My Own Private Waters escrita por Skadi


Capítulo 2
Eu Não Tenho Coração


Notas iniciais do capítulo

I Have No Heart - Thalles Cabral



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Mike Waters é muito gay e Neil Anderson é muito gostoso e muito hetero.

Ou, pelo menos, essa foi a conclusão a que Mike chegou quando conheceu o garoto mais novo. Neil era o bom aluno modelo que era respeitado, excelente em tudo e qualquer coisa, e passava muito tempo arrecadando dinheiro para caridade. Ele era jovem e lindo e tinha estado com mais garotas do que podia contar, mas Mike ainda tinha estupidamente desenvolvido uma queda por esse garoto.

Mike sabia que as pessoas o achavam estranho e desconcertante. Ele tinha um estranho senso de moda e, mesmo com a medicação, falava rápido demais e não conseguia ficar parado a metade do tempo, a menos que isso envolvesse plantar sua bunda na frente de um videogame por oito horas seguidas. Ele era estranho e dizia as coisas erradas e quando criança as pessoas sempre sussurravam nas suas costas. Seus professores diziam que ele era mais problemático do que valia e seus colegas de classe o chamavam de aberração. Mike tinha sido separado de seus colegas desde a infância, mas Scott Favors apareceu no ensino médio e encontrou conforto no garoto. Ele havia dito a Mike que seu senso de moda era legal e paciente quando a boca de Mike corria à frente de seus pensamentos e ele tropeçava em suas palavras. Mike pensou que nunca iria encontrar alguém que o aceitasse como Scott até que conhecesse Neil. 

Neil que era dois anos mais jovem e inteligente. Neil que estava bebendo whisky puro numa festa há quase dois meses atrás. Scott tinha arrastado Mike para a festa com o simples objetivo de ficar bêbado depois de um término de relacionamento, e quando Mike viu Neil pela primeira vez ele não conseguia desviar o olhar e observou Neil pelo que pareceram horas. Neil estava cercado por um grupo de amigos que Mike havia apelidado secretamente de 'fuckboys' que olhavam para ele como se ele fosse um rei e ele parecia tranquilo mesmo cercado de idiotas implorando por atenção.

Mas então Mike o havia encontrado na cozinha e descoberto que Neil era um pouco desajeitado, e não pode deixar de achar isso fascinante. Neil era desajeitado mas sexy de um jeito perigoso.

Tinha esperado que Neil o ignorasse e o chamasse de aberração como todos os outros faziam — Mike sabia que era uma pessoa difícil de se ter por perto, e tinha se preparado para a rejeição. Mas Neil não o rejeitou. Talvez ele tenha sido um santo em outra vida porque ele disse que achava Mike legal e Mike quase quis gritar quando ouviu. Se sentiu aliviado quando Neil não olhou para ele com nojo quando confessou que era gay e até mesmo confessou que ele era diferente do que tinha pensado. Sua mente estava circulando com mil coisas de uma vez e não pôde conter de perguntar se podia beijar Neil, e imediatamente se arrependeu de dizer alguma coisa, mas para sua surpresa, Neil havia aceitado, e se Mike não estava apaixonado antes, ele estava agora. Neil havia praticamente devorado sua alma e Mike podia ainda sentir os toques quentes em sua pele.

"Acho que gosto dele." Mike confessou a Scott um dia, quando haviam matado aula pra ir comer no McDonald's.

Scott ergueu uma sobrancelha. "Quem?Aquele tal de Neil?"

Mike tinha mencionado Neil tantas vezes e falado tanto, que Scott havia começado a brincar sobre como havia sido substituído por Neil, o que Mike veemente negou porque Scott sempre seria alguém insubstituível.

"Yeah." Mike deu de ombros. "Ele mesmo."

Scott mergulhou uma batata frita no ketchup. " E por que você não fala pra ele?"

Mike bufou. "Ah claro, deixa eu me confessar para um cara com quem eu nem tenho chance, ser rejeitado e foder com a nossa amizade pra sempre."

"Mas ele não te disse que era bisexual ou coisa assim?" Mike assentiu e Scott rolou os olhos. "Tudo bem, então você está me dizendo que ele praticamente chupou seu rosto fora e você quase gozou nas suas calças como dois cachorros cheios de tesão, mas ele não ficaria com você?" Mike apenas acenou com a cabeça para ele com as bochechas coradas e apontou que Neil tem uma namorada.  "Michael Waters, você é inacreditável."

Mike girou o canudo em sua coca, o gelo batendo no copo.  "Vamos apenas dizer que ele hipoteticamente não namora uma garota. Isso não muda nada."

 "Como assim?"

Mike franziu a testa.  "Porque eu sou eu e o Neil é..."Perfeito. Inatingível. Popular. Lindo.  "... ele é muita areia para o meu caminhão."

Scott riu. “Você já se viu, Mikey? Você pode não ser como esses outros caras, mas você é gato pra caralho.  Você vê como as garotas olham pra você?" Mike franziu e as sobrancelhas em confusão. "Deus, você é tão tapado que às vezes dói."

 "Ele não gostaria de alguém como eu", Mike murmurou.

"Apenas tente falar com ele, ok?"

"Eu vou tentar."

