Depois da Ruína - O Fim escrita por Bzllan


Capítulo 16
Fortaleza de Amélia Conti




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O outro soldado junta-se a eles na pequena tenda, muito parecida com a que Alex vivera. Naomi e Alex põe-se de pé em um instante, de frente para eles.

A mulher mais velha se explica.

— Meu nome é Kássia. Esse é meu filho, Paulo.

Podem notar as semelhanças entre os dois. O mesmo nariz e boca. Os olhos de tonalidades diferentes. Os dela são pretos como jabuticabas. Os dele, verdes cor de mar.

— Não estamos aqui porque apoiamos essas pessoas, estamos aqui porque desde o começo nos prometeram proteção se lutássemos ao lado deles. Não me orgulho disso, mas… fizemos o que precisávamos para sobreviver. Até que há alguns anos começaram os sorteios… Os filhos da puta estavam matando essas crianças, isso foi a gota d'água. Tenho certeza que não fomos só nós a achar isso, sabe? Muitos vieram com a mesma promessa que nós. 

Alex concorda com a cabeça, se colocando no lugar da mulher e do filho. Teria feito o mesmo.

— Mas como nos rebelaríamos? É impossível, iam nos matar. Então só… Estamos do lado de vocês. 

Seu filho, Paulo, não dissera uma palavra. Deve ter a idade de Cauã, Naomi calcula.

As duas garotas se encaram. Mãe e filho parados à frente delas haviam acabado de salvá-los. Não teria porque não confiarem neles, mesmo que com o pé atrás. 

— E as coisas não ficaram mais fáceis depois que vocês saíram. - A voz de Paulo é ouvida pela primeira vez, grossa, indicando com a cabeça à Alex e Nic.

— Como assim? - Nic pergunta, repousado na parede.

— Vocês sumiram, um depois do outro. Qualquer explicação que eles puderam dar a essas pessoas só podia ser inacreditável.

— Houve uma… revolta. - A mulher completa.

— Revolta? - Alex cruza os braços, intrigada.

— É claro. Veja bem, garota, vocês todos estiveram presos aqui juntos por quase uma década sem ter pra onde ir. No dia em que você ganha na loteria você supostamente foge, e seu melhor amigo, preocupado com o que aconteceu, desaparece no dia seguinte. É óbvio que estavam ocultando algo deles. E nós sabíamos…

— Então? - Naomi pergunta, permitindo-se sentar entre Levi e Nicolas, pensativa.

— Então decidimos tomar partido.

Antes que possam continuar, duas pessoas irrompem pela tenda, fazendo com que todos os presentes se sobressaiam.

— Cacete, que saudades! - Nicolas tenta se levantar para abraçar os amigos, mas eles são mais rápidos em ir até ele. O garoto excessivamente branquelo e a morena com tranças, o casal que estivera com eles no dia do sorteio, corre para abraçá-lo.

— Você é osso duro de roer, hein, Nicolas? O que aconteceu com a sua cara? - A garota pergunta, bagunçando seu cabelo.

— História pra mais tarde. - Ele comenta.

— Temos que terminar o que começamos aqui. - Kássia comenta.

— Como assim decidiram tomar partido? - Levi se esforça para perguntar.

Ava sorri. Fizera parte de tudo desde o início.

— Esses dois vieram me pedir ajuda em uma falsa consulta no hospital. Me contaram o que havia acontecido com Alex e Nic e precisava de ajuda pra informar todas essas três mil pessoas. Todas mereciam saber.

Os olhos de Alex brilham.

— Todos sabem?

— Todos sabemos. - O branquelo responde. - Desde o dia em que escaparam nós sabíamos que tinha algo de errado, e essa faísca explodiu assim que a informação chegou.

— E eles não fazem ideia? - Naomi pergunta.

— Não sabemos, mas não importa mais. Vocês começaram a guerra que estamos dispostos a lutar. - Paulo responde. - Espero que tenham um plano.

Alex sorri. Sente a emoção percorrer seu corpo. Estão todos do mesmo lado. Eles conseguiram. 

Com a menção de um plano, ela se lembra do walk talk. A luz vermelha pisca incessantemente. Ela atende.

— Diego?

— Aqui.

— Estamos aqui.— A voz de Júlia o segue do outro aparelho. Os três conectados, esperando uma deixa.

— Como estão Levi e Nicolas? – Diego pergunta.

— Vivos. O que fazemos agora? - Naomi indaga ao seu lado.

— Precisamos que convençam essas pessoas a lutarem com a gente, ou já estamos perdidos. - Júlia responde, o barulho do chiado forte da chuva do lado de fora.

— Já fizeram isso por nós. - Alex responde. As pessoas da sala escutam em silêncio.

Os outros dois não respondem. Naomi conclui para deixar claro, para si mesma e para todos os ouvintes.

— Temos um exército.

 

x

 

— O que vamos fazer? - Alex pergunta, ansiosa e apreensiva. Parecem tão próximos do fim, mas o fim a assusta.

— Eu tenho uma ideia, mas talvez não gostem. - Kássia comenta e troca olhares com o filho, que a apoia com um aceno de cabeça.

Os outros esperam para que ela continue, sem dizerem nada.

— Conti está nutrindo uma vingança doentia contra você, Alexandra. Tudo começou a desmoronar no dia em que você fugiu.

Alex arfa, esperando o pior.

