My Own Private Waters escrita por Skadi


Capítulo 1
Garoto de Ouro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790062/chapter/1

Neil gostava de machucar pessoas.

Não fisicamente, óbvio, mas ele gostava de quebrar os corações delas. Não havia nada mais prazeroso do que vê-las quebrar em suas mãos, tornarem-se marionetes com cada beijo e eu te amo falsos, seu nome sendo cravado em seus corações.

Neil era um mentiroso, mas suas mentiras davam as pessoas um gosto do próprio paraíso, então elas não deveriam ser gratas por isso? Há muito tempo já tinha se tornado mestre da arte de fingir ser perfeito. Seus grandes olhos verdes davam uma imagem de inocência que enganava qualquer um, brincando de rapaz tímido e engraçado e com seu sorriso doce que fazia qualquer um sentir uma pontada no coração.

Era tão fácil.

Primeiro, diga a sua vítima que ela é linda, sorria como se você estivesse tímido de admitir isso. As pessoas adoram esse nervosismo e acham adorável, e isso faz todo o resto do processo se tornar mais genuíno. Geralmente gostavam quando seu rosto ficava corado, o que era difícil acontecer afinal ele não sentia nenhum tipo de afeição a seus namorados e namoradas temporárias.

"Você é tão linda quando sorri." Ele disse, pintando seu melhor sorriso inocente.

"Sério?" Ela perguntou inocentemente, as bochechas coradas. O nome dela é Anna. Era muito insegura, o tipo de alvo fácil para Neil.

Segundo, quando finalmente decide lhe dar um pedaço de si, finja se importar. Ela vai lhe contar alguma história trágica do seu passado uma madrugada e quando ambos estão no sofá assistindo um filme. Neil aprendera com o tempo que assentir com a cabeça e franzir as sobrancelhas era um modo perfeito de fingir que estava se importando com cada palavra. Um abraço de conforto e beijos na testa sempre os faziam se abrir mais. Ele não tinha que se importar, apenas fazer a pessoa acreditar que sim.

"Você não merecia passar por isso." A mentira vem tão facilmente quanto um piscar de olhos, enquanto Anna conta a ele a história trágica do primeiro amor. "Nunca vou machucar você assim."

Mentiras, mentiras, mentiras.

Seu tipo favorito de pessoa era aquelas que caiam em sua rede rápido e profundamente, porque aqueles eram os que ele realmente sentia que matara, a luz saindo de seus olhos enquanto ele quebrava seus corações. Quando eles choravam, ele queria sorrir enquanto os corações sangravam no carpete.

Neil gostava disso porque era uma espécie de assassinato, mas legalizado e secreto.

Trazer as emoções a tona quando os quebrava, era algo que o fazia feliz. Mesmo quando alguns reagiam com um surto de raiva, o que era um incômodo às vezes, mas a adrenalina era boa.

Quando Neil se entediou de seu joguinho com Anna, ela jogou um copo de Coca-Cola em seus rosto, lágrimas raivosas em seu rosto vermelho.

"Você me usou!" Ela gritava, a voz tremendo com a respiração. "Seu filho da-!"

Neil simplesmente inclinou a cabeça, um sorriso vitorioso em seu rosto enquanto encarava o olhar quebrado de Anna. "E daí?O que vai fazer?Contar a polícia?"

As cicatrizes já estavam no coração dela quando ela saiu pela porta. Mais uma para a lista.

Haviam vítimas como Carlos, que deu um tapa em Neil quando o viu se pegando com uma mulher aleatória nos fundos do bar que costumavam frequentar, chamando-o de todos os palavrões possíveis depois de ir embora. Carlos fez uma bagunça em seu drama, para o qual Neil simplesmente rolou os olhos antes de levar a garota do bar para casa e transar com ela até o dia seguinte.

Neil tinha tido mais amantes do que poderia contar em seus curtos 22 anos, mas entre todos os corações quebrados e perdidos, seu favorito havia sido um garoto chamado Ned. Ned havia chorado tão fácil, de joelhos e gritando para ele revelar que era tudo uma brincadeira. Ele era o favorito pelo simples fato de ele ter implorado para Neil contar que ele ainda o amava e que era tudo uma pegadinha.

Neil simplesmente disse que o namoro deles era uma brincadeira e que Ned era uma piada.

Ned foi o mais patético de todos, uma obra de arte. Ele realmente queria acreditar que Neil era uma boa pessoa(ele não era) e quase fez Neil sentir pena dele. Ned não era podre como o resto, e talvez, Neil considerou por um tempo, ele não merecesse aquilo.

Talvez.

Neil não tinha nenhum conhecimento sobre amor ou o que era ser quebrado, porque sempre tinha sido quebrado, o que tornara seu coração em uma pedra de gelo. Ele não sabia o que era amor até conhecer Mike Waters. E Deus, como havia aprendido que o amor doía, como uma queimadura de cigarro contra a pele. Mike Waters havia quebrado sua alma tanto que ele chegou a se perguntar se era assim que suas vítimas se sentiam.

Mike Waters era a primeira pessoa que Neil não queria quebrar.

══════ •『 ♡ 』• ══════

Havia conhecido Mike em uma festa. Seu melhor amigo, Peter, havia de algum modo o convencido a comparecer a essa festa de início de semestre e como Peter não gostava de sofrer sozinho, ele arrastou Neil para a casa lotada com ele.

"Nem sempre podemos ter o que queremos, jovem padawan." Peter havia dito enquanto o arrastava pelo braço.

Neil não tinha certeza em qual ponto ele e Peter haviam se tornado amigos. Ele e Peter eram tão grudados que outros colegas de classe questionavam como esses dois podiam ser melhores amigos quando eles eram tão diferentes um do outro. Isso ficava ainda mais aparente em festas como aquela.

Peter estava encostado na parede com uma expressão de desinteresse, um copo cheio de vodka-sprite numa mão e um celular na outra. Se os olhos dele não estivessem grudados na tela, eles estariam grudados em Neil, com aquele famoso olhar que o tornava não amigável, mas que não queria nenhum efeito em seu melhor amigo.

Neil, diferentemente de Peter, era conhecido e popular. Ele era legal com todo mundo e um bom amigo. Ele ria nos momentos certos e sorria quando elogiado. Tirava notas excelentes nas provas e popular com as garotas. Neil era tudo que muitos queriam ser — inclusive bom ator.

