Depois da Ruína - O Fim escrita por Bzllan


Capítulo 17
Você Termina Com Isso




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— Essa não pode ser a única solução. - Diego caminha de um lado para o outro na sala de controles, tentando manter todos os amigos sob sua perspectiva dentro dos aparelhos televisivos.– Não é. - O aliado improvável ainda mantém-se ao seu lado com a promessa de que será livre em breve, quando tudo acabar.

Não, não é. Mas em seu âmago, Diego sabe o que fazer. Respira pesadamente enquanto recoloca o rifle nas costas. Olha para o calvo.

— Eu ajudo vocês. - O homem diz, com aparente sinceridade no olhar.

Diego se pergunta se pode confiar nele. Acabara de ameaçá-lo com o cano de uma arma apontado para sua cabeça. Encontra-se em um beco sem saída. Têm medo da decisão que acabara de tomar.

— Por quê? - Ele indaga.

— Não quero fazer parte dessa guerra, garoto.

— Mas está tomando um lado.

— O lado que prometeu me deixar viver, a mim e à minha família. Não me custará nada, anda. Sabe o que fazer.

Ele sabe. Recoloca o rifle nas costas e sai por onde Rafael saira, fazendo um último pedido antes de partir.

— Abra os portões quando eu sair.

 

x

 

A sala de estar escura de Amélia Conti tem um cheiro diferente. Lembra uma mistura de produto de limpeza e perfume de madame.

Estão apenas ela e Kássia, mas a mulher não abaixa a guarda ou sai da personagem. Alex não precisa fingir nada - está apavorada.

Uma sombra escura aproxima-se delas. Quando está próxima o suficiente, Alex vê um soldado de maior patente que os outros, ela suspeita. Um homem alto e forte, com uma cicatriz cortando-lhe o rosto verticalmente que o deixa ainda mais ameaçador.

— General. - Kássia o cumprimenta.

— Soldado.

Ambos fazem um aceno com a cabeça. O homem dá uma boa olhada em Alex, dos pés à cabeça, e sorri maldosamente. 

Faz um gesto com a mão para que Kássia o siga e volta para a escuridão. Kássia o obedece, puxando Alex com agressividade pelo braço.

Os três rumam em direção à uma parede. Alex o observa. O general aperta um botão escondido na decoração do aparador ao seu lado e uma porta surge da parede falsa, arrastando-se para o lado.

É claro que não tratariam de negócios na sala de estar de Conti, Alex pensa. 

O espaço dá em uma escadaria que estende-se para baixo, sombria, como um bunker dentro de um bunker. Um lugar para fugir quando as coisas apertarem.

Alex não está surpresa com a covardia da mulher.

Entre as duas autoridades, Alex desce as escadas, cambaleando e desequilibrada pelas mãos atadas. A porta se fecha atrás de Kássia, e o som do alarme fica abafado. O medo de Alex denuncia-se em sua respiração, agora alta e clara, entrecortada e acelerada.

Os degraus parecem não cessar nunca, quando ela finalmente vê a luz de emergência fraca de um recinto iluminar o piso.

Sente como se seu coração tivesse parado de bater quando finalmente chega. A sala abafada sem janelas é um cubículo pequeno, com um colchão em um canto e uma mesa, onde Amélia Conti espera Alex com um sorriso vitorioso no rosto. Ao seu lado, outro homem lhe dá cobertura. O general para do outro lado.

Alex olha para Conti com desgosto nos olhos. A mulher que pessoalmente a colocara naquele trem, que ela vira de longe por anos anunciando quem seriam os próximos a morrer. 

Kássia empurra Alex sala adentro, que cai sobre o ombro esquerdo.

Faz uma careta de dor, mas não deixa a loira a ver. Não dará a ela esse prazer. 

— Finalmente alguém competente pra me trazer essa aí. Não devia ser tão difícil, eles são o que? Meia dúzia?

— Acredito que por volta de uma centena, senhora.

— Que seja, dá pra esmagá-los sem problema. Muita audácia desses merdinhas entrarem aqui.

Alex se ajuda com as pernas a se sentar. O cabelo preso se solta e cobre-lhe o rosto.

— E o garoto? Estava com ela?

— Sim, senhora. Morto.

Se não fosse por Kássia, Nic estaria morto. Isso faz os olhos de Alex arderem de fúria.

— Deve estar furiosa, não é? - A loira brinca, se levantando da cadeira em que se sentava.

Amélia anda em volta da mesa com seu sorriso no rosto. Alex deseja apagá-lo a todo o custo.

Um calafrio lhe percorre a espinha. Sair dali com vida dependia de Kássia e Naomi trabalharem juntas, mas a amiga fora deixada de lado. Ela olha de um homem para o outro. As armas não estão em mãos como as de Kássia, mas ele estão em vantagem numérica, dado que Alex está desarmada.

Espera que Kássia ainda esteja de seu lado. O pensamento a assusta.

— Queria ver você morrer bem à minha frente, querida. - Ela se abaixa em frente à Alex, a olhando de cima. Tira os cabelos do rosto da garota no chão. Alex aproveita para encher o peito e cuspir em seu rosto com toda a vontade que consegue.

Amélia dá um passo para trás, limpando a bochecha.

— Filha da puta. - Levanta a mão e lhe dá um tapa tão forte que leva Alex de volta ao chão. Ela segura o grito de surpresa e dor estalada. - Sabe dos problemas que me causou? Isso aqui tudo é por sua causa, menininha mimada. 

Ela volta para seu lugar atrás da mesa.

Alex fica feliz com as palavras, e sorri maldosamente. Sim, aquilo tudo começara com ela. Sente-se orgulhosa. Dela e da mãe.

