O caminho até a casa foi quieto, um clima pesado e estranho, Grissom lançava o olhar sobre a namorada de vez em quando, queria se certificar se ela estava bem. Seu semblante não era dos melhores, mas diferente das outras vezes, ela não parecia tão abalada.  

— Honey, chegamos — pegou em sua mão — Como você se sente? — beijou a mão carinhosamente.  

— Prefiro conversar depois de um banho e com uma taça de vinho — deu um levo sorriso.  

Grissom arrumou a banheira com água quente e alguns sais minerais, a temperatura estava agradável e o cheiro estava ótimo. Pode ver o corpo pálido, apenas com o roupão o envolvendo, observou o roupão caindo aos pés dela, era uma visão dos deuses e ele agradecia mentalmente pela visão privilegiada.  

A morena se afundou na banheira, era um choque a água quente entrando em contato com seus músculos, instantaneamente a fez relaxar. O namorado começou a lhe fazer massagem em seus pescoços e ela murmurava, sinal de que ele estava fazendo certo.  

— Estou desanimada — murmurou.  

— Podemos ser desanimados juntos — sorriu e beijou seu pescoço.  

A frase arrancou um sorriso tímido dela — Eu fiquei com dó do Dr. Lurie — lançou o olhar para seu namorado — Eu sei que ele fez algo horrível, mas — fez uma pausa — Imagina ver o fantasma da mulher pela qual você é apaixonado vagando por aí — suspirou — Toda vez que você a ver, será assombrado pelo erro que cometeu.  

— Ele a matou e levou junto uma pessoa que não tinha culpa de nada — disse sério.  

— Eu sei ... — respirou profundamente — Talvez se ela não fosse tão parecida comigo, eu não iria me abalar tanto ... 

— Eu me deixei se envolver também — confessou — Quando eu Debbie, vi você ali — apertou mais forte seus ombros — Eu só queria sair correndo dali e te encontrar, parece que nunca chegava a porta e quando eu te liguei ... Cada segundo parecia uma eternidade, você demorou tanto para atender — seu coração doía só de lembrar — Estava vivendo um verdadeiro pesadelo... Não quis te deixar entrar, fiquei com medo da sua reação e acho que acabei pirando por nós dois...  

— Está tudo bem, meu amor — acariciou sua mão — Eu entendi tudo quando a vi, você só quis me proteger — suspirou — Mas a próxima vez que me mandar rastejar por debaixo da casa e não ao Greg, irá se ver comigo — fingiu estar brava, mas logo soltou um sorriso.  

— Nunca mais irei fazer isso — sorriu — Mas foi engraçado — deu de ombros — Como está se sentindo agora?  

— Aliviada — sorriu — É tão bom ter alguém para conversar.  

Ele se aproximou dela, depositando um beijo em seus lábios — Eu te amo — sussurrou entre os beijos.  

— Eu te amo mais — ela sorriu e lhe beijou mais uma vez.  

...♥... 

Um mês após o incidente já tinha se passado, tudo parecia estar de volta aos trilhos, mas Grissom ainda se via preocupado com a morena, mesmo ela não demonstrando nenhum sinal de abalamento.  

— Eu não quero ir — dizia a ela enquanto a via arrumar as malas dele.  

— Você vai, Gilbert — disse autoritária — Não pode cancelar agora.  

— Mas eu não quero, não posso te deixar sozinha — a olhou.  

— Você está parecendo criança, para de birra — colocou as mãos na cintura — Além do mais, eu não vou estar sozinha, tenho o Hank comigo e vou estar trabalhando.  

— Mas ... — relutou mais uma vez — Posso cancelar minha presença. 

— Sem mais senhor Gilbert Grissom — se aproximou dele, passou os braços em seu pescoço — Eu vou ficar bem — lhe deu um selinho — Prometo te ligar todos os dias. 

— Eu espero que sim — suspirou — Tem certeza? — se certificou.  

— Eu vou chutar sua bunda até você entrar naquele avião — o fitou sério — Você vai participar do ciclo de palestra sim.  

— Me lembro de quando nos conhecemos — sorriu — Menina curiosa.  

— Cara dos insetos — retribuiu o sorriso — Uma das suas melhores alunas.  

— A minha melhor aluna — deu ênfase.  

O que deveria ser uma tarde para arrumar a mala, acabou virando uma tarde de amor, o fizeram como nunca. À medida que Sara o beijava, aumentava o calor de seu corpo e exalava uma fragrância de lavanda. Ele sabia o que ela queria, correspondeu com novas vibrações novas em cada polegada de sua pele e em cada uma, ele encontrava um calor diferente, um sabor próprio, um gemido novo e ela inteira ressoou um som musical.   

— Grissom — ela estava deitada em seu peito e o olhou — Obrigada por estar aqui, eu te amo.  

— Obrigada por me libertar — beijou sua cabeça — Eu te amo, abelhinha.  

...♥... 

Grissom tinha acabado de acertar os últimos detalhes com Conrad antes de ir viajar, lá ia ele para mais um congresso de entomologia, estava empolgado, mas ao mesmo tempo estava com o coração partido, iria morrer de saudades da sua morena. Na verdade, isso iria muito mais do que saudades, ele estava com medo.  

