Depois da Ruína - O Fim escrita por Bzllan


Capítulo 13
Alaska




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— Agora! - Alex e Nic precisam confiar cegamente em Rafael, que dita as ordens. Seus estômagos dão voltas, mas eles vão. Dependem disso.

Correndo o máximo que pode, Nic coloca o walk talk ao lado do ouvido e segue à frente de Alex. Ambos adentram o temido corredor, extenso e branco, pouco iluminado. Correm beirando a parede da esquerda.

— Próxima porta, próxima porta! — Rafael grita no ouvido de Nicolas. O garoto mergulha na próxima sala à sua esquerda e puxa Alex com ele. Conseguem ouvir a respiração aliviada de Rafael do outro lado, seguida por passos do lado de fora.

— Ok, estão na metade do caminho.— Sua voz sai falhada.

— Não parece feliz com essa notícia.

— É que agora é a parte foda.

 

O silêncio se segue do outro lado da linha.

— Falem logo, pelo amor de Deus. - Alex pede, nervosa.

— Tudo bem, não podemos fazer os elevadores funcionar, vão denunciar vocês lá em cima antes que façam qualquer coisa.

— E sugere que…? - Nic pergunta, tenso.

— Vão abrir a porta do elevador e entrar. Isso tem que ser rápido, ok? Se forem pegos, estão fudidos.

— Reconfortante. - Nicolas balança a cabeça e estufa o peito.

— A gente consegue. - Ela cochicha para o amigo.

— É, a gente consegue. - Ele solta o ar com força. - Como eu abro a porta do elevador?

— Ok, Nic, à sua direita têm um machado pra situações de emergência. Consegue pegar?

Nicolas apalpa a escuridão até encontrar o recipiente fechado por um vidro.

— Vai fazer um puta barulho.

— Já está um puta barulho. - Alex diz, ouvindo o caos vindo de fora.

Nic concorda. Alex espia pelo batente da porta.

— Agora, Nic, quebra essa porra.

Ao sinal de Rafael, Nicolas quebra o vidro. Alex prende a respiração, aflita. Nicolas toma o machado entre as mãos.

— Ok, isso vai funcionar.

— Fiquem espertos. Primeiro elevador. Estão muito perto.

 

Alex escuta os passos do lado de fora da sala.

O silêncio vindo do walk talk demora-se por minutos. O peito dos dois oscila de ansiedade. Não estão prontos quando as palavras saem do aparelho.

— Agora.

 

Nic empunha um machado vermelho em mãos. Corre corredor adentro abraçando a única esperança que eles têm. Alex o segue, empunhando a arma e segurando o walk talk.

Nic finalmente chega ao primeiro elevador, travando os pés no chão ao parar. Enfia a ponta do machado entre as portas fechadas.

— Rápido, Alex. - A voz de Rafael no ouvido da garota tenta manter-se calma, mas nenhum deles está.

— Vamos Nic! - Ela o apressa.

O garoto usa o cabo do machado para alavancar a porta. Abre o suficiente para a amiga passar e faz um gesto com a cabeça para que ela o faça.

Passando por baixo do machado, ela adentra o elevador escuro.

— Entrem agora, Alex!

Nicolas escuta a deixa. Arremessa-se para dentro do elevador e deixa a porta bater atrás de si, escapando por milímetros.

No escuro, Alex e Nicolas respiram, ofegantes. O som dos passos ao lado deles chega em segundos.

— Sortudos.

 

x

 

As investidas na porta são inúteis. Ela nem ao menos abre.

— Diego deve ter tratado desse serviço. - Lucas se encosta no balcão ao lado. Vê as meninas espalharem os papéis em cima da mesa. - E aí, o que é tão importante pra arriscarmos nossas bundas até aqui? - Ele pergunta à Naomi.

Ela nem mesmo o olha para responder.

— Nossas bundas já estavam bem arriscadas.

Olha ao redor. Todos bem.

— Precisam ver o que eu encontrei.

— Onde? - Gael pergunta. Instantaneamente formam um círculo ao redor do balcão.

— Laboratório de pesquisa. - O destino do grupo C.

— Conseguiram entrar? - Maia sorri. - Perfeito.

— Conseguimos. Melhor ainda. - Cauã se pronuncia. O garoto mais jovem mostrou saber se defender melhor do que os outros esperavam.