Ele era excelente em fingir que era o rapaz perfeito que fazia caridade para os menos afortunados e veio de uma perfeita família. Tão perfeito, que parecia falso.

E realmente era. Peter foi a primeira pessoa a perceber.

"Sem ofensa, mas você é falso pra caralho." Foi uma das primeiras coisas que ele havia dito a Neil. Peter havia sido designado como seu colega de quarto, e eles tinham acabado de se conhecer. Neil tinha ficado tão chocado que não tinha conseguido pensar numa resposta para alguém tão bruto quanto Peter; o rapaz ruivo que estava jogado no beliche de cima e cujos olhos pareciam ter uma sabedoria de anos a frente.

Por fim, Neil havia soltado uma risada. "Acho que vamos nos dar bem, Peter."

E realmente viraram amigos. Peter havia dito que ele não era cara de cair em joguinhos e Neil rapidamente parou de fingir ao redor dele. Ele não tentava apaziguar Peter e um vê se traz uma garrafa d'água extra era sempre respondido com vá pegar sozinho. Era uma relação boa e Neil nunca havia sido tão honesto com alguém assim antes, muito menos si mesmo, então ter uma pessoa que o conhecia de verdade e não o odiava por isso era um alívio. Um alívio a que, ele não sabia, tudo o que sabia era que a vida era muito mais leve quando não tinha que mentir o tempo todo. Ele nunca havia contado a ninguém o que fazia para se divertir, e havia tomado um bom tempo para contar a Peter sobre. E não era como se estivesse com vergonha ou algo assim, apenas sabia que o que fazia não era normal.

Pessoas normais não se sentem felizes com o sofrimento alheio.

"Tá falando com quem?" Peter havia perguntado enquanto procurava uma roupa, cabelo laranja molhado do banho.

"Jennifer." Neil respondeu sem tirar os olhos do celular. "Ela é gostosa."

Peter ergueu uma sobrancelha, indo se sentar na beira da cama enquanto pegava um cigarro e tirava um isqueiro do criado mudo. Ele ofereceu um a Neil, que pegou sem prestar muita atenção, e acendeu ambos.

"Achei que você tava saindo com aquele tal de Johnny." Peter perguntou, depois de acender seu cigarro.

"E eu estou."

"Então por que…?"

"Porque o Johnny tá ficando chato." Neil deu de ombros. "Ele não é tão bom na cama e a Jennifer faz uma coisa-"

"Ok! Muita informação, eu não precisava saber disso!" Peter berrou. "Mas você não gosta mais dele?"

"Nah. Como eu já disse, chato e ele fala demais. Tipo, eu só quero uma transa e ele fica falando sem parar da turma dele. Me irrita."

"Então termina com ele."

Peter disso aquilo como se Neil fosse um idiota, e Neil podia sentir o olhar julgador de seu amigo mas ele estava prestando atenção demais em Jennifer no telefone para se importar.

Ele riu. "Mas aí não é divertido."

"Ô contradição do caralho, Neil." Peter se levantou para abrir a janela, uma pequena nuvem de fumaça enquanto ele soprava as cinzas para fora. "Você me diz que cansou dele mas então diz que terminar com ele não seria divertido? Isso não faz nem sentido, cara."

Neil finalmente deu sua atenção para Peter, deixando o celular de lado e se encostando contra a parede. Peter o encarava curioso, querendo saber todos os detalhes mas sem coragem de perguntar.

"Estou esperando ele estar completamente apaixonado antes de terminar." Neil finalmente disse. "Estou esperando ele começar a pensar num futuro e com ninguém além de mim. Estou esperando pelo momento certo."

Peter o encarou com a testa franzida. "Cara isso é muito fodido."

Neil riu. "Eu sei!Por isso nunca contei pra ninguém além de você."

"E porque você faz isso?" Peter estava genuinamente curioso e não tinha nenhuma malícia na voz dele.

"Porque é divertido pra mim, eu acho. Não sei explicar, só que faz eu me sentir bem, quebrar o coração das pessoas."

"Você faz isso há quanto tempo?"

"Uns anos. Parei de contar faz tempo."

"Isso é tão fodido." Peter repetiu. "Então basicamente, você ter problemas sérios de auto estima e projeta isso nas outras pessoas sendo um falso se merda pra se sentir melhor?"

"Não, é só porque eu gosto."

Peter riu. "Eu estudo psicologia, esqueceu?"

"Oh, certo."

Peter apagou seu cigarro num cinzeiro antes de jogar janela abaixo. Então ele se virou para Neil com desaprovação. "Olha, eu só espero que cê pare com essa merda um dia. Não faz bem pra você e um dia o karma vai chutar a sua bunda. Não quero que cê venha chorando pra mim quando acontecer."

Neil deu de ombros como resposta.

Isso havia sido quase um ano antes e, o conselho de nada serviu. Mais do que qualquer coisa, ele tinha piorado. E, mesmo com uma imagem positiva, ele tinha a reputação de não conseguir se manter num relacionamento (nunca que ele havia traído todos os seus parceiros, ele se certificava disso). Ele era um príncipe enigmático onde outros queriam ser aqueles a finalmente doma-lo. Excerto que Neil não queria ser domado por ninguém.

Depois de muita reclamação, Peter finalmente o conseguiu tirar da cama e o arrastar para a festa. No momento que chegaram, Neil tinha seu melhor sorriso amigável e seu ato de quem queria estar lá. Ele ria de piadas de novatos que queriam impressiona-lo e quando se cansou, foi encontrar Peter no canto.

Neil sorriu. "Se divertindo, Pete?"

Peter parecia pronto para estrangulá-lo. "Cala a boca."

"Neeeeil!Peteeee!"

Os dois rapazes viraram-se para o amigo que os havia praticamente ameaçado a comparecer na festa, passando através da multidão em direção a eles.

Neil sorriu. "Hey Ethan."

Ethan logo passou um braço pelos ombros de Neil. "Que bom que você veio meu querido!"

Peter rolou os olhos, bebendo o líquido em seu copo. "Você só me chamou porque queria ver o Neil."

