eu disse, as coisas estão ótimas. O Neil é ótimo.Nós nunca brigamos ou qualquer coisa…”

"Você não precisa brigar para ter problemas",apontou Henry. "Às vezes, os maiores obstáculos nos relacionamentos que os casais lutam para superar é o que não está sendo dito."

Mike assentiu. "Eu sei eu sei. É só que... às vezes sinto que o Neil não me diz nada. "

"Alguma coisa específica?" Scott perguntou.

"Qualquer coisa. Tudo." Ele soltou outro suspiro. "Às vezes, ele age como se tudo fosse uma grande peça de teatro e eu sei que algo está errado, mas ele não me diz. Ele apenas sorri e tenta me convencer de que está tudo bem quando eu sei que algo o está incomodando.”

"Sem ofensa, mas o Neil não parece do tipo que fala sobre seus sentimentos", disse Henry. "Acho que ele é o tipo de cara com quem você precisa ser paciente."

Scott pareceu surpreso."Sério?Eu sempre senti a vibe completamente oposta nele. Não foi preciso muito esforço para ele me contar sobre seus sentimentos pelo Mike. Você deveria tê-lo visto. Ele estava todo tímido e envergonhado.”

Henry bufou. “Estamos falando do mesmo Neil Anderson aqui? Ele é extremamente constipado emocionalmente quando se trata de falar de qualquer coisa de si mesmo. "

"Talvez ele apenas goste mais de mim, Henry."

Peter não diz nada, mas Mike percebeu o quão desconfortável ele parecia.

"Eu tento ser paciente e compreensivo e toda essa merda", Mike persistiu. “Eu realmente tento. Mas eu não posso nem falar com ele sobre algo tão simples como a família sem ele mudar de assunto. Ontem, perguntei se ele estava indo para casa no feriado e ele disse não porque seus pais estavam ocupados ou algo assim. Então eu estava tipo, tudo bem, você quer voltar para casa comigo? E ele parecia super contra isso, então eu admito que fiquei um pouco chateado.” Scott estava abrindo a boca, mas Mike foi rápido em dizer o que seu amigo estava pensando. "E eu sei que ele pode ter alguns problemas familiares dos quais não está me falando ou problemas com sua sexualidade ou o que quer que seja, mas às vezes fico realmente preocupado, sabe? Às vezes, sinto que ele está escondendo algo de mim que eu deveria saber."

Scott fez uma careta. "Tenho certeza que você está pensando demais, mas você sabe alguma coisa, Pete? Você é quem conhece Neil por mais tempo.”

A expressão de Peter era neutra, mas ele era alguém extremamente bom em controlar suas emoções (algo exigido de seu curso) e Mike o observou atentamente, analisando todos os movimentos, cada respiração - qualquer coisa que exibisse que ele estava mentindo sobre algo.

"Eu não conhecia o Neil antes de seu primeiro ano. E sim, acho que somos próximos, mas ele não me diz muito. Ele também não foi a lugar nenhum no inverno passado, então terminei minha viagem de volta para casa mais cedo, porque odiava a ideia de ele ficar sozinho nesse lugar. Eu não sei,” Peter encolheu os ombros”, ele só fica meio estranho nessa época do ano. Não há nada que você possa fazer além de esperar que ele se abra ou deixe passar, garoto. Desculpa."

Mike desanimou visivelmente com a resposta. “Mas...ele está bem? Na cabeça, sabe?”

Percebeu como Peter vacilou antes de acenar com a cabeça e dizer: "Ele está bem. Ele só sente falta de sua família, é tudo. Eu sei que ele é bem próximo do pai dele. "

Mike quase acreditou nele, mas quando viu os olhos de Henry piscando desaprovadoramente para Peter com conhecimento oculto, soube que algo estava errado.

Mike tentou abandonar a questão. Seus amigos o aconselharam a simplesmente esperar e ser paciente, mas a paciência é o forte de Neil e não o de Mike. Ainda assim, ele estava estupidamente louco por Neil  e toda e qualquer dúvida era apagada assim que seus lábios se encontravam. E quando Neil não o distraia com a boca no pau de Mike, ele o distraia com sexo selvagem. Mike nunca admitiria isso, mas o sexo com Neil era o melhor que ele já fez em muito tempo e isso era uma surpresa.

"Eu nunca te identifiquei como um viciado em sexo", brincou Mike, ao qual Neil respondeu descaradamente com "é difícil não ser quando você é tão irresistível, Mikey."

As coisas estavam indo bem e Mike nunca esteve tão feliz desde que ele finalmente se formou no inferno chamado ensino médio. Se Mike pensou que deixar para trás seus anos de angústia adolescente era incrível, estar com Neil era uma experiência totalmente nova.

Neil era gentil, mas duro da maneira certa. Quando Mike entrava em uma de suas muitas tangentes triviais e bastante vexatórias, Neil inclinava a cabeça para o lado e assentia pensativo; cantarolando de acordo, nunca chamando as reclamações de seu namorado de bobas. Ele nunca suspirou em tédio óbvio ou expressou desinteresse. "Desculpe, estou falando demais,não estou?" Mike pedia desculpas timidamente quando os olhos de Neil começavam a cair letargicamente, para os quais se seguiam de sorrisos cansados ​​e diziam:

“Não, eu gosto de ouvir sua voz. Continue falando." 

Quando Mike estava com Neil, era como se seus sentimentos realmente importassem.

Ele não sabia quando isso aconteceu, mas em algum momento Neil ficou tão entrelaçado com sua vida que um dia sem ele era como um dia sem ar, e Mike odiava. Ele odiava o quão pegajoso ele se tornara porque se apaixonar muito rápido e muito forte era uma maneira de se machucar. Mas Neil tornava difícil com seu cabelo bagunçado pela manhã que lembrava Mike de uma floresta varrida pelo vento depois que chovia. Era assim que eles acordavam juntos na cama durante a semana, às 7 da manhã, enquanto a luz para acariciar as feições de Neil e fazer suas íris brilharem como o sol refletido em uma garrafa de uísque.