— Explodiram tudo? - Levi pergunta, excitado, olhando para a amiga.

— Tudo. - A garota responde, um sorriso travesso no rosto.

— Falando em explodir, como…? - Maia está com uma expressão intrigada no rosto. - A gente têm explosivos?

Cauã ri e tira algo da mochila. Duas garrafas plásticas com uma mistura.

— Peguei da cidade antes de fugirmos. Ácido acético e bicarbonato de sódio. Se souber manusear bem, dá uma explosão bacana.

Os outros olham o adolescentes com a boca semiaberta.

— Gosto de você, moleque. - Levi sorri maliciosamente, pensando nos estragos que poderiam fazer com aquilo.

— Naomi, o que achou? - Lucas volta ao ponto, lembrando-lhes que não há tempo a perder.

— Ok, antes de queimarmos tudo, peguei essa pasta. Estava nos arquivos com o nome "Alaska", então achei mais que útil. Dei uma lida rápida, mas… 

Os outros pegam os papéis aleatoriamente nas mãos. Rascunhos com letras rabiscadas misturam-se à documentos oficiais. Pesquisas.

— Não entendi o seu ponto. - Gael manifesta-se.

Ela pega uma das folhas que não fora tocada. O esboço de um desenho a estampa. Um corpo. Corpo humano.

— Esse é o meu ponto.

Eles entendem em uníssono. Um segundo de silêncio para processarem e lamentarem as perdas.

— Estão fazendo teste com humanos? - Maia pergunta.

— Provavelmente os três que sorteiam todo o mês. Faz sentido. - Lucas afirma.

— Faz?

— Claro que faz. Eles são médicos, cientistas, sei lá. Se estivéssemos vivendo no mundo de antes, teriam corpos para estudar, mas aqui… Cara, essas pessoas foram trazidas pra cá crianças. Não vão morrer de causas naturais e correm muito pouco perigo. Estão sendo só… Alimentadas pra serem as cobaias. É isso. É como um engordadouro.

— Ciência medicinal justificando a matança. - Naomi diz.

— Infelizmente faz sentido. - O irmão concorda.

— O que supostamente deveríamos encontrar aqui?

Os seis dispersam-se da mesa, olhando ao redor. 

A sala dispõe de armários e uma única maca, aparentemente uma mesa cirúrgica.

— Esperava mais. - Levi diz, manuseando os instrumentos da sala.

— Talvez tenha. - Escutam Cauã dizer. Ele passa as mãos pela parede à direita deles. - Acho que achei alguma coisa.

Devagar, aproximam-se. Cauã bate na parede duas vezes, aproximando os ouvidos.

— É uma parede falsa.

— Deve ter uma porta em algum lugar. - Maia se movimenta ligeiramente pela extensão da parede, a apalpando, até encontrar uma irregularidade. 

Ela a puxa com força, deslizando para a esquerda. Lucas corre a ajudá-la.

Se espantam com o que vêem lá dentro.

 

x

 

— E agora? - Alex pergunta, baixinho.

— Agora é com vocês.— Rafael finalmente respira aliviado do outro lado da linha. - Vamos estar de olho.

— Obrigada. - Alex agradece e desliga o aparelho. A única luz do ambiente se desliga junto. - E agora? - Ela repete a pergunta para o amigo.

Nicolas estende as mãos à frente até encontrar Alex.

— A gente vai fazer um negócio divertido. 

Ele se ajoelha.

— Nic?

— Sobe no meu ombro.

— O quê? - Ela ri. Não entende onde o amigo quer chegar.

— Sobe, caralho. Precisamos achar uma saída e não vai ser a mesma que a gente entrou.

Ela hesita por um segundo, mas concorda. Senta nos ombros do amigo, que bufa ao se levantar.

— Não reclama, a ideia foi sua, fracote.

— Tá, anda!

Ela apalpa o teto enquanto ele anda de canto em canto. Na extremidade esquerda acha uma irregularidade.

— Aqui, aqui. Pára!

Ele obedece.

— E aí? 

Ela empurra a tampa quadrangular em cima de sua cabeça e a desliza para o lado.

— Conseguiu? - Nicolas pergunta, sustentando a garota nos ombros.