Ethan riu dramaticamente, puxando Neil para mais perto. "Não fique triste, Pete, você ainda é meu favorito."

"Eu tenho nojo de você."

"Eu vou pegar mais bebida." Neil anunciou enquanto se separava de Ethan.

"Não fuja para o México." Ethan avisou. "Vou deixar um saco de merda pegando fogo na sua porta se você sumir."

Neil apenas rolou os olhos e não respondeu. Só precisava de alguns drinks para se manter são o suficiente para aguentar aquela festa — álcool sempre tornava seus sorrisos mais fáceis e seus pensamentos mais abafados o suficiente para que não sentisse que estava sufocando. Era ótimo em fingir que gostava de festas, mas se tinha uma coisa que Neil odiava era um bando de pessoas bêbadas e barulhentas presas em um lugar a noite toda.

Yeah, ele definitivamente precisava de álcool, além de outras substâncias não exatamente legais que Peter o mataria se descobrisse o que andava aprontando. Mas por agora, Neil trocou seus hábitos mais destrutivos por uma meia garrafa de Jack Daniels que ele encontrou na cozinha e bebeu um pouco demais sem que tenha que vomitar. O cheio do whisky queimava o nariz e tinha um gosto horrível, mas a queima em seu estômago provavelmente iria valer a pena se aguentasse até a hora de ir embora.

"Wow, whisky puro. Tem certeza que isso é uma boa ideia?"

Neil piscou, tirando os lábios da boca da garrafa enquanto seus olhos examinavam o quarto em busca do dono da voz. Tinha apenas uma pessoa na cozinha. Um cara alto de cabelo castanho com as pontas descoloridas e comprido o suficiente para chegar a altura dos ombros; o nariz e o rosto perfeitamente angulares, olhos azuis e lábios rosas.

Neil era abertamente bisexual, embora passasse mais tempo com garotas do que qualquer outra coisa, mas esse estranho era incrivelmente lindo e agora, sentia que poderia ser completamente gay por ele.

"Nah." Neil disse, após alguns segundos, percebendo que o estranho estava esperando por uma resposta. "Provavelmente vou acordar com uma ressaca infernal, mas só se vive uma vez, certo?"

O estranho, que Neil havia oficialmente nomeado 'Gato' na sua cabeça, parecia estar se divertindo. "E isso não é mais um motivo para não morrer de coma alcoólico em uma festa que cheira que nem o banheiro de um McDonald's?"

"Acho que festas não são sua praia também." Neil rezou para que parecesse casual.

"Nah, meu amigo entrou numa crise de meia idade aos 24 anos então aqui estou." Gato gesticulou para si mesmo, não parecendo impressionado. "Mas e você? Não tem cara de quem gosta de festas também."

Neil forçou um sorriso. "Ah mas eu gosto de festas, são legais."

Gato ergueu uma sobrancelha. "Então porque você está sozinho trancado na cozinha bebendo whisky direto da garrafa? Não parece que você gosta."

"Uh" Neil não tinha certeza do que dizer, não acostumado a ser pego no meio de uma mentira. "Se eu disse que sou irlandês, você acreditaria?"

Gato riu e Neil talvez estava sendo um pouco dramático, mas podia jurar que era o som mais bonito que já tinha ouvido na vida. No meio de alguma música de trap ruim e as vozes altas ao redor, a risada dele parecia um som angelical. "Você é engraçado, gostei.Mas eu vi umas garotas tentando te agarrar enquanto você estava vindo pra cá e você parecia querer matar alguém, então definitivamente sei que festas não são seu tipo."

"Oh," Neil disse, tentando disfarçar a vermelhidão no rosto porque Neil Anderson não fica envergonhado e Peter iria esfregar isso na sua cara pelo resto da vida se visse o quão pateta estava sendo.

Gato sorriu e era um sorriso bonito, que ele não lhe deu o instinto de desviar o olhar em irritação, o que era estranho. Neil não gostava de sorriso bonitos e olhos brilhantes. Só o pensamento de sentir seu coração pular por causa de um sorriso o fez querer bater a cabeça contra o balcão.

"Tudo bem." Gato deu de ombros. "Eu acho que também ia querer matar alguém se alguma garota tentasse agarrar meu pau também."

Neil riu. "Definitivamente não está na minha lista de coisas que eu quero que aconteçam numa festa."

"Qual a primeira?"

Neil levantou a garrafa. "Beber whisky puro."

Gato riu novamente. "Bem, boa sorte com isso Tenho um amigo pra encontrar, ele provavelmente está vomitando no jardim, se é que não vomitou em si mesmo até agora."

"Hmm, melhor ir salvá-lo antes que seja tarde."

Por um minuto, nenhum deles se moveu e Neil definitivamente não queria ser o primeiro a quebrar esse momento o que quer que seja. Gato estava olhando para ele um pouco intensamente demais, o que o fez pensar ligeiramente que gosto os lábios dele teriam.

"Te vejo por aí?" Gato perguntou com um sorriso.

Neil assentiu. "Yeah, te vejo por aí."

Gato se afastou, lançando a Neil um último sorriso antes de sair da cozinha e desaparecer na multidão de pessoas. Neil não saiu da cozinha pelo resto da noite.

══════ •『 ♡ 』• ══════

Neil não encontrou Gato pelos próximos quatro dias depois da festa e, embora o encontro tenha sido breve e não tenham trocado nada mais do que brincadeiras, não conseguia parar de pensar naqueles olhos e na voz de veludo daqueles belos lábios. É estúpido, mas Neil não pôde se conter de ter a esperança de encontrá-lo novamente no futuro.

Os dias passam e Neil continuou sua monótona rotina de ir a aulas e festas e logo, quatro dias se tornando oito. E não importava o que fizesse para se distrair, seus pensamentos sempre voltavam para o mesmo pensamento. Ele nem sabia o nome do cara da festa e era frustrante, tão frustrante que quando Neil fechava os olhos as três da manhã tudo o que conseguia ver era o cara lindo sem nome. Queria esquecer e tentou ao máximo, transando com sua namorada do momento chamada Ashley.