Mas é claro que Mike não tentou  Quando ele encontrou Neil novamente, nenhum deles mencionou o incidente. E Mike queria contar a ele, muito. Ele passou horas se preparando, mas então Neil mencionou um encontro com sua namorada na sexta-feira e Mike foi trazido de volta à realidade. Neil não parecia incomodado com o que aconteceu entre eles e Mike sabe que é idiota que ele se machuque com a indiferença de seu amigo, mas machuca. Toda vez que Neil mencionava sua namorada ou o nome dela aparecia na tela do telefone, Mike era lembrado que Neil não era dele e que nunca seria.

Houve algumas vezes em que Mike ligou para Neil apenas para ouvir o som de uma voz feminina rindo ao fundo e seu amigo soando um pouco ofegante através do receptor. Mike sabia que não deveria, mas não podia deixar de conjurar a imagem de Neil nu na cama com a garota que ele amava e seu peito se contraía com tanta força que às vezes ele sentia que ia morrer.

Mike se perguntava se era possível sentir o coração partido por alguém com quem ele nunca esteve envolvido romanticamente. Não sabia como, mas o sentimento havia grudado em sua caixa torácica e ele não podia desejar que fosse embora. Era como descobrir que os contos de fadas não são reais e ele não é o herói de um romance extravagante.

Ficava pior quando Mike sentia raiva mas sabia que não podia dirigir isso a Neil porque não era culpa dele. Não era culpa de Neil que Mike era carente e patético. Não era culpa de Neil ter nascido tão incrível e lindo. Haviam horas que Mike não podia deixar de pensar nos lábios de Neil contra os seus e ele quer chorar. 

Ele não pode deixar de sentir como se tivesse feito algo tão incrivelmente errado. A culpa que o atingia toda vez que ele via seu amigo.

Ele não viu Neil por quatro dias depois de sexta à noite e ele não pôde deixar de se sentir ansioso porque era a primeira vez que eles foram separados desde a sua amizade havia florescido há alguns meses. Neil não respondia mais as conversas lotadas de emojis de Mike e quando o fazia, geralmente era apenas uma palavra como resposta. Neil ainda aparecia nas aulas, mas ele não falava muito. Neil parecia abatido e desgastado; olheiras sob os olhos e às vezes os olhos pareciam cansados e vermelhos, ele fungava e limpava o nariz na parte de trás da manga do moletom e quando Mike perguntava se ele estava bem pela milésima vez, Neil só dizia que achava que estava com um resfriado ou algo assim.

Duvida roia em Mike, mas ele rapidamente descartou isso porque Neil parecia realmente doente e ele se sentia mal por sentir como se Neil o estivesse evitando quando saia assim que a aula acabava. E Neil nunca deu uma razão para desconfiar e ele gostaria de pensar que estavam próximos o suficiente para serem abertos e honestos um com o outro. E Mike confiava nele, de verdade. Ele era gentil e sempre disposto a ajudar os outros e, embora houvesse rumores sobre o histórico de relacionamentos de Neil, Mike tinha visto o lado amável do garoto. Confiava nele, mas às vezes sentia como se houvesse algo debaixo dessas camadas de sorrisos largos e dos olhos que ele não conhecia. Às vezes, o sorriso de Neil vacilava e ele dava a Mike uma olhada que ele não podia discernir. Mas era um olhar que nunca demorou por mais de um segundo.

Sabia que provavelmente deveria deixar as coisas como estavam, mas a preocupação só aumentava e ele passou uma boa meia hora sentado em sua cama, olhando para a tela do celular e mastigando o lábio inferior antes de decidir ligar para Peter, que atendeu no último toque.

"O que cê quer, Mike?" A voz de Peter estava cheia de sono e, se fosse outra pessoa, Mike teria questionado por que diabos ele estava dormindo às 15h, mas esse era Peter e ele não era convencional.

"Você não parece feliz de me ouvir." Mike não pode deixar de provocar.

Peter suspirou. "Bem, você acabou de me acordar de uma soneca tão necessária."

Mike franziu a testa para si mesmo. "Eu não quis te acordar. Eu posso ligar mais tarde."

O barulho pôde ser ouvido e Mike presumiu que Peter estava sentado.  "Nah, só fala o que cê quer."

 "Huh, o Neil está bem?"

 Silêncio.

 "Peter?"

 "Sim", Peter respondeu após um momento prolongado.  "Por que você pergunta?"

Mike se mexeu na cama desconfortavelmente. Por que sentia como se perguntasse algo que não deveria?  "É que ele realmente não pareceu muito bem essa semana e eu estou preocupado com ele, sabe? Ele disse que está resfriado ou algo assim,mas... "

"O que, você acha que ele está mentindo?" Peter perguntou com uma ponta na voz.

"Claro que não!" Mike disse rapidamente.  "Ele nunca mentiria para mim assim, certo?"

"Yeah."

"Estou apenas preocupado."

"Não se preocupe, cara.  Ele só está se sentindo mal mas vai passar. "

As palavras de Peter se provam verdade quando no dia seguinte Neil lhe manda uma mensagem dizendo que está se sentindo melhor e perguntando se quer se encontrar. Mike respondeu dizendo que Scott havia planejado algo no apartamento deles no fim de semana e perguntou se Neil queria ir e este respondeu que mal podia esperar para conhecer seu rival.

