Poeta anônimo escrita por Artemísia Jackson


Capítulo 3
Preocupações


Notas iniciais do capítulo

Me again com mais um capítulo revisado :)



Boa leitura!



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— Parabéns, meio a meio estúpido! — resmungou Bakugou de forma sarcástica ao ultrapassar Todoroki no corredor que levava para a saída da U.A. 

— Não seja mal humorado, Katsuki — ralhou Kirishima, andando logo atrás do loiro explosivo. — Denki e Deku também têm sua parcela de culpa. Até eu tenho, se lembrarmos da semana passada… — ponderou, passando a mão no queixo enquanto analisava os fatos. 

Naquela manhã, Shoto se mostrara tão distraído na aula de matemática que MidNight resolveu tomar providências drásticas: reforço para todo o 1°A — até para os que não precisavam. Porém, muito bem lembrado por Kirishima, Todoroki não era o único culpado, já que nas duas últimas semanas, Denki, Izuku e o próprio Eijirou haviam decepcionado a professora nas provas e testes orais. 

— Seus bandos de inúteis, não sabem uma matemática básica e querem ser heróis, tsc — caçoou Bakugou, já nos grandes portões de saída. Mantinha sua característica expressão de desdém, encarando os amigos por sob o ombro. 

— Não preciso resolver uma droga de equação pra descobrir como se prende um vilão ou algo do tipo — argumentou Eijirou, um tanto ofendido. — Mas ainda vou esfregar na sua cara meu triunfo na matemática, seu exibido desgraçado. — finalizou, ultrapassando o amigo e dando-lhe uma ombrada como ameaça. 

Todoroki, ainda bem atrás dos dois, estava alheio às conversas, ameaças ou insultos de Bakugou e Kirishima. Sua mente ainda divagava sobre o bilhete recebido naquela manhã — principal motivo de sua distração, aliás. 

Ainda tinha como maior hipótese que aquilo fosse fruto de alguma brincadeira dos amigos, mas não imaginava quem poderia ter tamanho talento para poesia dentre eles. Havia a possibilidade de terem pego na internet, claro, mas por algum motivo, Shoto duvidava disso.

Absorto como estava em seus pensamentos, mal ouviu quando Eijirou se despediu e Katsuki o xingou, ambos sumindo de vista ao virarem em uma rua movimentada. Apenas continuou o caminho rumo à sua casa. 

"Será mesmo que foi alguma admiradora? Mas como ela entrararia no vestiário masculino, e só por minha causa?" — ficou ponderando por um bom tempo se isso seria possível, e em sua conclusão final, perguntou-se: "por que não?", com um sorriso convencido no rosto. Afinal, Todoroki finalmente viveria uma dessas aventuras de romance que não incluíam só vilões e mortes. 

 

—________


Izuku ainda não acreditava no que havia feito, mas seu consolo estava no fato de que as circunstâncias pareciam estar ao seu favor naquele breve momento de ação.

Quando entrara no vestiário, Shoto já havia entrado na ducha, então ele só precisou ser rápido ao enfiar seu singelo papel numa das frestas existentes na portinha dos armários. Saíra apressado e depois apenas fingiu que nada tinha acontecido, embora suas mãos tremendo e coração disparado o houvessem  traído. Ao menos, eram detalhes que ninguém fora capaz de notar. 

No entanto, sua preocupação estava no próximo passo. Precisava ser mais cuidadoso se quisesse levar aquilo adiante, pois nem sempre disporia de tanta sorte e benevolência vinda do universo — já que este tende a ser legal no começo, apenas para mudar repentinamente e rir da surpresa dos mortais idiotas depois. 

Além disso, precisava pensar também em como procederia para não atrapalhar os estudos do colega — havia ficado nítido a distração de Todoroki na aula de matemática, e definitivamente, Midoriya não precisava de mais uma culpa sob seus ombros já pesados devido ao episódio da briga. 

De toda forma, ainda que imprudente, repentino e impensado, o esforço havia valido a pena. De algum modo, Izuku podia sentir dentro de si que por um dia, Shoto esquecera aquela discussão horrorosa. E era  tudo que queria fazer; certificar-se que o amigo ia parar de pensar no incidente, até que voltasse a sorrir e interagir com ele normalmente. 

Afinal, qualquer risco valia a pena quando o assunto envolvia o brilho no olhar de Shoto. 

 

—_________


Aquela era uma tarefa deveras complicada para alguém como ele — lerdo e desinteressado nos detalhes da vida por natureza. Shoto havia passado por tantas coisas complicadas que simplesmente se acostumara com a vida e seus dissabores, esquecendo-se até mesmo de atentar-se aos seus sabores

Mas a poesia era uma arte, e como toda arte, tende a suscitar o belo na imaginação do ser humano, numa tentativa de resgatar bons sentimentos. E aquele singelo papel de bloco de notas com singelas palavras haviam sido suficientes para despertar a consciência de Todoroki acerca de romantismos e afins.