Medo? Depois de ver Debbie deitada sem vida naquele chão, o supervisor começou a ter pesadelos com sua morena, eram sempre os mesmos: Sara deitada em um chão frio, na mesma posição que Debbie, seus olhos abertos fixos em algo, mas sem seus brilhos. Só não tinha pesadelos na presença da morena com ele, de fato ela estava se tornando seu calmante, até suas crises de enxaquecas melhoraram com ela. 

Antes de ir, procurou suas crianças para se despedir e claro, queria se despedir de alguém em especial.  

— Bom — entrou na sala de descanso — Eu vou ficar fora por um mês, mas me prometam que vão se comportar, crianças — sorriu e buscou pela morena — Titia Cath vai assumir a responsabilidade.  

— Isso mesmo, temos uma nova babá na creche — sorriu vitoriosa — Acho bom me obedecerem.  

— Já começou a ser esnobe — o mais novo brincou e viu a cara de brava da supervisora temporária — É brincadeira, Cath.  

— Acho bom mesmo, Greg — falou séria.  

— Alguém viu a Sara? — perguntou sem rodeios — Preciso falar com ela antes de ir, mas não a encontro — viu Greg abrindo a boca, mas em seguida fechou, com certeza seria alguma piada sem graça — Ela está em campo? 

— Não, ela está no mesmo caso que eu — a ruiva se pronunciou — Ela tinha ido tomar banho, já deve estar terminando — deu de ombros e viu o olhar dele pedindo uma explicação — Eu que não ia ficar na autopsia daquele corpo em decomposição.  

— Obrigada — respirou — Se comportem, até daqui um mês — sorriu e olhou pela última vez seus subordinados naquela sala, com certeza sentiria saudades.  

Caminhou cautelosamente até o vestiário, pode ouvir Sara cantando antes mesmo de entrar, parou na porta e ficou a observando.  

“Como pode ser tão linda? Uma voz tão doce”  

— Deveria cantar mais — disse ao pé da porta.  

— Que susto, Griss — sorriu ao levar a mão ao peito — Aproveitando que você está aqui, eu tenho uma queixa a fazer.  

— Qual sua queixa, senhorita Sidle? — perguntou arqueando a sobrancelhas.  

— Precisamos de um vestiário feminino, não se pode tomar um banho em paz sem que um homem entre aqui — disse séria e apontando para o lado — Hodges quase me viu nua agora e disso já bastou o Greg — bufou.  

— Não gosto nem de lembrar daquele dia — o namorado torceu o nariz, sentiu uma pontada de ciúmes dentro de si, tentou desfazer a imagem que veio em sua cabeça — Você está certa — sorriu — Irei providenciar isso quando voltar.  

Ela tentou disfarçar, mas o sorriso em seu rosto deu uma leve desabrochada — Está na hora de ir, né? — se levantou e foi até ele — Boa viagem, chefinho — sorriu maliciosa.  

— Você me promete cumprir com o combinado? — perguntou mais uma vez.  

— Sim, fica tranquilo — olhou em seus olhos — Eu prometo.  

Ele deu o último abraço nela, seu coração estava partido em deixa-la ali e ainda por cima sem poder lhe dar um único beijo de despedida. Ela ficou na soleira o olhando, até sumir no fim do corredor. Ele partiu e ela ficou, uma coisa que já aconteceu tantas vezes, mas em todas era ela quem partia.  

...♥... 

Já havia se passado uma semana desde a viagem de Grissom, religiosamente ele ligava todos os dias. Para ele, a morena falava que estava tudo bem, mas a realidade era diferente. Depois que o namorado foi viajar, ela começou a se sentir observada, o que começou ser apenas em casa virou a ser em cenas de crimes também. 

Ela guardou tudo para si mesmo, se falassem algo com certeza achariam que ela estava surtando por conta do caso de Debbie e a colocariam de licença e Grissom voltaria correndo de Yale. Estava sozinha.  

Quase todos estavam na lanchonete tomando café da manhã, o turno tinha sido um porre. Casos complicados e sem a ajuda de um supervisor. Catherine? Estava sendo um saco no comando, não os ajudava e nem se importava muito, para piorar, Conrad trouxe mais um superviso, o Klepper. 

Nenhum dos subordinados estava aguentando mais, infelizmente o poder lhe subiu à cabeça da ruiva. Warrick estava chateado pela forma que Cath estava conduzindo a situação, tentou falar com ela, mas foi em vão.  

— Rick, não fica assim — pediu a morena — Uma hora ela vai perceber o que está fazendo — consolou o amigo.  

— Minha vontade é de ligar para Grissom e contar o que está acontecendo — o texano se pronunciou — Cara, eles estão escondendo algo da gente.  

Sara estava perdida, também estava se sentindo injustiçada, mas ligar para Grissom iria piorar e até mesmo ferrar Cath, por mais que ela esteja sendo baixa — Gente, calma — pediu mais uma vez — Vamos tentar descobrir o que está acontecendo.  

— Descobrir? — o moreno perguntou arqueando a sobrancelha. 

