POV Rachel

Tinha me esquecido como esse garoto mexia comigo. Assim que ele me beijou, não pude evitar de retribuir. Eu continuava atraída por ele e isso é nojento. Geralmente, não tomo iniciativa. Mas naquele momento, eu me deixei levar pelas emoções. Quando percebi o que fiz, já era. Meus lábios estavam colados nos de Garfield e, por mais que me odeie por isso, a sensação é muito boa.

Assim que nos desvencilhamos, eu olhei para ele com cara de espanto, sendo que quem tascou o beijão fui eu. Minhas bochechas queimam e meu coração está para pular para fora do meu corpo.

— Uau, isso foi... - Começou ele.

— ... um erro que não vai mais se repetir. - Completei, ainda tomada pela vergonha.

— Mas por que? - Ele ficou triste de repente.

— Como por que, Garfield? - Fiquei brava de repente. - Não namoramos mais, lembra? Isso não foi nada.

— Foi tipo... Um beijo de amigos?  - Tentou ele.

— Isso, um... - Depois para e pensei. Não era nada daquilo.  - NÃO! Não foi um beijo de amigos, nem de namorados... Foi, er... Foi um erro, eu já disse!

Ele deu um sorriso maroto, irritante como sempre.

— Continua caidinha por mim, né, gatinha? - Ele disse e eu belisquei o braço dele. - Ai! Doeu!

— Pois não doeu tanto quanto meu orgulho ferido! - Bufei, com raiva. Sério, o que deu em mim?

— Bom, desculpa... - Ele fez cara de cachorro que caiu da mudança. - Eu que comecei afinal de contas...

Pelo menos, se desculpou. É um começo. Mas ele que não faça esse beicinho senão terei que beijá-lo de novo para parar de fazer aquela cara!

— Tá bom. - Dei de ombros. - Só vê se não faz de novo.

Ele assentiu e um silêncio horrível pairou no ar. Fiquei meio mal por ter repreendido apenas ele, sendo que a culpa era minha também. Eu retribuí o beijo, eu fiz errado também! Mas eu sou orgulhosa demais para admitir. Após um longo silêncio constrangedor, pigarreei e disse:

— Bom, já está na hora de eu ir...

Gar me segurou pela mão e fez a carinha do gato de botas.

— Não! Isso é... Pode ir, se quiser. Não vou te segurar. Eu... Só fiquei feliz que veio me ver e trouxe comida... E me desculpe por antes...

Ele é tão bobo e tão fofo ao mesmo tempo, ainda mais atropelando as palavras.

— Tudo bem. - Respondi e tomei coragem para falar o restante. - Me desculpe também. Até mais.

Ele sorriu como uma criança e senti meu rosto esquentar levemente. Por um impulso, me inclinei e depositei um beijo na testa dele. Os olhos verdes dele ficaram enormes.

— Er... Obrigado. - Ele mal sabia o que dizer.

Mesmo envergonhada, assenti com a cabeça e saí, deixando aquele doidinho à sós. Saindo dali, começo a respirar direito, pois estava tão nervosa que estava esquecendo de encher os pulmões de ar.

POV Garfield

Nem me importo. Nem me importo se não somos mais namorados. Nem me importo se eu pareço esquisito. Nem me importo se o beijo foi um erro, nada... Eu me senti bem e sei que ela também sentiu, pois me beijou em seguida. Eu gosto dela, muito mesmo. Só de ela ter vindo me ver e trazido comida, me sinto especial. Parece que a dor toda vai embora e um sentimento caloroso emana de nossos corpos. Me sinto completo.

Porém, acho que estraguei tudo. Forcei a barra. Que droga! Mas como eu iria resistir? As feições delicadas e perfeitamente desenhadas dela mexem comigo. Seus longos cílios e seus olhos amendoados... Seu cheiro de lavanda incrivelmente sedutor me atraem. Aquele sorriso tímido e seu cabelo curto deixando a nuca à mostra... Aquele mistério que emana dela. Aquela mão gelada e delicada. Aquela pele pálida. A voz que um dia já foi bem rouca e apática. A garota reclusa que eu não queria nem pintada de ouro. Minha garota com poderes paranormais. Ela, Rachel Roth, ela que roubou meu coração e não quero que o devolva. Quero ela de volta, eu a amo. Quero fazê-la feliz, como nunca imaginei fazer dentro do meu ser.