Não funcionou. Ao contrário, o universo parecia estar trabalhando a seu favor ou contra (ainda não havia se decidido nessa parte) porque foi em uma quarta feira quando Neil encontrou Gato mais uma vez. Sua primeira aula do dia era Sociologia e Neil odiava sociologia, e não era porque era ruim na matéria (até considerava fácil) mas a voz do professor fazia a explicação ser tão chata que tudo o que queria era dormir. Ele estava usando óculos escuros roubados de Peter e tentando ignorar a dor de cabeça, que não notou a turma se virando em curiosidade para a porta.

"Posso sentar aqui?"

Foi a familiaridade da voz que quase fez Neil cair da cadeira enquanto sua cabeça levantava. "Nem fodendo."

As palavras saíram antes que pudesse se parar, porque ali estava Gato parado na sua frente mais lindo do que nunca. Neil tirou os óculos para observa-lo melhor. O cabelo comprido estava penteado para trás das orelhas, apenas algumas mechas soltas na frente, deixando seus olhos azuis mais visíveis e oh, como eles eram lindos. Dessa vez Neil não o estava vendo na meia luz da cozinha e Gato sorriu ao reconhece-lo, fazendo seu coração pular.

"Olha só quem é!" Gato falou um pouco alto demais, chamando atenção da classe. Ele deu desculpas silenciosas para o professor que o olhava irritado. "Então, posso sentar?" Neil assentiu, sem conseguir encontrar sua voz. Gato sentou-se ao seu lado, mochila jogada de qualquer jeito enquanto ele tirava um caderno e uma caneta. "Nem peguei seu nome, o que foi meio merda porque não tive como saber se você tinha morrido na festa ou não."

Neil riu baixinho. "Neil Anderson. Vinte e dois anos e estudando Direito."

"Direito?Jurava que era algo mais legal."

Neil deu de ombros. "Desculpe desapontar."

"Michael Waters, mas pode chamar de Mike. Vinte e três anos, e troquei de curso quatro vezes mas por agora acho que quero ser professor."

"Você não tem cara de professor para mim" Neil disse, pondo de volta os óculos escuros porque as luzes fluorescentes da sala estavam começando a fazer a dor de cabeça voltar.

"Você bebeu noite passada? Parece estar de ressaca." Mike perguntou.

Neil encostou a cabeça na mesa, o rosto em direção a Mike e a bochecha encostada na superfície fria. "Yeah e talvez eu não devesse."

"Quem bebe numa terça a noite?" Mike parecia genuinamente curioso.

"Meu grupo de amigos." É tudo que ele deu de explicação e o que Mike pareceu precisar.

Ele apoiou o cotovelo na mesa e o queixo na mão para observar Neil que no momento estava morto por dentro. "Oh eu não reparei que você era um dos senhores populares semana passada." Neil realmente queria que Mike esquecesse aquela noite. "Mas faz sentido. Você tem jeitinho de fuckboy." Neil murmurou um hey ofendido, para o qual Mike riu. "Mas de todos os males esse é o menor. Acho que vamos ser grandes amigos, Sr. Neil."

Neil fechou os olhos porque ficar olhando o sorriso de Mike o estava deixando nervoso. "Talvez. Por que não?"

Ele honestamente não achava que iam se ver muito fora daquela aula, mas Neil logo aprendeu o qual errado estava quando eles trocam números de celular e Mike mandou uma mensagem durante o terceiro período dizendo que a aula estava tão chata que ele poderia acabar se matando. Neil logo descobriu que a razão de Mike ter faltado as primeiras semanas era porque seu pai havia falecido e ele teve que estar presente no funeral. Assim, logo descobriu que Mike Waters era alguém que abria o coração para qualquer um que fosse legal o suficiente com ele. Não demorou muito pra ele contar sobre as histórias do pai dele e dizer que estava tudo bem porque ele estava em um lugar melhor agora, enquanto Neil assentia e ouvia atentamente, mesmo que achasse que essa história de Paraíso e Inferno era apenas uma grande piada.

"Você realmente acredita nisso?" Neil perguntou no dia seguinte, enquanto ambos estavam sentados em uma mesa na cafeteria local. "Paraíso, inferno."

Mike deu de ombros. "Não sei. Gosto de pensar que tem alguma coisa do outro lado. Mas e você, acredita?"

Neil queria dizer não. Queria dizer que estava acostumado a brincar de Deus desde que tinha quinze anos quando decidiu que machucar pessoas era divertido e que provavelmente não tem nada de bom depois da morte para alguém como ele. Ao invés disso, ele bebeu seu café antes de responder. "Não sei.Talvez você esteja certo."

Neil logo também aprendeu que Mike gostava de falar. Ele falava bastante e às vezes tão rápido que Neil não tinha tempo de organizar suas ideias e nunca havia silêncio na presença dele. E silêncio se tornou uma raridade na vida de Neil, porque quando não estavam juntos, Mike estava mandando mensagens com um número completamente desnecessário de emojis.

Ele não tinha certeza do porque alguém como Mike continuava por perto. Não havia nenhum incentivo para comunicação além das conversas durante as aulas. Ele não era seu colega de quarto como Peter, ou parte de nenhum de seus grupos sociais. Mike estava começando a ficar próximo demais e isso poderia ser perigoso. Outro jogo de mentiras para Neil. E mesmo tendo contado a verdade a Peter há tempos atrás e a amizade ter a mantido de pé mesmo com suas práticas meio psicóticas, ele não tinha certeza se poderia contar a Mike. Não tinha certeza de quão próximo ele queria deixar Mike se aproximar e estava tentando ir em passos pequenos, mas Mike era o rei dos pulos e mal dava tempo para Neil respirar e pensar.

Tinha encontrado todos os tipos de pessoas em sua vida, mas ninguém como Mike Waters.

A quinta feira era um dos raros dias que Mike não estava por perto para seguir Neil para todo lado, por causa de seu estágio numa escola. Ele tinha explicado tudo bem animado para Neil, que havia prometido ir visitá-lo num desses dias - o que era uma mentira, claro. Neil ficava extremamente desconfortável na presença de crianças, não conseguindo entender toda aquela inocência e curiosidade, coisas que haviam sido tiradas dele anos atrás. Ele sabia pouco sobre compaixão e amor, e a memória mais antiga de quando era criança com certeza não envolvia brincar com sua mãe no parque ou jogar futebol com seu pai no quintal.