No sábado, Mike se sentiu aliviado ao abrir a porta da frente e ver um Neil sorridente e corado. Suas bochechas também não pareciam tão afundadas e seus lábios não estavam mais rachados. Ele lançou um sorriso ofuscante para Mike, mas que não alcançou seus olhos, antes de soltar: "Mike, o que diabos aconteceu com seu cabelo?" Uma risada quase dividiu seu rosto ao meio e ele estava chorando de rir. "Porra, cara!"

Mike sorriu. Scott havia decidido brincar com seu cabelo no tédio e descolorido o cabelo de Mike mas ao invés do loiro esperado tinha ficado um laranja feio, e tinha que admitir, parecia bem estranho.

Um flash laranja apareceu ao redor do ombro de Neil para revelar Peter com sua carranca de assinatura sempre presente. Ele simplesmente olhou para Mike sem expressão e disse: "Você parece um boneco Ken com defeito de fabrica".

 "Vai se foder, Peter."

A observação de Peter fez Neil chiar e Mike ameaçou bater a porta na cara deles se eles não parassem de ser idiotas. Neil de alguma forma conseguiu se recompor e levantou uma mão para pegar mechas de cabelos de Mike entre os dedos. "Não ficou tão ruim. É fofo."

Mike se virou para esconder o rubor subindo pelas bochechas e disse para eles se apressarem para dentro. O resto de seus amigos estavam descansando na sala de estar. Sobre o balcão da cozinha, grandes quantidades de álcool foram colocadas, enquanto quatro meninos descansavam nos móveis ao redor.

Ethan se levantou quando viu os dois garotos. “Neil!Você aqui!"

Mike quase riu quando Ethan agarrou Neil pelo pulso e o forçou a se aproximar dele, empurrando Henry para abrir espaço no sofá.

Eiji, que parecia bastante confortável sentado na poltrona, ofereceu a Neil um sorriso e o garoto se sentiu intimidado porque o homem mais velho se parecia com alguém que deveria estar na capa de uma revista de moda. “Você deve ser Neil. Eu ouvi muito sobre você."

Neil coçou a bochecha, algo que Mike sabia que ele fazia quando estava nervoso.  "Ah, sério?"

Scott sorriu desonestamente de sua posição no chão.  "Ah, sim, você é tudo sobre o que o Mike fala. Ele-”

"Este é o Scott", Mike o interrompeu enquanto lutava contra o rubor que se espalhava por todo o rosto.  "Ele é o melhor amigo de quem eu estava falando. E Scott ”, ele apontou para o ruivo que ainda estava de pé meio sem jeito.  "Este é o Peter."

Mike não perdeu o brilho malicioso nos olhos de Scott, pois ele obviamente viu Peter antes de voltar sua atenção para Neil. "Você é muito mais bonito do que eu esperava", ele comentou. Ele então pediu a Neil para se sentar ao lado dele, ao qual ele felizmente obriga, porque Ethan parece estar grudado no pobre garoto. Mike se sentou no chão do outro lado de Neil e avisou a Scott para não roubá-lo.

A noite estava calma e os sete beberam e contaram histórias, e assim Mike descobriu que Ethan gostava de contar histórias altas quando está bêbado, mas todo mundo parecia estar acostumado com suas histórias ridículas.

"Estou lhe dizendo que derrubei os dois ao mesmo tempo!"

Eiji riu disso. "Isso é besteira. Como você pode combater uma gangue inteira quando você é quase tão magro quanto o Peter?”

“Ei, idiota. Eu estou bem aqui."

Todos riram antes de Ethan começar a falar sobre duas gostosas que ele conheceu em Nova York durante o verão e Eiji mais uma vez chama de besteira porque Ethan era na verdade muito tímido com o sexo oposto.

"Será que algum de nós realmente tem namorada ou somos apenas perdedores?" Henry brincou.

Todos expressaram seu acordo, mas então Ethan começou a fazer comentários bêbados inadequados sobre como Neil poderia conseguir qualquer garota que ele quisesse e faz uma piada sobre o garoto mais novo fodendo metade das meninas do campus. Mike pensou que as palavras de Ethan estavam deixando Neil desconfortável, mas o garoto riu de qualquer maneira. 

"Você não tem uma namorada agora?" Ethan perguntou. "Eu acho que o nome dela era Jana…Janda...Ja...eu não sei."

Neil riu. "O nome dela é Jasmine, mas não estamos mais juntos. Terminamos as coisas na última sexta-feira.”

As sobrancelhas de Mike praticamente se ergueram além da linha do cabelo. "Você não está mais namorando?"

"Não."

"Por que vocês terminaram?" Os olhos de Mike se voltaram para Peter. Ele não tinha certeza se sua mente estava brincando com ele ou se ele estava pensando demais, mas uma parte dele parecia como se o ruivo estivesse fervendo sob sua indiferença.O olhar de Mike piscou entre os dois amigos e eles pareciam comunicar algo com suas expressões que ele não conseguia decifrar.

"Porque", disse Neil, olhos nunca saindo de Peter. "As coisas simplesmente não estavam dando certo."