Neil não era de tirar o fôlego como flores de cerejeira ou uma foto polaroide perfeita - ou talvez ele fosse, mas Mike era muito simplista porque achava que Neil era de tirar o fôlego como se todas as galáxias estivessem contidas nele. Neil era de tirar o fôlego na maneira como o chamava de amor e brincava com os cabelos de Mike quando eles se abraçavam. Era tudo tão simples e não havia nada de poético nisso, mas Neil era de tirar o fôlego de uma maneira que fazia Mike se apaixonar todos os dias.

Processe-o por ser feliz.

Era uma quarta-feira e Mike está quase pronto para entrar em colapso em alívio, porque só faltavam mais dois dias para feriado começar e ele podia finalmente ir para casa visitar sua família. Estava em sua cafeteria favorita com Scott para o almoço, porque estava um milhão de graus negativos lá fora e nenhum deles queria congelar até a morte. Aparentemente, todos os outros alunos da universidade pensavam o mesmo.O lugar estava quase lotado, então Scott foi salvar um lugar para eles, deixando Mike para cuidar das bebidas.

“Um latte forte de baunilha e um chocolate quente avelã médio, por favor”, Mike informou o caixa depois de esperar na fila por um período de tempo agravante. O caixa foi rápido em lhe dar o total e, quando Mike terminou de pagar, ele se moveu para o lado de retirada do balcão e esperou, silenciosamente ponderando enquanto seus longos dedos batem contra a superfície de mármore.

"Você é o Mike?" Uma voz feminina puxou Mike de qualquer devaneio em que ele esteve.

Ele piscou. A garota que se aproximou dele era uma morena bonita com olhos redondos e lábios carnudos e Mike achou que ela era realmente bonita, do tipo que Neil pegaria. 

"Sim?" ele respondeu um pouco cético.

"Eu não estou aqui para bater em você, eu juro.",Disse ela com uma risada bastante agradável.

Mike se endireitou. "Não não. Eu não estava pensando nada assim. " Ele sorriu timidamente. "Só que eu não estou acostumado quando as pessoas que se aproximam de mim."

"Sinto muito se eu peguei você completamente desprevenido.É que eu ouvi dizer que Neil conseguiu um namorado e você se parecia exatamente com o cara dos stories dele - e Deus, seria tão embaraçoso se você não fosse ele."

Ela estava divagando e Mike sorriu para ela. "Sim esse sou eu."

"Me desculpe se estou sendo realmente invasiva.”

"Está tudo bem", ele a interrompeu."Entendi. O galã do campus num relacionamento surpreendeu a todos, porque...bem, você sabe. ”

"Neil não parece muito gay, parece?"

Mike bufou.“Sim. Algo parecido." A morena se apresentou como Jasmine e Mike disse: "Sinto que já ouvi esse nome em algum lugar antes".

Ela parecia um pouco nervosa. “Uh, sim. Eu sou a ex de Neil, a última, quero dizer."

Ele molhou os lábios, tentando ignorar o ciúme que ele sentia rastejando por baixo de sua pele, porque esta era a ex de Neil e não sua namorada, mas Mike era inseguro e frívolo quando se trata de Neil e Jasmine parecia que ela pertencia na frente capa de uma revista de moda, e ele brevemente se perguntou se todos os ex de Neil eram tão bonitos quanto a anterior. “Oh. Desculpa."

Jasmine balançou a cabeça. "Não há por que se desculpar. Você não fez nada comigo, Mike. É apenas", ela hesitou," como vai você? Você parece ser fofo e eu estou preocupada."

"Estou ótimo." A conversa era estranha e um pouco forçada, mas Jasmine parecia legal e Mike não era idiota o suficiente para revirar os olhos para ela e ir embora.

"Não", mais uma vez ela estava balançando a cabeça. "Quero dizer, como vai você?"

Mike piscou. "Acho que não entendo muito bem o que você está dizendo."

"Ele-" Ela mastigou a parte interna da bochecha e de repente ele se sentiu um pouco perturbado. "Ele não fez nada de ruim pra você?"

"Não?"Sua voz assumiu um tom de hostilidade e Jasmine foi rápida em tentar conter a tensão fervente.

"Olha, eu não estou dizendo isso porque quero machucá-lo", Ela começou cautelosamente, e Mike se prepara, porque ninguém diz isso, a menos que esteja prestes a machucá-lo. "Mas o Neil não é quem você pensa que é."

"O que você quer dizer?" A pergunta deveria sair com malícia defensiva, mas as palavras assobiaram entre os dentes cerrados um tanto trêmulas.

"Ele é um ótimo namorado, não é?"

"Ele é."

Mas com Jasmine inclinando-se casualmente contra o balcão dizendo que Neil não é o cara perfeito que ele pensa que é, Mike não tinha tanta certeza. Jasmine olhava para ele de uma maneira que não é possessividade mesquinha e que o assusta. "E você acha que já descobriu tudo, certo? Você acha que ele é um cara incrivelmente leal que coloca você diante de si mesmo, mas ele não é."

Mike engoliu seco."Olha, eu não sei o que aconteceu entre você e o Neil, mas realmente não me importo. Não é da minha conta”, Mike disse, batendo o pé com impaciência e evitando o contato visual, porque onde diabos estavam as bebidas dele?

"É isso?" Jasmine perguntou com uma sobrancelha arqueada. "Não estou dizendo isso porque quero ele de volta Porque, francamente, nunca mais quero vê-lo nem pintado de ouro.” Com isso, ela riu amargamente. "Estou apenas dizendo isso como um ser humano decente que não quer ver mais ninguém machucado pela mesma pessoa, Mike;você parece ser um cara muito gentil e legal, e você merece coisa muito melhor do que se apaixonar por alguém como Neil Anderson."