— Ela quer você viva. Ordens diretas. Não sabemos o porquê, mas está recompensando quem a trouxer com vida.

— Não. - Nic a interrompe assim que todos veem o rumo da conversa. - Não vão levar Alex.

Ele olha de Naomi para o aparelho nas mãos da amiga, em seguida para Alex, esperando que qualquer um se pronuncie contra.

— Conti é o alvo principal, Nic. - Naomi corta o silêncio. 

— Assim que as coisas apertarem, vai ser a primeira a dar o fora daqui com o primeiro jato que tiver acesso. E se ela fugir, se qualquer um fugir, tudo terá sido em vão. Mais virão atrás de nós. — Júlia volta a raciocinar com sensatez. - Se cortarmos a cabeça dela, seus seguidores vão ficar iguais baratas tontas, sem ter de quem receber ordens. 

— Me leve até ela. - Alex pede.

Nicolas puxa os cabelos para cima. Não vê as probabilidades de que aquilo funcione, ou simplesmente seja seguro. 

— Conti saberia dizer quem são os soldados dela? - Naomi pergunta.

— Tenho certeza que não. - Kássia responde.

— Então eu vou junto.

— Não confiam em nós. - Paulo afirma para a mãe, bufando.

— Não podemos culpá-los, filho. - A mulher olha para Naomi, cogitando sua proposta. - Ok, tire o traje e dê pra garota. 

Naomi já se levanta e pega uma gaze limpa, tirando a tinta preta dos olhos ao banhá-la em água. O garoto veste roupas pretas por baixo quando tira o traje branco. Ele o entrega a Naomi, que tira o agasalho espesso e a veste. Os dois trocam as armas.

— Leve o walk talk, Naomi.— Diego pede. - Deixe ligado. Vamos estar com vocês.

Ela concorda e o pega em mãos, escondendo dentro do traje.

— Ok. Quando tivermos o sangue de Amélia, vamos com tudo pra cima. Seremos a maioria. Diego abrirá as portas para nós e vamos entrar com tudo. Nenhum deles sairá. Vamos acabar logo com isso.

 

x

 

Alex quis mostrar-se forte desde o começo, mas tremia da cabeça aos pés. Precisava que aquilo tudo fosse convincente, mas enquanto Kássia a guiava em direção à Amélia Conti, uma turbulência de pensamentos a assaltava.

A morena com tranças Laura e o branquelo Felipe  - que ela acabara se lembrando dos nomes - se encarregaram de tirar Nicolas e Levi dali quando tudo começar.

Naomi segue as duas ao lado. Alex a via engolir em seco, claramente tão nervosa quanto ela, mas talvez mais determinada a acabar com tudo. Segura o cano da arma com tanta força que chega a parecer que irá quebrar.

O sangue escorrendo do nariz de Alex a deixa mais convincente de que lutara antes de ser levada, os punhos atados atrás do corpo por cordas mal amarradas e seus olhos cheios de pavor acobertam a mentira.

Kássia segura firmemente em seu braço com a arma apontada para suas costas, a empurrando com a mesma. Ela reconhece a direção - os aposentos de Amélia no setor C. Nunca tivera nem porquê pôr os pés naquele lugar. Sempre tivera a sensação de que aquele território era proibido, mal. Seus instintos acertaram desde o começo, mas ela não os ouvira. 

Ninguém impede-lhes o caminho.

O som do alarme já não os incomoda mais, incessante, cobrindo a disputa até a morte que ocorre abaixo de seus pés.

Os pensamentos de Alex pousam em Nic, na despedida.

 

— Acaba com o couro daquela vaca. - Ele pede antes de as três partirem. O constante sentimento de que não podem perder tempo os pressiona, mas ninguém ousa interrompê-los.

Alex não responde. Apenas se ajoelha ao lado do amigo, ficando cara a cara. Ela sorri e o puxa para um beijo travesso nos lábios. Nic ri. Não é o primeiro deles. Talvez o primeiro em que estão sóbrios, e não são mais adolescentes curtindo uma vida falsa. Mas é o mais triste.

— A gente vai se ver de novo, pára com essa melação. - Ele segura a emoção para si.

— Promete?

— Prometo. Agora, anda. Estamos quase lá.

Ela concorda com a cabeça antes de seguir à Kássia e Naomi porta afora.

 

Sua mente volta à foco quando se depara com a fortaleza de Amélia Conti na extremidade do setor C, estendendo-se com talvez mais de dez vezes o tamanho de cada uma das tenda a eles designada. Os portões que a isolam do lado de fora são protegidos por dois guardas.

Um deles ri com maldade quando as três aproximam-se.

— Essa eu queria ver. - Ele comenta, mas Kássia não demonstra nenhuma expressão. Ele abre o portão para que ela passe, mas barra Naomi com um braço. - Só ela.

Naomi olha de um para outro. Para estarem ali e não defendendo o bunker, são completamente dispensáveis e inúteis. Ela acabaria com os dois antes mesmo que entendessem o que acontecera, mas o olhar fixo de Kássia em cima dela é significativo. Ela dá um passo para trás, recuando. 

Alex paralisa. O walk talk está em posse da amiga. Não saberão nada a respeito dela à partir de agora. Está sozinha.


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Notas finais do capítulo

gente do céu faltam 3 capítulos
um tá escrito
eu to ansiosa que acho que amanhã já sai tudo
vou chorar maluco



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