Alex não se dá ao trabalho de responder. Ergue os braços para cima e se iça para dentro do vão do elevador, sentindo a poeira embaixo de seus dedos. Nicolas xinga quando ela usa seus ombros para se impulsionar.

— Consegui.

— Ok, agora me ajuda.

 

Em instantes, Nicolas está ao lado dela. Os dois sentados lado a lado em cima do elevador, no escuro, sem saber o que fazer.

Acima de suas cabeças, há aproximadamente sete metros, uma luz fraca entra de uma fenda.

— Como cacetes a gente vai chegar lá?

— Acho que dá pra escalar.

Nicolas engole em seco.

— Não é tão alto. - Alex argumenta a favor de si mesma. - E os fossos de elevador sempre são meio irregulares…

— Isso não é verdade.

— Ok, dá pra escalar. Anda.

Alex se põe a frente. Apalpa os canos do fosso do elevador, os puxando para testar. Se pendura e apoia os dois pés na parede, escalando com toda a força de seus braços.

— Você fazia circo.

— Faz sete anos, Nicolas, larga de ser bunda mole.

— Ninguém mais fala isso.

Alex ri, mas não responde. Sente o cano tremer abaixo dela, indicando que o amigo a segue. Finalmente chega à fresta pela qual entra luz. Consegue apoiar os dedos dos pés minimamente na porta para descansar.

— Nic?

— Chegando.

Nic consegue encaixar-se ao lado dela, tremendo com o medo de despencar até lá embaixo. Tira das costas o machado que enfiara dentro da blusa.

Faz o mesmo procedimento para a porta se abrir.

Alex é a primeira a se jogar para dentro do ambiente, e ele a segue. Os dois deitam no chão, aliviados, comemorando como crianças.

Se levantam para olhar ao redor.

— Ok, onde a gente supostamente está? - Nicolas não reconhece o ambiente.

— Supostamente no anfiteatro do setor B.

— Eu nunca coloquei os pés nesse lugar, Alex.

— Nem eu. Mas a gente se vira.

— É.

 

x

 

— Pai? - Levi irrompe a sala adentro. O recinto que abrem dá de cara com três celas dispostas lado a lado. Rico está jogado em uma cela à frente deles, na do meio. Levi se lança para as barras de metal desgastadas que o fecham ali dentro.

Os outros olham de um lado para outro, processando o que acabaram de encontrar.

Maia olha de Levi para Rico, que abre um sorriso fraco ao ver o filho. Ela quase se esquecera do parentesco deles. Não se veem há anos, e ela nunca os vira juntos. Só ouvira as histórias dos dois, pai e filho distantes. Levi era mais apegado ao tio.

— Cacete, não acredito que está vivo.

Rico está quebrado. O corpo inteiro está com sangue seco, o nariz deslocado. Deita-se no fundo da sala, mas não mostra forças para se levantar.

— Sou duro na queda, moleque.

 

Lucas saca a arma e atira na fechadura da cela do meio. Levi corre para onde o pai se encontra.

— Lucas? - Naomi o chama, prostrada em frente à cela do lado direito. Um garoto negro os olha, amedrontado.

Lucas corre até a cela ao lado e põe a fechadura ao chão. Abre-a devagar.

Naomi se aproxima. O garoto os repele com o olhar, tremendo da cabeça aos pés.

— Está tudo bem. - A garota se aproxima, devagar. - Vamos tirar você daqui.

— Quem são vocês?

Lucas aproxima-se atrás dela. Ambos enxergam, mesmo no escuro. O garoto está sangrando, segurando o abdômen. Despido da cintura para cima, vêem os cortes cirúrgicos aparentemente recentes sangrarem por pontos mal dados.

— Amigos. - É como ela consegue resumir.

— Não vão me tirar daqui. - Seus lábios tremem. - Eu vou morrer aqui.

— Qual seu nome?

— Gabriel.

— É um dos sorteados. A outra garota está bem ali. - Rico os posiciona. Eles forçam a vista para a cela do outro canto. Gael pendura-se nas grades, olhando para dentro com uma feição triste. - O corpo dela. O garoto chegou bem?

— Que garoto? - O filho pergunta.

— O moleque que eu ajudei a fugir. Está vivo?

Levi entende que o pai se refere à Nic.

— Está vivo e quase inteiro.

Rico se recosta na parede de novo.

— Então valeu a pena.

 


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Notas finais do capítulo

mais um!



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