Mike queria dizer para Jasmine se foder. Queria chamá-la de vadia ciumenta como qualquer outro namorado sensato faria e sair correndo, e talvez Scott também lhe consolasse uma brincadeira irreverente. Mas, acima de tudo, ele queria que Jasmine agisse como a ex psicopata esperta que ela deveria ser. Mas ela não é. Ela é legal e olhava para Mike como um humano e não uma competição ou uma praga que está no seu caminho para Neil. Sim, ele realmente deveria ir embora agora, mas estava se perguntando "por quê?" em uma respiração.

Jasmine sorriu tristemente para ele e Mike odeia isso, mas não tanto quanto as palavras que logo se seguem. "Eu sei que ele olha pra você como se você tivesse pendurado a lua e as estrelas no céu. Que os beijos dele parecem os melhores e mais doces do mundo, e ele provavelmente diz que ele ama você e te faz se sentir único no mundo dele. Eu sei que parece agora que ele é a melhor coisa que já aconteceu na sua vida, mas acredite em mim, isso não vai durar. Quando ele cravar o nome dele nos espaços entre as costelas, ele vai quebrar você, pedaço por pedaço, pegar seu coração e pisar em cima e fazer você ver tudo o que vocês tiveram refletido nos pequenos cacos. Porque isso é o que ele é, Mike. Tem algo errado com o Neil, algo podre dentro dele que existe há muito tempo e o faz gostar de machucar pessoas. Não o deixe fazer isso com você, só fuja antes que seja tarde demais.”

Mike ficou feliz quando um dos baristas pôs os dois drinques no balcão bem a tempo, dando-lhe uma desculpa para sair porque aquelas palavras são macabras e transformam seu sangue em agulhas e isso meio machuca. Ele sorriu firmemente para ela. “Escute, querida: eu não sei o que você está querendo aqui, mas já vi filmes suficientes para saber para onde isso está indo e eu não serei o protagonista idiota que acredita em tudo que a bruxa da ex diz a ele.”

Jasmine franziu a testa, um suspiro escapando entre os lábios brilhantes, como se não esperasse menos. "Eu não sou a ex louca que você quer que eu seja, mas-" ela procurou uma caneta na bolsa antes de pegar um guardanapo e escrever algo, enfiando-o no bolso de Mike antes que ele tivesse a oportunidade de protestar "- eis o meu número. Sei que você não acredita em mim agora, mas espero que perceba antes que seja tarde demais, espero que você o deixe antes de encontrá-lo quebrando todas as promessas bonitas que ele já fez a você.” Ela lhe deu um olhar suplicante. "Você é adorável, Mike. Você realmente é. Mas não o suficiente para ele. Vejo você por aí, sim?”

E então ela se despediu, entrelaçando-se entre as mesas para chegar à saída e Mike se sentiu humilhado porque ele deveria ir embora, mas as palavras de Jasmine a o abalaram profundamente e tudo o que ele pode fazer era olhar para ela .

“Eu não acredito que você não toma café”, disse Scott quando Mike se aproximou da mesa deles após finalmente se desgrudar do local em que Jasmine o deixou. “Quero dizer, eu não consigo nem passar o dia sem- ei, Mikey, você está bem?”

Mike suspirou. "Estou bem. Eu acho que…" Scott deu a ele um olhar aguçado. "A ex-namorada do Neil pode ou não ter me procurado e dito algumas coisas estranhas."

Scott parecia alarmado. "Que tipo de coisas estranhas?"

Mike vacilou por um momento antes de dizer: "Ela estava sendo meio enigmática, mas acho que ela estava basicamente dizendo que Neil manipula as pessoas e é uma pessoa ruim" Fez uma pausa antes de acrescentar: "Aparentemente ele também vai se cansar de mim".

Scott revirou os olhos. "Apenas ignore. Ela claramente não tem mais nada pra fazer do que tentar inventar coisas. ”

"Ok", Mike não pareceu muito convencido quando se afundou na cadeira. "É só, ela é tão bonita. Ela tem peitos bonitos e um sorriso bonito. Eu posso ver por que Neil gostava dela. ”

Scott levantou a mão para para-lo. “Não, Mike. Você não está fazendo isso. Você é gato e perfeito para Neil do jeito que você é. Apenas tenha um pouco de fé no seu namorado, ok?"

Mike tentou acenar com entusiasmo, mas o confronto (se é que pode ser chamado assim) o deixou exausto. "Sim, você está certo", ele sorriu de uma maneira que doía. "Ela provavelmente está com ciúmes."

══════ •『 ♡ 』• ══════

Ciúmes.

É isso que fica na cabeça de Mike depois do encontro com Jasmine na cafeteria. E talvez estivesse pensando demais, mas as palavras da garota estavam rondando sua mente, e não importava o quanto tentasse se distrair delas nada realmente funcionava. E o pior era que realmente queria confiar em Neil, mas as palavras de Jasmine haviam fincado garras em sua consciência não importava quantos beijos e transas tivesse com Neil;elas estavam lá quando Neil dizia que ele era lindo, estavam lá quando ele acordava ao lado de Neil, e o faziam pensar em todas as outras pessoas que tinham tido a mesma experiência antes.

Mike odiava o sentimento feio crescendo rápido em seu peito. Ele não era alguém de esconder os sentimentos como as outras pessoas faziam, então era óbvio pelo jeito que Neil estava sendo mais gentil com ele e que havia aleatoriamente aparecido com uma caixa de chocolate e algumas rosas em seu trabalho, que ele sabia que havia algo errado com Mike. Então após muito poderá, Mike finalmente junta coragem e resolve fazer as perguntas que o assombração desde seu encontro com Jasmine.

"Neil," Ele chamou hesitantemente, sentando-se no balcão da cozinha enquanto observava Neil cozinha espaguete com almôndegas para o jantar.

"Sim,amor?"

O apelido quase o fez derreter ali mesmo e por um momento suas dúvidas pareceram estúpidas, porque o jeito que Neil falava com ele era cheio de afeição, o que quase o fazia se sentir mal por desconfiar de algo. Mas Mike também sabia que se não falasse nada, todas as perguntas continuariam a come-lo vivo de dentro pra fora.