Os outros pareciam inconscientes da tensão entre os dois e deram a Neil suas condolências com Eiji comentando que havia muitos peixes no mar, especialmente para alguém tão bonito quanto ele.

Não demorou muito para que Ethan estivesse contando histórias dramáticas novamente, o que resultou em argumentos bêbados que Eiji e Henry tentaram mediar. Mike estava praticamente sorrindo de orelha a orelha com o quão infantil toda a provação era quando Eiji se levantou com as pernas bambas e apontou um dedo acusador para Ethan antes de seguir algum tipo de tangente filosófica.

Neil tinha estado bastante quieto, então Mike voltou sua atenção para ele e não perdeu o jeito que, enquanto Scott estava rindo e se juntando à discussão, ele olhava para o garoto mais novo pelo canto do olho com muita frequência. Neil sorriu, mas desta vez parecia bastante forçado.

"Neil? Você quer passar a noite?" 

Neil perguntou se ele tem certeza de que estava tudo bem, e Mike ressaltou que ele e Peter sempre o deixavam dormir no quarto deles e que havia muito espaço na cama de Mike. O garoto concordou em ficar e a noite se arrastou até Henry sugerir que todos eles voltassem para casa, mas Mike suspeitava que ele não quer lidar com as consequências de um Ethan completamente bêbado.

Todo mundo começou a juntar suas coisas e se despedir, e Scott disse a Peter que ele era bem-vindo a ficar também,o que ele concordou porque ele está bêbado e não tinha certeza se ia acabar no quarto certo sem Neil. Os olhos de Neil estavam quase fechando e Mike se inclinou e perguntou se ele queria ir para a cama em voz baixa, o que ele concordou com a cabeça. Mike deu boa noite para Scott e Peter, que ajudava a limpar e quase sorriu com a idéia de o casal ficar sozinho.

Havia subestimado o quanto Neil bebia porque, enquanto ele próprio estava meio bêbado,Neil tropeçou no quarto de Mike e caiu de cara na cama com um gemido.

Mike riu. "Vamos Neil, vamos colocar você em algo mais confortável, sim? Você não quer dormir de jeans.”

O garoto resmungou em acordo, mas achou difícil desfazer o botão da calça, então Mike o ajudou,tirando Neil das calças apertadas e jogando-as ao acaso no chão. Ele se moveu para ajudar Neil com sua camisa, mas assim que seus dedos levantaram a bainha, a mão de Neil agarrou seu pulso e seus olhos se abriram para encarar Mike com uma certa intensidade que o fez se contorcer, porque sempre que Neil o olhava assim ele estava sempre sorrindo.

"Não", ele disse como um comando e a súbita seriedade em sua voz fez Mike engolir seco.

"Ok", disse ele antes de se afastar para se vestir de maneira mais confortável e tirar o gosto do álcool da boca. Neil lançou um sorriso cansado quando ele voltou e se moveu para que Mike pudesse subir na cama com ele e debaixo das cobertas.

Por um momento,silêncio.

"Você realmente terminou com ela?" Mike murmurou.

"Sim."

Mike estudou Neil mais de perto, movendo a cabeça sobre o travesseiro para que houvesse apenas um centímetro de espaço entre eles."Você a amava?"

Neil manteve o olhar firme, mas ele não respondeu.

Mike se virou para olhar para o teto.

"Ei, Mikey?"Neil murmurou de repente. "Você acha que se o coração continuar encolhendo, um dia não haverá mais coração?"

Mike virou a cabeça para Neil, mas quase desejou que ele não tivesse. Neil estava com aquele olhar novamente, um que sempre desaparece tão rapidamente como se nunca estivesse lá, mas desta vez perdura. Ele permanece e Mike percebeu o modo como a boca do garoto estava em uma linha firme, mas isso não é o pior.

Não, é a tristeza dos olhos verdes que Mike passou a amar que o assusta. "Como assim, Neil?"

Neil piscou e então seu rosto relaxou em algo mais agradável, mais familiar. Ele então fez algo que surpreendeu Mike. Ele se inclinou para frente e plantou um beijo casto em sua testa e Mike sentiu seu coração acelerar.

"Não é nada. Boa noite, Mikey.” Nei murmurou sonolento enquanto virava as costas para ele.

"Boa noite, Neil."

Mas parece que é algo mais. Naquela noite, Mike envolveu um braço em volta de seu amigo e o segurou o mais perto possível porque, por alguma razão inexplicável, ele tinha medo de que o Neil que estava dormindo ao lado dele pudesse desaparecer.

══════ •『 ♡ 』• ══════

Quando Neil acordou na manhã seguinte, não estava em sua própria cama e havia alguém respirando em seu pescoço. Fez uma careta para a ressaca que estava pronta para arrancar seu cérebro. Se virou nos braços da pessoa e, com certeza, encontrou Mike dormindo pacificamente ao lado dele, com a boca ligeiramente entreaberta para respirar sopros de ar quente contra a pele de Neil. Ele parecia quase etéreo e Neil não pode deixar de estender a mão e passar os dedos pelos ridículos cabelos do rapaz para traçar os contornos de sua mandíbula. Já tinha conhecido muitas pessoas atraentes, mas Mike Waters era lindo de uma maneira que tira o fôlego.

