Variação Benigna escrita por Lady Lobit


Capítulo 6
Cartas, quadros e conversas inusitadas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente,
voltei depois de sumir por um tempinho. Desculpem. Minha vida deu uma saida dos trilhos, e eu não estava conseguindo desenvolver a história na minha cabeça.
O capítulo não ficou realente como eu queria, mas já não aguentava mais querendo postar. kkkkk .
Não vou me estender muito aqui, nos vemos de novo lá embaixo.
Boa leitura



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Hermione

Como era de costume nas manhãs de sábado, vi que as mesas do café estavam com poucos alunos, a maioria preferia dormir um pouco mais. Não me importava em tomar meu café sozinha, ainda mais por saber que Harry iria dormir até mais tarde. Vi Luna atravessar as portas do grande salão e acenei para ela, que mudou de rota e veio em minha direção.

— Bom dia Mione. - Ela sorria, com aquela energia que era única dela

— Bom dia Luna, quer tomar café aqui na grifinória? - ofereci, a vendo aceitar a oferta enquanto se sentava. - Como foi sua primeira semana?

— Tranquila, apesar de ter cada vez mais zonzóbulos pelo castelo. Por isso não consegui dormir muito. - a vi pegar uma generosa fatia de Pudim, e me segurei para não lembrá-la de novo sobre os riscos de comer muito açúcar, e me limitei a dar uma risadinha, aceitando que algumas coisas nunca mudavam.- E a sua Mione? 

—  Menos agitada do que imaginei, levando em conta tudo. - Respondi, vendo Luna me olhar com aqueles olhos que pareciam ver tudo, esperando por mais. - A Parkinson não está sendo difícil de conviver, na verdade estou um pouco espantada pelo compromisso dela com as aulas. 

— Eles são cheios de surpresas ,não é? - Não sei se conseguiria algum dia ter aquele interesse que a Luna tinha pelas outras pessoas, mas não podia mentir para mim mesma que estava sendo monótono o tempo que passei com a sonserina. 

Percebi o sorriso na cara da Luna, e tentei mudar o foco da conversa, as vezes ela conseguia tomar rumos muito inventivos naquela cabecinha dela.

— Vai se encontrar com o Zabine hoje para estudar?

— Não combinamos nada ainda, preferimos ficar tranquilos nesse primeiro fim de semana. - Ela deve ter percebido minha cara de desaprovação, pois soltou um risinho divertido. - É por isso que você e a Parkinson decidiram madrugar hoje?

Virei a cabeça e percebi que minha companheira de mesa tinha acabado de entrar pelas portas do salão de braço dado com o Malfoy. Franzi o cenho, me perguntando se os boatos sobre eles estarem juntos era verdade, mas logo decidi que não era da minha conta, e voltei para Luna.

— Marcamos de nos encontrar a tarde na Biblioteca para começarmos o trabalho de estudos avançados em Aritmância. - respondi, vendo que Luna, ao contrário de mim, não aparentou surpresa ao descobrir que a Parkinson estudava essa matéria.

— Já que só vai estudar a tarde, quer ir andar pelo lago comigo? Vou levar algumas guloseimas para a lula gigante. - Não resisti a sorrir com a imagem clara que me veio a  cabeça, de Luna sentada com os pés no lago, falando com a lula.

— Posso me encontrar mais tarde com você por lá Luna? A Diretora me pediu para encontrá-la.

— Aconteceu alguma coisa? - Seu semblante ficou preocupado.

— Ela queria minha opinião sobre algo relacionado a estudos dos Trouxas - Me apressei a responder. - Como sou uma nascida trouxa e já fiz a matéria, acredito que seja sobre alguma abordagem dos professores. - Dei de ombros, não tendo muito pra acrescentar.

— Talvez ela te ofereça a vaga de professora. - Ela disse sonhadora, me deixando na dúvida se ela realmente acreditava nisso ou só estava divagando. - Você seria uma professora parecida com ela.