"Você…"O tom hesitante em sua voz fez Neil virar-se para olha-lo. "Você gosta de mim?"

A expressão de Neil ficou confusa por um momento, antes de transformar em um sorriso brincalhão. "É sobre isso que você tá chateado?"

Mike pôde sentir suas bochechas ficarem vermelhas, porque agora dito em voz alta fazia tudo parecer mais ridículo. "É sim."

Neil riu e Mike pensou que poderia passar o resto de sua vida ouvindo aquele som. "Claro que gosto." Neil respondeu, se aproximando do balcão para deixar um beijo no rosto de seu namorado."Você é tudo o que eu poderia querer."

"Realmente?"  A pergunta foi quase um murmúrio tímido enquanto Mike mordia seu lábio inferior.

 "Sim", Neil respirou antes de passar o polegar contra os cílios, colocando um beijo leve antes de descer para pressionar os lábios macios contra o nariz.  "Você é tão perfeito para mim, Mikey."  Neil então se afastou, olhos verdes brilhando de diversão enquanto continuava a acariciar a bochecha corada de Mike  “Como posso convencê-lo, hein? Tenho que parecer todo complexo e filosófico como o Henry para que você acredite em mim?”

"V-você não precisa.Eu só-"

"Michael Waters", o tom firme de Neil o interrompeu."Você é o sangue nas minhas veias e o sol no céu e toda essa merda gay, e tenho certeza de que você pendurou a lua."

Ele riu."Isso é tão dramático, Neil."

Neil rolou os olhos antes de agarrar o rosto de Mike entre as mãos mais uma vez e mergulhar para beijá-lo com firmeza, a boca de Mile se abrindo com satisfação.  E Deus, Neil o beijava como se ele soubesse que Mike realmente valia alguma coisa e por toda sua vida, tudo o que Mike Waters sempre quis era valer alguma coisa.

Quando Neil finalmente se afasta, Mike sentia como se seu próprio ser estivesse queimando sob a intensidade de seu olhar.

"Michael Phoenix Waters",repetiu Neil, seu nome deixando os lábios do jovem de uma maneira ofegante que o fazia tremer. “Você é toda música romantica que ouço e todas as noite sem dormir, e suas iniciais estão gravadas em minha carne. Você está escondido entre todos os poemas e não tenho muita certeza se alguma coisa que estou dizendo faz algum sentido, porque definitivamente não sou Henry Cheng, mas tudo o que sei é que não tenho certeza de quem eu era antes de conhecer você,porque você se tornou minha casa. "

E Mike não pôde dizer nada porque ficou sem palavras. De todas as inúmeras respostas que ele conjurou em sua cabeça, essa não era uma delas. As palavras de Neil tocavam as partes mais profundas dele e atingiam suas próprias moléculas. Mike apenas assentiu com a cabeça em resposta quando Neil perguntou se ele acreditava nele, porque naquele momento, tudo o que ele podia pensar era:então é assim que se parece quando você ama alguém.

Mas felicidade não dura para sempre.

Mike deveria saber disso, ele tinha 24 anos pelo amor de Deus. Os próximos dias seguintes a sua revelação foram mágicos. O semestre chegou ao fim e ele gastou todo seu fim de semana com Neil. Scott havia ido para Portland, Peter de volta para Nova York, e o resto de seus amigos foram para casa também.

Sem a interrupção de seus amigos, Mike e Neil encontravam suas pernas emaranhadas e a pele nua pressionada uma contra a outra com mais frequência. E, embora geralmente passassem a maior parte do tempo no apartamento de Mike, fodendo em todas as superfícies planas que encontravam, eles haviam decidido passar a noite de domingo juntos em um encontro.

 "Vamos transar na cama do Peter ", sugeriu Mike maldosamente, para o qual Neil empalideceu com a ideia, porque aparentemente ele não queria morrer.

Scott havia enviado um texto ameaçador, prometendo castrar o casal se eles fizessem alguma coisa no sofá, ao qual Mike respondeu com uma piada que você e o Peter provavelmente já fizeram primeiro :))

Scott não respondeu depois disso.

As coisas estavam ótimas e Mike estava animado para contar à mãe sobre Neil quando ele pegasse o trem na manhã seguinte. Já até  podia imaginá-la chorando pelas muitas fotos que ele tirou dele e de Neil porque sua mãe havia tentado inúmeras vezes arranja-lo com alguém, e Neil era um milhão de vezes melhor do que qualquer um dos encontros às cegas que Mike já havia se metido.

"Eu vou tomar um banho, quer participar?" Neil perguntou com um movimento sugestivo de sobrancelha.

"Não, eu estou bem." Mike torceu o nariz.  "Está frio e eu realmente não quero sair daqui agora."  Ele enfatizou seu argumento envolvendo o cobertor com mais força em sua forma e soltou um suspiro. "Apresse-se, porque você é literalmente meu aquecedor pessoal e eu posso sentir meus dedos começando a ficarem dormentes."

Neil bufou. "Você é realmente outra coisa, sabe? Não se preocupe, voltarei em breve." Ele deu nos lábios de Mike antes de pegar suas roupas e sair correndo do quarto.

Por um tempo, Mike ficou escondido embaixo do cobertor, jogando Candy Crush no telefone de Neil, porque o seu estava no bolso do casaco e ele não queria se levantar, uma desculpa para ser  preguiçoso. Havia acabado de passar para a fase 35 quando o telefone de Neil vibrou em sua mão, uma notificação para uma mensagem de texto de um número desconhecido aparecendo na parte superior da tela. Mike não era uma pessoa intrometida - tudo bem, ele é, mas ele respeitava a privacidade de Neil e seu namorado nunca se importou quando Mile usava seu telefone de qualquer maneira.  Mas as primeiras linhas chamam sua atenção. Liam-se querido, quer vir...e Mike piscou porque certamente ele leu errado. Confiava em Neil e não tinha motivos para suspeitar de nada, mas as palavras de Jasmine voltaram rapidamente para ele trazendo sensação feia rastejando sob sua pele novamente.

