Manuscrido escrita por MJthequeen


Capítulo 6
Quinse




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quin.ze

num card; o número cardinal imediatamente acima de catorze.

 

—… Como vocês descobriram? – Sasuke perguntou, depois que eles se sentaram. 

Na sua frente, encolhidinha, Hinata parecia, ao mesmo tempo, feliz e envergonhada de ter contado sobre sua dislexia. Ela mordeu o lábio inferior, segurando o copo de papelão com as duas mãos.

— Quando todos estavam lendo e escrevendo e eu nadinha…— Ela balançou a cabeça. – Mas minha mãe tinha também, sabe, então acho que meu pai já estava esperando. 

Depois de assentir, Sasuke desviou os olhos para o chão, coçando a têmpora com o dedo indicador.

— Eu tive esse pensamento bobo de que pessoas com dislexia não sabem ler…

— Eu sei ler! – Hinata fez questão de falar, de uma só vez, toda vermelha, os olhos super abertos. Sasuke olhou-a surpreso, esse tom de voz tinha sido bem alto… Parecendo perceber o que tinha feito, Hinata olhou para o copo. – D-Desculpa, eu não queria gri…

— Não. Tudo bem. Me desculpa – ele se viu dizendo, muito rápido também, os batimentos super acelerados. O que era isso? – Foi um pensamento idiota. 

Hinata sorriu levemente, saindo da defensiva. O que era isso? Por que suas mãos estavam suando assim? 

— Você só não sabia… Muita gente não sabe. A dislexia não funciona da mesma forma para todo mundo, entende? O principal sintoma é a dificuldade ler e escrever, mas ela pode afetar até a memória, por sua vez a interpretação… – E Hinata olhou muito além de Sasuke agora, perdida em lembranças e pensamentos. – Eu tive sorte de fazer tratamento desde pequena.  

— Sinto muito. Deve ter sido difícil – ele disse, se sentindo um pouco perdido de não poder ajudar muito mais do que com uma palavra de apoio. Hinata o olhou tão carinhosamente, no entanto, agradecida, que ele se sentiu o maior super herói de todos. O Uchiha sentiu que precisava falar alguma coisa, antes que se perdesse nas próprias sensações tão novas e tão fortes, ondulando por todo seu corpo. – Foi por isso que começou a desenhar?

Hinata assentiu, corada.

— Sim, parece mais fácil quando posso enxergar com figuras, não só com as palavras… Elas começam a… a voar, se eu não sentar e me concentrar – resumiu, num tom de voz constrangido. Ao ver o olhar de Sasuke, Hinata se encolheu, timidamente. – D-Desculpa, você deve estar me achando super esquisita.

— Não – ele respondeu prontamente, percebendo que tinha a encarado como um bobo e Hinata interpretara errado. – Não, não é isso. Estou tentando entender. É difícil imaginar as letras voando, foi mal… – E ele sorriu de canto, envergonhado; os dois trocaram uma risada com isso.

Antes de falar mais alguma coisa, Hinata provou o capuccino. No mesmo instante, ela franziu o cenho.

— Que amargo! – murmurou, fazendo uma careta. Sasuke se segurou para não rir da cara dela, que estava super engraçada. 

— Eu sempre peço sem açúcar. Aqui, é só a gente colocar… – E, aproveitando os saquinhos de açúcar sobre a mesa, Sasuke pegou o copo dela, destampou e virou tudo, mexendo com a colherzinha logo depois. – Pronto, tenta agora.

— Obrigada – E Hinata pegou o copo de volta, tomando do buraquinho na tampa. Ela fez um "hmmm" tão gostoso que Sasuke sentiu os pelos da sua nuca se arrepiarem. – Nossa, muito melhor.  

— Quinze reais – brincou, sorrindo de canto. 

Hinata pensou nisso por um segundo, apoiando o cotovelo sobre a mesa e a cabeça na mão.

— Tá aí uma palavra que eu sempre me confundo. Eu nunca lembro se é com S ou com Z… – murmurou, olhando para o nada; suas bochechas estavam cor de rosa, assim com o nariz redondo. – Bobagem, né? É tão fácil para vocês…

Sasuke olhou-a por um instante; então pegou um dos guardanapos, a caneta que tinha enfiado num bolso da mochila e, em letra de forma, escreveu bem grande e espaçado:

 

Q U I N Z E

A M I Z A D E

 

— É só associar, agora – e aí ele entregou para ela, um brilho de inteligência nos olhos negros. Hinata franziu o cenho, embora estivesse agradecida.

— Hã… O-Obrigada, Sasuke, mas se eu não lembro de "quinze", acho difícil lembrar de "amizade" – murmurou, constrangida em dizer, educadamente, que tinha sido uma péssima ideia. 

Ele não desviou o olhar dessa vez, embora conseguisse sentir o calor se espalhando até o pescoço. Gostava dos olhos dela, principalmente, das duas nuvens pérola das em formato de íris. 

— É só pensar em mim. 





 

 

 

 


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