Sorri com o elogio, e me despedi da Luna, não queria me atrasar, sabendo que a opinião da Professora Mcgonagall era parecida com a minha quanto a pontualidade.

Passei o caminho até o sétimo andar pensando no que a Luna disse sobre ser professora. Acho que não tinha chegado a pesar mesmo essa opção na minha vida. Sempre quis lutar pela igualdade, não apenas entre os bruxos, mas também de todas as criaturas mágicas.

Então era quase lógico que eu seguisse um rumo que me levasse ao ministério. Mas me peguei sorrindo com a idéia de ter gerações de alunos que eu pudesse passar alguns dos meus ideias.

Disse a senha para a Gárgula na entrada para o escritório da diretora, batendo na porta ao acabar de subir as escadas.

— Pode entrar srta. Granger. - Vi que ela estava sentada na cadeira em frente a escrivaninha, cheia de papéis, com as costas bem retas, mas abriu um leve sorriso ao me ver.

— Bom dia professora, que dizer, Diretora Mcgonagall. - Me apressei a corrigir.

— Pode me chamar como preferir Stra. Granger, sei como certos hábitos são difíceis de serem quebrados. - Ela disse, enquanto acenava para que eu me sentasse em uma das cadeiras em sua frente. - Desculpe pelo horário da reunião, mas com os compromissos de diretora e ainda tendo que ministrar as aulas de transfiguração até a chegada da nova professora.

— Não tem problema professora, eu costumo acordar cedo sempre para não ficar mal acostumada.

— Muito sensato da sua parte Sta. - acenei em concordância, não resistindo a me sentir bem por ter sua aprovação, e por isso continuei em silêncio, esperando que ela conduzisse a conversa, ou acabaria cedendo a minha curiosidade e perguntando sobre o novo corpo docente.

— Como pode ter observado senhorita, ainda há uma matéria que está em vacância, por falta de candidatos. - ela começou, firmando seus olhos nos meus. - É Estudos dos trouxas, e apesar de ter sido aconselhada por algumas pessoas do ministério a oferecer a vaga para Arthur, e o transferir para cá, ainda estou pesando minhas opções.

Concordei com a professora. Apesar de amar o senhor Weasley, e ele ter uma das visões mais inclusivas que conheço sobre os trouxas, seu entusiasmo quanto a esse assunto muitas vezes é um problema. Continuei calada, ainda não tendo certeza onde a diretora queria chegar.

— O ministério também está trabalhando para tornar essa matéria uma das obrigatórias do currículo de todos aqueles que não são nascidos-trouxas. - A olhei um pouco surpresa, jamais imaginando que isso fosse possível.-O que acredito ser uma idéia necessária, mas que deve ser aplicada de maneira mais inteligente, e não precipitada.

Até ali estava conseguindo acompanhar o raciocínio da diretora. A questão não era apenas achar um professor competente, mas alguém que fosse convincente o bastante para convencer o mundo mágico da importância de se ter esse conhecimento.

— Concordo professora, mas ainda não entendi onde me encaixo em tudo isso. - fui sincera, pois apesar de tudo ser muito lógico, não entendia como poderia ajudar se ainda nem havia um candidato para a vaga.

—Veja bem Srta. Granger, ainda há uma resistência quanto a obrigatoriedade dessa disciplina, e Quim Shacklebolts veio pessoalmente conversar comigo sobre isso, e sugeriu que eu oferecesse a vaga para a senhorita. - Olhei um pouco chocada para a professora, pois apesar das palavras de Luna mais cedo jamais imaginei que isso poderia acontecer. Tentei acalmar meus pensamentos, e analisar a situação.

Me levantei, me sentindo inquieta, e pressionada por ter sido indicada pelo próprio Ministro da Magia. Entendia o apelo que seria para os pais dos alunos se uma heroína da guerra fosse quem ministra-se as aulas, mas eu não queria ser escolhida para um cargo apenas por causa da minha fama.

— Professora, a senhora concorda com isso?