Realmente não deveria olhar as mensagens de Neil. Não era da conta dele. Mas as palavras acenavam para ele e, antes que ele pudesse se conter, deslizou a barra de notificação e clicou na mensagem. Seus olhos percorreram as palavras e o sentimento macabro de pavor misturado com ansiedade começou a subir em sua garganta.

[11:43 PM] Desconhecido: Hey bb, quer vir aqui hj?Faz tempo desde q te vi ;) Ainda brincando com aquele carinha? Haha luv u.

Mike tentou não fazer drama sobre, porque afinal ainda existia a possibilidade de a pessoa ter enviado para o número errado, mas algo estava cavando em seu estômago como ácido. Ele abriu a mensagem, os dedos pairando sobre o teclado, enquanto tentava por a cabeça no lugar. Sabia que o que estava prestes a fazer era errado e que, se Neil descobrisse, perderia a confiança dele pra sempre. Sabia disso, mas a desconfiança era mais forte e precisava saber do que aquela pessoa estava falando, porque se perguntasse a Neil tudo o que sairia da boca dele não seria verdade.

[11:45 PM] Neil: Quem é?E que carinha?

Mike leu sua mensagem um milhão de vezes antes de decidir adicionar um lol no final para parecer mais amigável. Levou mais um minuto dele rasgando a pele do lábio inferior com os dentes para pressionar enviar. Olhou para a tela enquanto continuava a morder o lábio inferior, esperando a pessoa responder, o que aconteceu quase que imediatamente.

[11:46 PM] Desconhecido: awww não me diga que você excluiu meu número? : ((sou eu, Midori !!

[11:46 PM] Desconhecido: vc ñ tá falando sério sobre esse cara?  Eu acho q o nome dele era Michael ou Mike ou coisa assim.

[11:46 PM] Desconhecido: Vi seu stories e ele é fofo!! Ele deve ser divertido brincar com hehe.

A língua de Mike parecia grossa em sua boca e suas mãos estavam começando a tremer. Podia parar. Podia esquecer tudo isso. Essa garota era provavelmente uma chama do passado. Mas ele não. Seus dedos se moveram pelo teclado por vontade própria.

[11:47 PM] Neil: omg haha ​​ñ, eu ñ excluí seu número to de telefone novo pq o meu último quebrou.

[11:47 PM] Neil: e sim, eu ainda estou namorando Mike.

[11:48 PM] Desconhecido: isso é legal. Vc vem?

Mike sentiu-se começando a vacilar à medida que a dúvida se instalava. De repente, as palavras de Jasmine não pareciam tão absurdas, mas Mike tentou dizer a si mesmo que a garota estava mentindo. Neil nunca o machucaria,certo?Demorou um tempo para ele responder,porque simplesmente não tinha certeza se tinha a coragem de descobrir.

[11:51 PM] Neil: mas estou namorando o Mikeee

[11:52 PM] Desconhecido: Então...? isso ñ nos impediu de sair antes lol

[11:52 PM] Desconhecido: nós dois sabemos que vc está apenas usando ele, baby ~

Mike sente o sangue gelar com as palavras dela. A incerteza estava começando a se transformar em medo e mágoa e o interior dele estava murchando. Sentia que estava prestes a vomitar, mas tudo estava preso na garganta e era como se houvesse água salgada em seus pulmões. Ainda assim, naquele vislumbre de esperança que disse a ele que isso é um grande mal-entendido e que ele estava sendo paranoico novamente, ele arriscou outro texto.

[11:53 PM] Neil: Pq eu faria isso D:

[11:54 PM] Desconhecido: HAHAHAH

[11:54 PM] Desconhecido: ñ finge ser inocente ñ

[11:54 PM] Desconhecido: vc passou por 10 namo desde seu primeiro ano e no meio todos eles transamos por 8, acho.

[11:55 PM] Desconhecido: ñ me diga que vc não tá transando com outras grtas, porque qnd ñ estamos dormindo juntos,vc tá transando com outras putas da faculdade, pq vc não é fiel, seu merda.

[11:55 PM] Desconhecido: seu fetiche por namorar pessoas só pra vc partir os delas é realmente um idiota e meio psicótico e eu meio q me sinto mal, mas idc pq você me fode bem LMAO

[11:55 PM] Desconhecido: pprt, tenho a merda q vc gosta, economizei 4 gramas apenas p vc poder cheirar cocaína da minha bunda, se quiser pelos velhos tempos;)

 E sim, o mundo de Mike estava entrando em colapso, as palavras na tela dando um soco que cria crateras em seu coração. As lágrimas ardiam no fundo de seus olhos e ele se viu excluindo freneticamente as mensagens antes de jogar o telefone de Neil na cama como se o tivesse queimado.  

"Isso não pode estar acontecendo", sua voz era um sussurro que racha no final. Tentou se convencer de que tudo deveria ser algum tipo de brincadeira, porque outro dia Neil havia dito a que ele que o amava e o beijou como se sua existência fosse uma bênção para a terra.

Mas agora Mike se sentia completamente e totalmente envergonhado de si mesmo, porque era estúpido por querer algo que era bom demais para ser verdade em primeiro lugar. Seu peito doía e ele não sabia o que diabos deveria fazer. Queria gritar e confrontar Neil como qualquer outra pessoa razoável que acabou de descobrir que estava sendo enganada e manipulada.  Queria que Scott voltasse para poder chorar pateticamente no colo do melhor amigo por semanas a fio, mas tudo bem, porque ele iria aprender a seguir em frente. Queria ser a pessoa forte e independente que seus pais o criaram e se afastar. Mike sabia que deveria. Sabia que todo mundo diria que ele era bom demais para Neil Anderson e para ser a pessoa maior.  Mas ele não podia.