Mike era lindo de uma maneira que quase dói.

Mike suspirou sob o toque de Neil e quando ele lentamente começou a abrir os olhos, Neil afastou a mão como se tivesse acabado de ser queimado.

"Bom dia", Mike murmurou enquanto seus lábios se esticavam em um sorriso sonolento.

“Nós deveríamos arrumar seu cabelo.Você parece ridículo.” Não era exatamente o que ele queria dizer, mas a última coisa que Neil queria era que Mike soubesse que ele o estivesse observando dormir.

Mike piscou algumas vezes antes de bater levemente no braço de Neil. "Idiota." Neil riu. "Que cor?"

"Loiro.” 

"Por que loiro?"

Neil encolheu os ombros enquanto se movia para se sentar e bagunçar o próprio cabelo, os dedos agarrando os nós. "Você ficaria bonito loiro."

Mike sorriu."Loiro então.”

Eles acabaram indo à loja depois que Scott fez panquecas para todos eles e Neil ficou genuinamente surpreso e bastante impressionado com o fato de Scott ter conseguido acordar Peter tão cedo, mesmo que parecesse que ele estava dormindo na cadeira. Anunciou aos dois sobre seus planos para se livrar da monstruosa cor de cabelo de Mike, do qual Scott riu e enviou uma oração silenciosa. Peter havia dito que olhar para o cabelo de Mike lhe dava dor de cabeça de tão feio e Neil ameaçou pintar o cabelo de Peter de verde no banho se ele não calasse a boca.

Decidiram pintar o cabelo de Mike no banheiro do apartamento dele, mas não antes que Scott prometesse que sangue seria derramado se manchasse as toalhas. Neil admitiu que nunca pintou o cabelo de ninguém antes, muito menos o dele, mas Mike apenas disse: "Meu destino está em tuas mãos, meu querido Neil.”

Surpreendentemente, Neil não destruiu completamente o cabelo de Mike, mas ele prometeu nunca fazê-lo novamente porque o cheiro químico do descolorante machucou seu nariz e fez seus olhos lacrimejarem. Eles ficaram sentados e assistiram TV na sala por meia hora antes que Mike se levantasse para lavá-lo. Quando Mike gritou do banheiro que ele terminou, os três meninos se reuniram no sofá e se voltaram para a porta do banheiro em antecipação.

"Espero que ele seja careca",Peter brincou e Scott lhe deu uma cotovelada, dizendo para ele parar de ser tão mau.

"Eu ouvi isso!" Mike resmungou enquanto abria a porta com mais força do que o necessário e fazia sua estréia com uma pose dramática. "Como estou?"

Scott foi o primeiro a pular e gritar. "Você parece tão foda!"

Peter franziu a testa, agarrando uma mecha de seu próprio cabelo e olhando-o com desdém enquanto clica a língua. "Parece com o meu irmão Arthur."

Mike passou a mão pelo cabelo e faz outra pose, balançando as sobrancelhas. “Claro que estou incrível. Eu sou Mike Waters, afinal.” Scott riu e começou a gritar e berrar, pedindo seu autógrafo enquanto Peter reclamava para ele calar a boca. Mas quando Mike percebeu que Neil não dissera nada, ele não parecia mais muito seguro de si. “O que você acha Neil? Ficou tão ruim assim?”

Neil acharia sua inquietação fofa se não estivesse tão impressionado com o quão bem o cabelo loiro complementava o rosto de Mike. "Você parece...muito bonito.Realmente combina com você, Mike. Eu gosto disso."

Mike coçou a parte de trás da cabeça, um rubor desabrochando em suas bochechas. "Sério?"

"Sim. Prometo."

Peter fez um som de engasgo. "Vocês são nojentos." 

Neil ignorou o olhar gelado que seu amigo mandou em sua direção mas ele sabia que receberia um esporro de Peter mais tarde.

Ele realmente não queria falar porque não há nada para dizer. Esperava se afastar antes que Peter pudesse encurrala-lo e ficar perto de Mike e Scott o dia todo, mas Scott estava se formando em medicina, o que significava passar horas na biblioteca estudando todos os dias e Mike tinha que ir para o estágio; escapar não era uma opção e Peter o observava como um lobo faminto.

Quando eles finalmente saíram e caminharam de volta para os dormitórios, Peter não disse nada por um bom tempo. No frio de novembro, Neil enterrou as mãos profundamente nos bolsos do moletom e o único som que preenchia o silêncio era o triturar de folhas murchas sob os pés. Esperava que Peter apenas deixasse isso de lado e fechasse os olhos, como sempre, mas a sorte não parece estar do seu lado, porque assim que Peter fecha a porta do quarto compartilhado, ele começa a falar.

"Neil William Anderson" Peter usou seu nome completo, algo que ele só fazia quando Neil estava com sérios problemas. "Que porra você pensa que está fazendo?"

Neil mordeu o interior de sua bochecha. "Eu não estou fazendo merda nenhuma, Pete.."

"Esse seu joguinho não funciona comigo." Peter rosnou. "Eu pensei que tinha dito para você manter o Mike fora dessa merda."

Neil suspirou. "Ele nem está envolvido em nada. Somos só amigos."

