Coisas que Amo escrita por Laura Fernandes


Capítulo 2
Capítulo 1 - Perfeição e Imperfeição


Notas iniciais do capítulo

A perfeição com que tratei meus amores
Meu trouxe onde estou hoje
Sempre quis mais do que podiam me dar
E sempre dei mais do que eles mereciam

Arturo Angelin



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Catarina tinha algumas certezas em sua vida:

1° Estava completamente apaixonada por Simon;

2° Sabia que jamais daria certo, pois ele era um desajustado, mal comparecia nas aulas, e quando ia, sempre aparecia alterado;

3° Ele seria seu novo aluno, quer dizer, ela seria sua tutora em seu novo projeto.

Catarina Caputo era a personificação de garota perfeita. Suas notas eram as melhores de sua classe, estava sempre um passo a frente dos alunos, tinha a pontuação e o currículo perfeito para entrar na melhor universidade do país. Embora fosse a garota perfeita, não era suficientemente boa para a Universidade de Dion.

— Como assim não poderei entrar em Dion? – Catarina perguntou para o diretor Malcom.

O velho homem estava concentrado em ler e reler o currículo escolar dela. Ele abaixou os óculos e encarou Catarina.

— Bem, você possuiu ótimas notas ao longo dos anos. – ele pigarreou antes de concluir. – Mas não fez nenhuma ação social no colégio... É importante realizar este tipo de ação, especialmente para a Universidade de Dion.

Depois da conversa que teve com o diretor, Catarina decidiu entrar em ação. Sabia que seu futuro dependia daquilo, e sabia que queria mais que tudo e todas as coisas entrar em Dion.

Naquele mesmo dia, após sair da diretoria, seguiu até a sala dos professores, e criou o seu projeto:

Iria ser a tutora de todos os alunos que precisassem de auxílio, que precisavam urgentemente de ajuda para concluir o ensino médio. Acreditava que não havia uma outra ação social tão boa quanto a dela.

— Cat, você está muito empolgada. – a professora Olga comentou, assim que puxou Catarina para fora da sala dos professores.

A menina havia chegado tão ansiosa dentro do cubículo, que poderia ter a qualquer momento um ataque. Olga queria evitar a todo custo que aquilo ocorresse, e como orientadora e professora, cabia a ela guiar a desesperada menina pelo melhor caminho.

Ambas caminharam em silêncio até a sala de Olga, no segundo andar do prédio.

— Pode se sentar Cat. – Olga apontou para a cadeira em frente a sua mesa. – Bom, vamos ver se eu entendi...

Antes que pudesse continuar, Catarina a interrompeu:

— Professora, é um ótimo projeto! Você sabe bem que desejo muito entrar em Dion, é a melhor Universidade do país... É o meu sonho, desde que tinha sete anos de idade. A senhora só precisa me passar o nome de alunos que precisam de ajuda...

Olga observou que a menina a sua frente estava decidida, e nada e nem ninguém a faria desistir da tão sonhada vaga em Dion.

— Você sabe que esses alunos são difíceis de lidar, além disso, eles precisam apresentar resultados positivos, caso o contrário, seu projeto não te leva a nada. – Olga disse séria, apresentando e ponderando a realidade para Catarina. Não podia iludi-la dizendo que seria fácil, pois seus alunos, não são nada fáceis.

Catarina mordeu os lábios e assentiu.

— Professora, por favor, me passe a lista dos alunos! Peça a eles que compareçam após a aula todos os dias da semana na biblioteca. Tenho certeza de que irei ajudá-los, serei a salvadora da pátria. – ela disse.

— Você venceu, vou te entregar a lista e informarei aos alunos que precisam dessa ajuda.

Catarina pulou da cadeira e abraçou Olga apertado, deixando o protocolo rústico do colégio de lado.

Nada mais além de conseguir seu projeto importava, exceto que sua lista tivesse tão poucos alunos.

Assim que recebeu a lista de Olga, olhou os poucos nomes presentes na lista e suspirou. Já deveria ter imaginado que seriam poucos alunos, afinal, o colégio Santa Brígida é o instituto mais rígido e o melhor no ensino de toda a região Sul. Poucos alunos tinham problemas com suas notas e comportamento.

Mas ainda assim, a lista de Olga tinha três nomes para trabalhar:

O primeiro nome expresso na lista, era o de Apollo Conegundes. Catarina o conhecia desde o pré, e ele jamais foi um gênio em matérias como matemática e ciências, pelo contrário, tinha total desfoque e passava a maior parte do tempo desenhando. Isso era o que se lembrava quando ambos estavam na pré-escola. Caso Apollo continuasse com os mesmos vícios, ela tinha certeza de que teria muito trabalho.

O segundo nome era o de Maria Lins, a garota conhecida por engolir um frango inteiro. Catarina se lembrou que apesar dos boatos, Maria era um pouco assustadora, preferia passar os dias jogando palavras cruzadas do que estudar, ela realmente não se importava se passaria de ano ou não. Seria um desafio e tanto.

O último nome, para desespero de Catarina, era Simon Reis, o garoto por quem passou a vida inteira apaixonada.

Se ela era a personificação de garota perfeita, Simon era o seu oposto. Desde o acidente de carro no ano anterior, ele passa os dias entre sua angústia e uma garrafa de whiskey, que camuflava com uma garrafa plástica. Nunca foi um jovem dedicado, e agora sem os pais e sem sua namorada, aparentemente as coisas só pioraram.

É o garoto mais velho de toda escola. Entrou um ano atrasado e repetiu a oitava série. Tinha dezenove anos, morava apenas com o avô enfermo, e bebia mais álcool do que um adulto pode tomar ao longo de sua vida.

Seria um desastre, mas ela não podia desistir. Sempre quis ajudá-lo, estar ao lado dele, e conversar sobre todas as suas angústias. Catarina conhecia Simon desde que era pequena. Morar ao lado da casa dele, pode lhe proporcionar ótimos momentos para observá-lo.

Enquanto ela perdia o seu tempo lendo um livro ou vendo algum filme romântico, ele se prendia no quarto e tecia sobre sua triste e simplória vida. Às vezes se perdia dentro de sua ex namorada, que para Catarina, era uma bela jovem com cordas vocais potentes, sempre durante a noite a menina gritava, alto e em bom tom. E não eram gritos desesperados.

Ela sempre o observou, e sempre fazia de tudo para poder vê-lo sorrir. Deixava em frente a sua porta potes de biscoitos, e rezava para que ele se recuperasse logo do luto e da culpa que o consumia.

É conhecimento de todos que Simon provocou o acidente, pegando no volante bêbado. Ficou retido durante três meses na delegacia, e quando voltou para a vida normal, estava pior do que nunca. Irresponsável e amargurado. A personificação de tristeza.

Embora por muito tempo ela tenha amado ele escondido, agora, podia ao menos amá-lo de perto, e quem sabe, ajudá-lo a passar de ano.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?



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