Mas era muito difícil para o jovem observar o comportamento alheio e interpretar, como tentava fazer no momento. Isolado num ponto específico da mesa retangular do refeitório, olhava discretamente para as garotas sentadas na mesa à frente, conversando e comendo de forma animada. 

"Ochako? Momo? Mina? Kyoka? Tsuyu? Toru?" — indagava-se, deixando o olhar vagar pelas garotas distribuídas em duas mesas diferentes. Não fazia ideia de como descobrir sozinho. Por outro lado, não se imaginava pedindo ajuda a ninguém — afinal, se pedisse ajuda à alguma garota, corria o risco de ser ela autora dos bilhetes, ao passo que os amigos podiam muito bem zombar dele ou simplesmente perguntar na cara de pau, o que definitivamente não fazia seu estilo de investigação. 

— Argh! — deixou escapar, frustrado. Pegar um vilão parecia ser muito mais fácil do que lidar com coisas do coração. 

Balançando a cabeça em negação, Todoroki decidiu que precisava manter a calma e observar se receberia algum bilhete nos próximos dias. Parte de si — provavelmente a parte racional — desejava que fosse apenas um engano ou brincadeira dos colegas. Porém, outra parte — aquela ressuscitada por um singelo bilhete — desejava continuar recebendo aqueles gracejos, que por pequenos que fossem, lhe davam a sensação de estar vivo. 

 

—____________


— Você o quê? — perguntou Uraraka, quase gritando de tão perplexa. Sua expressão dividia-se entre surpresa e empolgação. 

— Acha que fui idiota? Talvez muito brega? Ou estranho? — Indagou por sua vez Izuku, mordendo a ponta do polegar em um tique nervoso enquanto andava de um lado para o outro no quarto da amiga. 

— Não, não. Nada disso. Foi uma ideia incrível! Apesar de ter sido tomada sem minha prévia consciência e aprovação — resmungou ela, em descontentamento. 

Midoriya ignorou a última parte, por conhecer Ochako o suficiente para saber que sua personalidade dúbia a fazia acalmá-lo primeiro para infernizá-lo depois, apenas por diversão. Isso não a tornava uma má amiga ou pessoa — muito pelo contrário; tornava-a diferente e ótima na capacidade de descontrair tensões. 

— Mas falando sério, Deku — retomou ela, de forma repentina. Jogada na cama, encarava o amigo de ponta cabeça, já que esta pendia para fora da beirada. — É uma atitude legal da sua parte, mas mais do que isso, é romântica. Então, significa que você gosta dele? 

Izuku estacou no centro do quarto. Àquela altura, o trabalho de física já havia sido esquecido completamente — afinal, tinham questões mais importantes para lidar do que as leis de Newton e suas teorias complicadas. 

Com o coração acelerado, o jovem aspirante a herói sentiu a mente rodar com a nova possibilidade, sobre a qual nunca havia se permitido pensar. Gostava de Shoto? O que aquilo significava? 

— Mas que pergunta, claro que gosto, ele é meu amigo — respondeu por fim, ao concluir que Uraraka só podia estar se referindo àquela possibilidade de gostar. 

Para infelicidade de Midoriya, ouviu o bufar da amiga antes de ver seu revirar de olhos — significava que sua brilhante e cômoda interpretação estava errada. 

— Não seja tonto! — ralhou Ochako, levantando-se num pulo para encarar os olhos de Deku — Estou falando de gostar além de amizade. 

— Como assim? — Izuku arregalou os olhos, intimidado. Não queria pensar em qualquer outra possibilidade, provavelmente muito mais perigosa que a boa e velha amizade. 

Irritada, Uraraka levou a palma da mão até a testa em um tapa estalado, como se lidasse com um demente (não que ela duvidasse dessa possibilidade).

— Vontade de dar uns beijos, amassos, essas coisas — revelou por fim. — Quer que eu desenhe? Ou talvez possa mostrar um BL para ilustrar ainda melhor, já que meus rabiscos parecem arte abstrata. 

— Uraraka-sama, onde está aprendendo essas coisas? — resmungou Izuku, adotando postura mais formal como uma espécie de defensiva. 

— Séries americanas e adaptações de mangás abrem nossos olhos para além do jardim do Éden forçado, meu amigo — disse a jovem em tom grave, mas com expressão zombeteira. — Já estamos bem grandinhos para saber sobre beijos, atração e homossexualidade. A pureza que exigem da gente contrasta com o que é produzido pela mídia com essas sexualizações desnecessárias do corpo feminino, então não venha dar uma de santinho para mim. 

— Desculpe, não quis ser hipócrita… — murmurou Midoriya, envergonhado.