— Não é a mim que estão oferecendo essa opção Srta. Granger. - Não conseguia ler seu semblante para saber sua opinião, então desviei os olhos para a parede oposta. 

Foi então que os vi. Os quadros dos diretores. 

Dumbledore me olhava com um sorriso bondoso no rosto sobre os oclinhos de meia lua, e meu coração se apertou. Mas foi ao desviar os olhos para o quadro da esquerda, e reconhecer aqueles olhos frios, que senti meus olhos se embaçaram. 

Me aproximei lentamente, esquecendo totalmente do porquê estava ali, mas ainda sim conseguindo sentir o silêncio que se instalou na sala quando parei em frente aos dois.

— Professor… - Minha voz falhou devido a avalanche de emoções que me dominavam, e me esforcei para continuar. - Obrigada. - completei com a voz embargada, tentando manter meus olhos firmes ao encará-lo.

— Não fiz nada pela senhorita para estar agradecendo, Granger. - Aquela voz anasalada soou pela sala, e apesar de ainda continuar ríspida, eu imaginava que podia ver através dele agora.

— Você salvou a todos nós professor. - me vi obrigada a completar

— E olhe o proveito que você está fazendo disso, se deixando ser manipulada por outros por um desejo de ajudar a todos e esquecendo do que realmente deseja.  - foi como levar um tapa na cara.

—Severus. - Escutei a voz da diretora o advertindo, mas seus olhos continuavam sérios e em desgosto, como sempre eram ao olhar na minha direção. 

— Não se intimide com Severus srt. Granger, esse é a maneira dele de dizer que acredita em um caminho onde a senhorita seja mais feliz. - disse o professor Dumbledore, fazendo a carranca de Snape se aprofundar.

Esperei que Snape rebatesse as palavras do diretor, mas ele apenas ergueu uma sobrancelha quando continuei o encarando.

— Se está esperando que eu lhe diga o que fazer, vejo que não é tão inteligente Granger, quem gosta de sentenciar o futuro das pessoas é meu queridíssimo antecessor. - Absorvi um pouco chocada suas palavras, e por incrível que pareça nenhum dos outros quadros, ou mesmo a professora Mcgonagall, foram capazes de contradizer aquela afirmação.

Olhei para Dumbledore e vi que seu semblante estava neutro, mas parecia ter uma pitada de tristeza em seus olhos.

Voltei para a cadeira em que estava sentada, forçando meus pensamentos a voltarem para o assunto que me trouxe ali, não querendo deixar que minha mente voltasse para a guerra.

—Professora, não acho que seja sensato que eu assuma essas aulas. - comecei devagar, tentando colocar meus pensamentos em ordem. - Não apenas porque desejo continuar meus estudo, mas acho que talvez esse não seja o momento certo de tornar essa disciplina como obrigatória. - Arrisquei, vendo ela erguer uma sobrancelha em inquisição.

— Com a nova política adotada na escola, todas as casas já estão sendo obrigadas a terem uma boa convivência. Uma nova regra dessas, talvez force demais a barra, e acabe por incitar um sentimento ruim, ao invés da boa vontade, que é o que realmente queremos. - conclui, esperando que ela seguisse minha linha de raciocínio.

Fez silêncio novamente na sala, quando um dos quadros resolveu se manifestar.

— Minerva, como vários dos diretores que vieram antes de você, suas decisões tem que ser tomadas de maneira a ser o melhor para seus alunos, e não o que o ministério acha que deve ser feito. - o quadro de uma mulher de longos cabelos loiros disse. - Acho muito pertinente o que essa senhorita colocou. O assunto dos trouxas sempre foi delicado, mas depois de uma guerra como essa, você estará andando em uma corda bamba.

— Obrigada  Eodessa*. - Respondeu a professora Mcgonagall, com a voz aparentando, pela primeira vez, um pouco do cansaço que deveria estar sentindo. - Vou levar isso em consideração.