Não, as memórias da infância de Neil Anderson era bem mais sinistras que isso.

Dias sem Mike eram chatos e consistiam em Neil entrando escondido no dormitório de sua namorada atual e tendo transas tão rápidas que era nada mais do que um breve prazer que ele mal podia lembrar porque na maior parte do tempo nenhum dos dois estava sóbrio. Estar chapado de cocaína era um bom modo de passar o tempo e praticamente o único motivo que ele estava com aquela garota.

Quando Mike ligava para ele, Neil nunca hesitava em atender. Mike já o tinha pegado chapado mais vezes do que podia contar. Dessa vez não era diferente.

"Eu!" Mike disse, animado do outro lado da linha. "Tá ocupado?"

Neil olhou para Jasmine que estava ocupada cheirando uma carreira. "Não. Já saiu do trabalho?"

"Já. Foi um dia longo." Mike suspirou dramaticamente. "Me encontra no BK na frente do arcade? Preciso de comida."

"Você devia parar de comer essas coisas toda hora." Neil brincou, fazendo Mike rir e prometer que era por sua conta. "Te encontro lá em vinte minutos."

Neil saiu da cama e pegou suas roupas no chão, vestindo seus jeans e seu moletom. E porque tinha que manter o ato de namorado perfeito, antes de sair ele deu um beijo profundo em Jasmine. Ela ficou corada e ele sabia que devia achar aquilo fofo mas não sentia nada, nem mesmo quando ela sussurrou um 'amo você' antes dele fechar a porta do quarto. Mas ele sentia algo quando estava com Mike. E não era aquele vazio que só era saciado pela dor alheia, não, era algo totalmente diferente que ainda não sabia nomear. Tudo o que sabia era que quando chegou a lanchonete e viu Mike acenando para ele com um sorriso no rosto, ele não se sentia tão vazio. Os efeitos das drogas estavam chegando ao fim, mas Neil apenas sorriu e disso. "Só estou cansado."

E Mike acreditava nele.

══════ •『 ♡ 』• ══════

Mike Waters era alto, muito bonito e inteligente mas ele também tinha um sério problema de atenção; quando decidiram estudar sociologia juntos, Neil tinha sorte se conseguia fazer Mike focar por mais de vinte minutos antes de começar a reclamar de tédio e que deviam ir jogar alguma coisa no arcade. E obviamente, Neil sempre concordava.

"Olha, desculpa por fazer você perder tempo," Mike disse em um domingo quando estavam na área comum do dormitório jogando Mortal Kombat no PS4. Peter havia reclamado de Mike ser praticamente um terceiro colega de quarto a esse ponto e os expulsado para que pudesse dormir. "É meio difícil pra mim focar nas coisas e como eu falo muito, várias pessoas não aguentam. E- porra!Cê tá roubando!"

Neil não disse a ele como gostava da personalidade dele e como a preferência dele por blusas de flanela e camisas grandes era fofa. "Não se preocupe, você não me irrita. Você é legal, Mike, eu gosto de você."

Mike se aproximou para por uma mão e bagunçar os cachos castanhos de Neil enquanto SINDEL WINS! aparecia na tela em letras vermelhas garrafais. "Aw, eu também te amo, Neil."

Neil deu uma cotovelada de brincadeira em Mike e antes que pudesse reclamar, seu telefone tocou, o lembrando mais uma vez da pessoa que estava começando a irritar.

[4:27p.m] Jasmine: Faz tempo bb, sdds. Quer sair hj a noite?;)

A expressão infeliz de Neil chamou a atenção de Mike, que tirou os olhos da TV e se inclinou sobre o ombro do amigo para ler a mensagem."O que foi?Essa é sua namorada ou alguma foda aleatória?"

"Namorada." Neil respondeu, não gostando do jeito que o título saia de sua boca.

"Ela quer beber e transar. Não consigo imaginar o que te deixou chateado."

"Eu não estou infeliz com ela." Mentira.

"E eu sou a rainha da Inglaterra." Mike rolou os olhos.

Neil suspirou antes de responder.

[4:30p.m]Neil: Ocupado. Talvez semana que vem.

Sem nem olhar o resto da conversa, Neil guardou o celular antes de voltar sua atenção para o jogo. Dessa vez resolveu tentar com Jade enquanto Mike havia escolhido o clássico Scorpion, com uma promessa de destruir Neil. Outra coisa que havia aprendido era que Mike amava videogames e passava maior parte do seu tempo livre jogando, o que era claramente visível com suas onze vitórias sobre Neil.

"Nem sei," ele disse, após alguns minutos. "É só que, as coisas tão estranhas. Não acho que esteja funcionando entre a gente."

Mentiras, mentiras, mais mentiras.

"Sério?Ah cara, isso deve ser - ah porra! - chato." Mike continuava sem tirar os olhos da TV, enquanto Neil o xingava por trapacear. "Mas diz aí, qual número essa Jasmine é?"

Neil olhou de relance para ele, ambos extremamente concentrados nos personagens lutando na tela. "Número?"

"Um passarinho me contou que você troca de relacionamento como eu troco de cueca. Então, qual número é ela?"

Neil virou sua atenção para Mike, a testa franzida. Os olhos dele ainda estavam grudados na tela, comemorando por ganhar mais uma vez. Por algum motivo, Neil não sentia bem com o fato de Mike saber aquela informação. "Primeiro, que nojo dessa analogia, cara. Segundo, eu sei que eu sou péssimo em relacionamentos. Isso é meio chato, mas eu sempre me fodo e acabo traido ou coisa assim."

Outra mentira.

Mike se virou para ele, espantado. "O que?! Como alguém pode trair você?!"

Neil piscou. "O que cê quer dizer?"

"Huh, eu não sei se você já se olhou no espelho, Neil, mas você é gato pra caralho. E na escala de um a gay, eu sou muito gay por você."

Neil riu para esconder o quão quente seu rosto estava ficando com as palavras de Mike. "O que?"

Mike sorriu nervosamente. "Bem, o segredo saiu do armário, eu sou gay pra caralho então melhor se acostumar." Ele se mexeu desconfortavel por causa da falta de resposta de Neil. "E antes que cê pergunte, não eu não tô confuso, sempre gostei de pau desde que vi um pornô gay por acidente quando eu tinha oito anos. Eu não conto isso pra todo mundo, então se você quiser deixar de ser meu amigo agora que…"

"Hey, se acalma." Neil interrompeu. "Não me importo com isso."