Agora, preciso sair desse hospital e focar em melhorar antes de melhorar a vida da minha flor de lavanda.

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Rachel ter ido me ver me motivou tanto a sair daquele lugar que cheirava a doença e agonia que eu melhorei consideravelmente nas últimas horas. Eu estava livre novamente. Agora são três da tarde. Como poderei melhorar o dia dela, indiretamente?

Assim que saio daquele lugar, avisto uma doceria. Rachel gosta muito de doces, mas quase não os come. Sempre diz que se comer demais, farão mal. Mas acho que ela precisa adoçar um pouco a vida dela. Então, rumo até a doceria e compro uma caixa de chocolates em formato de coração. Dane-se a breguice, dane-se se não somos mais namorados. Dou o endereço dela e vou para casa, feliz da vida.

Faço uma vídeo-chamada com o Vic e combinamos de jogar bola. Ainda estou um pouco dolorido, mas quero espairecer e nada melhor do que fazer isso com o melhor amigo.

POV Rachel

Estou em casa, sentada em minha cama e tomando um chá de ervas como de costume. Meus olhos assimilam cada palavra daquele livro que não quero parar de ler por nada. Porém, sou tirada dos meus pensamentos pela campainha. Meus pais não estão em casa e nem sei aonde foram. Ou seja, sobrou pra mim abrir a porta.

Assim que eu abri a porta, um rapaz simpático de dentes separados um pouco menor que eu, com cara de uns 15 anos e com sardas por todo o rosto, sorriu.

— Você é a Rachel Roth?

— Sou. Por que?

— Mandaram entregar isso pra você. Tenha um bom dia! - Ele me entregou uma caixa com formato de coração, erguendo o boné em seguida.

Assim que ele foi embora e eu fechei a porta, fiquei imaginando quem poderia ter mandado isso. Das duas uma, ou foi o Garfield ou o idiota do Vincent.

Mas assim que abri a caixa, eu sorri instantaneamente. Não tinha como rir do tanto que era bobo.

Rachel, tenha um bom dia! 

Espero que goste dos chocolates. Eles adoçarão sua vida. São doces como você.

Um abraço,

G.M.L.

— Gar, você não mudou nada... Ou melhor, agora mudou sim. - Eu ri sozinha. - Até que ele sabe ser romântico.

Peguei o celular para ligar para ele e agradecer, mas resolvi me fazer de difícil.

— Quem sabe, eu ligue mais tarde... - Dei de ombros, fitando o nada e rindo em seguida. - Ele vai ficar desesperado para ver se eu gostei.

Olhei para os chocolates. Macadâmia e cereja, meus preferidos.

— Ele sabe que mesmo gostando de doces, não como tantos assim... - Olhei de novo para a caixa, com uns vinte. - Mas seria um desperdício não comê-los... - Peguei um e comi. - Acho que só um não fará mal.

Deixei a caixa encima do meu criado-mudo e voltei a ler meu livro, numa parte dramática e não podia desgrudar os olhos. Meu chá já havia acabado, mas eu ainda queria petiscar alguma coisa. Então, sem desgrudar os olhos do livro, peguei mais um bombom de cereja e comi. E mais um, mais um, mais um, mais um, mais um... Acabei o livro e acabei com a caixa de bombons. Me odiei por aquilo.

— Garfidiota! Ele me paga! - Solucei por ter comido tanto e tão rápido. - Me fez comer todos os chocolates sendo que eu sempre disse a ele para não comer tantos deles. "Adoçar a minha vida", ele diz? Pois agora meu estômago está se revirando com tantos doces. Mas quer saber? Não quero desmerecer todo o esforço dele.

Mando uma mensagem: "Obrigada pelos doces, comi tudinho."

Eu ando tão gulosa esses dias. Hoje no almoço, eu comi dois pratos, aquele dia comi aquele x-burguer e agora, devoro a caixa de chocolates. É, deve ser estresse. Tara sempre disse que sou magra de ruim, mas que se dane.

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POV Garfield

Ela gostou dos chocolates e comeu tudo! Nunca pensei que isso fosse acontecer algum dia! Ela sempre brigava comigo quando eu repetia a sobremesa mais que duas vezes. E agora, comeu 20 chocolates um atrás do outro.

Quer maior prova que isso? Ela ainda me ama!

Não, Garfield, nada a ver... Só porque ela comeu tudo, não quer dizer que queira você de volta. Preciso apelar mais ainda. E já sei como será.