— Professora, talvez fosse o caso de tentar colocar palestras educativas sobre alguns tópicos da vida dos trouxas. - sugeri, me sentindo um pouco culpada por não estar ajudando muito a diretora.- Algo curto e dinâmico, que atraia a atenção sem ser obrigatório.

— Vou pensar sobre isso Srta. Granger, e levar para o concelho minha decisão.

— Se precisar de mais alguma coisa, pode me chamar. - me despedi, enquanto me levantava, mas não resisti em me virar novamente para eles, não sabendo o que dizer, ou mesmo se deveria dizer algo.

— Como sempre foi um prazer Senhorita Granger.- acenei em concordância para o professor Dumbledore, olhando ainda para o quadro de Snape.

— Já que ainda quer tanto ajudar a todos Srta. Granger, diga a Malfoy que estou esperando por ele. - Snape disse a guisa de despedida, e sem saber o que mais dizer virei, as costas e me retirei.

Blas

Acordei inquieto, e ao olhar no relógio percebi que já estava quase perdendo o horário do café. Me arrumei apressado, pegando a carta que minha mãe havia me enviado ontem, não querendo ficar com fome até a hora do almoço ou me ver obrigado a ir na cozinha e ficar esbarrando com os lufanos, que tinham seu salão comunal ali perto. Meu humor não melhorou muito ao perceber que Draco e Pansy não estavam na mesa do salão principal.

Os dois andavam planejando alguma, com aquelas conversas entre sim, e se entrosando com as outras casas. Decidi pegar alguns bolos de caldeirão e um suco de abóbora e sair para uma caminhada, enquanto pensava.

Pansy já vinha me advertindo a algum tempo que nós teríamos que adaptar alguns dos nossos comportamentos, e uma ladainha sem fim de como era benéfico para nossa imagem sermos vistos tendo uma boa convivência com nossas duplas. Mas o convite de Draco para a Lunática ontem me pegou de surpresa, e pela cara da Pansy, a ela também, e por algum motivo não me deixou muito satisfeito.

Me sentei aos pés de uma árvore perto do lago, tentando entender o que estava acontecendo, e achar alguma justificativa por ainda sentir aquele incomodo. Eu não tinha começado a gostar da companhia da Lovegood, mas naquela semana percebi que não era tão difícil aturá-la como pensei que seria.

Ela era, logicamente, inteiramente lunática, e via a vida por uma lente mais cor de rosa do que aqueles óculos que  usava para ver criaturas que não existiam. Mas ao mesmo tempo que parecia viver no mundo da lua, ela também conseguia ter um pensamento apurado e amplo de vários assuntos. O que acabou sendo uma vantagem para mim, pois não tenho muita paciência para futilidades. Talvez por ela parecer estar tanto no nosso mundo quanto vagando em um lugar maravilhoso na maior parte do tempo, eu achava um pouco errado enganá-la apenas para limpar nosso nome.

Me virei, ainda divagando, quando escutei passos se aproximando, e observei o casalzinho da sonserina se sentar ao meu lado.

— A noite deve ter sido muito boa para ter acordado tão tarde assim. Não se cansou de brincar com as minhas sobras? - me senti irritado ao me lembrar que passei a maior parte da noite sim, acordado, mas não pelos motivos que ele imaginava.

—Pela cara que está fazendo não teve muito prazer. O que foi Blas? Sabe que não há ninguém melhor que uma mulher para dar conselhos sobre outra. - Pansy não poderia deixar de me alfinetar. Como se eu precisa-se de palpites nessa área da minha vida. Senti um peso no bolso onde estava a carta da minha mãe, mas me neguei a ser puxado novamente para aquele lado do meu futuro.

—Apesar de saber que você tem uma vasta experiência com prazer feminino, acho que já está tendo trabalho demais sendo a namorada de um Malfoy. - Não consegui me segurar, e vi diversão tomar conta do seu olhar, o que só me deixou ainda mais irritado.