Mike ainda parecia preocupado. "Sério?Você não acha que eu sou estranho ou coisa assim?"

Neil rolou os olhos antes de empurrar Mike de brincadeira, fazendo o rapaz cair dramaticamente nas almofadas. "Você é estranho mas isso não tem nada haver com ser gay. Eu mesmo não sou hétero, já estive com caras antes, e eu mais do que ninguém sei que isso não muda quem você é."

Os ombros de Mike relaxaram de alívio. "Ah isso é bom. Eu estava com medo de você fazer alguma coisa por um segundo. Sem ofensa, mas esses caras populares geralmente são bem obcecados com masculinidade e ser hétero então…"

Neil fingiu se ofender. "Ouch, você acabou de assumir minha sexualidade? E além disso, o Peter também eu tenho minhas suspeitas."

"Bem, você parecia bem hétero pra mim quando te conheci. O Peter por outro lado…" Mike apoiou o queixo na mão de forma dramática. "Meu gaydar pode ser péssimo, mas ele parece bem hétero pra mim também."

"Não, cara, olha só," Neil sentou-se direito no sofá, virando se para Mike, as pernas cruzadas. "Eu já vi ele se pegando com uns caras quando ele acha que ninguém tá vendo. Só acontece quando ele tá bêbado, porém."

"Então ele ainda tá no armário?"

Neil balançou a cabeça. "Não, ele estuda psicologia então ele se acha por conhecer sua própria mente melhor que qualquer um. Eu perguntei dele uma vez e ele só disse que não se importa com isso, ele gosta de pessoas. Mas eu acho que ele transou com um cara uma vez no nosso quarto, tenho quase certeza na verdade."

Mike riu. "Bisexual então, huh? Sabe aquele amigo que eu mencionei na noite que nos conhecemos?" Neil assentiu. "Bem, eu tô cansado dele chorando que ninguém nunca vai ama-lo quando ele fica bêbado. Então você acha ele e o Peter podiam…?"

Neil não parecia tão convencido. "Não sei...Peter é bem difícil de impressionar. Nunca o vi namorando desde que o conheço."

"Não se preocupe, não tem uma pessoa no mundo que consegue odiar o Scott." Neil queria dizer que duvidava por causa da tendência de Peter de odiar pessoas sem motivo, e estava tentado a contar do rancor que Peter guardava em seu coração por uma garota que roubou seu chiclete no nono ano do fundamental. "Mas e você, Neil?Você disse que já esteve com caras."

Era uma pergunta casual e mesmo assim, para Neil, parecia extremamente íntima. "Não era você que tinha certeza de que eu era hétero?"

"É, mas-" Mike desviou o olhar. "Só estou curioso."

Neil deu de ombros. "Eu tenho quase certeza que sou bi. Quer dizer, eu estive com mais garotas do que caras mas aqui e ali durante meu último ano do ensino médio e primeiro da faculdade tive meus casos aqui e ali. Dizem que esses são os melhores anos pra se descobrir então eu simplesmente pensei 'por que não'?"

"Isso é bom." Mike respondeu. "Posso tentar uma coisa?"

De repente a atmosfera parecia pesada e Neil sentiu seu coração saltar em seu peito. "Tentar o que?"

A língua de Mike saiu para molhar seu lábio inferior e a intensidade em seus olhos estava de volta, como na festa. Mike se aproximou dele e descansou a mão esquerda no joelho de Neil e ele sentia que o toque de Mike estava queimando através das calças. "Nós podemos nos beijar platonicamente?" A idéia de dois amigos se beijando platonicamente parecia absurda, mas Neil sabia o que Mike estava tentando dizer. Se rotulassem isso como algo de amigos, então eram apenas amigos ajudando um ao outro e não era trapaça. Não que trapaça seja algo Neil esteja particularmente preocupado.

"Uh, claro. Vamos lá."

Por um momento, eles não fazem nada além de pairar, nenhum dos dois tendo certeza de quem deve se mover primeiro. Neil se chutou mentalmente porque beijar alguém nunca foi algo que ele ficou nervoso e ele estava agindo como um adolescente desajeitado que nunca molhou seu pau antes. Então ele se irritou, repreendendo-se internamente antes de se inclinar para pressionar os lábios nos de Mike. O beijo é estranho no começo, parecendo uma cena de filme romântico de merda, onde os lábios mal roçam outro e permanecem imóveis. Mike estava obviamente deixando Neil assumir a liderança,então Neil pressionou seus lábios com mais firmeza contra os do garoto mais velho, movendo-se experimentalmente; hesitantemente. Os lábios de Mike eram macios e quentes e os movimentos tímidos foram suficientes para ele sentir borboletas no estômago. Ganhando confiança, Neil deixou uma mão deslizar pelo pescoço de Mike e descansar em sua bochecha, fazendo o garoto mais velho tremer, sua outra mão se movendo para descansar preguiçosamente contra o quadril delgado dele. O beijo é lento e doce, mas há uma fome em Neil e os toques inocentes não são suficientes.

Sua língua serpentou para roçar levemente nos lábios de Mike, mas ele se recusou a deixar, com a boca fechada. Neil continuou a provocá-lo antes de ficar frustrado com a falta de resposta e agarrar o lábio inferior de Mike, que ofegou em resposta. Neil rosnou antes de arriscar a língua na boca. Não havia nada de especial no sabor de Mike. Ele experimentou saliva e os biscoitos que comeram antes, mas para Neil era o paraíso e, quando a língua de Mike atacou a dele, pôde sentir algo semelhante à eletricidade quente atingindo sua virilha e borbulhando como lava derretida no estômago. Ele começou a se perder no sentimento dos lábios de Mike contra os seus e o beijo se transformou em algo mais pesado e frenético. A mão que estava descansando contra a cintura de Mike foi até a curva da parte inferior das costas e Neil puxou o garoto mais velho contra ele até que ele estava praticamente em cima, montando nele. O beijo se transformou antes que qualquer um deles pudesse registrar o que estava fazendo. Mike se afundou no colo de Neil, enquanto este levantava os quadris para encontrar seus impulsos. Neil não pode deixar de estremecer com os sons bonitos que Mike fez, e ele estava arrependido de ter decidido usar jeans skinny, porque o atrito não era suficiente. Mas ouvir os gemidos quebrados de Mike enquanto ele se esfregava na parte inferior do estômago de Neil foi suficiente para fazer o garoto girar em espiral. Tudo o que ele conseguia pensar era em como Mike ficaria desfeito, sujando suas próprias calças e ele estava prestes a ceder à tentação e se abaixar para agarrar Mike através do suor quando o garoto se afastou. Neil gemeu com a perda, quase agarrando Mike com força pela nuca e esmagando seus lábios de volta nos seus, mas então ele está piscando através da névoa de luxúria e sua visão começa a se concentrar.