Não podia porque Neil Anderson não era uma paixonite de ensino médio. Não podia porque era fraco pelos olhos suaves e sorriso de Neil, fraco por sua voz cheia de mel e pela maneira como sua boca explorava o corpo de Mike como se estivesse tentando mapear um novo planeta.  Como você deixa isso de lado?  Como você deixa alguém que ama, mesmo sabendo que isso não está certo? Mike não sabia por que as pessoas se apaixonavam por quem nunca daria uma parte de si em troca. Nem tinha certeza de como deixar para lá.

 As lágrimas que embaçavam sua visão e picaram nos cantos dos olhos começaram a diminuir e tudo o que Mike podia sentir era um tipo de vazio que doía como se houvesse fumaça dentro de seus pulmões e cinzas de cigarro alojadas em sua garganta. Era como se Neil tivesse plantado rosas em seu jardim apenas para pisar em todos os canteiros e deixar apenas folhas mortas para trás.

"Quando ele cravar o nome dele nos espaços entre as costelas, ele vai quebrar você, pedaço por pedaço, pegar seu coração e pisar em cima e fazer você ver tudo o que vocês tiveram refletido nos pequenos cacos."

E Mike riu amargamente para si mesmo no sufocante silêncio enquanto agarrava seus lados, porque talvez se ele se esforçar o suficiente, seus dedos vão cavar debaixo de sua carne para arrancar o nome de Neil que estava escondido entre as curvas de seus ossos. Talvez Neil tivesse injetado algo em seu sangue enquanto dormia porque suas veias não deveriam queimar assim.  Não deveria doer tanto.

Agora,ele sabia por que Neil William Anderson nunca o deixou virar as páginas; algumas histórias nunca foram feitas para serem lidas. E percebeu que havia uma data de validade para o relacionamento que ele não estava ciente antes. Neil tinha escrito os números na pele de Mike com os dedos e cada beijo era uma contagem de dias. Se perguntou quantos mais seriam necessários até Neil chegar a zero e Mike se tornar nada além de algo descartável.

Se sentia tão sujo. Havia separado os ossos que protegiam seu coração batendo para se deixar nu na frente de Neil. E foda-se - até pensou que haviam feito amor na primeira noite que passaram juntos. Fôra ingênuo o suficiente para acreditar que as pessoas não se abraçam de maneira tão íntima, a menos que estejam fazendo amor.  Oh, como ele estava errado.

Queria dizer que só beijou Neil e deixou que o jovem o pressionasse contra os lençóis da cama, porque tinha medo de acordar sozinho. Queria dizer que eles só transaram porque Mike era um tsunami que precisava mover continentes e a pele de Neil contra a dele era a única maneira de apagar o fogo do seu coração. Queria dizer que Neil nunca o fodeu bem, e que o amor nunca se infiltrou nas fendas para criar raízes em primeiro lugar. Queria dizer que pretendia ser usado, mas não conseguia.

Havia dado a Neil a força para esmagar sua alma com apenas dois dedos e, pior ainda, com alguns textos. Havia se convencido de que Neil brilhava mais do que qualquer outra estrela e se apaixonou rápido demais pela idéia de murmurar carinho contra a pele e substituir cigarros apagados pelos lábios.

Mike Waters havia se apaixonado do jeito que pessoas solitárias faziam; com todo o seu corpo e alma.

E mais uma vez, lembrou de como era impossível amar e querer viver todas as histórias de amor que leu, todas as que lhe prometeram para sempre. Porque tudo era frágil e em um horário definido, mas nunca no seu próprio relógio.E se sentia tão perdido porque a voz de Neil era o seu som favorito e a colônia que ele usa era o seu cheiro favorito e Mike mais uma vez se pergunta como é que você esquece isso? Podia sentir seu coração começando a se fechar na tentativa de cortar as partes ruins que Neil infestou e ele começou a se sentir entorpecido. É legal assim. Dormente.

"Mickey!Michael!" Não percebeu Neil o sacudindo até que o rapaz se ajoelhou na cama e pôs as mão na bochecha de Mike. "Você está bem?O que aconteceu?"

Antes, Mike teria se derretido com o gesto mas agora parecia um insulto e ele quis vomitar porque as mãos de Neil pareciam queimar como ferro quente.

"Eu tô bem, Neil." Ele sorriu.

Não sabia como tinha forças pra isso; seu corpo parecia estar no piloto automático – talvez fosse um mecanismo de defesa, que talvez Peter pudesse explicar melhor depois. Não sabia porque não estava dando um tapa no rosto de Neil e o xingando de todas as palavras ruins que conhecia, e talvez fosse apenas um idiota que só queria continuar um cego apaixonado. Era assim que era se afogar?Porque parecia ser o modo perfeito de descrever como estava se sentindo, mesmo com o oceano há quilômetros de distância.

Neil franziu as sobrancelhas, gotas de água do cabelo molhado escorrendo por seu rosto. "Você está sangrando, Mikey." Ele passou a ponta do dedo sobre o lábio de Mike, espalhando o vermelho. "Você só faz isso quando está ansioso. Tem certeza de que tá tudo bem?"

No, eu não tô nem um pouco bem.

"Yeah," a falsa animação em sua voz quase o faz vomitar. "Só tô cansado e preocupado de deixar você sozinho no feriado."

Neil sorriu gentilmente, se movendo para debaixo das cobertas enquanto abraçava Mike,e Mike sentia como se fosse morrer sufocado pela proximidade. "Não se preocupe, vou ficar bem.Prometo."Neil se moveu para deixar um beijo na testa de Mike. "Você pensa demais. Vão ser só duas semanas."

Queria que fossem dois anos.

"Você parece cansado, melhor dormir. O trem sai cedo amanhã."

"Ok" Mike respondeu desanimado, porque o que caralhos você está fazendo comigo? é o que realmente queria dizer, virando as costas para Neil que passou um braço sobre sua cintura e murmurou um boa noite contra seu pescoço.