—Sabe que não tenho problemas com menage Blas. - Argumentou divertida, e ergui uma sobrancelha em descrédito.

—Por isso andam chamando a Lovegood para se sentar com a sonserina? - Tive vontade de me chutar assim que as palavras saíram da minha boca, pois Pansy abriu um sorriso

—Está se sentindo excluído querido? - Tive vontade de esganar a Pansy, mas recobrei meu juízo e me mantive  neutro.

—O que aconteceu Zabine? Não vai me dizer que está com ciúmes da Lunática. - Draco parecia extremamente sério ao perguntar aquilo, o que me faz questionar se ele ainda se acha acima dos traidores de sangue.

—Não acho que deveriam a usar nos seus planos de re-conquistar a boa graça do mundo bruxo.- Optei por ser direto sobre o que sentia, e parecia ter tomado a direção certa, pois os dois trocaram um longo olhar e pareciam pensar sobre o que dizer. Bom. Não queria dar um de salvador da Lovegood, mas como parecia que estava sendo manipulado para seguir um caminho onde meus relacionamentos seriam baseados em mentiras, uma parte minha ficou feliz em impedir que outra pessoa tivesse o mesmo fim. Será que era assim que os grifinórios se sentiam quando pulavam em frente o perigo por qualquer pessoa?

Antes que minha mente pudesse divagar muito captei um barulho bem leve de folhas na árvore em que estava, e Pansy e Draco pareciam ter chegado em um acordo silencioso sobre quem defenderia a idéia deles.

—Não estamos usando a Lovegood apenas para “re-conquistar a boa graça do mundo bruxo” - Draco usou sua voz debochada para repetir minhas palavras, e se não fosse pelo olhar em sua cara teria o interrompido ali mesmo. - Ela é uma das poucos sangue-puro que conseguiu passar pela guerra sem manchar nada sua imagem, e é alguém que não possui a irritante mania de se fazer ser notada como a maioria dos grifinórios, mas também não passa despercebida como os lufanos. 

—Esses são seus motivos para usá-la? 

—Por favor Blaise, ninguém que tenha passado pela guerra sendo tão amiga do trio de ouro seria tão aberto quanto ela para aceitar se envolver com as cobras. - Pansy parecia já estar perdendo a paciência, mas por algum motivo não consegui segurar minha língua.

—Vocês acham que ela é o elo fraco entre os heróis do mundo bruxo? - perguntei, me lembrando da analogia que minha própria cabeça fez a minutos atrás.

—É isso que você acha dela? - Draco me devolveu a pergunta, sem ao menos me dar tempo de responder. - EU acho que ela é a única que não está se aproximando de nós com a intenção de ajudar na política da escola, por se ver forçada por algum motivo altruísta, ou para tentar não repetir erros de guerra. - Engoli a resposta que já estava na ponta da língua apenas por Draco parecer tão surpreso quanto eu com o que disse. 

Aí estava algo em que pensar. 

Antes que pudesse sequer tentar continuar meu raciocínio, novamente escutei barulho das folhas da árvore, mas o que me deixou totalmente sem reação foi a voz que se seguiu.

—Isso foi muito bom de se ouvir - não precisei de me virar para saber quem se aproximava ainda mais de nós. 

Pansy

Não podia acreditar na improvável cena que se desenrolava ao meu redor. Blas tinha a cara de quem acabava de ver um bicho papão, ao contrário da Lovegood, que tinha se sentado ao nosso lado novamente como se fosse algo muito natural. Mas era Draco em quem eu prestava mais atenção, pois a fala dele pareceu estranhamente carinhosa para uma aluna de outra casa, e apesar de a própria Lovegood estar ali, ele parecia quase como se estivesse relaxado.

Não sabia bem como lidar com aquela situação, e me chutava internamente por não ter percebido que tínhamos companhia quando nos sentamos ali,

—Sabe, acho que mesmo se tivesse escutado isso a luz das estrelas na torre de astronomia eu teria duvidado um pouco.- Tudo bem, eu sentia que estava perdendo o controle da situação, nada surpresa por isso acontecer, já que a autora daquela frase parecia não ter nenhum senso sobre sua língua.