— É, somos peritos do melhor laboratório do Estado — disse convicta.  

— Sei não, se não nos contam, é porque não querem que saibamos — Greg se pronunciou pela primeira vez. 

— Eu estou dentro — Nick disse — Isso ou eu ligo para Grissom.  

— Ta bem, mas temos que sermos discretos — Warrick concordou também.  

— E aí, Greg? Vai topar? — a morena deu seu xeque mate nele. 

— Sinto que pode terminar mal — suspirou — Mas eu estou dentro — sorriu.  

Eles ficaram mais um tempo ali, depois foram embora. Sara não via a hora de chegar em casa e tomar um banho, seu corpo pedia por um. Logo que chegou em casa, foi recebida por seu filho.  

— Vem com a mamãe — abriu os braços e ele veio em sua direção — Como você tá meu bebê? — falou com voz de criança — Quem é o garotão da mamãe? — ele lambeu seu rosto — Isso mesmo, você quem é — lhe fazia carinho — Mamãe vai tomar banho e depois volta para brincar com você — acariciou sua cabeça.  

A morena tomou um banho longo, queria tirar a ideia de alguém estar a perseguindo da cabeça, foi em seu quarto e vestiu uma peça de roupa leve, em seguida foi para a sala, estava perto do horário de Grissom ligar. 

Se sentou no sofá e Hank se juntou a ela, deitou em seu colo e esperou pacientemente pela ligação de seu pai. O telefone começou a tocar e logo Sara atendeu, do outro lado da tela era possível ver o mais velho, sua barba estava mais do que quando partiu.  

— Honey — ele sorriu ao vê-la.  

— Griss — sorriu para ele e Hank latiu também.  

— Oi garotão, está se comportando?  

— Fala para ele que está, filho — acariciou o cachorro que latiu para Grissom — Como estão as coisas aí?  

— Você iria adorar aqui — sorriu — Tem várias borboletas e muitas plantas, para todo os lados que olho, eu lembro de você.  

— Espero que você me leve aí um dia — sorriu, seu coração se aqueceu ao saber que ele pensava nela ao seu lado.  

— Como estão as coisas aí? Cath está se saindo bem? — perguntou curioso — E o tal do Klepper?  

A morena hesitou em responder, sabia que seria melhor não falar nada, queria muito desabafar com o namorado, mas sabia que não era o correto a se fazer. Engoliu seco — Está se saindo bem — sorriu sem jeito — Klepper é um pouco misterioso, muito fechado, mas trabalha bem — deu de ombros — Tudo está uma loucura, todos sentem sua falta, mas eu sinto mais — sorriu apaixonada.  

— Estou morrendo de saudades, honey — ele pode ouvir Hank latir — De você também, garotão.  

Conversaram até a morena cair no sono, o que não demorou muito, aparentava estar cansada e Grissom sabia disso. Ele continuo na ligação após ela dormir, adorava vê-la relaxada daquele jeito, mas então ela começou a falar algumas coisas enquanto dormia.  

— Eu sei que está aí — disse dormindo.  

— Eu estou aqui, honey — achou que fosse com ele.  

— Como sabe meu apelido? — questionou alguém em seu sonho. 

— Eu quem te coloquei ele, baby.  

 — É você quem vem me seguindo? 

Nesse momento, ele soube que algo estava acontecendo e ela não falou nada. Decidiu apenas ouvir quieto, queria ver se ela falava algo. 

— Achou que eu não fosse perceber? Eu sei que você me observou durante o trabalho e até mesmo em minha casa — respirou fundo — Quem é você?  

O terror tomou conta de Grissom, alguém estava a seguindo e ela não falou nada, até mesmo no trabalho, sem ter medo de ser pego. Precisava dar um jeito de protege-la.  

— Me deixe em paz, por favor — pediu relutante.  

A morena acordou logo em seguida, transpirando e assustada, olhou para a tela do celular e viu Grissom do outro lado, saberia que teria que explicar o pesadelo.  

— Está tudo bem, honey? — perguntou preocupado. 

— Está — suspirou — Foi só um pesadelo — disse em um tom baixo. 

— Não pareceu um pesadelo aleatório ... Pareceu bem real — sua preocupação era maior — Não me esconda nada, por favor.  

— Não estou escondendo, amor — mentiu — Estou falando a verdade ...  

— Seus pesadelos voltaram? — indagou.  

— Não durmo bem quando você está longe, só isso — deu um leve sorriso — Você me protege deles, meu guardião.  

— Você precisa descansar, feche os olhos — pediu a ela — Estarei aqui para o que você precisar. 

— Eu te amo — sorriu de olhos fechados.  

— Eu te amo, abelhinha.  

Dessa vez, a morena descansou sem nenhum pesadelo, apenas relaxou no sofá. Grissom cumpriu o que prometeu, ficou assistindo-a dormir até que desse a hora de ir para a palestra. Ele sabia que ela estava escondendo algo, não iria pressiona-la para descobrir, quando sentisse à vontade, ela falaria. Deixou uma mensagem para quando ela acordasse.  

Grissom  

Fique bem, se cuide.  

Eu te amo, honey.