Mike passou o resto da noite encarando a parede e tentando não chorar, rezando para se tornar pequeno e desaparecer. Quando a manhã veio e o corpo pressionado contra o seu começou a se mexer, Mike fingiu que dormia enquanto Neil beijava sua bochecha e dizia que era melhor acordar.

E com esse novo conhecimento, Mike estava assustado. Com medo porque, apesar de saber que Neil pode não ser a pessoa que ele pensa que é, nada mudou. Neil ainda carregou sua mala e abriu a porta do passageiro do carro como o cavalheiro que ele era. Ele ainda segurou a mão de Mike no carro e a beijou quando chegaram à plataforma. Ele ainda disse que sentiria falta de ficar com ele e Mike desejou que tivesse coragem de pedir para ele parar, porque Neil estava apenas tornando tudo mais difícil para ele.

 Iria embora, havia decidido.

Mike iria embora quando voltasse do feriado depois de se recompor em casa e chorar comendo biscoitos de gengibre e chocolate quente. Seria um maldito bebê gigante e contaria à mãe sobre o garoto perigoso que mentiu com uma fachada de sorrisos encantadores e um rosto bonito que partiu seu coração. Talvez até mesmo ligasse para Scott e iriam chorar juntos porque Scott chorava toda vez que assistia Jogos Vorazes, mesmo que ele já tenha visto vinte vezes.

 "Vou sentir sua falta", disse Neil.

Mike sabia que era uma mentira, mas entrou na dança de qualquer maneira.  "Vou sentir sua falta também." Pelo menos era ele quem estava dizendo a verdade. Se perguntou quantas garotas Neil iria foder enquanto estivesse fora.

"Me mande uma mensagem quando chegar, Ok?" Neil apertou a mão antes de pressionar mais um beijo rápido nos lábios e soltar. E Mike sabia que essa era a última vez que seus dedos estarão entrelaçados.

 Era uma promessa.

E então ele pulou no trem, o anúncio de que faltavam dois minutos para a partida e Neil acena para ele pela janela com um sorriso enorme que Mike queria tanto que fosse genuíno. Há pouco tempo, tudo o que Mike conseguia pensar era como a risada eufórica de Neil e como seu sorriso poderia substituir o sol, mas agora tudo o que restava era como cada toque e palavra de afeição que saiam dos lábios de Neil eram uma mentira.

Enquanto o trem partia, Mike desejou que pudesse levar seu coração com ele de volta para casa no Oregon. Mas ele sempre foi fraco por garotos bonitos com estrelas nos olhos.

Enfiou as mãos nos bolsos porque, embora o trem estivesse quente, Neil agora o deixava sentindo mais frio do que o frio do inverno. Seus dedos roçaram um pedaço de papel amassado com o qual ele mexe antes de puxá-lo e desdobrar.  Entre as rugas e as lágrimas, havia um número rabiscado em tinta borrada e Mike engoliu porque ele tinha certeza de que a jogara fora.

Não hesitou em digitar o número no telefone e enviar uma mensagem em algum lugar ao longo das linhas de ele mentiu. Uma hora olhando pela janela fosca com a tristeza do inverno pairando no céu em nuvens monótonas se passou antes que ele obtenha uma resposta.

[9:10 PM] Jasmine: Estou em Portland visitando a família, mas se você estiver por perto,podemos nos encontrar para tomar um café e conversar um dia.

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Mike não tinha certeza se era um milagre ou um presságio ruim que Jasmine morasse na mesma cidade que ele. De qualquer modo, uma semana depois de reencontrar sua família, finalmente haviam decidido um lugar e uma hora.

Jasmine já estava sentada numa mesa perto da janela quando Mike se aproximou, copo de café quente na mão, e por um momento lembrou da conversa estranha na cafeteria do campus, certo de que o universo estava tirando uma com a sua cara.

Os olhos castanhos de Jasmine se iluminaram quando o viram e ela lhe deu um sorriso amigável enquanto ele se sentava na frente dela. "Mike!Que bom que você veio."

A princípio, conversam um pouco: perguntando sobre as férias e expressando seu alívio depois de um longo do semestre.  Mas conversa fiada só pode durar tanto tempo.

"Como você tem estado?"  Jasmine perguntou depois de um momento de silêncio. "Você tem aguentado bem?"

Mike molhou os lábios.  Não havia como evitar a conversa agora. "Eu não sei", disse ele, ombros caídos.  “Pensei que seria diferente, mas nada mudou. Ainda enviamos mensagens de texto todos os dias e falamos ao telefone, e é estranho."

"Espere, ele não te largou e fez você se sentir um lixo absoluto?"  ela perguntou surpresa, sobrancelha arqueada.

Ele balançou a cabeça. "Não. Na verdade ele nem sabe que eu sei. Um dos contatinhos dele mandou mensagem enquanto eu estava jogando no celular dele. Descobri assim." Suspirou, se sentindo repentinamente cansado. "Eu não chorei nem nada, mas é o que se espera de mim, certo? Eu me sinto extremamente estúpido e não consigo parar de pensar como ele continua mentindo pra mim, mas não consigo chorar."

Jasmine se inclinou para trás com um suspiro.  “Droga”, ela assobiou, “eu gostaria que tivesse sido tão fácil para mim.Você o amava?"

Mike mordeu sua bochecha interna até provar o líquido metálico em sua língua.  "Sim. Porque se não o fizesse, não doeria tanto, certo?  Eu não me sentiria vazio, certo? "

Jasmine não disse nada, apenas assentiu.

Ele traçou a borda da caneca com o dedo indicador. "Como você descobriu?"

 Ela sorriu, mas não chega aos olhos dela e é assim que ele soube que Neil realmente havia feito algo com ela.  É assim que ele soube que Neil beijou sua pele antes de colidir com ela como um furacão e derrubar a casa que ela construiu.  "Oh cara, eu tenho uma história para você."

Mike não tinha certeza se queria ouvir, pois Jasmine era a prova de que tinha que encarar a realidade e nunca havia odiado tanto a realidade como agora.