Peter parecia que estava prestes a estrangulá-lo. "Não minta para mim. Não se atreva a mentir para mim. Você pode mentir para todo mundo, mas não para mim.”

"Eu não estou mentindo."

“Sim você está. Você é um mentiroso e eu disse a você no primeiro dia que nos conhecemos que não mentiria pra mim e, no entanto, essa merda está saindo da sua boca.”

Neil apertou as mãos em punho. Ele queria gritar com Peter, mas não podia, não quando a culpa e a vergonha de mentir para a única pessoa com quem ele sempre foi honesto estavam pressionando-o. "E daí?" ele murmurou. "E daí se eu estiver brincando com ele?"

"Eu te disse antes. Ele é nosso amigo e amigos não se machucam. Assim não."

Neil mordeu sua bochecha com tanta força que sentiu com o gosto de sangue. "Ele não é meu-"

"Eu vejo o jeito que você olha para ele", a voz de Peter suavizou consideravelmente. "Você olha para o Mike como se ele tivesse a galáxia inteira dentro dele. Ele não é apenas mais um daqueles seus rolos que você não dá a mínima quando você os machuca. Ele não é apenas um amigo para você, porque você o ama.”

Neil ficou tenso. "Cala essa boca. Cala a boca, ou eu vou fazer você calar."

A boca de Peter se fechou com as palavras geladas de Neil. Ele havia visto como as pessoas que haviam sido vítimas da ira de Neil acabaram e essa era a primeira vez que o garoto dirigia uma clara animosidade em relação a ele. E era óbvio pela maneira como Peter olhava para ele que sabia que devia parar; que ele deveria sair e dar um tempo para os dois se acalmarem, mas se alguém é mais teimoso que Neil, este é o melhor amigo dele.

"Ou o que? Que porra você vai fazer Neil?” Peter o desafiou. “Você e o Mike obviamente se importam um com o outro. O que há de tão errado em deixar os outros se importarem com você? O que há de tão errado em deixar as pessoas te amarem, Neil? De que você tem tanto medo?"

As respirações de Neil ficaram curtas e podia sentir suas mãos úmidas. "N-não diga essa merda para mim nunca mais. Eu não tenho medo de merda nenhuma!”

Ninguém nunca vai amar um desgraçado como você...

Queria que você nunca tivesse nascido...

Não é à toa que sua mãe não aguentava mais olhar para você...

As vozes ecoam dentro de sua cabeça e a sala parecia estar girando. "Nunca, nunca diga isso!"

Peter se encolheu com a maneira como sua voz se elevou. "Eu não vou. Sinto muito,Neil. Apenas acalme-se, ok? Eu não quis dizer isso—"

"Eu nunca poderia!" Neil não sabia o porquê, mas a respiração estava ficando difícil e parecia que algo estava esmagando seu peito. "Eu nunca poderia-" 

...amar Mike.

Os olhos de Peter se arregalaram. “Ok, sério. Você precisa se acalmar, Neil. Você está começando a hiperventilar e acho que está tendo um ataque de pânico." 

Mike estendeu a mão para ele, mas de repente essas mãos não são as mãos de seu amigo, mas são grandes e insensíveis e deixam machucados florescerem em sua pele na forma de impressões digitais.

Neil começou a gritar.

"Não! Não! Não me toque!” Ele puxou o braço para longe de Peter,do terrível monstro à sua frente,e tropeçou em si mesmo e caiu no chão. O impacto foi chocante e Neil não conseguia enxergar através de sua visão de túnel e a dor do impacto apenas o faz surtar ainda mais.

“Neil!Neil!Porra!"

Neil continuava se debatendo no chão enquanto as mãos lutavam para prendê-lo e ele não conseguia sentir nada além de um medo cru correndo em suas veias, e não podia deixar isso acontecer, não novamente. Ele começou a gritar ainda mais alto. "Me deixa ir! Me deixa ir!"

Houve o som da porta se abrindo e um par de pés correndo. "Que porra está acontecendo aqui?!"

"Me ajude a segurá-lo antes que ele se machuque, Henry!"

Henry não pareceu questionar e permaneceu calmo, então houve outro par de mãos agarrando Neil, mas não são as mãos de seus amigos e o toque segue queimando sua pele como ácido. Ele estava assustado. Tão assustado e, embora em algum lugar no fundo ele soubesse que estava em seu quarto com Peter e Henry completamente seguro, sua mente o deixava preso em um lugar escuro.

"Eu sinto muito. Eu sinto muito. Eu sinto muito.” Neil estava ciente de que estava chorando, um som que saiu como um ruído gutural desumano.

“Você não tem por que se desculpar. Está tudo bem. Estamos aqui com você." Essa era a voz de Henry,certo? Neil não sabia. Tudo o que sabia era que o puro terror que sentia era esmagador.

"Ethan,certifique-se de que nenhuma pessoa venha aqui, entendeu?!"

"Certo." O som da porta se fechando sacudiu Neil até seu âmago, porque era muito alto em sua cabeça. Isso o lembrou da maneira como seu pai batia a porta quando ele-

“Tente respirar, garoto. Você não está onde quer que sua mente esteja te dizendo. Você está aqui conosco. Com seus amigos. Essa outra merda é uma mentira. Apenas se concentre na minha voz.”