Apesar de achar as opiniões da amiga deveras fortes e por vezes agressiva, concordava com ela. Afinal, qual a coerência em exigir pureza dos jovens e escândalo mediante assuntos sexuais ou mesmo sobre meros casos amorosos quando a mídia vendia corpos femininos por todo o lugar? Era mesmo ridículo e hipócrita. Eles não eram santos e não deviam agir como tal, escandalizando beijos e "ficadas" adolescentes só para agir de acordo com o que as tradições exigiam deles. 

— Ora, vamos, não fique com essa cara de cachorro abandonado — resmungou Uraraka, puxando o amigo pela mão para que ele saísse do meio do quarto e sentasse na beirada da cama consigo. — É sério, Deku, não é sobre implicar ou te pressionar. Você precisa saber se gosta dele para continuar com essa brincadeira, senão o anonimato vai gerar grandes expectativas e, claro, grandes frustrações. 

— Eu não sei… — respondeu, sincero. — Nunca havia pensado sobre isso. 

— Seu coração acelera perto dele? — perguntou Ochako, de repente. Viu-o assentir e prosseguiu com seu interrogatório-investigativo-criminal-emocional  — Sua boca fica seca? Seus braços e pernas tremem? Você já se pegou encarando os lábios dele? Acha que os olhos dele são infinitos onde você queria se perder para sempre? Acha ele lindo? 

Ao final do interrogatório, a resposta estava nítida, uma vez que Izuku assentira positivamente para todas as perguntas. 

— Então eu só posso dizer uma coisa — disse a detetive, com tom solene. Deu uma longa pausa a fim de criar suspense, esforçado-se para não rir da expectativa alheia ante sua resposta. — Você é suspeito de ter se apaixonado por um garoto muito cobiçado dentro do mundo dos heróis, amigo. Boa sorte. 

Izuku arregalou os olhos, surpreso com a constatação de Uraraka. Obviamente, estava tão acostumado a lidar com tais coisas do coração como um poste ou arbusto estaria. Céus, ele era um alface na arte do amor! 

— Como pode ter tanta certeza? — indagou, ainda relutante com relação às considerações da melhor amiga. 

— Não é óbvio? Você respondeu sim pra tudo! — esclareceu Ochako, como se estivesse ensinando algo pela milésima vez para uma teimosa criança de dez anos. — Não seja cabeça dura, aceite seu destino. Um herói enfrenta coisas piores que uma paixão, devia saber disso. No pior caso, terá um coração partido, um pouco mais dolorido que aquele incidente das primeiras provas para admissão da U.A. E no melhor caso, você vai beijar o Shoto e os dois vão ser o casal mais lindo e lerdo de todo o mundo dos heróis. 

Uraraka declarou a última parte suspirando, sonhadora, como se fosse ela a apaixonada. Sorriu diante da expressão assustada de Midoriya, decidindo ignorá-la. Tinha outro assunto urgente para tratar.

— Aliás, temos outra coisa para pensar, agora. Todoroki pode achar que uma garota está a fim dele e fazendo os bilhetes — mantinha o dedo indicador no queixo e encarava o teto de forma pensativa. — Devíamos fazer algo para evitar isso. 

Nesse momento, Izuku voltou seus olhos verdes para Ochako de forma suplicante e ameaçadora ao mesmo tempo — contrastes só possíveis em pessoas tão amáveis que não conseguiam ser simplesmente ameaçadoras, sempre tendo aquele "quê" de relutância contra violência (características realmente questionáveis para um herói). 

 — Prometa que não fará nada! — exigiu e implorou ao mesmo tempo. — Por favor, Uraraka-sama, confiei esse segredo a você porque é minha melhor amiga, não perdoarei tal traição! — dramatizou, arregalando ainda mais seus olhos expressivos. 

— Você jamais conseguiria guardar rancor — retrucou a jovem, rindo apenas para calar-se em seguida ante ao olhar reprovador e muito sério de Midoriya. — Mas não se preocupe, prometo não me intrometer, sei bem que na vida real essa coisa de cupido não dá certo. Mas que você devia se preocupar com essa questão, devia — reforçou, de modo enfático. 

Depois de certificar-se que ela dizia a verdade a respeito da promessa, Izuku meneou negativamente a cabeça, dando o assunto por encerrado. 

— Não, já tenho uma nova preocupação grande o suficiente para ocupar minha mente, não preciso de duas — declarou, fazendo referência à sua descoberta acerca de seus sentimentos em relação a Shoto. — Eu só preciso manter o anonimato, e quando for a hora, Todoroki descobrirá que não sou uma garota. Agora, voltemos a física. Ela parece muito mais fácil e encorajadora agora, não acha? 

Não esperou confirmação antes de tomar o notebook de estudos em suas mãos. Em comparação aos sentimentos do coração, as leis de Newton pareciam agora simples contas de adição, nas quais Midoriya mergulhou sem remorsos. 

 

 


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Notas finais do capítulo

Já sabem: críticas, sugestões e elogios são sempre bem vindos!



Sobre a amizade entre Deku e Ura, quem amou? Eu amo esses bolinhos hehe ♥



É isso, até a próxima!



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