E Deus, Mike parece tão fodidamente destruído sentado em seu colo. Os cabelos despenteados de onde Neil havia agarrado um punhado em algum momento, as bochechas coradas de escarlate e os lábios inchados e escorregadios. Ele parecia tão malditamente bonito e se Neil não soubesse melhor, ele transaria com ele ali mesmo. Ambos estavam ofegantes e Neil estava ciente do fino brilho do suor que umedecia seu cabelo. Quanto tempo eles estavam se pegando? Pareceu uma eternidade e Neil ficou surpreso que ninguém tinha interrompido os dois..

"Mil desculpas por pensar que você era hétero." Mike disse sem fôlego, ainda lutando por ar.

Neil lutou para recuperar a compostura; mais fácil dizer do que fazer quando seu pau estava pressionado contra o de Mike. Neil estava mortificado com o quão duro ele ficou e não havia como Mike não sentir, não importava se o jeans skinny praticamente cortasse a circulação de ar.

"E você ainda duvidava?"

Mike sorriu. "Estereótipos, você sabe."Ele fez uma demonstração propositalmente se contorcendo no colo de Neil, que agarrou sua cintura em troca de mantê-lo parado. "Seu amiguinho parece bem feliz."

Neil riu sem fôlego, jogando a cabeça para trás e descansando no sofá. "Porra."

Mike riu junto, e Neil tinha certeza de que poderia se acostumar a ver o sol todos os dias.

Mas a realidade sempre bate na porta, quer você queira ou não.

"Eu acho que quero transar com o Mike."

Peter, que estava quase dormindo jogando na cama, sentou-se repentinamente, os olhos arregalados enquanto encarava seu melhor amigos, que estava deitado olhando para o teto.

"Que porra é essa?" Peter perguntou.

"Ah, eu e o Mike, a gente se pegou ontem e eu gostei."

"E isso quer dizer que…?"

"Não sei. Eu só gostei de beijar o Mike."

"Mas e sobre-" Peter pausou, sentando se mais confortavelmente na cama, uma expressão de poucos amigos em seu rosto. "Neil, você não pode estar pensando em…"

"Eu acho que vou terminar com a Jasmine. Ela já tá me irritando e-"

"Não." Peter o interrompeu, a voz firme.

Neil piscou, surpreso. "O que?"

"Eu disse que não." Peter repetiu, a mandíbula tensa. "Mike é um cara legal, não puxe ele pras suas merdas, eu tô falando sério. Ele não merece ser vítima de qualquer problema seja esse que você tem."

Dessa vez, era a vez de Neil ficar com raiva.

"Você só conhece o cara faz um mês, eu não sei qual é o seu problema, Pete. É quase como se você quisesse ficar com ele."

Neil sabia que o que estava dizendo era baixo, que estava praticamente jogando a culpa em Peter para conseguir o que queria, mas não conseguia entender porque seu amigo queria tanto que deixasse Mike. Peter certamente não aprovava as atividades de Neil e já tinha deixado isso bem claro antes mas nunca havia ficado realmente bravo sobre.

"Não é sobre isso e você sabe." Peter respondeu. "Mike não é como essas pessoas que você brinca, Neil. Eu vejo nos seus olhos. Ele é seu amigo, nosso amigo."

Neil piscou, porque ele nunca havia colocado o título de amigo em Mike e ouvir isso na voz de Peter parecia estranho.

"Não somos amigos."

Peter suspirou, ombros caindo enquanto ele pega um cigarro do criado mudo e acende. "Eu sei que você quer ser esse personagem lobo emo solitário, mas você tem outros amigos Neil, quer você admita ou não."

"Você é meu único amigo, Peter."

Peter dá uma longa tragada no cigarro, cinzas caindo em suas calças."Eu não sei porque você é assim, Neil. Tudo bem confiar nas pessoas. Tudo bem você ser você mesmo, o mundo inteiro não tá perseguindo você, cara. Você não pode ser assim para sempre porque um dia isso ainda vai voltar e te dar um chute na bunda."

Os lábios de Neil se curvaram em uma risada sínica. "Não vai acontecer. Eu não sinto dor há anos."

Peter deu de ombros enquanto observava Neil que parecia interessado demais nas rachaduras do teto. "Todos nós sentimos dor, Neil. É parte da natureza humana."

══════ •『 ♡ 』• ══════

Quando Jasmine perguntou se ele queria um encontro na próxima sexta-feira, Neil não nega o convite embora quisesse muito bem passar sexta a noite vendo filmes de terror com Mike. E Mike estava surpreso por ser a primeira vez que Neil disse não para sua rotina usual de tentar estudar e abandonar os livros alguns minutos depois para jogar videogame ou assistir alguma coisa aleatória na Netflix, mas ele não exatamente reclamou.

As coisas tinham mais ou menos voltado ao normal depois do acontecimento entre eles. Neil havia decidido viver num estado de fingir que estava tudo bem e acreditava que para Mike havia sido apenas uma brincadeira - exceto que, Neil não se importaria em beijar Mike novamente em um jeito menos platônico. Mike havia se tornado sua nova fixação e ele estava pronto para jogar Jasmine de lado. ela havia sido seu relacionamento mais longo até agora e ele estava pronto para destruir isso e todos os eu te amo falsos usados durante meses.

Era por motivos assim que ele vivia.