Mas Neil não conseguia se concentrar em nada além do som do batimento cardíaco em seus ouvidos. Era como se sua cabeça estivesse embaixo d'água e tudo mais estivesse abafado e houvesse mãos tocando-o em todos os lugares. Ele não podia fazer nada além de repetir desculpas após desculpas, como um mantra quebrado, até que sua voz estava rouca de tanto gritar. Parecia que ele estava morrendo e agora, Neil desejava estar morto.

A última coisa de que se lembrava era a sensação de bile forçando sua garganta enquanto vomitava e Peter chamando seu nome freneticamente,então tudo ficou escuro.

 

A primeira coisa que registrou quando começou a recuperar a consciência é que sua cabeça parecia que estava mergulhada em água. Suas pálpebras estavam pesadas e manchadas de lágrimas secas, enquanto ele lutava para forçá-las a abrir e sua língua estava grossa, e se tivesse energia, faria uma careta com o gosto desagradável em sua boca. Levou um tempo, mas a neblina começou a diminuir e não parecia que havia mais tanto algodão preso em seus ouvidos. Podia ouvir vozes e levou mais um minuto para reunir frases coerentes da conversa.

"O que diabos aconteceu, Peter?"

"Eu não sei. Eu realmente não sei, cara. Só tivemos uma discussão e... ”

Neil sentiu alguém afastar os cabelos da testa e passar um pano frio em sua pele. Ele ainda se sentia pegajoso e a sensação de estar praticamente encharcado de suor era extremamente desconfortável.

“Devo ligar para o Scott? Ele é um estudante de medicina.” Neil tinha certeza de que a voz pertencia a Henry.

Houve um momento de silêncio antes que Peter dissesse para ele que não. "Ele vai ficar bem."

"Você tem certeza sobre isso? Você viu o estado dele.”

"Sim. É só porque ele ficou com medo." Peter não parecia muito seguro de si e Ethan disse a ele que ele não achava que Neil estava bem. "Olha, você não pode contar a ninguém, certo? O que aconteceu hoje permanece entre mim, você e o Ethan.”

"Mas e o Mike?Ele vai perceber que alguma coisa aconteceu."

"Não.” O gelo no tom de Peter cortou a atmosfera pesada. "Especialmente o Mike."

Uma pausa.

"Olha," Henry começou."eu sei que você é o mais próximo do Neil. Ele é um garoto que nunca fala sobre o que ele está passando, e eu sei que essa merda deve ser difícil porque ele tem muitas expectativas para cumprir. Não espero que você me conte tudo, mas se você sentir que ele é um perigo para si mesmo...não guarde para si mesmo, Pete.”

Neil queria pular e pegar Henry pelo colarinho e sacudi-lo. Queria contar a ele como ele é realmente podre por dentro. Queria contar o que fez com Jasmine e depois ver o rosto de Henry se transformar em algo parecido com horror e nojo. Se contasse, qualquer afeto que Henry sentisse por ele desapareceria. Mas agora, tudo ainda parecia muito pesado e quando Neil soltou um gemido baixo, Peter chamou seu nome.

Quando Neil finalmente abriu os olhos, a luz que atravessava as cortinas causou uma dor aguda que atingiu a base do crânio e o fez choramingar. Peter pediu a Henry para fechar as cortinas e Neil piscou rapidamente na tentativa de clarear sua visão.

"W-wuh..." Doía falar e sua garganta parecia estar pegando fogo.

Peter, que estava sentado ao lado dele na beira da cama, ofereceu um sorriso suave. "Ei cara."

Neil apertou os olhos e não disse nada, mas soltou outro gemido.

Henry se moveu sobre o pé da cama. "Você tem certeza que ele está bem? Ele parece delirante.”

Peter passou os dedos pelos cabelos úmidos de Neil. "Você está conosco?"

Neil assentiu lentamente em resposta. "Tudo bem,estou bem."

"Neil," Peter começou. "Você quer falar sobre o que aconteceu?"

De repente, Neil sentiu frio e virou a cabeça para olhar fixamente para a parede. Peter sussurrou algo para Henry e ele se virou para sair, mas não antes de dizer a Neil que ele esperava que ele se sentisse melhor logo e, em seguida, Neil foi deixado sozinho com a única pessoa que ele não quer ficar sozinho em uma sala agora.

Pelos próximos cinco minutos, ninguém falou uma palavra e Neil desejou que Peter se levantasse e o deixasse em paz, mas ele ainda sentiu o recuo de Peter sentado na cama e não queria saber que tipo de expressão seu melhor amigo estava fazendo.

"Cristo, Neil, eu-"

"Eu não quero falar sobre isso", disse Neil. Ele podia praticamente sentir Peter franzindo a testa para ele.

"Bem, você não pode simplesmente agir como se nada tivesse acontecido. Você ficou desmaiado dez minutos, Neil. Eu tive que limpar seu vômito e se eu não fosse um psicólogo, teria chamado uma ambulância. Por favor, fale comigo, cara.”