"Namorei o Neil por seis meses." Ela começou. "Conheci ele através de um amigo em como e nossa, eu me apaixonei no primeiro segundo que o vi, como todos os outros antes de mim." Ela riu. "Merda, ele era tão legal. Ele tem esse jeitinho de fazer a gente se sentir especial, né? Como se a gente importasse."

"É, ele tem esse jeito." Mike concordou amargamente.

"Namorar o Neil era incrível. Ele me tratava melhor que qualquer outro cara que já conheci."

"Vocês nunca tiveram problemas?"

"Não", disse ela antes de parar para pensar, mordendo o lábio inferior.  "Quero dizer, não pensei nisso como um problema enquanto estávamos namorando, porque estamos na faculdade e é quando todos fazemos coisas idiotas e experimentamos e-" ela vacilou e Mike pôde ver as lágrimas brilhando em seus olhos.“Mas um dia eu acidentalmente o encontrei cheirando cocaína no banheiro e ele me pediu para não contar a ninguém.  Eu acho que ele pensou que eu iria surtar com ele porque, pela primeira vez, ele parecia meio assustado." Jasmine tentou rir, mas saiu como um soluço estrangulado.  "E não sei, sou apenas uma universitária estúpida."

"Você não é estúpida, Jasmine."

"Eu perguntei se eu poderia tentar um pouco e descobri que o sexo com cocaína é incrível."  Ela realmente riu dessa vez antes de adicionar rapidamente, “mas eu só fiz isso de forma recreativa.  Mas o Neil, eu pensei que ele estava apenas sendo um típico garoto de faculdade, mas agora percebo como ele é extremamente tóxico e autodestrutivo."

Mike tomou um gole de café, sua língua parecendo algodão. Estava frio e tinha um gosto amargo, mas ele só precisava se distrair das mãos trêmulas.  "Eu não sabia."

Jasmine suspirou. "Ele é bom em atuar, não é? Aposto que ele poderia ganhar um Oscar, por essa merda.bEle já pareceu super letárgico ou meio zonzo pra você?"

Mike assentiu, afastando os olhos das ruas sombrias para olhá-la.  “Sim, muito, na verdade.  Mas eu apenas assumi que era do estresse. ”

"Isso seria legal, não é?" A pergunta azeda era retórica e Mike sabia aonde isso estava indo. "Isso é o que acontece quando o efeito da coca passa. Faz você querer cair e desmaiar."

Mike se lembrava de todas as vezes que Neil simplesmente acenava com os olhos fundos e a pele pálida.

Jasmine acenou com a mão.  "Estamos saindo da pista aqui. Enfim, para encurtar a história, ele me levou ao bar para um encontro e me mimou como uma princesa antes de me dizer que eu era feia e estúpida e me humilhar na frente de todos."

 Os olhos do loiro se arregalam.  "Ele fez o que?!"

“Ele disse que estava cansado da minha voz, da minha personalidade, que nunca ligou pra mim, um monte de merda que nem gosto de lembrar. Ele também admitiu orgulhosamente transar com outras pessoas e disse que nunca me amou.”  Seus dedos delgados que foram enrolados em sua própria caneca se transformam em manchas vermelhas e brancas quando ela a apertou com muita força. "Você disse que não chorou e é porque se recusa a aceitar a verdade. Porque, quando finalmente acontecer, você não será capaz de se manter unido. Se você acha que dói agora, vai doer cem vezes pior depois."  Ela enxugou os olhos.  "E você não deve- até que você o machuque da mesma maneira que ele machucou você."

 "O que você quer dizer?".

 "Quebre o coração dele."

Mike fez um som de descrença.  "Isso exigiria que ele tivesse uma porra de um coração."

Jasmine rolou os olhos. "Ok, o Neil pode ser um saco de lixo completo, mas ele ainda é um humano com sentimentos, e isso significa que há uma maneira de machucá-lo. Se você não pode partir o coração dele, pode ferir o orgulho dele. Você precisa vencê-lo no seu próprio jogo. Ele acha que ele está com você na palma da mão agora. Você pode imaginar o quão humilhado ele sentiria se você fodesse a vida dele primeiro?"

Mike ficou em silêncio por um momento enquanto processa as palavras de Jasmine. Sabia que deveria dizer foda-se, terminar com Neil e seguir em frente com sua vida, porque desde pequeno tinha medo de machucar pessoas, mas a raiva estava fervendo agora, derramando-se entre as rachaduras como lava derretida e tudo o que Mike conseguia pensar era no quanto ele odiava Neil.

"E como você sugere que eu faça isso?"  A pergunta saiu instável, animosidade contida deslizando pela garganta para dançar na ponta da língua. 

Eles estavam na mesma página neste momento e Mike podia ver a mesma inimizade refletida nos olhos de Jasmine.  “Jogue junto com seus jogos mentais por um tempo. Faça-o sentir-se confortável e no controle." Sua língua deslizou para lamber os lábios, um sorriso contorcido nos cantos da boca.  "E depois quebre-o da maneira que ele fez comigo e vários outros antes.  E você pode descobrir o resto."

E então eles se sentaram lá em silêncio, bebendo um café que há muito tempo perdeu o calor.  Mas era perfeito porque Neil era o vento que não apaga as chamas, mas as aumenta. Ele era o sabor ruim dos cigarros e, de repente, Mike não se importava mais com a amargura do café, porque nada era mais amargo do que amar alguém que não sabe o que é amor.  Tinha certeza de que Neil havia exalou seu hálito tóxico nele toda vez que eles compartilharam um beijo e, não importa o quanto ele finja que não, isso gruda nos pulmões como piche.

 Então eles continuaram sentados em silêncio assim, enchendo o estômago com café de merda para manter a dor sob controle. Engolindo a língua com palavras não ditas, porque ambos sabem que a vingança nunca resolve nada.  Ambos sabiam que partir um coração nunca irá consertar outro, mas era a única coisa que mantinha Mike inteiro agora. 

Então, primeiro, ele iria quebrar Neil Anderson, para depois desmoronar.


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