—Então você costuma ter conversas profundas na torre de astronomia?- Fiz uma cara de interessada, tentando realmente achar algum nexo naquela conversa com o que falávamos antes.

—Não realmente. As estrelas geralmente preferem queimar em silêncio, e nos deixam apenas observando sua glória a distância. - Olhei de maneira atravessada para a Lovegood, em dúvida se ela estava fazendo analogia a algo ou apenas sendo a Lunática de sempre. Blas mantinha silêncio, mas parecia refletir seriamente sobre o que foi dito.

Tirei um minuto para tentar entender como conseguiria obter alguma resposta mais direta dela, e também para checar os sons ao nosso redor, não queria ser surpreendida novamente. Draco parecia à vontade em ficar apenas ali sentado, e queria muito saber o que se passava entre esses dois para ele ter se permitido observar tão atentamente outra pessoa além dele mesmo para ter uma opinião daquela sobre a Lovegood.

Não que precisasse ser um gênio para isso, já havia reparado na menina durante aquela semana e chegado a mesma ideia, mas esperei ter algum trabalho para convencer o Draco, pensando que o convite para o café de ontem tivesse sido apenas para me irritar. Pelo visto estava enganada. Perceber que eu tinha deixado algo passar não me agradava em nada, nem ser mantida no escuro como tem acontecido ultimamente.

—Às vezes as estrelas se mantém distância por receio de queimar todos de quem se aproximam. - Blas fez essa observação olhando de soslaio para Draco, que apenas deu de ombros para a afirmação. Bufei irritada, quando foi que meus amigos tinham se tornados tão loucos para acompanharem aquele tipo de raciocínio?

—Você me lembra a hermione Pansy - A Lovegood me olhou sorrindo, provavelmente por não saber o que se passava na minha cabeça.

—Vou tentar levar como um elogio - empinei meu nariz em resposta, o que deve ter a divertido pois soltou uma risadinha.  

— Acho que o que a Lovegood quer dizer é que você está absorvendo as palavras muito literalmente Pan.- Blas provavelmente acertou pois ganhou um grande sorriso de volta. Será que ela não conseguia fechar aqueles lábios nunca? Não entendia como alguém conseguia ficar tanto tempo com aquela expressão feliz no rosto.

—Se quisesse solucionar enigmas procuraria uma esfinge, duvido que o castigo seria tão torturante como essa conversa. - Falei. Odiava me sentir deixada de lado, e naquele momento parecia que os três possuíam uma conexão que eu não tinha.

— Se quiser solucionar enigmas posso te levar ao nosso salão comunal, sempre temos que solucionar um para entrarmos. - Olhei mais interessada para a garota, um pouco impressionada por ela não se intimidar pelo que eu tinha dito. Tudo bem, talvez ela conseguisse se adaptar bem.

— Quem sabe um dia.- Deixei o convite em aberto, não tendo certeza se eu acabaria mesmo dizendo sim ou não para aquela proposta. Estava tendo um pouco de dificuldades para decifrar a Lovegood, não que em algum momento eu já tenha compreendido como a cabeça dela funcionava. - Se  você estiver mesmo disposta a se misturar, acho que os corvinos podem conseguir me distrair.

— Conheço alguns puro-sangue que você vai gostar. - ela disse calmamente, mas não conseguiu disfarçar totalmente sua voz quando disse puro-sangue. Então ali estava, ela também sabia jogar. A analisei com cuidado, e apesar de não haver crítica nos seus olhos, ela parecia um pouco triste. - Se o Draco não se importar de dividir.

Escutei a risada de Blaise, e lancei um olhar para Draco, que se mantinha calado durante toda a conversa. Não sabia bem como responder aquilo, e sentia que era isso mesmo que ela queria, uma resposta.  