Podia ouvir o desespero na voz de seu amigo e Neil queria se sentir mal, mas tudo o que ele sentia agora era dormência que o apunhalava no peito e se espalhava até as pontas dos dedos. Se virou para finalmente olhar para o Peter com uma expressão ilegível. "É exatamente o que eu vou fazer, Peter. Eu não quero falar, porque eu quero pensar. Eu me irritei, só isso, e fui fraco. Eu não quero falar sobre merda nenhuma.”

Peter suspirou.

"Você não é fraco. Você é humano, Neil, e às vezes merda acontece.” Neil queria dizer a ele que ele não devia ser humano, mas um deus. "Você provavelmente se sente ainda pior do que parece, mas vamos te limpar pelo menos, sim?"

Neil assentiu entorpecido. Sentar-se o deixou tonto e quando ele balançou as pernas sobre a beira da cama, suas pernas pareciam gelatina e ele estava tremendo demais para se coordenar corretamente, então Peter precisou ajudá-lo. Peter espiou pela porta para verificar se alguém estava nos corredores antes de rapidamente arrastar o garoto para o banheiro e trancá-lo.

Neil quase caiu sobre a tampa fechada do assento do vaso sanitário e,enquanto olhava para as mãos, é então que percebeu que estava vestindo nada além de calças que cheiram levemente a vômito e concluiu que Peter devia ter tirado sua camisa antes de o colocar na cama. Peter se moveu para abrir o chuveiro e, embora Neil dissesse a ele que ele era capaz de fazer isso sozinho, Peter o ignorou enquanto puxava a calça do rapaz. O nariz dele torceu com o cheiro, mas decidiu que a calça ainda podia ser recuperada com uma boa lavagem então jogou de lado.

Neil tentou ignorar o enorme sentimento de vergonha que sentia porque tinha vinte e dois anos e estava nu na frente de seu melhor amigo, que o agarrou pelo cotovelo para ajudá-lo a entrar no chuveiro. Neil se sentia patético quando ele quase afunda na água morna que pica sua pele e quase pensa em morrer ali mesmo, porque então agora a morte parece mais reconfortante do que a sensação feia que está torcendo seu interior em um nó.

Escovou os dentes até sentir o gosto de sangue na língua e, em seguida, Peter passou uma bucha para ele e o garoto deslizou o sabonete pelos braços cobertos de arrepios, mas o movimento começou a ficar mais frenético e logo Neil estava praticamente esfregando tão forte que a pele estava ficando vermelha. Achava que talvez se esfregar com força o suficiente, isso lavasse seus pecados, mas Peter estava gritando para ele parar e arranca a bucha do aperto mortal que Neil tinha nela.

“Neil, que porra você está fazendo? Você está se machucando, pare!” Peter na verdade não estava gritando, mas havia uma certa severidade em sua voz.

“Eu tenho que lavar. Estou sujo. Muito sujo." A água morna não impedia os tremores de Neil.

"Você não está sujo, Neil. Eu prometo que você não está sujo.”Peter o tranquilizou com uma voz gentil que não combinava com sua personalidade áspera. Mas Neil estava apodrecido até o âmago e, mesmo que ele retirasse a pele e todas as camadas de gordura e músculo, ele ainda encontraria larvas.

Peter lavou o cabelo de Neil com xampu e a sensação dos dedos de seu amigo massageando seu couro cabeludo amenizou a dor de cabeça. Após algum tempo Peter começou a tagarelar sobre Ethan ser um péssimo parceiro de Anatomia que quase explodiu sua sala de aula e Neil começou a se sentir um pouco mais à vontade enquanto escutava as queixas de seus amigos. Quando ele terminou de lavar o cabelo de Neil, ele puxou o garoto para sentá-lo no assento do vaso sanitário e passou a secá-lo antes de sair para pegar algumas roupas. Levou apenas um minuto para Peter voltar rapidamente, como se estivesse com medo de deixar Neil sozinho. Vestir Neil e voltar para o quarto deles foi mais fácil do que tinha pensou, porque Neil estava mais firme e não despejava mais todo o peso no pequeno corpo de Peter.

Neil ficou surpreso quando Peter o direcionou para a cama dele e não para a sua, mas então lembrou que os lençóis provavelmente estavam cobertos de suor e o cheiro de vômito provavelmente grudado neles como um lembrete assustador de sua fraqueza.

Peter pegou um cigarro antes de se deitar ao lado de Neil e desta vez ele não abriu a janela, mas deixou a fumaça cobrir o cômodo em uma névoa fina e o surpreendeu mais uma vez quando colocou o braço sob a cabeça de Neil e acariciou suas mechas macias suavemente. 

"Pete?"

"Hn?"

"Você não vai contar para o Mike, certo?"

"Dizer a ele o que?" Que eu sou um monstro. "Não há nada a dizer, garoto."

Neil silenciosamente agradeceu enquanto rolava de lado para estudar o rosto de Peter. Sua expressão era relaxada e não revelava nada, mas Neil sabia que haviam muitas coisas que seu amigo queria dizer, mas estava guardando para si.

“Eu só preciso de você, Pete. Eu só preciso de você e de mais ninguém, ok?"

Peter não disse nada.

"Você nunca vai me trair, certo Pete?"

"Nunca."

Neil fingiu não notar como a voz de Peter tremia.


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