— General, - Amélia chama. - Cansei de conversar. Não quero sujar as mãos.

A garota entende à que a deixa refere-se. O general com a cicatriz no rosto se aproxima dela com a arma em mãos. Alex treme. O homem a aponta para sua cabeça.

Ela não sabe como sairá dessa. Provavelmente Kássia também não. A luta é maior que apenas Alex. Assim que morrer, Kássia mata Amélia e acaba com aquilo. É, ela não se importa em morrer. Aperta os olhos com força, sentindo o cano gelado da arma em sua testa.

— General. - Kássia chama, a voz controlada vindo de trás da garota. - Gostaria de matá-la eu mesma.

Ele não responde, mas Amélia o faz por ele.

— Claro, por que não? Acabe o que começou, soldado.

O general se afasta devagar e guarda a arma novamente na bainha do traje. Alex abre os olhos bem a tempo de ver Kássia se colocando à sua frente, entre ela e os três. Aponta a arma para a cabeça da garota e aproveita que só Alex pode ver seu olhar para significá-lo.

Sua mão não treme, mas ela hesita, esperando a garota. Era agora ou nunca, antes que percebessem.

Alex desata suas mãos atrás das costas discretamente.

— Anda logo com isso. - As palavras saem da boca do outro soldado, quieto até então. É para ele que Kássia vira a arma ao puxar o gatilho, em um gesto rápido e calculado. Seu cérebro explode na parede atrás dele.

Alex gostaria de congelar o tempo para ver a reação de Amélia. Em choque, ela olha para a mulher negra com os olhos arregalados. O cano da arma da mulher muda de direção e aponta para o general, mas o mesmo já fora mais rápido que ela, e aponta a arma na direção de sua cabeça.

Alex aproveita de seu elemento surpresa. Solta, pula em direção à arma, puxando o braço do general para baixo antes de ele puxar o gatilho e sua arma disparar.

O homem não espera que a garota pudesse estar livre das amarras. Sua arma cai de sua mão, e ambos vão ao chão.

Com a mão sobre o abdômen, Kássia tomba para a frente, segurando onde a bala a atingira.

Amélia olha da mulher no chão para a garota se engalfinhando com o general ao seu lado. Não sabe como reagir. É covarde o suficiente para se esconder em sua própria casa.

Conti corre escadas acima em busca de ajuda.

 

Alex não é páreo para o homem com quem luta. Nunca nem ao menos aprendera a se defender de uma luta corpo a corpo. Ele a imobiliza embaixo de si. Tenta alcançar a arma, mas está longe. Não se importa, a garota é fraca. Coloca os dedos ao redor de seu pescoço e começa a apertá-lo. 

Alex tenta puxar suas mãos, mas o homem é forte e não cede um milímetro. Em um gesto desesperado, espalma sua mão em seu rosto, tentando empurrá-lo ou mesmo arranhá-lo, mas ele nem se move.

Não é assim que imaginara morrer. Esperaria pelo menos que levasse Conti consigo.

Sua visão começa a escurecer e o ar não entra mais em seus pulmões. Alex deixa o braço cair, fraca. Quando sente o alívio em sua garganta, acha que está morta, mas demora-se a processar o que acaba de ocorrer.

Deitada no chão, em seus últimos suspiros, Kássia usou suas últimas forças para salvá-la mais uma vez, utilizando sua última bala bem no crânio do general, com uma mira certeira. O mesmo tomba para frente, morto, e Alex se desvencilha-se de seu corpo sem vida.

Kássia dá seu último suspiro antes mesmo que Alex possa se aproximar para agradecer, deixando a arma cair de sua mão e o corpo descansar no chão gelado, os olhos arregalados.

Por um segundo, Alex não reage. Lágrimas de alívio e gratidão brotam em seus olhos. Está se colocando de pé quando escuta o som de um grito feminino, e Amélia rola as escadas até lá embaixo novamente.

 

x

 

Naomi nunca gostara de ficar para trás. Esperou o máximo que seus instintos permitiram. Quando os portões principais se abriram, ela aproveitou do momento de choque dos seguranças para botá-los ao chão. Um morto, o outro rendido.

Fez o homem colocá-la dentro da casa e levá-la exatamente onde Kássia e Alex estavam. Quando o mesmo abriu a porta da parede falsa, o matou sem piedade, vendo quem subia as escadas com os olhos apavorados.

Com o punho da arma, despeja um golpe certeiro no centro do rosto de Amélia que, desnorteada e assustada, cai escada abaixo.

 

x

 

Alex vê Conti contorcer-se em dor, segurando o punho que acabara de quebrar.

A garota se põe de pé, bem a tempo de ver Naomi descer as escadas com o rifle empunhado, apontando para a cabeça de Amélia. Alex trata de armar-se. Pega a arma do general do chão.

Amélia se vê cercada pelas duas garotas. Sabe que irá morrer, mas implora por sua vida.

Naomi e Alex se entreolham. Naomi abaixa a arma.

— Você termina com isso. - A morena diz.

Amélia Conti se vê na última posição que imaginaria minutos atrás. A posição em que havia colocado Alex. 

A garota levanta as mãos trêmulas, apontando a arma na direção da loira.

Seu coração sente pena da mulher que implora para viver em meio às lágrimas, mas ela olha bem nos olhos de Amélia. Vê uma assassina. Vê a mulher que dera as ordens para cada uma das mortes durante aquele período torturante. A mulher responsável por matar Murilo. Por matar Ivan. 

De repente, suas mãos não tremem mais. Estão firmes como uma rocha.

Por todas as pessoas que perdera, puxa o gatilho.









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Notas finais do capítulo

VOU POSTAR TUDO MESMO SE PREPAREM QUE EU CHOREI PRA CARALHO



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