— Não me importo de dividir Lovegood, mas Pan é apenas uma grande amiga. - Ela olhou curiosa para nós dois por alguns segundos, como se pesasse o que tinha escutado, e depois abriu aquele irritante sorriso de um hectare novamente. 

— Se quiser posso te apresentar alguns puro-sangue também Draco. - aquela afirmação saiu tão calmamente da sua boca que por dois segundos fiquei esperando a bomba cair.

— Já tenho problemas demais na minha vida no momento, mas te aviso se mudar de ideia. - Aquela não era a resposta que eu esperava de Draco, ainda mais porque não parecia mesmo irritado com a garota, que continuava sorrindo irritantemente. 

Blais parecia estar montando um quebra-cabeça naquela cabeça, e eu jamais quis tanto conseguir praticar legilimência, só pra saber o que se passava na mente de cada um sentado ali. As teorias que passavam pela minha cabeça não faziam muito sentido, e minha irritação por me sentir perdida crescia. 

Olhei ao redor, tentando me segurar para não começar um interrogatório, quando avistei a Granger e o Potter caminhando enquanto conversavam. 

Pela cara dos dois o assunto não era agradável. Me desliguei por um momento da conversa ao meu redor e os observei. O que será que tinha acontecido? Mais problemas? Granger de repente encontrou meu olhar, e percebi que ela parecia triste, mas logo desviou os olhos e comentou algo com o Potter, que deu de ombros e seguiu rumo a floresta proibida.

Percebi que ela iria vir ao nosso encontro, e tratei de me concentrar novamente onde estava, apesar de estarmos em um silêncio confortável, os meninos pareciam que não tinham percebido que ela se aproximava.

—Luna?!? - o nome saiu surpreso quando enfim nos alcançou, e Draco e Blas se assustaram um pouco, apesar de se controlarem. A lovegood por outro lado apenas abriu mais ainda seu sorriso.

— Que bom que chegou mione, estava quase desistindo e alimentando a lula sozinha. - ela disse em uma voz animada, e por um momento fiquei tentando imaginar a Granger sentada na beira do lago, despreocupada. Não foi uma imagem muito convincente.

— Na verdade Luna, eu tenho um recado para o Malfoy. 

Toda a leveza que tinha observado em Draco tinha se esvaído, e  o sentia totalmente tenso. 

— Se Potter não conseguiu terminar o trabalho, eu posso fazer a parte dele. - Draco disse com uma voz contida, e observei que a Granger iria abrir a boca para rebater, antes de se controlar.

— Na verdade, não foi Harry que mandou o recado. - ela fez uma pausa como se pesasse o que deveria dizer. - Estive na sala da diretora hoje.

Draco se encolheu minimamente, mas pude ver um pouco de dor em seus olhos.

— Então ele também vai ter um quadro aqui? - Foi impossível não notar a amargura na voz do meu amigo, e vi a Lovegood olhar interessada. 

— Ele disse que está te esperando. - Foi tudo que a Granger disse, não estendendo muito o assunto. Se estivéssemos em outro lugar eu teria estendido a mão e oferecido conforto a Draco, mas sabia que ele não se sentiria bem em demonstrar que precisava de apoio em um lugar tão público.

Troquei um olhar com Blás, que parecia não saber o que fazer também, enquanto o silêncio se instalava, pesado, entre nós. Foi a Lunática que falou primeiro.

—  Então mione, ela te ofereceu mesmo o emprego? - Olhei espantada para a Granger, não acreditando.

— Pode ficar tranquila Luna, ainda sou apenas mais uma aluna normal. - as palavras dela me trouxeram um pouco de alívio, foi inusitado descobrir que eu não queria perder minha dupla.

—Aluna pode até ser, mas normal não é uma característica que se encaixa muito em você Granger. - A Lovegood soltou uma gargalhada com o comentário de Blas, e até mesmo a Granger abriu um pequeno sorriso.

— Vou levar como um elogio. - disse simplesmente. - Vamos Luna? Não quero demorar muito, já é quase horário do almoço.