Na sexta ele buscou Jasmine as 8pm e elogiou como ela estava linda de vermelho. Ela ficaria ainda mais linda no fim da noite, quando a quebrasse. E para isso ele manteve o ato de namorado perfeito. Um beijo doce nos lábios depois que ela entrou no carro e conversas que a fizeram rir enquanto estavam no caminho. Jasmine perguntou se algo havia acontecido para Neil estavas mais animado que o usual e ele apenas mentiu dizendo que estava feliz em vê-la - o que era uma meia verdade, mas não pelos motivos que ela estava pensando. Ele ia deixá-la aproveitar esses últimos momentos de felicidade antes de quebrá-la em mil pedaços.

Neil era uma casa de luxo e Jasmine havia ficado tempo demais, era hora de joga-la de volta para a realidade cruel das ruas.

Ele a deixou arrastá-lo para seu bar favorito e ainda comprou uma margarita cara para ela. Era quase como se estivesse satisfazendo os últimos desejos dela antes da morte. Em partes, era verdade. Ele se perguntava às vezes se todas as pessoas com quem brincou preferiram em algum momento estarem mortas do que quebradas. Jasmine brincou sobre ter ganhado na loteria porque Neil estava sendo bastante generoso naquela noite e ele respondeu que ela saberia mais tarde. Ela riu. Jasmine sempre ria de suas palavras, mas dessa vez ele a permitiu e apreciou porque essa seria a última vez que veria aquele sorriso e aqueles olhos brilhantes. Naquela noite, ele estava pronto para matar sua namorada.

Jasmine falava animadamente enquanto contava alguma história sobre suas férias mas Neil estava ocupado demais memorizando cada sorriso. Os últimos minutos de felicidade de seus parceiros eram cruciais e ele gostava de memorizar cada pequeno detalhe sobre aquilo.

O momento em que o sonho cai por terra.

“É assim que eu pareço quando finjo que ligo para o que você diz.” Ele disse. Jasmine gaguejou por um segundo antes de rir e chamá-lo de idiota por brincar assim. Eles sempre achavam que era uma brincadeira. Neil apoiou o queixo na mão e ergueu uma sobrancelha. “Todos esses meses fingindo que me importo com qualquer merda que sai da sua boca. Ter que fingir que você não é chata pra caralho, foi bem difícil também.” Ele riu como se ela tivesse dito a piada mais engraçada do mundo. “E assim que eu rio quando finjo que você é engraçada mesmo que suas piadas sejam tão ruins que me fazem querer pular de uma ponte.”

Jasmine continuava a encará-lo, o sorriso começando a murchar. Ela ainda não havia entendido.

“Todos esses meses atuando fingindo que eu era um namorado apaixonado por você foram bem difíceis, viu?” Neil deu a ela um sorriso que ela conhecia tão bem, que a fazia se sentir como se fosse a única garota do mundo. “Dizendo que você era linda e que eu te amava...eu não sinto nada por você, caso não tenha entendido. Você é meio burrinha de qualquer jeito.”

Ela ainda não respondeu, mas Neil notou que os olhos dela não estavam mais brilhando. Será que era assim que estrelas eram quando morriam?

“Sabe, eu traí você mais de uma vez, não sei se você reparou. Até alguns dos meus ex eram melhores que você, o que deve significar alguma coisa porque eu mal penso neles.”

Ela estava prendendo a respiração.

“Acho que está na hora de terminarmos, não acha?” Ele parou de sorrir, olhando para ela com uma expressão séria e ilegível. “Essa é a parte que você vai embora da minha vida.”

O lábio inferior dela estava tremendo.

"O-o que você quer dizer?" Ela engasgou com as palavras, piscando para ele. "Neil, se isso é uma piada, você realmente está indo longe demais-”

"A única piada aqui é você, Jasmine." Ele a interrompeu suavemente enquanto se recostava na cadeira e tomava um longo gole de sua própria margarita.

"M-mas, eu não entendo. Nós nunca brigamos e nos damos tão bem. Tudo estava indo tão perfeitamente. Eu não entendo.Eu só...eu -”.

"Eu nunca te amei.” Neil reiterou. “Mas eu espero que você me ame. Espero que eu seja tudo o que você pensa nos próximos três meses e vá acordar todas as manhãs sabendo que eu brinquei com seu coraçãozinho e que você caiu tão fácil. Espero que você me veja em todos as paradas de ônibus e bancos de parque. Espero que você pense que nenhum outro cara irá tratá-la melhor do que eu.”

Houve um momento de silêncio gelado. E mesmo que o bar estivesse cheio de vozes e risadas, o silêncio entre eles era ensurdecedor. Jasmine lentamente começava a perceber o que havia acontecido e ele viu as emoções borbulharem dentro dela antes que a represa se abrisse e seus olhos brilhassem, mas ela não chorou. Ainda não.

Neil se levantou. "Eu tenho que ir agora."

"Por quê?" É sussurro que ele mal entendeu. "Por que você está fazendo isso comigo?"

Eles sempre perguntam isso e Neil ainda não tem uma resposta clara.

"É o preço a pagar.”

Ela estava respirando pesadamente agora, o olhar sem foco, suas unhas estão criando crescentes em suas mãos. "O preço do quê?"

"Me amar."

Ela começou a tremer.

"Não se esqueça de mim" Neil quase exigiu. "Deixei alguns dos meus suéters no seu quarto apenas para garantir que não. Você pode chorar neles, não me importo e não quero eles de volta.”Ele pegou a jaqueta pendurada no encosto da cadeira e vestiu. " Ele lhe deu um sorriso cruel. “Adeus, Jasmine. Foi divertido enquanto durou, realmente. Você não era nem metade do que os outros."

Neil não esperava que ela respondesse. Ele não esperava que ela se levantasse e gritasse "Vá pro inferno, Anderson!" antes de pegar sua bebida e jogá-la na cara dele. A comoção atraiu algumas cabeças viradas que sussurram sobre a briga e Neil fez uma careta. Ela estava enxugando as lágrimas com raiva e seu rosto se torceu em um rosnado feio. "Você vai se arrepender disso. Eu vou me certificar disso! " E então ela saiu deixando Neil sozinho com o cheiro de álcool tão avassalador que quase o deixa enjoado.

Neil desejou que ela tivesse lhe dado um soco, talvez assim ele sentisse alguma coisa.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!