Vi a Lovegood se levantar e as duas seguiram pela margem do lago. Esperei um momento para me voltar para meus amigos, a imagem das duas andando era até que bem atraente.

— Não Pansy, eu não vou vê-lo. - Ele logo soltou, com os punhos fechados. Apesar da imagem de raiva e frustração que ele aparentava, podia ver que havia muita dor ainda. 

Não iria pressioná-lo naquele momento, podia ver nitidamente que ele estava no seu limite, e eu não sabia se quando ele transborda-se seria de raiva ou em lágrimas. Provavelmente uma mistura dos dois.

A sensação de impotência tomou novamente meu ser. Parecia que não importava o quanto eu tentasse melhorar, mudar, eu seguia não conseguindo ajudar meu amigo.

— Minha mãe me escreveu essa manhã. - Blas soltou do nada, provavelmente para tentar nos distrair. 

— Já está te avisando quem será seu próximo padrasto? - Tentei fazer piada. A mãe de Blas só o escrevia fora de comemorações quando queria lhe contar sobre algum homem em sua vida.

— Na verdade, era sobre pretendentes para mim. 

Até mesmo Draco apresentou um pouco de surpresa agora. Não sabia o que dizer, aquilo não era apenas inesperado, mas não condizia com a mãe de Blas.

— Você vai aceitar? - Acabei por perguntar

— Como se ele tivesse escolha Pansy. - Draco disse um pouco amargurado. - Podemos ter passado por uma guerra, mas as tradições que fomos criados ainda vigoram. - ele analisou nosso amigo que continuava calado.

O que Draco disse era verdade. Apesar de tudo que aconteceu, o sistema das famílias puro sangue provavelmente continuaria o mesmo. Apenas mais maquiado. 

— Minha situação é um pouco diferente. - Blas sussurrou, parecendo pensar ainda até que ponto deveria se abrir. Segurei sua mão, e a mantive ali enquanto ele me olhava, e depois encarava Draco. Algo em nós o deve ter encorajado, ou o peso que carregava era pesado demais, pois ele começou a falar.

A cada palavra dita mais horrorizada eu ficava, e a sensação de impotência dentro de mim apenas crescia. Como aquilo poderia ser justo com meus amigos? Olhava para os dois e notava a desolação pelo rumo que suas vidas estavam tomando, as consequências que eles sofriam por momentos do passado que nem ao menos tiveram escolha. 

Meu peito se apertava cada vez mais, a injustiça das situações vividas, e as angústias que ainda perdurariam por muito tempo em nossa vida, deixavam um gosto amargo em minha boca. Queria gritar e chorar ao mesmo tempo, e percebi que eram as mesmas sensações que eu tinha desde que aquele-que-não-deve-ser-nomeado tinha se reerguido. 

Apesar da guerra ter acabado, ainda tínhamos muitas batalhas para lutar. Senti o braço de Draco em meu ombro, e puxei Blas para que se ele apoiasse em mim, sabendo que no momento os três estávamos destruídos demais para sequer notar a cena estranhamente carinhosa em que nos encontrávamos.


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Notas finais do capítulo

* foi um anitiga diretora de Hogwarts, que se aprofundou muito no estudos dos trouxas.
Então gente, várias coisinhas mudando na dinamica de Hogwarts, e isso vai ser bem necessário para os rumos que quero colocar na história (e sinceramente, sempre achei que algo assim iria acontecer nos livros também, tinha algumas coisas meio falhas no sistema de mtérias, maaasss, isso é conversa pra outra hora.).
Fiquei tentada a colocar aqui o que tinha na carta de Blas e do Draco, mas o capítulo ia ficar muito grande, e não acho que seja a hora ainda.É bom deixar vocês um pouquinho curiosos. kkkk.
Gostaria muito que me dissessem o que estão achando gente, por favorzinho.
Dá um help ai pra essa pseudo escritora que ta tentando. kkkk.



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